All Apologies. escrita por Catarina_Rocks


Capítulo 6
Capítulo 5: Venha como você estiver.


Notas iniciais do capítulo

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Capítulo 5: Venha como você estiver.

BPOV.


Todo o mundo possui um lugar de paz. Um lugar onde você pode ir quando está triste, quando precisa pensar ou simplesmente quando quer... um pouco de espaço.

Nos filmes lugares assim são geralmente terraços de grandes prédios, montanhas, clareiras ou qualquer outro lugar que se equipara ao paraíso.

Na minha vida, esse lugar tinha cheiro de gordura velha, mesas quebradas com o estofado gasto, uma Juicebox onde você só ouvia os melhores country’s dos anos 80, um palco a beira da destruição e um bar tão receptivo quanto a cadeira de um psicólogo. O Billy’s Bar aos olhos da vigilância sanitária, das pessoas com um bom gosto real e dos adeptos da vida sem pressão alta ou colesterol, era realmente o pior lugar do mundo se o que você procurava era um restaurante decente.

Pra mim – pessoa sem noção do que é classe e prática mulher-caminhoneiro de Washington – o Billy’s Bar era melhor que qualquer Outback do mundo. Eu tinha ali meu recanto de paz.

Eu observei a fachada velha de lanchonete dos anos dourados enquanto permanecia no carro um tanto confusa por não saber como agir direito com a minha melhor amiga.

Para uma noite de quinta-feira, o lugar estava vazio demais quando se olhava apenas pela fachada. Eram em noites assim que o movimento era maior, pois os fanáticos por futebol costumavam abandonar suas casas para ter a sensação de real torcedor americano naquele bar. Aparentemente, o tempo havia mudado algumas coisas, pois o quê eu via no momento eram apenas algumas pessoas conversando e dois bêbados jogados ao balcão do bar.

Assim que pus meus pés no meu antigo recanto de alegria, senti a atmosfera nostálgica se abater sobre mim. Eu vi uma Alice gordinha e barriguda batendo os dedos em ansiedade logo ao bar, enquanto gritava pela atenção de Jacob. Quando o homem moreno, alto e atlético apareceu com feições bem mais maduras das que eu conhecia – quase que senti meu coração parar.

Jacob estava muito mudado.

Seus cabelos antes tão grandes que podiam ser maiores que os meus, agora estavam muito ralos. Seu físico parecia de um daqueles ratos de academia muito obcecados, e eu não pude deixar de me sentir mal por ser a única que não havia progredido muito em sete anos.

“Finalmente, Jacob!” Ouvi Alice exclamar impacientemente enquanto eu me aproximava. “Eu estava tendo um filho aqui já.”

“Segure essa criança aí dentro, Alice. Nós não queremos mais um parto aqui.” Jacob respondeu com uma voz máscula e jocosa.

Mais um?” Eu perguntei de supetão, sorrindo timidamente esperando a reação dele.

“Bella Swan?!” Ele exclamou com um sorriso radiante. “Não acredito!”

“Olá, Jacob.” Sorri para ele. “É bom te ver.”

Eu gostava de Jacob. Ele sempre fora o mais legal e gentil possível comigo e mesmo quando eu chutei sua bunda para ficar com o Edward, ele continuou sendo um bom amigo. Agora, vendo-o cara a cara, pude notar como havia sentido sua falta e do sorriso contagiante dele.

“Digo o mesmo.” Ele disse do outro lado do balcão. “Você veio para o casamento?” Ele perguntou, mas logo deu um leve tapa em sua própria testa. “Desculpe, essa pergunta foi um tanto cretina. É o seu irmão.”

Eu soltei um muxoxo de riso.

“Então, eu ouvi dizer que você agora é o gerente daqui. Meus parabéns, senhor empresário.” Eu disse com um sorriso.

Ele riu levemente. “Obrigado. Mas, pelo o que você percebe, nós temos perdido alguns clientes devido ao maldito Subway e sua conversinha de lanche saudável.”

