Quando digo que o pior já tinha passado, não era só para mim. Era para o Guilherme e a Pamela também. Eu estava quase certa que eles iriam terminar, mas eles não terminaram. Eles brigaram, brigaram e brigaram, mas no final se acertaram e ficou tudo bem. Não vou negar que eu fiquei meio bolada com isso, poxa. Depois daquela noite e do que ele falou pra mim, tipo... Ai ai.

A Pamela passou o fim de semana lá em casa como sempre e estava tudo "normal". Si é que as coisas poderiam ficar normais agora. O fim de semana foi o mais longo possível, dois dias que pareciam nunca acabar. Mas finalmente acabaram. Quando a Pamela foi embora no domingo anoite e eu e o Guilherme ficamos sozinhos finalmente, a minha vontade era de matar ele!

- O que foi isso Guilherme?!

- Isso o que?

- Você e a Pamela! Você tem que terminar com ela! Você não pode ficar enganando ela fingindo que nada aconteceu Guilherme!!

- Olha Je.... O que aconteceu naquele dia foi uma coisa que.... Bom, eu não estava bem, nem você. Aquilo foi sem querer, totalmente sem valor. - sem valor? como assim sem valor?! Ele tinha falado que me amava naquela noite! Que... Canalha! Mas eu tinha que fingir que concordava com ele e fingir que eu não iria sofrer por causa disso.

- Eu sei! Eu estou falando de você enganar a Pamela desse jeito, fingir que não aconteceu nada! Eu não vou enganar minha melhor amiga, não mesmo. - meus olhos começam a encher de lagrimas.

- E você vai fazer o que? Vai contar para a sua melhor amiga que você ficou com o namorado dela? Você quer estragar a sua amizade com a da Pamela? - ele fala como si... Como si aquilo fosse a minha culpa.

- Ei, não vem jogar a culpa pra cima de mim não Guilherme! Nós dois sabemos que, aquilo aconteceu porque nós dois queriamos e porque eu... - bem, eu iria falar que eu o amava, mas não iria piorar as coisas.

- Você...?

- Eu nada Guilherme, nada!

- Fala logo, para de medo cara. - ele volta a me olhar daquele jeito... Daquele jeito malicioso, igualzinho ele olhou pra mim quando me beijou pela primeira vez.

- Nada Guilherme, que saco.

- Você me ama não é? Eu sei que você me ama, e não é só como amigo. Tu disse isso quando me beijou daquele jeito, toda apaixonada. - ele dá um sorriso levantando somente a ponta da boca, tão lindo...

- E si eu amar? Isso vai fazer alguma diferença? Você não ta nem ai para mim Guilherme, você só quer saber de Pamela e Pamela... - eu começo a chorar. Eu queria parar de chorar para não ficar tão na cara assim que eu o amava, mas não dava mais para esconder. Até as paredes sabia que eu o amava. Não dava mais para esconder... - eu to farta disso Guilherme. Você não sabe como cansa amar o namorado da sua melhor amiga que no caso é o seu melhor amigo também. E ainda mais depois do que aconteceu entre nós, não é facil Guilherme... Eu só quer... - ele me beija.

Porquê ele tinha que me beijar? PORQUÊ? Ele tinha que complicar mais as coisas? Ainda mais depois do que ele disse, de que aquilo foi um erro. Como ele podia? Eu queria parar de beija-lo, mas eu não podia... Aquele beijo foi tão apaixonado quanto o primeiro, e.... Ai droga. Eu não podia! Eu queria o empurrar para longe, mas não tinha força o suficiente para fazer isso, meu emocional não deixava. Mas então veio a Pamela na minha cabeça... Minha melhor amiga, então não sei daonde veio a força, mas eu o empurrei para longe e continuei chorando ali, no canto, e ele me olhando sem fazer nada.

- Me perdoa. Eu to tão confuso... Eu amo a Pamela, eu sei disso - não sei si ele percebeu mas quando ele falou isso eu comecei a chorar mais ainda - mas aquele teu beijo mexeu comigo. Você me beija de uma forma tão... Apaixonada. E a Pamela não me beija assim, ela nunca me beijou assim. Não sei o que é, não sei si você me ama mais do que ama ela ou si ela simplismente, não me ama. Mais... Eu também te amo Jessica. Eu amo vocês duas, eu não sei o que eu faço. 

