Ele me beijou.

–x-x-x-x-

Vou te dizer uma coisa: essa foi a tarde mais estranha da minha vida.

Não, não estou reclamando do beijo do Damon. Só que vou poupar os detalhes porque espero que tenha algum garoto lendo isso e eu não quero perder leitores. Alem do que, alguém pode ficar com nojo. Eu teria, se estivesse lendo algo assim.

Mas eu falo um pouquinho como foi: morramdeinveja foi bom. Pracaralhomorramdeinvejaporqueeusoumuitotopdeterbeijadoodamonevamosesquecerofatoquefoielequemebeijou. OK, muito bom. Cofcof,soumuitosortuda,cofcof.

Mas não é disso que estou falando. Deixe-me explicar: Eu lembro de conversar com * palavras inapropriadas * do Nicolas, e me lembro de chorar muito no banco da praça. Lembro de ver o Damon e ter uma conversa muito da esquisita (e dele me beijar, cof cof). Mas daí eu não lembro mais de nada! E são 18h! Sabe o que é não se lembrar de 4 horas da sua tarde? É assustador. Eu não lembro de nada, só de dois olhos azuis me encarando. (eu diria “romântico”, SE-EU-LEMBRASSE-DE-ALGO!)

E tem mais alguns fatores que entram nessa tarde estranha. Primeiro: Cadê o Damon? Ok, eu sou acostumada com os garotos que me beijaram e me fizeram de boba pra depois no outro dia nem me olharem na cara. Mas mesmo o Damon sendo... bom, o Damon, eu não achava que ele era daquele tipo. Vai saber.

Segundo: Eu não estava usando uma echarpe! (desavisados; echarpe é aquele pano que as mulheres enrolam no pescoço.) Eu nem tinha uma para usar! Então como aquilo veio parar no meu pescoço? Só que algo me dizia para não tirar. Não sei por que, é só para não tirar.

Terceiro: onde estava o nó da echarpe estava dolorido. Bem dolorido.

E quarto: Eu estava com um gosto estranho na minha boca. Não era familiar, e acho que não consigo definir como “bom”. Era estranho, diferente.

Só que entre isso tudo tinha um porém: eu estava me sentindo meio fraca, meio estranha. Estava ligado com o gosto na minha boca. Me deu uma sensação de fraqueza.

Fui tirada dos meus pensamentos quando o meu celular vibrou na minha bolsa. Liguei o celular e vi uma mensagem de Elena: “Vocês vem?” Eu já ia escrever “sim” quando lembrei que confirmei para ela, no parque, a algumas horas atrás. Por que ela me perguntou de novo?

Entendem como está a minha cabeça? Totalmente confusa. Argh! Eu odeio coisas confusas.

Peguei o meu celular e liguei para Amanda, perguntando onde ela estava (ela: em casa, ué! Não sou vagabunda que nem você!) e falei que estava indo para casa.

~o~o~o~

Cheguei em casa, fiz uma malinha, peguei o meu colar (ESTÃO LENDO ISSO, PESSOAS MAIS PREOCUPADAS COM O COLAR DO QUE COMIGO?) e respondi uma mensagem da Elena, perguntando (de novo) se a gente ia para a casa dela. Eu e Amanda saímos de casa e andamos até a casa da Elena.

Eu nunca tinha ido na casa da Elena, tinha? Acho que não. Mas é bem bonitinha, aconchegante. OK, a quem eu estou querendo enganar? Eu quero me mudar para a casa da Elena! Carambaa, eu amei!

Ok, passou.

Tocamos a campainha e ouvimos algumas vozes lá de dentro. De repente, a porta se abre, e três cabeças aparecem.

– Até que enfim! – fala Caroline, com os cachos loiros tombados pela inclinação da cabeça dela.

Rimos e entramos.

– Então, por que vocês demoraram tanto? – perguntou Bonnie, parando na sala da Elena.

– é que eu já tinha falado para a Elena e.... – nisso eu me viro e reparo em uma coisa na Elena. – Elena, o seu cabelo não estava encaracolado?

Ela me olha com duvida.

– como assim?

– eu te vi no parque hoje e você estava com o cabelo encaracolado! Como seu cabelo agüenta chapinha e babyliss no mesmo dia?

As três se entreolharam, receosas. Olho para Amanda. Falei algo errado? Elena pega seu celular e vai para a cozinha.

– bonita echarpe... – fala Caroline, quebrando o silencio (constrangedor). – alias, até se parece com a minha...

Olho para o meu pescoço. Ainda estava dolorido.

Parece que Caroline se lembrou de algo, pois ela ficou pálida e olhou para Bonnie, formando uma palavra nos lábios. Não sei o que era.