“Tem um Subway em Forks?” Arregalei meus olhos levemente. “Eles estão em toda parte agora, não é? Mas não se preocupe, eu continuo gostando da gordurosa batata frita e dos anéis de cebola.”

“Assim eu espero.” Ele disse nós acabamos sorrindo um para o outro, quando Alice exigiu atenção com um pigarro alto.

“Bom,” Ela disse me olhando de esguelha. “Eu quero um sanduíche de mortadela, com rosbife, bacon e muito, muito queijo.”

“Você realmente estava desejando carne. Por isso já está tão... robusta” Eu observei brincando.

“Não me provoca, Bella.” Alice rosnou. “Eu ainda posso chutar a sua bunda daqui e você sabe como eu posso ser assustadora.”

“Me desculpe.” Eu mordi os lábios. “Eu não quis te ofender, só estava brincando.”

“Oh, por favor, Bella,” Ela resmungou. “Não venha com esse papo... Eu não vou medir minhas palavras com você, até porquê eu nunca medi.” Ela sorriu maleficamente.

Algo estranho sobre minha relação com Alice, era que nós estávamos em constantes bate bocas ou brigas infundadas. Eu amava provocá-la e ela adorava o sarcasmo e o deboche para me provocar. Na verdade, nós amávamos brigar e então fazer as pazes comendo um grande pote Ben e Jerry’s como reconciliação.

Houve uma vez em que ela me deu soco no olho porquê eu estava insistindo em usar a fantasia da Madonna no Hallowen e ela também a queria. Eu posso ou não ter dito que Madonna nunca seria uma anã sem classe como ela e então quando eu vi, estávamos nos engalfinhando, com Edward e Jasper tentando nos separar.

E por mais que ela estivesse com raiva de mim, bem no fundo, eu sentia que todos os retruques grosseiros dela eram parte do nosso tratamento de sempre. Eu não sabia até que ponto isso era coisa da minha cabeça.

“Alguém aqui não está no seu melhor humor.” Jacob disse sorrindo. Ele parecia como o sol com aquele sorriso doce e cativante. E não sei como, mas me senti tão melhor sobre a presença dele que eu apenas sorri de volta pra ele enquanto Alice resmungava que Jacob era um idiota.

(...)

“Foi bom te ver de novo, Bella.” Ele disse piscando enquanto entregava o pacote cheio para Alice, que nos olhava com atenção. “Muito bom mesmo. Nós sentimos sua falta.”

Eu sabia que ele estava flertando, mas eu também sabia que Jacob era daquele jeito com todo mundo. Então eu disse de volta que sentia saudades dele também e que estava feliz por voltar.

Eu não pude deixar de perceber Alice franzindo o cenho em meio a nossa interação, mas deixei pra lá enquanto ela voltava para o carro e sentava-se em silêncio ao meu lado.

“Nossa Bella, eu sempre soube que você era brega, mas Unbreak My Heart é o cúmulo.” Alice disse enquanto ligava o cd do rádio.

“Eu simplesmente estava querendo ouvir algo deprimente.” Dei de ombros, enquanto dava a partida rumo a casa Cullen.

“Uau, confessos de um suicida também funcionaria no caso.” Alice zombou.

“Isso porquê não é você que tem que passar pelo o que eu estou passando.” Eu retruquei.

“Bee, não se faça de vítima, ok?” Ela olhou para mim enquanto eu me esforçava em olhar apenas para a estrada. “Você tem que aprender a lidar com as consequências dos seus atos.”

“Eu lido assim, Alice.” Eu devolvi. “Não estou me fazendo de vítima, mas eu também não sou de ferro. Essa situação tem tomado todo o meu bom senso.”

Ela me encarou mais intensamente e eu apenas a olhei de soslaio, sabendo que ela estava a porra de me analisando. Ela sempre fazia aquilo.

“Você ainda o ama?” Ela me perguntou em um sussurro e eu apenas não soube como mentir.

“Acho que nunca vou deixar de amar.” Eu sorri apologética. “Mas eu o amo a ponto de ficar feliz com a felicidade dele. Não pense que eu voltei para recuperá-lo de volta nem nada. Eu sei que não o mereço.”