- Sabe o que você faz? - acho que eu to chorando tanto que não consigo nem falar direito - Sai da minha casa! Me deixa sozinha, por favor...

- Como quiser, se precisar me liga... - ele se levanta e vai para a porta, mas quando ele chega na porta, ele vira de volta e se dirigi a mim. Essa não! Ele iria me beijar denovo? Não! Mas eu estava enganada, ele chegou perto de mim e me abraçou e... Começou a chorar, cara. - Eu te amo, me perdoa por estar fazendo isso. Me perdoa! Por favor, me perdoa... Eu te amo Je. - como ficar com raiva de uma coisa tão fofa?

- Eu também te amo Gui. - ele me solta e beija a minha testa e vai embora.

[...]

Eu fiquei por mais ou menos, uns 20 minutos ali, sentada no chão, chorando, sem me mexer, pensando em tudo que estava acontecendo. Minha vida estava totalmente uma bagunça. Agora imagine uma pessoa com o psicológico totalmente cansado. Então, você esta altomaticamente me imaginando. Eu estava tão cansada... Estava realmente precisando sumir.

Tomei coragem para levantar dali e encarar a realidade: eu precisava sumir dali e não aparecer tão cedo. Eu levantei e fui para o meu quarto quase caindo, acho que eu chorei tanto que estava passando mal. Entrei no meu quarto totalmente acabada. Sentei na cama e peguei meu violão e comecei a tocar. Eu tocava e chorava.... Principalmente quando comecei a tocar wouldn't change a thing da Demi e do Joe. Aquela musica era tudo para mim, principalmente naquele momento...

Vi que já era tarde, então daqui a pouco minha mãe chegava do trabalho. Ela não podia me ver daquele jeito, com os olhos inchados... Não mesmo. Entrei no banheiro pra tomar banho e liguei o chuveiro para ele ir esquentando. Comecei a tirar a roupa e fiquei parada em frente o espelho me olhando e perguntando que tipo de monstro eu era. Peguei meu celular e coloquei musica, e entrei debaixo do chuveiro.

Eu fiquei ali encostada chorando e chorando, eu precisava parar de chorar. Precisava que aquilo parasse de doer! Eu precisava...

Eu olhei para o lado e vi a gilete... A gilete. Ok, o que eu estava pensando? Mas na hora, eu não queria saber. Precisava tirar essa culpa que estava dentro de mim, eu não iria aguentar...

Eu peguei a gilete e comecei a passa-la pelo meu pulso. No começo doeu um pouco, mas depois aquilo foi... Bom. Eu finalmente consegui parar de chorar, e ficava observando o sangue escorrendo do meu pulso, caindo no chão. Por incrivel que pareça, a culpa estava saindo de mim. Digo, eu tinha transformado aquela culpa em... Não sei, mas eu estava melhor. Eu estava bem melhor. Não sei porquê eu tinha feito aquilo, mas aquilo tinha me ajudado. Eu não estava mais me sentindo tão culpada assim, eu tinha merecido aquilo. Deu para ouvir lá de cima o barulho do carro da minha mãe, então eu sai do banho e deitei. Fingindo que nada tinha acontecido...

[...]

No dia seguinte, eu acordei e fui me arrumar para a escola. Entrei no banheiro e ainda tinha algumas gotas de sangue no box do banheiro. Eu limpei e fui tomar banho. Quando eu sai do banho, eu fiquei parada em frente o espelho olhando para mim e para os meus pulsos. Eu tinha voltado a me sentir um monstro, e também estava me perguntando que merda eu tinha feito comigo mesma. Aquilo por um momento me deu nojo. Eu estava bem pior do que a noite passada, agora também estava me sentindo culpada pelo o que eu tinha feito comigo mesma.

Eu fiquei me encarando ali, eu estava completamente nua e sangrando. Eu estava com tanto nojo de mim mesma, eu só queria sumir dali e nunca mais aparecer, queria morrer. Ficava observando o sangue escorrer de novo pelo meu pulso, e aquilo me deu vontade de vomitar. Quando fui me dar conta estava vomitando igual uma idiota, quando finalmente conseguia parar de vomitar, olhava para os meus pulsos e começava a vomitar de novo. Que nojo.