– Julia, quem te deu essa echarpe? – pergunta Bonnie.

– Acho que o Damon..

Bonnie olha de volta para Caroline, que estava ainda mais em alerta.

– você vê o Damon na praça e nem me conta? – pergunta Amanda, fingindo-se ofendida. Rio e mexo os lábios falando "depois eu te conto". Amanda ri.

– que horas você viu o Damon? – recomeça Bonnie.

– á tarde..

– Julia, você se lembra perfeitamente da sua tarde?

Engulo em seco. Como elas sabiam? Abri a boca para falar, mas Elena chegou de volta, falando:

– Eu peguei um pouco da conversa de vocês. Vamos para o meu quarto?

Nós estávamos indo para a escada quando ouço uma voz masculina descendo as escadas.

– Elena? O que está acontecendo? Eu ouvi o nome do....

O garoto para no meio da escada. Deduzo que ele é o irmão da Elena. Ele passou o olhar por Caroline, Bonnie, Elena, por mim e parou do meu lado. Dei um sorrisinho fraco, como se estivesse dando oi, mas percebo que ele não esta nem aí pra mim. Olho para o lado, e vejo Amanda encarando ele, com uma mistura de sorriso e surpresa no rosto. Ele sorri um pouco também. Eles ficam assim por alguns segundos, então Elena corta o clima dos dois.

– Jer, essas são Julia e Amanda. Garotas, ele é meu irmão, Jeremy.

– Ah.. Oi... – começa ele, trocando o olhar para mim e para Amanda. Ela sorri e olha para baixo. Eu tenho uma leve impressão que isso pode ser chamado de "amor a primeira vista", não acham? Eu vou encher muito a paciência dela por isso.

Caroline começa a subir as escadas, e Bonnie vai atrás. Elena vai, eu vou, e Amanda por ultimo. Quando passo por Jeremy ele se vira para mim e fala um "prazer", mas volta o olhar para Amanda. Subo mais rápido, me viro e vejo os dois, se encarando, sorrindo. Meus deuses, eu nunca pensava que ia ver a Amanda assim. É digno de um prêmio.

Dou uma tossida meio falsa, e a Amanda olha para mim.

– Vamos? – pergunto, inclinando a cabeça para o local da porta do quarto de Elena. Amanda cora e sobe as escadas. Ela passa por mim, indo rápido para o quarto. Encaro Jeremy, arqueio as sobrancelhas como se estivesse falando "gostou dela, hein?" Ele rebateu o olhar levantando as mãos, como se dissesse "eu não fiz nada!" Cruzo os braços, e levanto só uma sobrancelha, como "aham, sei sei."

Ouço um grito da Amanda me chamando. Me viro e vou para o quarto.

Ótima conversa que tive com Jeremy.

Entro no quarto de Elena, e vejo todas sentadas no chão, em rodinha. Sento-me, fechando o círculo.

– Vai nos contar ou não o que aconteceu na sua tarde? – pergunta Amanda, me batendo. Eu rio.

– Bom.... Você, você... – falo, apontando para Caroline e para Bonnie – não vão gostar, você – aponto pra Amanda – vai me matar, ou se matar primeiro, não sei, e você.... – paro um pouco, avaliando a situação, olhando para Elena. Ela ficaria muito brava se o irmão do namorado dela me beijasse? – é, você não vai gostar também.

– Fala logo!! – fala Amanda, jogando uma almofada em mim.

Eu pego a almofada, ponho ela entre minha barriga e minhas pernas, abraço as minhas pernas, tento tirar o sorrisinho bobo da cara (por que raios eu estava com um sorriso bobo, que nem garota apaixonada! Eu não estou gostando do Damon! acho) e falo, em uma única respiração:

–ODamonmebeijounapraçaàtarde

Enfio a minha cara (vermelha ¬¬) na almofada, abraçando mais minhas pernas. Tudo ficou quieto por segundos, o que eu estranhei. (a Amanda, quieta? Deuses, chamem uma ambulância, ela morreu.) Estranhei muito. Respiro fundo e levanto a cabeça.

Juro pra vocês que se essa cena não fosse constrangedora, ela seria completamente cômica. Eu vou tentar descrever a cara de cada uma.

Caroline: estática, de boca aberta, tipo “eu ouvi direito?”

Bonnie: do mesmo jeito do que a Caroline, mas um pouco pior. Tinha um pouco de indignação na cara dela.

Amanda: estática, de boca aberta, mas com um sorriso crescente. Ela está abraçando a almofada com uma força surpreendente. Nessa hora eu realmente fiquei com medo dela me matar sufocada oO

Elena: Essa eu não sei descrever. A mistura da cara estática com boca meio aberta era: “eu ouvi isso direito?” + indignação + (juro que eu entendi isso) não acredito que ele fez isso” e mais alguns do tipo.

