Propositais e Premeditados (HIATUS) escrita por isthattoomuch


Capítulo 4
Perdidos na rodovia, final


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE /O/ DIUGHDFUG ah, me desculpem pela demora, cheeeia de trabalho escolar pra fazer. :s



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POV Ícaro

Levantei os olhos para o céu. Observei o sol já se pondo, e percebi, olhando de esguelha, que Melissa havia feito o mesmo. Virou-se para mim, o desespero no olhar. Agora ela se encolhia, pois um vento frio soprava seus cabelos.

Andávamos lentamente, cansados. Minha aparência não devia ser tão diferente da de um náufrago que passou por uma piscina lamacenta de piranhas. Minha bermuda estava suja, e eu já não usava mais blusa desde o começo do percurso; meus cabelos castanho-claros, de acordo com minha "companheira de viagem", estavam cobertos de terra. Mancava um pouco, me apoiando no ombro de Melissa, que segurava meu braço com firmeza. Ela estava tão preocupada com meu machucado que nem se encabulava mais.

As roupas de Melissa estavam igualmente precárias, e ela usava um coque feito com o próprio cabelo, deixando sua nuca à mostra. Estava pálida e acabava de esgotar nossa água racionalizada. Sem falar na... barriga nua, pois tinha improvisado uma faixa com um pedaço de sua blusa, para estancar meu sangramento na panturrilha.

O que me fez sentir um completo inútil.

Eu havia insistido para mergulharmos na cachoeira, eu havia largado nossas mochilas em um lugar inapropriado. E eu havia me machucado - mas não um machucado heroico, de quem desce um barranco inteiro dando saltos mortais e enfrenta um javali sanguinário lá embaixo. Não havia descido nem um metro e consegui fazer um corte relativamente profundo em minha estúpida panturrilha.

Durante o percurso, conversamos sobre praticamente tudo: assuntos cotidianos, suposições engraçadas, lembranças da infância, e, por muito tempo, quase nos esquecemos de que estávamos realmente perdidos. Descobri que tínhamos bastante em comum, e eu sentia que precisava de mais tempo com Melissa para compensar o tempo perdido.

Mas não era confortável conversar sobre aquelas coincidências estranhas, muito menos procurar uma explicação juntos. Algo nos travava; talvez o medo da resposta. Mas agora o silêncio se instalava, e Melissa escondeu o rosto de mim, virando-o para o lado oposto, as mãos ainda segurando firmemente meu antebraço.

– Você tá chorando? - percebi ressaltado, depois de um tempo. Sou meio lento para essas coisas. - Hey - chamei novamente, baixinho, colocando minha mão sobre a dela, que ia se afrouxando em meu braço. O carinho e necessidade de proteção que eu sentia por ela agora eram imensos. Veja, ninguém passa por uma situação dessas sem alterar seus sentimentos.

– Ícaro - fungou ela, em resposta, a voz ligeiramente aguda. - Estou com medo... estou com fome, estou cansada - desabafou. Meu coração se apertou, e uma lágrima correu lentamente por suas bochechas. Nesse ponto eu já não me lembrava de Jess mais.

Silêncio. Observei-a enxugando a lágrima, e me senti impotente.

– Vamos sentar um pouco - respondi, finalmente, em um tom tranquilizador. - Tenho certeza que vamos achar algum posto logo - conduzi-a, com a mão em suas costas parcialmente nuas, à algumas pedras - não tão confortáveis como as da primeira parada.

Nos sentamos, aliviados. As poucas pedras altas não nos permitiam distância, e nossas pernas se tocavam. Vigiei a oscilação de suas feições, cauteloso, e ela desabou de vez.

– Me desculpa... sou mais forte que isso - soluçou ela baixinho, apoiando as mãos em seus joelhos. O coque se desfez, e os cabelos grudaram em seu rosto levemente suado, mas ela não se importou. - É que eu nunca estive numa situação assim antes, e...

E eu acho que foi aí que a coisa realmente começou.

Interrompi-a com um abraço, passando meus braços por baixo dos dela, e, por reflexo, ela os conduziu ao meu pescoço, largando-os em meus ombros. Nossas barrigas nuas se tocaram, mas antes que ela pudesse se arrepiar toda e se soltar - e eu sabia que iria -, abracei mais forte. Melissa estava tensa e surpresa, mas acariciei suas costas ternamente e ela relaxou em meus braços.

– Calminha, pequena. - sussurrei em seus cabelos, me surpreendendo e surpreendendo Melissa. Me sentia extremamente bem. Sua pele estava quente, e ela tinha um cheiro adocicado, mas não enjoativo.

– Você tem cheiro de canela - ela conseguiu gaguejar.

Sorrimos. Eu não queria me soltar tão cedo. Ficar abraçado a ela me trazia a sensação de proteger e de segurança ao mesmo tempo, sensação que eu não experimentava há muito tempo. Ela não estava tão tensa mais, e se aconchegava em meus braços. Eu sentia cada nervo do meu corpo agitado, em contato com sua pele. Nossas bochechas se roçavam.

Então ela trouxe seu rosto de frente para o meu, e eu não pude resistir.

Desenhei com os olhos a curva de seu lábio inferior, sentindo sua respiração e seus batimentos cardíacos cada vez mais compassados aos meus, e nossos lábios se tocaram com delicadeza.

Levei minhas mãos ao seu pescoço, conduzindo-a. Mesmo nossos lábios meio secos pela sede, era perfeito (e, sem querer me gabar... se tem uma coisa que eu sei fazer bem, é beijar).

Embora a nova paixão ardesse em meu peito, foi um beijo terno e sereno. Um beijo para tirar o atraso, devo dizer. Um beijo de apresentação.

Um beijo de quem trai.

E parece que lembramos de Jessica na mesma fração de segundo, porque nos soltamos alarmados, arregalando os olhos.

Ela puxou o cabelo para um lado e se virou nervosa, encarando a estrada, a testa franzida. Fiz o mesmo; olhei a paisagem, mas não via nada. Constatei que meu cérebro explodiria se eu continuasse a oscilar entre paixão-traição, paixão-traição.

Procurei me acalmar, e enquanto passava os dedos pelos cabelos, uma luz à nossa frente, na linha do horizonte, me chamou a atenção.


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