Alice suspirou.

“Ela é legal, sabe.” Ela deu de ombros e eu sabia a quem ela se referia. “Foi estranho quando ela chegou e nós o vimos com outra, mas... ela o faz bem.”

“Eu espero mesmo que faça.” Eu disse sentindo um bolo em minha garganta.

Foi necessário juntar toda a minha força de vontade para não chorar ali na frente de Alice. Ela já era a terceira pessoa que me falava sobre o quão legal Izzy era e como ela fazia Edward bem. Eu sabia que deveria me sentir um pouco mais aliviada por ele estar feliz, mas eu não podia deixar de pensar que eu continuava pensando em nós quando ele já tinha seguido em frente.

“Jacob gosta de você.” Ela disse de repente.

“O quê?” Eu devolvi com um vinco em minhas sobrancelhas. “Tinha algum tipo de droga naquele sanduiche ou quê? Não fale absurdos.”

“É verdade. Ele gosta.” Ela disse. “Sempre gostou, na verdade. E eu vi o modo como ele olhou pra você hoje, era um olhar de esperança. Agora que você e o Edward não... Bem, você vai ficar com ele?”

Resfoleguei uma gargalhada.

“Acho que você está meio chapada. Claro que não, Alice. Acorde.” Eu disse franzindo os lábios. “Jacob não me vê há anos e ainda sim, nós não temos nenhum tipo de contato romântico desde que eu e Edward começamos a namorar. E isso faz séculos.”

“Mas ele continuou gostando de você.” Ela deu de ombros. “Você apenas era muito envolvida em Edward para perceber.”

“Que seja,” Fiz um gesto coquete. “Eu não vou sair com o Jacob ou com ninguém. Não estou a procura de um namorado.”

“Por quê? Você já tem alguém em Chicago?” Ela me perguntou curiosa.

Eu ri levemente. “Essa pergunta é mais imbecil que as outras.”

“Você pelo menos teve alguém nesses anos todos?” Ela me olhou surpresa.

“Não.” Mordi os lábios e então suspirei. “Digo, eu tive encontros com um cara umas três vezes, mas não foi nada que valha a pena mencionar.”

“Você me dizendo que em sete anos, você não teve sexo? Nenhum tipo de sexo com o gênero oposto?” Ela me olhou com os olhos arregalados.

“Agora você parece a Rose falando.” Balancei a cabeça.

“Então, você só esteve com o...” Ela começou, mas eu a interrompi.

“Eu tentei com esse cara, o James. Nós meio que não saímos da segunda base e isso não me fez mal.” Dei de ombros. “Eu não sou assim, Allie. Minha vida sexual era ativa porque eu tinha um relacionamento sério e estável, mas eu não tive mais isso pra poder me aventurar por aí.”

“Você me deixa total, absoluta e impressionantemente mais irritada com você conforme o tempo passa.” Ela declarou virando-se para frente.

Franzi o cenho. “O que eu fiz de errado?”

“Você fodidamente não seguiu em frente!” Ela exclamou exasperada. “Você foi embora e eu estava realmente acreditando que fosse por você querer aventura ou uma vida diferente, mas você chega e diz que tudo foi uma merda e que nem mesmo tinha vontade de transar! Meu Deus, você tem que ter um ótimo motivo pra eu poder pelo menos tentar te entender.”

“Eu não disse que não segui em frente.” Rebati notando que já estávamos perto da casa Cullen. “Eu simplesmente não encontrei em ninguém o que eu tinha com o Edward e isso descartou com a minha libido.”

“Você não terá com ninguém o que você teve com o Edward, porque essa relação entre nós seis vai além da compreensão humana. O que eu e Jazz temos e Rose e Emm também tem, é maior que qualquer relacionamento existente. O seu e o do Edward chegava ainda a ser um tanto mais profundo.”

