Após o momento da nomeação, a jovem Sigyn – como agora era Nina chamada – se encontrava ao lado do marido, enquanto todos saboreavam um alegre banquete ao ar livre, algumas pessoas vinham lhe cumprimentar, lhe olhavam com aparente doçura, porém Nina sabia que tinha uma falsidade escondida no fundo do olhar de cada um. A garota apenas sorria educadamente e Loki apenas os olhava com sua expressão fria.

Sigyn caminhou até a mesa e pegou pão e algumas frutas e envolveu em uma trouxinha de pano, Loki achou curiosa a atitude de sua esposa.

– O que está fazendo?

– Estou fazendo um lanche para senhor Heimdall – Sigyn respondeu naturalmente – hoje foi a minha oficialização e só ele não pode vir, então eu irei lá falar com ele.

– Hã? – Loki não gostou nenhum um pouco – Não há necessidade disso – seu ciúme era palpável.

– Faço questão – Nina sorriu e o segurou pelo braço – e você vem comigo.

A pequena mulher puxou o marido pela mão sem que ele pudesse revidar ou responder. Algum tempo depois os dois já encontravam próximos a Bifrost, Heimdall estava lá com sua face sem expressão.

Nina desceu do cavalo com a trouxinha de comidas e caminhou até o guardião que, ao fita-la abriu um pequeno sorriso, Loki olhava para os dois com uma expressão jocosa, seu rosto estava corado, corado de ciúmes.

– Olá Heimdall – Nina o cumprimentou animada.

– Como vai Lady Sigyn – ele lhe respondeu cortês – meus cumprimentos para a nova Integrante da casa de Odin.

– Obrigada – respondeu Sigyn – eu e Loki trouxemos algumas coisinhas para você – a jovem estendeu algumas guloseimas para o guardião.

– Grato por sua gentileza, mas não precisava...

– É, não precisava – disse Loki zombeteiro.

– Loki! – a esposa o chamou em tom de bronca – Não ligue para ele Heimdall – Nina voltou a olhar para o guardião.

Loki a fitou boquiaberto.

– Não se preocupe jovem Sigyn – disse Heimdall mal contendo o riso – ele é assim mesmo.

– É, eu sei – ela disse olhando para o marido divertida – lidou com isso todo dia, mas ainda sim é o meu marido.

Loki a fitava emburrado.

– Na verdade eu só queria tentar proporcionar uma convivência mais amigável entre vocês – disse a jovem vanir.

– Aprecio sua coragem – disse Heimdall – garanto que a você lhe tenho um grande respeito... mas já não posso dizer o mesmo de seu marido.

Sigyn deu um suspiro.

– Mas posso tentar continuando – ela disse com um brilho distante.

– Não custa tentar – disse Heimdall que agora dava uma mordida generosa em uma fatia de bolo.

Loki estava visivelmente enciumado e impaciente.

– Podemos ir? – ele disse sem a mínima vergonha.

Heimdall cochichou para a jovem.

– É melhor ir milady.

– Então me despeço aqui – ela disse fazendo uma breve referencia.

– Obrigada pela consideração milady – Heimdall, o guardião fitou Loki o encarando sério – e Loki, cuide muito bem dela, ela vale mais que o ouro do Reno* inteiro.

Loki revirou os olhos.

“Por que todo mundo me diz isso?” pensou emburrado.

Os dois saíram de lá cavalgando. Loki estava bem emburrado.

– O que acha que estava fazendo? Sabe muito bem que eu não me dou com Heimdall desde que me entendo por gente!

– Não seja tão exagerado. Heimdall é uma boa pessoa, ele se dedica totalmente ao reino, abre mão até mesmo de ter uma vida normal por isso, para mim é algo muito admirável. Você não precisa ficar tão enciumado, é você que eu amo, Loki – ela terminou de forma doce.

Loki fez um biquinho.

– Mas logo ele!

Sigyn apenas riu, deixando o deus sem graça.

Os dois voltaram para a festa, entretanto Loki estava louco para ir para o quarto, não queria ficar rodeado de tanta gente falsa.

– Loki, Loki – disse uma voz feminina e macia – há quanto tempo hein?

O moreno virou para traz e viu a dona daquela voz: Amora, sua antiga rival e frustração amorosa*, Sigyn olhou para ela curiosa.

– Olá Amora – disse Loki, usando o tom mais falso que tinha na voz.

A loira vestia um elegante vestido verde que marcava as curvas sensuais de seu corpo, fitou o irmão de Thor e depois olhou para a jovem ruiva ao lado dele. Pensou consigo mesma em como aquela jovem havia laçado o deus, ela tinha uma beleza ao ser ver tão camponesa, totalmente contrastante com sua. Amora era encorpada, tinha seios e coxas fartos, já Sigyn era franzina, seus seios eram pequenos porem perceptíveis, ela não era esbelta e ainda por cima não tinha ainda um corpo assim por dizer, um corpo de mulher, era uma menina ainda.

