(enquanto isso, na mansão dos Brandie)

- Inaceitável!

- Estamos fazendo o melhor que podemos, senhor Brandie, porém... O iate não pôde ser encontrado, e, sendo assim, nem sua filha.

- Você precisa encontrá-la. Quantos homens empenhou na busca? Quantos barcos? Certamente não é o suficiente. Contrate mais!

- Estamos fazendo isso, senhor. A cada hora dobramos o número de barcos na busca. Tenha em mente de que não é apenas sua filha desaparecida com aquele iate, mas também, pelo menos, cinquenta outros jovens da idade dela, além de um capitão competente, uma pequena tripulação do mesmo, e todo o pessoal da cozinha que o senhor contratou, incluindo cozinheiros e garçons. Não é apenas o senhor pedindo pelas buscas.

- E, mesmo assim, parece incapaz de encontrá-los...

- Olha, senhor, cobrimos milhares de vezes a rota do iate. Como não o encontramos, devemos supor que a tempestade alterou o curso. Assim, eles podem estar em qualquer lugar. Entendeu? Qualquer lugar! É claro que demoraremos algum tempo a mais para encontrá-los.

- Está brincando comigo? Minha filhinha, Billie, está naquele iate! E, como você mesmo disse, dezenas de outros jovens. Já se passaram pouco mais de vinte e quatro horas, pelo amor de deus! – ele sentou-se no sofá, de frente para o comandante da guarda costeira.

- Sim, e estamos colocando tudo o que temos nisto. Mas, senhor, também não pode nos pedir o impossível. -  o comandante suspirou - Pais preocupados nos ligam a cada minuto perguntando sobre as buscas e sobre seus filhos. O senhor sabe que será responsabilizado caso... Caso não encontremos o iate, certo?

- Sequer cogite esta possibilidade! Gastarei todo o dinheiro do mundo se precisar, mas encontrarei minha filha! – ele levantou-se do sofá, indignado. – Invista tudo! Todos os homens que puder encontrar! Temos de achar esses jovens!

- E nós iremos, senhor. – concordou o comandante, seguinto John Brandie para fora da sala – Nós iremos...

(enquanto isso, no iate)

- Como assim, eles sumiram?

- Sumiram! Não estão em lugar algum do iate, eu procurei! – Nicole argumentava com o capitão, os olhos arregalados e as mãos na cintura.

- Acalme-se, senhorita. Tenho certeza de que estão bem. E, aliás, estou ocupado tentando levar o barco á segurança. Escapamos da tempestade, graças aos conselhos de sua amiga de cabelo azul, mas ainda estamos no meio do mar, e não sabemos a exata localização...

- É, mostre gratidão á “garota de cabelo azul”, que por sinal se chama Abby, ajudando-me a encontrá-la! -  Nick cruzou os braços, o olhar irritado.

Ele largou o timão, olhando para a garota, com raiva desta vez.

- Pare com isso, menina. Eles devem estar por aí brigando ou tomando uma bebida. Me deixe fazer o meu trabalho.

- Ah, é? – Nicole desafiou, virando-se para o salão principal, onde a maioria das jovens estavam esperando, sentados conversando em voz baixa. Algumas meninas choravam, enquanto suas amigas tentavam confortá-las. – Ei, algum de vocês viram a Billie, o Dylan ou a Abby por aí??

Alguns balançaram a cabeça, outros disseram um “não”bem desinteressado, outros ficaram quietos. As três melhores amigas de Billie aproximaram-se. Uma delas chorava.

- N-não vemos Billie dede o início da tempestade, ontem á noite. Pensamos que ela poderia estar por aí... Vocês sabem... Com o Dylan, mas procuramos também e não encontramos nenhum dos dois. – disse uma delas, a que não estava pintada de azul dos pés á cabeça e nem a que estava chorando.

Nicole olhou para o capitão e apontou para as três garotas, como se fosse prova o suficiente. Bem na hora, como se estivesse esperando o momento certo, um membro da tripulação aproximou-se.

- Hum, capitão? Descobrimos nossas exatas latitude e longitude, estamos a menos de oito horas da costa.

- Ótimo! Trave o curso, velocidade máxima. Temos de devolver estes jovens ás suas famílias. Muito obrigado, marujo. Pode ir.

- Hã... Não é só isso, capitão. – o garoto tossiu. Não devia ter mais de vinte e cinco anos. – Notamos uma coisa estranha ao reparar o iate dos danos da tempestade. Um... Bem, um dos botes salva-vidas sumiu.

O silêncio instalou-se na cabine. Todos pareciam perplexos, menos a garota coberta de tinta azul, que parecia era não estar entendendo nada. 

- Então... seus amigos... será que... – O capitão começou a dizer a Nicole, mas a garota o interrompeu.

- Não. Não! A Abby nunca faria uma estupidez dessas. É impossível que...

- Hã, há mais um detalhe – o jovem continuou – O bote salva-vidas não foi solto propriamente. A corda que o segurava foi partida no meio, senhor.

O Capitão ficou em silêncio por um tempo, e então deu um tapa na própria testa.

- Essas crianças de hoje em dia... Eu sequer consigo imaginar...

- Eu te disse que eles haviam sumido – falou Nick – Então, o que faremos agora?

- Como assim, o que faremos agora? O curso está travado em direção ao continente – o capitão falou, andando pela cabine como se quisesse evitar o olhar de Nicole. E provavelmente queria mesmo.

- Vai deixá-los pra trás? – Nick correu atrás dele – Está brincando, certo? Não pode fazer isso! Eles...

- O pai da Billie te mata se você voltar sem ela. Era pra ser a festa perfeita! E olhe o que aconteceu! – a garota coberta de tinta falou, começando a chorar e saindo correndo.

O capitão parou por um instante. Parecia estar pensando. Foram longos segundos até que ele se pronunciou outra vez:

- Ah, droga. Esqueça o curso, marujo. Volte para onde a tempestade nos atacou. Vamos tomar o caminho mais longo para casa e encontrar esses jovens!

Nicole não queria sorrir, mas foi involuntário. Ela voltou para o deque principal e encarou o horizonte, pensando consigo mesma: Vamos te encontrar, Abby. Aguente firme aí. Nós vamos te encontrar...