Balancei a cabeça estacionando em frente à mansão. “Isso não vem ao caso.” Disse resignada. “Eu sei que talvez eu nunca mais encontre alguém como ele na minha vida. Eu estou conformada. Mas se você acha que eu nunca quis procurar, você está enganada. Eu simplesmente não posso procurar, não consigo. Viver relembrando é melhor que viver comparando todo e qualquer relacionamento com aquele.”

“Você continua me irritando.” Ela disse bufando. “Você está apenas me dizendo que não consegue sentir algo por outra pessoa. Que por mais que queira outro alguém, você o compara com o meu irmão e que não para de pensar em vocês dois. Isso é ridículo. É masoquismo e eu não vou ficar aqui tentando entender porque você jogou fora toda a sua felicidade.”

“Não me dê sermões, Alice. Eu voltei pra terminar com tudo isso e eu estou pedindo que você me perdoe, mesmo que não entenda. Amigos fazem isso, você mais que amiga, é minha irmã, então, por favor, só... tente.”

“Fica difícil quando eu vejo que você está infeliz. Que você foi infeliz e continua sendo, agora que ele está prestes a se casar.” Alice argumentou. “Eu te amo tanto, B. Isso é ruim pra mim porque me deixa com raiva saber que você não se importa com você, que você deixou tudo e agora sofre por isso. Eu fico com raiva por saber que ninguém saiu ganhando com esse drama todo e eu só quero saber se há alguma causa plausível.”

“Acredite em mim quando eu digo que há.” Eu sussurrei. “Eu só não posso falar a respeito.”

“Então,” Ela me olhou com a mão na maçaneta do carro. “eu acho que vou esperar pra te entender e te perdoar até o ponto em que você decidir me contar. Porque se você não pode confiar em mim, eu não vou poder confiar em você.” E nisso ela saiu, me deixando sozinha com a minha própria consciência.

Eu sabia que ela tinha razão, mas eu não podia contar.

Simplesmente não podia.

(...)

Havia sido um dia longo.

Um dia longo, muito, muito longo.

Após o momento louca de Alice, o clima ficou um pouco mais tenso no ar. Todos resolveram dormir e eu não pude deixar de notar como Edward beijou a têmpora de Izzy ao desejar boa noite a todos quando os dois foram para o quarto.

Ela era uma cadela.

Ela tinha tudo àquilo que um dia eu tive e isso me deixava irritada. Alice havia dito que sentia raiva de mim por eu ter jogado fora a felicidade plena, mas ela não sabia que quem mais se irritava com isso, era eu.

Com Masen ao meu lado, cheguei ao meu quarto com uma sensação de estranha em meu corpo. Era exatamente igual ao cômodo que havia na casa de Charlie, mas ao mesmo tempo era tão diferente.

Tudo estava diferente. Eu olhei para Masen que agora brincava com a coxa da cama que se arrastava no chão, e eu me senti uma estranha.

O meu baú localizado na cabeceira da cama estava aberto e eu instintivamente comecei a fuçá-lo. Havia uma pequena caixa com fitas cacetes e pôsteres, mas um objeto familiar me chamou mais a atenção. Encarando aquele maldito CD Canções para Bella ouvir quando quer lembrar das canções que Edward ouve para lembrar de Bella, eu cheguei a infeliz conclusão de que não conseguiria dormir naquele quarto sendo rodeada de lembranças e objetos simbólicos de mim e Edward juntos.

Eu estava tentando não pensar naquilo, ser forte como uma rocha, mas era tudo muito próximo e representável para eu simplesmente ignorar.

Eu via em todos os lugares presentes dele, como o meu apanhador de sonhos, minha velha coleção de escritos de Jane Austin 1° edição, fotos e mais fotos nossas, postais pendurados nas paredes que nós dávamos um ao outro como promessa de que visitaríamos cada uma daquelas paisagens. Era como uma droga de capsula do tempo do momento mais feliz da minha vida. Eu simplesmente não podia ficar ali.

Com a ideia de que dormir sozinha ali seria impossível, eu deixei um Masen sonolento em minha cama e desci até a cozinha para tentar anuviar minha mente de qualquer memória indesejada.