Estava alternando o olhar de uma para outra, que não se mexiam, até eu ser atacada por uma king-kong, vulgo Amanda.

– Você beija o DAMON e demora mais de 1 hora para me dizer?? Como isso é possível? Eu deveria ter sabido no segundo seguinte!!
– Sure, Amanda! O Damon me beija e depois ele afasta a cara de mim e me vê pegando o celular, ligando pra você e falando “OMG AMANDAJENTOF VOCENAOTEMNOCAO O DAMONMEBEIJOU E ELETAAQUIDOMEULADO OMFG OMFG OMFG ~MORRI” Acho que ele ia me achar mais normal do que já sou!

­– Mas quem disse que você é normal? – rebate ela

– Não vamos entrar nesse mérito. – falo, entre risadas.

Eu preciso falar que a Elena, a Bonnie e a Caroline ainda estavam estáticas?

– Erhn... meninas? – pergunto, balançando a mão na frente delas. Acho que estavam em estado de choque.

– Julia. – rebate Caroline – tira essa echarpe.

– Por que? – pergunto, ficando séria de repente. Eu não podia tirar aquilo, e não vai ser ela que vai tirar.

– você precisa tirar – fala Bonnie, suavemente, mas séria.

– A gente te explica depois – continua Elena, indo na minha direção.

Recuei. Elas não podem fazer isso.

– Vocês não podem fazer isso com ela! – fala Amanda, do meu lado. – Se ela não quer tirar, problema dela!

Caroline fez que ia andar para frente de Amanda, mas ela viu o colar e resolveu não executar o que estava planejando.

– Vocês não vão tirar. Vocês não podem tirar. Eu não posso tirar.

– Por que não? – rebate Elena

– Porquê.... Porquê.... Porque não! – falo, gaguejando. Eu não tenho um motivo concreto.

– Entao tire – falou Bonnie.

Encarei as três. Elas não podem fazer isso comigo. Elas não vão fazer isso comigo.

– Tentam tirar isso do meu pescoço e você vai sofrer as consequencias – me ouço falar. Agora vem a pergunta: POR QUE RAIOS EU FALEI ISSO, se eu não sei nenhuma luta e sou completamente da paz? SOCORRO, eu to ficando louca.

Ouço Caroline abafar um riso de escárnio.

Ah, isso me irritou.

Elena de repente para, congela, e se vira para Caroline. Ela sussurra algo no ouvido da outra, e depois as duas se levantam (Bonnie se levanta em seguida) e Elena fala:
– Isso não vai dar em nada. A gente já volta.

Nisso as três saíram do quarto juntas. Ficou só eu e Amanda, uma olhando para a cara da outra com a mesma expressão: “O que está acontecendo aqui?” e “O que elas não estão nos contando?” Chego mais perto de Amanda.

– O que você acha?

– Não sei.. – fala ela entre suspiros. – ah, como eu queria ter uma super-audição...

Suspirei também. Seria legal, ter uma super-audição. Assim eu conseguiria saber o que elas estavam nos escondendo.

Eu consigo me imaginar tendo o poder de super-audição, e começar a ouvir as vozes de Caroline, Bonnie e Elena, falando sobre.... a echarpe, mordidas (??), a Bonnie contestando que ela tinha quase certeza do que eu era, a Caroline dando sua opinião sobre alguma lenda (Aonde lendas de vampiro se encaixam nessa conversa, me diz?) e mais alguma coisa........ calma, elas falaram sobre o Damon?

Espera. Eu realmente estava ouvindo. Agora não mais, por que eu perdi o foco, mas eu estava ouvindo elas. Como se elas estivessem do meu lado. Eu ouvi as vozes delas nítidas. Como se eu estivesse participando da conversa.

­– Ju?

– Eu – me viro para Amanda – que foi?

– Nada, é que você fechou os olhos e parecia concentrada em alguma coisa....

– Ah – engulo em seco – eu acho que eu ouvi elas.

– Como assim? – pergunta ela, com um tom mais alto. (shhhh, falo) – como? Elas estão a mais de metro de distancia, e estão falando super baixo! Senão eu também teria escutado!
– Ah, é que... Eu só me imaginei tendo uma “super-audição” e eu consegui escutar elas...

– Julia, o que há de errado com você?

– não tem nada de errado comigo! É que eu...Erhn... Ah, não sei Amanda, eu me imaginei ouvindo e ponto. Esquece isso.

As três voltam da “conversa”,com o olhar tipo “vamos fingir que está tudo bem”.