– Sua esposa é deveras graciosa – disse Amora estudando a jovem que lhe encara um pouco desconfiada – acho que Loki já deve ter falado de mim alguma vez, eu suponho?

– Não que eu me lembre, Loki e eu geralmente falamos sobre coisas mais relevantes de nossas vidas – Nina respondeu com uma naturalidade assombrosa, o que deixou Loki excitado e divertido, já Amora teve que disfarça sua raiva.

– Essa é minha esposinha – disse ele mostrando os dentes brancos – um encanto, não Amora?

– Certamente que sim – disse a mulher – mas se antes não sabia querida Sigyn, eu lhe conto: Sabia que foi graças a mim que o seu esposo se tornou um homenzinho – depois ela deu uma risadinha.

Loki a olhou com os olhos flamejando de raiva. Nina sempre soube que Loki já havia tido outras mulheres – só por puro prazer apenas – mas ao ouvir aquilo, a jovem se sentiu realmente muito enciumada.

– Mas isso é passado – a loira continuou – longe de mim atrapalhar a alegria de vocês, se não se importam eu vou me retirar – e nisso a jovem saiu deixando o casal.

– Vadia – Loki sibilou.

Ele fitou a esposa e notou que ela parecia chateada.

– Quero ir para o meu quarto – ela disse baixinho.

Loki assentiu e caminhou com a jovem por entre os convidados, finalmente entrando no castelo. Amora assistia tudo ao longe com um riso malicioso nos lábios.

Já em seu quarto o casal não se encarava, Nina sentou na cama evitando olhar para o marido.

– Você nunca me falou sobre isso – ela disse depois de um breve tempo.

– Para quê, isso não é importante – ele respondeu.

– Mas para mim é! – ela disse com os olhos cheios de lágrimas – acha que eu me divirto ouvindo esse tipo de coisa, Freya me contou de suas aventuras, e... e até mesmo com ela você teve algumas coisas... acha que eu gosto de ver isso mulheres me dizendo que já dormiram com você? Com certeza as moças dessa corte devem me achar uma estúpida por ser sua esposa!

– Não diga isso – Loki tentou confortá-la, porem a jovem recuou – Nina... você não é estúpida. Achei que você não se importasse com o que as pessoas falavam.

– Eu achava também – ela disse se abraçando – mas hoje eu vi que não, me sinto sufocada aqui, eu quero voltar para a casa arvore, aqui é tudo tão diferente, tão falso... tão insuportável...

Loki abaixou o rosto fitando o chão.

– É tudo minha culpa – ele disse por fim – você não merecia isso, me perdoe.

A jovem fitou o esposo, viu que seus olhos a fitavam urgentes com medo de perdê-la, Sigyn o encarou ainda com lágrimas nos olhos. Loki chegou mais perto da esposa lhe acariciando o rosto, a jovem fechou os olhos deixando mais algumas lagrimas caírem, então ela notou que o quarto adquiriu um ar mais frio, e mão de seu esposo parecia gelada como uma lâmina, a jovem abriu os olhos e notou que a mão estava azul e tinha listras desenhadas, ela se assustou brevemente ao notar que Loki estava todo azul, em sua forma verdadeira, de um gigante de gelo.

Ela encarou os olhos vermelhos que para muitos seriam assustadores, mas não para ela. Ela olhou cada detalhe de seu rosto, as marcas na testa, a pele áspera e dura como uma rocha, notou os riscos que desciam de cada olho, eram num tom roxo escuro, diferentes das marcas de pele, eram lágrimas. Aquela era realmente a primeira vez que ela via Loki tão vulnerável e fragilizado.

A jovem acariciou o rosto dele, como se estivesse desenhando Sigyn percorreu com seus dedos o rosto de seu esposo, passou por suas lagrimas enxugando-as, as orelhas pontudas, os lábios e o queixo. Loki apenas fechou os olhos sentindo o seu toque.

– É assombroso – disse ela maravilhada, depois fitou os lábios azulados – Posso? – perguntou encostando o dedo indicador na boca do marido.

Ela notou que ele parecia envergonhado, Loki tinha medo que sua pele a machucasse, mas a jovem não parecia se importar com isso, apenas pediu que ele a beijasse, e então os dois aproximaram os rostos e se beijaram. Depois Loki se afastou, Sigyn suspirou soltando um ar gelado.

– Frio e seco, como eu havia imaginado – ela respondeu ainda de olhos fechados – mas era assim que eu queria.

Loki a fitou sem entender, e então aos poucos voltou a assumir sua pele asgardiana. A esposa o fitou e depois o abraçou com o rosto colado em seu peito.

– Eu já o perdoe há muito tempo, Loki. Apesar de tudo, eu o amo.

– Eu também te amo – ele afundando seu rosto nos cabelos fartos dela – eu sou seu e de mais ninguém.

Ela sorriu o abraçando mais forte. O jovem casal se beijou com certo ardor, fizeram as pazes e depois se amaram naquele quarto, deixando claro que seu amor era inabalável, apesar de tudo.