Eu peguei uma grande quantidade de sorvete e biscoitos no armário da cozinha e me dirigi até pequeno gazebo do solário de Esme. Eu poderia ficar ali até o Sol nascer e esperar até o ponto em que estivesse com sono demais parar me concentrar na cama em que estava dormindo.

Usando minha camiseta rasgada do time de futebol dos Espartanos de Forks e uma calça de flanela fina, percebi que deveria ter colocado um casaco ao me deparar com a neblina fria da madrugada de Forks. Eu me sentei de pernas cruzadas em cima da mesa e permaneci fitando o nada, me empanturrando de comida.

Se eu pudesse, ascenderia um cigarro e tudo estaria perfeito.

Havia um grande par de coisas na minha mente no momento, mas a principal era de como diabos eu iria fazer para enfrentar toda aquela situação incômoda entre Edward e eu.

Se minha principal atitude era fazer com que ele me perdoasse e tentar estar confortável ao redor dele, eu devia, no mínimo, deixar de pensar em como eu sentia falta dele e como eu estava sofrendo ao vê-lo com a Izzy.

Mas não dava. Eu olhava nos olhos dele e sentia tudo esvanecer em segundos.

Os olhos dele me sugavam. Eu me esquecia de quem era naqueles olhos. Esquecia o que eu deveria dizer, esquecia minhas melhores piadas, aquelas que eu sabia que eram fodidamente hilárias. Esquecia todas as coisas que sabia que eram impressionantes.

Eram olhos diferentes, conhecedores. Eu odiava o jeito que eles me penetravam e faziam eu me sentir como se eu fosse alguma coisa. E, no próximo olhar, eu não era nada. Mas eu amava o jeito que ele me via.

Estava tão absorta na minha própria desgraça, que eu quase não ouvi os passos pesados se aproximando e uma sombra masculina aparecer ao meu lado sem me notar.

E claro que era Edward.

Porque a porra da vida é exatamente legal assim.

Ele não me viu nos próximos cinco minutos e eu estava querendo me chutar por não lembrar que ele sempre fazia passeios noturnos á noite para comer um pouco de doces.

E foi ali, quando ele estava de costas pra mim, que eu o vi ascendendo um maldito cigarro. E a minha boca grande não conseguiu se segurar.

“Você fuma?!” Eu disse surpresa, segurando forte o pote de sorvete de creme em minhas mãos. Eu podia ouvir seu coração pulsando em seu peito quando ele se virou abruptamente para mim.

Ele ficou um longo tempo me encarando, e eu temi que ele fosse me ignorar e simplesmente desse meia volta para casa, mas ainda sim, ele suspirou longamente e respondeu, “Sim.”

Eu abri minha boca meio estupefata, mas ele continuou.

“Você não precisa contar, no entanto. Todo mundo acha que eu parei.”

Eu assenti sentindo borboletas no estômago pelo simples fato de ouvir sua voz se dirigindo pra mim.

“Você pode me dar um trago?” Eu mordi os lábios me perguntando se não estava forçando a barra demais e sendo muito inconveniente. Se fosse o caso, ele ainda não se importava, pois estendeu a mão me oferecendo o cigarro com uma movida estranha de cabeça.

E depois que eu traguei um único trago daquele cigarro, eu sabia que ele também tentava encontrar a melhor maneira de começar a conversa que nós dois precisávamos ter.

“Você cortou o cabelo.” Ele observou olhando-me de soslaio.

“Umas dez vezes.” Eu disse de volta, desconfortável. “Você também cortou o seu. Tá estranho, arrumado.”

Instintivamente ele levou a mão para o cabelo e suspirou. “É... eu meio que descobri o poder de gel e laquê. O ruim é que o meu cabelo fica duro e então...”

“Você não consegue passar a mão neles toda hora.” Eu completei apologética e ele acenou com a cabeça. “Eu lembro.”

E então nós caímos no silêncio. Maldito e cortante silêncio.

