Estávamos chegando a Capital. Continuava sendo magnífica. Mas não era tão espalhafatosa. Ninguém estava nos terminais, nos esperando descer. Ninguém gritando nossos nomes, mandando beijo. Quando descemos, outra surpresa. Pessoas comuns, com menos maquiagem, menos cores, menos enfeites. Algumas cirurgias, as irreversíveis, deixavam as pessoas com um ar triste, de arrependimento. Mas as crianças pareciam felizes. Gostavam do mundo em que viviam. Erick segurou em minha mão e me levou até o carro que nos levaria até a antiga casa de Snow. Não conversamos no caminho. Deitei em seu ombro e fiquei quietinha, observando aquele mundo novo, que eu podia até chegar a gostar. Só precisava de um pouco de esforço.

Chegamos à mansão de Coin e entramos em uma sala gigantesca. Menos luxuosa, mas continuava linda. De costas, no fim da sala, um garoto de cabelos loiros e braços fortes. E era como se o ar que ele respirava deixasse todo o ambiente mais leve.

- Peeta – gritei.

Ele se virou e corri em sua direção. Pulei em seus braços e o abracei. Erick ficou lá, parado, olhando a cena. Por alguns segundos, eu senti como se fosse virar e encontrar Finnick ali.

- Como você está? – disse ofegante enquanto olhava pros olhos azuis de Peeta. Não tinha tirado os braços de seu pescoço e ele ainda segurava minha cintura. Era bom estar perto de alguém que eu conhecia. E mesmo sem assumir muito, amava.

- Eu estou bem. E você?

- Sim, sim, sim – disse e o abracei novamente – o que você está fazendo aqui?

- Eu não fui embora Jo.

Só então me lembrei de Erick.

- Peeta, esse é Erick. Ele é um... Amigo.

Peeta estendeu o braço e Erick sorriu. Eles eram bem parecidos numa coisa. Ambos tinham esse poder de fazer você gostar deles sem muito esforço.

- Você está cuidando bem da louca aqui? – disse Peeta sorrindo.

- Estou fazendo meu melhor.

Do outro lado da sala, vindo de outro corredor vi Enobaria, perto de um garoto alto e forte e um homem. Plutarch e... Gale?

- O que ele faz aqui? – perguntei a Peeta.

- Ele faz armas. Bombas.

- E por que precisamos de armas Peeta? – coloquei uma mão na cintura e outra em seu ombro - por que precisamos de bombas?

- Eu não sei Jo. Eles não me dizem esse tipo de coisa. Eu ainda não estou completamente curado.

Andei em direção ao grupo e puxei Erick pelo braço.

- Plutarch, vadia, priminho.

- Johanna – Gale sorriu pra mim – continua linda.

- Você cresceu.

- Obrigado.

- Não é um elogio. Você parece um gigante grotesco – sorri.

- Nossa Johanna – Enobaria usava seu tom irônico – não precisa atacar meu namorado dessa forma.

- Namorado? Faz sentido na verdade. Sortuda foi a Katniss que se livrou de você.

- Ok – Plutarch entrou no meio – já notei que a competição desse ano será tensa.

- Era sobre isso que eu vim conversar Plutarch. Eu não vou participar.

- Um telefonema não era suficiente?

- Como se vocês fossem me deixar livre tão fácil.

- Quem é o garoto novo Johanna – Gale sorria – seu namorado?

- Na verdade, sou sim – Erick entrou na minha frente e ficou de frente pra Gale. Álias, eles eram quase do mesmo tamanho. Droga, chamei meu próprio namorado de gigante grotesco. Espera, namorado?

- Ele é bonito Johanna – Enobaria fazia seu melhor para parecer sexy.

- Mas não está disponível Enobaria.

- Nem o meu. E isso não te impede de abrir as asinhas quando ele chega.

- Eu nem cheguei perto do seu namorado – disse pronta pra atacar o pescoço de Enobaria, até que Peeta me segurou.

- Acho que é muita emoção pra um dia só. Vamos Jo, Erick.

- Podiam nos colocar na Arena, Enobaria. Só nós duas. Eu daria tudo pra matar você.

- O sentimento é recíproco – ela disse sorrindo.

Entramos no elevador e Peeta me abraçava enquanto Erick segurava nossas malas.

- Por que ela? Eu a odeio Peeta.

- Eu sei Jo, mas ela é uma sobrevivente.

- Por quê? Quem foi o inútil que deixou ela viva?

- Eu não sei Jo, mas ela vai continuar assim até o final desse tempo que passarmos juntos.

- Passarmos? Você vai ficar? – disse pronta pra me jogar novamente em seus braços.

- Preciso ajudar com as técnicas de sobrevivência. Eles cogitaram a ideia de deixarem mais crianças vivas, principalmente as que conseguirem sobreviver aos perigos que não envolvem facas.

Chegamos ao meu andar e olhei pra nossa porta, triste por ter que deixar Peeta sem ter falado metade do que eu gostaria.

- Erick – Peeta sorriu – eu precisava...

- Tudo bem – ele pegou as malas e me deu um beijo rápido – nos vemos logo.

A porta do elevador se fechou e subimos até o andar de Peeta, o doze.

Haymitch, Effie, Katniss e Cinna não estavam lá. Aquilo doeu. Me joguei no sofá,  tirei os sapatos e gritei por um refrigerante que quase me acertou na cabeça.

- Parece que essas máquinas só tratam bem as pessoas que elas sabem que vão morrer – disse rindo.

Peeta sentou e colocou meus pés sobre ele.

- Como ela está? - perguntei

- Bem, eu acho. Faz um tempo que não conversamos.

- Você devia voltar.

- Não posso – eu via a tristeza em seu olhar – eu fiz muito pela Katniss. Eu sei que é difícil perder alguém que você ama, mas eu perdi minha família inteira. Ela sequer se despediu de mim antes de partir.

- Perder o Finnick foi muito difícil pra mim Peeta.

- Mas você veio se despedir. Você está aqui agora.

Me levantei e sentei ao seu lado, enquanto ele encostava sua cabeça em meu ombro.

- Ela te ama. Eu sei disso.

- Eu vou voltar, logo. E então veremos. Enfim, e o garoto novo?

- Ele é um Cresta.

- Não sabia que a Annie tinha irmãos.

- Ela não se lembrava deles.

- E o bebê?

- Ah Peeta, ele é lindo. A coisa mais linda desse mundo. Eu tenho fotos aqui, vou te mostrar. Ele parece tanto com o Finn, é tão esperto...

Passamos a tarde falando sobre as coisas que ganhamos e as que perdemos. Choramos e rimos. Até a hora que me despedi e entrei no elevador. Até que:

- Ei, segure o elevador.