– Vamos fazer um jogo? – fala Bonnie, se jogando na cama de Elena. Estranhei.

– que tipo de jogo? – pergunta Amanda, desconfiada.

– Vamos fazer assim: vamos nos sentar em roda de novo, e daí uma esconde algo no quarto da Elena e as outras tem que descobrir onde está.

– Que jogo idiota – solta Caroline. As duas olham pra ela, e ela acrescenta: – mas é bom para passar o tempo.

Elena levanta e pega algo na mesa, e volta para nós. (Caroline e Bonnie já tinham sentado no chão com a gente) Elena abre a mão e mostra uma pedrinha verde-água.

– Eu vou esconder essa pedrinha em algum lugar do meu quarto, ok? Fechem os olhos!

Fechei os olhos, bufando.

Imaginei a pedra verde debaixo do travesseiro.

Sabe quando você meio que imagina a imagem na sua cabeça? É difícil explicar... tipo você consegue ver na sua cabeça a cena passando. Entenderam?

Anyway, eu imaginei a pedra verde sendo colocada debaixo do travesseiro.

– Pronto, e aí? – ouço a voz da Elena falar. ­– podem abrir os olhos!

Abro os olhos, revirando-os em seguida. Fala sério, eu não vim para uma “festa do pijama” infantil para a gente só ficar sentadas que nem besta em roda, né? Só faltava cantar “Corre cotia, na casa da tia, corre cipó, na casa da avó..” mas vamos ver aonde elas querem chegar com isso.

–Vamos fazer assim: começa com a Amanda falando onde acha que está e dai vai em sentido horário. – eu estava na esquerda dela, então vou ser a última. Que maravilha.

– No seu bolso – fala Amanda, entre suspiros. Parece que ela está entediada. Acho que ela queria estar conversando com outro Gilbert.. se é que vocês me entendem. HAHA, como eu sou chata :3

Elena põe a mão nos dois bolsos, e não tinha nada lá dentro. Ela olhou para Caroline, que acreditem, estava com uma cara de tédio maior do que a minha.

– Sei lá, Elena! Na sua escrivaninha!

Elena vai até a escrivaninha, e não tem nada lá. Todo mundo olha para Bonnie.

– Embaixo da ponta do tapete – fala ela. Eu não consegui adivinhar o que ela estava sentindo: Escárnio, orgulho, tédio, ou outra coisa. Algo me diz que eu vou ser muito amiga da Bonnie. Ou uma inimiga mortal.

Quando me dei por mim, todo mundo estava meio que me encarando. Corando um pouco, falo:

– Debaixo do seu travesseiro.

Elena vai até o seu travesseiro, já começando uma fala tipo “acho que ninguém acertou..” mas a fala morre no “acho”. Ela pega uma coisinha pequena e mostra para a gente. A pedrinha.

Engulo em seco.

–Mas... Eu... – gagueja Elena – não..

Ela olha para Bonnie, que também estava com uma cara de espanto. Por que eu estou achando que a Bonnie sabia onde estava a maldita pedra?

Elena corre até o criado mudo dela, e abre a gaveta. Ela procura por algo, mas parece que não está lá.

– O que aconteceu aqui? – pergunta Caroline, meio confusa, meio brava.

– Essa pedra – começa Elena – eu pus ela na gaveta, não debaixo do travesseiro! Como isso veio parar aqui?

Todo mundo me encara.

– O que foi? – pergunto, me levantando. – vocês não acham que eu mudei de lugar, certo? Como eu conseguiria fazer isso se você estava vendo tudo? E você também, que eu sei – ameaço, apontando para Bonnie.

– O que você quer dizer com isso? Que eu bisbilhoto as coisas de outras pessoas?

– Primeiro que isso é um joguinho bobo e nem tem importância de perder ou ganhar. Segundo que quando a Elena estranhou a pedrinha ela olhou direto para você, sem nem olhar para outro lado. Terceiro que você sabia onde estava a maldita pedra e deixou passar, para ver se outra pessoa acertasse, e a única pessoa que não tinha ido era eu. Então eu não acho nada, eu só tiro conclusões do que eu vejo.

Um silencio pairou entre o quarto. Me sento, de volta onde eu estava, e Bonnie fica em pé, olhando para Elena.

– Acho que ninguém nunca vai conseguir ganhar de você no bate-boca, Ju – sussura Amanda, baixinho no meu ouvido. – você consegue uns argumentos que parece que tem um point no seu ouvindo falando tudo pra você.

Sorrio.

– É, – fala Elena, se jogando na cama, suspirando. – essa noite vai ser longa.

Atrás dela, do lado de fora da janela, um corvo PIA))), assustando todas. Olho os olhos do corvo.

Olhos.. Azuis?