Já era muito surreal o fato de que ele havia parado ao meu lado e estava ‘conversando’ comigo normalmente, e então eu devia saber que era querer muito puxar assunto. Mas não resisti. Precisava ouvir sua voz, e aí eu simplesmente perguntei. “Você...” Engoli em seco. “Você está feliz? Com o seu noivado e tudo?”

Com aquela pergunta, seus olhos bateram diretamente pra mim e eu não soube como disfarçar minha mágoa ao tocar no assunto.

Porque eu era uma grande imbecil e tinha que jogar álcool na ferida.

“Mais do que eu pensei que seria.” Ele respondeu dando de ombros, seus olhos tão intensos como fogo em brasa.

Assenti engolindo em seco e nós novamente caímos em silêncio.

“Isso não incomoda você?” Ele perguntou, por fim, com uma bufada um tanto irritada.

“Não deveria,” Respondi mordendo os lábios com os nervos pulsando dentro de mim. De repente, eu o senti mais perto e notei que ele estava apoiado sobre a mesa em que eu estava sentada.

“Você não vai fazer isso, não é?” Ele perguntou me olhando como se eu soubesse exatamente ao quê ele estava se referindo.

“O quê?” Eu retornei com uma curiosidade mortal, olhando para o rosto forte dele.

Ele sempre havia me passado segurança, mas percebi que com o passar dos anos aquilo havia se intensificado. Agora, com o rosto largo e mais másculo, eu podia claramente dizer que ele poderia destruir o mundo se quisesse — eu só me sentia assim quando via o Rambo em algum filme.

“Você não vai foder com a minha cabeça agora que ela está um pouco melhor, não é?” Ele perguntou como se estivesse com medo de mim. E por um segundo, eu senti raiva dele por estar dizendo algo como aquilo, eu senti vontade de dizer que ele não tinha o direito de ser tão direto e de jogar todas as verdades não ditas na minha cara. Mas ele tinha.

Eu o conhecia bem demais pra saber que ele não era do tipo que deixava as coisas por baixo dos panos. Eu sabia que quando ele tinha algo na cabeça, ele simplesmente dizia. Porque ele era apenas Edward demais para ser diferente.

“Isso é o que mais tem me preocupado.” Suspirei me sentindo muito aliviada por dizer a mais absoluta verdade a ele, ao menos uma vez. “Foi um dos maiores motivos pra eu não ter ficado no enterro do Charlie e por eu nunca ter conseguido te mandar um cartão de aniversário.”

“Isso é uma grande merda.” Ele respirou após tentar analisar cada uma das palavras que eu havia dito.

“Eu não sei o que fazer,” Eu disse á ele honestamente, olhando-o dar uma longa tragada em seu cigarro. “eu não sei o quê dizer a você, nem como agir ao seu lado. Por favor, me diga o que fazer.”

“A verdade pode ser um bom começo.” Edward murmurou, dessa vez, olhando para as plantas verdes e voluptuosas ao nosso redor.

“Em uma escala de um á dez, o seu nível de ódio por mim?” Perguntei fingindo que não havia escutado sua declaração.

“Zero.” Ele disse dando de ombros. “Eu não odeio você. Eu nunca odiaria você.” Disse intenso e eu perdi o ar. “Não vou negar e dizer que você é minha pessoa favorita no momento e que eu não havia ficado com raiva. Droga, eu senti tanta raiva. Eu passava aquela noite milhares de vezes na minha cabeça e simplesmente nada se encaixava.” Ele fitava o chão em contemplação e o som de sua voz quebrada enxurrava meu coração de demasiada culpa. “Eu tentava adivinhar o que eu havia feito de errado e quando eu percebia que tinha feito tudo certo, eu ficava puto. Muito, muito puto. Eu assustei você?”

E eu sabia que ele estava se referindo á proposta. Á linda e romântica proposta feita na casa Willow da nossa clareira. Aquela em que ele havia deixado nossa música, Come As You Are, tocar como fundo e enquanto ele proclamava seu amor da mais doce e pura forma que ele já havia demonstrado.

Não mesmo.” Eu sussurrei enfática. “Nós dois sabíamos que aquilo era certo.”

