O cheiro de biscoitos tomou conta da casa. Na televisão um super-herói salvava o mundo de um monstro terrível.
- Tia, tia, tia, tia.
- Fala Mike - fui em direção a sala e pude ver Finnick. Os cabelos dourados, os olhos claros, um cubo de açúcar na boca - O que eu disse sobre cubos de açúcar antes do almoço?
- Tia, você acha que o senhor maestro é do bem?
- Sim, acho que sim.
Naquele segundo o senhor maestro surgiu com um violino que soava uma música que deixava toda a cidade hipnotizada. Pra resumir, ele era tudo menos do bem.
- Tia, você tem um péssimo reflexo pra vilões.
- Nem me fale - disse e então beijei sua cabeça - Já arrumou suas coisas?
Mike fingiu que o comercial sobre carros usados era mais interessante do que tudo naquele momento.
- Mike! -repeti.
- Ah tia, por que não posso ficar aqui?
- Porque você tem escola amanhã. Agora vá arrumar suas coisas que logo vou te levar para o trem.
Mike levantou do sofá relutante e subiu a escada batendo os pés. Ele tinha sete anos agora. Era tão atlético quanto Finnick devia ser naquela idade. Também era um ótimo nadador. Sempre que eu ia para o distrito quatro ele me levava à praia e me ensinava a bater os braços contra a correnteza. Nunca aprendi muito bem. Prestei atenção na TV por um segundo e vi a imagem de Gale surgir. Sorri. Ele tinha inventado alguma máquina supertecnológica que permitia viagens aos distritos em minutos. Tudo estava sendo testado. Enobaria estava ao seu lado, sorrindo de orelha a orelha com uma aliança na mão direita. Foi estranho, mas fiquei feliz. Fui até a cozinha e pela janela vi uma menininha pulando corda.
- Tia Jo - ela sorriu e o mundo todo sorriu junto - Vem brincar.
- Depois Sophia, prometo.
A filha de Cody era uma junção da beleza de Cody e da delicadeza de sua esposa. Seus olhos claros faziam com que qualquer um se apaixonasse. Ela ia fazer cinco anos em três meses e cinco dias. Ela estava contando. Quando Cody pediu permissão pra chama-la de Sophia, me senti honrada. Eu a amava tanto quanto amava Mike.
Tirei os bolinhos do forno e os coloquei na pia. Mike desceu as escadas correndo e o segui. Annie estaria na estação o esperando. Na mesa de centro, uma carta de Peeta que pretendia abrir quando estivesse sozinha. Ele sempre me mantinha informada. Katniss mandava um olá de vez em quando. Abri a porta enquanto Mike corria para o quintal florido.
- Os biscoitos Mike - gritei enquanto ele olhava pra trás rindo.
- Pega pra mim tia.
Fui em direção à cozinha e coloquei os biscoitos em um saquinho. Deixei alguns na forma para Sophia.
Fui até a porta e vi Mike abraçado com um homem. Minha garganta secou e minhas mãos gelaram.
Meus olhos encaravam um garoto do cabelo dourado e um sorriso lindo, com alguns dentes na parte de baixo tortos.  Os olhos verdes me secavam. Meu sorriso devia estar do tamanho do mundo.
- Garota da revolução - Erick olhou no fundo dos meus olhos e estendeu os braços -  Senti sua falta.
E então as borboletas dançaram novamente dentro de mim.