“E mesmo assim você disse não.” Ele disse sem acusatórias ou mágoas. Era apenas uma observação dos fatos.

“Eu disse não.” Sussurrei sentindo o peso daquelas palavras.

Eu havia dito que não. Eu tinha que dizer não.

“Cheguei a uma conclusão sobre tudo.” Ele proclamou, timidamente, encarando os pés.

“Vamos á ela.” Devolvi séria, após um longo tempo de silêncio dele.

“Você sempre me surpreendeu.” Ele começou. “E você sempre foi... uma vadia estranha. Estranha pra caralho.” Ele riu dolorosamente. “Acho que eu sempre soube que uma hora ou outra você seria estranha demais e então esqueceria de tudo. Você só foi com a natureza Bella de ser.”

“Eu sou mesmo uma vadia estranha.” Concordei.

“Não,” Ele exasperou-se. “Sério, você é tão... indecifrável. Eu amava olhar pra você enquanto tentava te entender. Você era como o mistério de Monalisa, um quadro complexo e difícil. Não dá pra te acompanhar e você só fez o que você costumava fazer. Você simplesmente teve uma ideia e surpreendeu todo mundo.”

“Não foi assim,” Retruquei abatida. “Doeu em mim também, Edward. Você pode achar que não, mas... doeu. Doeu pra porra.”

“É...” Ele disse. “Você faz isso. Você é estranha e faz coisas mesmo que doa a quem doer. É só... o que a Bella faria.”

Fechei meus olhos e suspirei audivelmente.

“Qual o nosso nível de relacionamento pra... pra... Izzy?” Perguntei trazendo á tona sua mentira.

“Ela não sabe se há um.” Ele deu de ombros. “Eu simplesmente nunca citei você.” Ele bufou. “Eu também não faço ideia do que dizer á ela.”

“Diga que eu fui sua melhor amiga.” Eu disse e ele olhou no fundo dos meus olhos. “Eu fui de qualquer forma.”

“Você é.” Ele rebateu, “Nós fizemos uma promessa de dedinhos. Isso vale de algo ainda.”

Amigos desde sempre pra sempre, não importa o que aconteça.” Eu recitei com um sorriso nostálgico, lembrando-me da primeira vez em que dissemos nosso lema. “Você consegue isso?”

Ele não respondeu.

“Eu quero tentar conseguir. Mesmo que incomode muito.” Eu disse.

“Eu achava que não fosse te incomodar.” Ele murmurou. “Confesso que essa ideia me deixava irritado.” Ele olhou para seu cigarro no fim e não havia mais nada a ser dito. “Acho que nós podemos fazer isso. *Venha como você estiver, como você já foi.”

Eu olhei pra ele e entendi tudo o que seus olhos queriam me dizer. E de repente, eu fiquei triste. Muito malditamente triste.

“Como um amigo, como uma antiga lembrança.” Eu sussurrei sentindo lágrimas intrusas inundarem meus olhos.

“Como eu quero que você seja.” Ele disse antes de jogar seu cigarro no chão e se levantar sem olhar pra trás.

E eu fiquei ali, chorando e tentando me conformar com o fato de que era isso o que deveríamos ser dali pra frente: amigos. E nada mais que aquilo. Amigos. Certo. Maldição, isso dói. Como um soco filho da puta diretamente no meu intestino.


Continua...


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Notas finais do capítulo

* Pra quem não entendeu, eles recitaram trechinhos de Come As You Are, que mais pra frente vocês verão como é importante. Se você não sabe o que é Come As You Are o Google está logo aí, mas tenho certeza que ninguém insultaria Kurt Cobain dessa forma.
PS: Muitos capítulos terão nomes das músicas do Nirvana (como esse teve) porque são eles que eu escuto quando escrevo essa fic. Se vocês não perceberam, até o nome dessa história é de uma música do Nirvana e, como são pra mim, eles também serão muito importantes para os meus personagens. USHUAHUASH.
COMENTEM!!!! Leiam My Faith e tenham um ótimo feriado!!!!
ROBEIJOS E KRISSES...