Ayesha Loveless escrita por Lua


Capítulo 26
Capítulo 23 Dois loucos


Notas iniciais do capítulo

VOLTEIII
E já estou escrevendo minha próxima fic que vou fazer de tudo para postá-la com maior frequencia.
beijos, aproveitem. (se ainda estiver alguém ai)



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Estava todo mundo brincando de fazer caldo no outro, eu acho – jogar água na cara do outro numa tentativa infantil de afogar o “amiguinho” – enquanto eu continuava sentada naquela rocha alta, observando tudo do alto; posição fetal, bochecha encostada no joelho e cabelo molhado (e ainda, como sempre, preso de forma torta) escorrendo pelas minhas costas.

Olhei para trás e percebi que Reddon tentava subir a rocha, ofereci uma mão e logo ele se sentou ao meu lado, de onde poderíamos observar tudo.

— Por que tão solitária, Loveless? – Reddon perguntou de um jeito brincalhão, mas eu percebi que ele estava um pouco incomodado com a altura de uma pedra completamente escorregadia (principalmente em nosso caso, já que ambos estamos molhados).

— Não precisa ter medo de cair. Nem é tão alta. – peguei em um ombro dele e logo enlacei seu braço. – E qualquer coisa eu te seguro. – sorri de canto.

— Eu não tenho medo de cair. – olhou para mim com fúria, mas percebi que estava agradecido por eu segurar seu braço.

— E aí? Gostando da viagem de última hora?

— Achei interessante o seu pai não querer matar alguém pelo fato de trazer mais meninos que meninas. – ele fingiu ter uma pausa para pensar como um filósofo. – Mas pensando bem, eu já dormi na sua cama com seu pai trabalhando na parte de baixo, né? – um sorriso maroto surgiu em sua expressão.

— Olha que posso te lançar lá pra baixo, bem em cima do Daniels. – ameacei.

— Mas não foi verdade?- não precisei responder, nós dois sabíamos que era verdade. Ele pegou meu rabo de cavalo molhado e tirou o prendedor, soltando meu cabelo. – Por que mesmo você não gosta de soltar o cabelo?

— Eu já te expliquei. – encarei-o. – E expliquei quando você dormiu lá em casa.

— Sim, sim... Pensamentos “depreciativos”. Posso perguntar quais são?

— Sabe... Eu – prendi a respiração por um tempo e assim que soltei, as palavras vieram: - sou muito parecida com a minha mãe. Acho que se eu prender o cabelo, é uma pequena tentativa de não ficar parecida com ela. Não por vergonha, mas pra não lembrar de sua morte.

Depois disso ficamos calados. Jarely, Daniels e Sun nadando de um lado pro outro daquele “pequeno” mar – que parecia até artificial, me permito arriscar- Reddon sentado no meu lado, eu abraçando o braço de Reddon. Depois de um tempo, vi que Jarely e Daniels começaram a se beijar e instantaneamente a mesma careta que veio no meu rosto veio na de Sun que observava mais de perto; Reddon continuava com sua cara meio boboca e sonhadora.

Sun então virou o rosto da cena, sem tirar o olhar de nojo e olhou para cima, para onde eu e Reddon estávamos. Ele então nos analisou por um tempo, com uma sobrancelha arqueada, e saiu da água para entrar na casa sem falar nada. Por algum motivo, depois dessa cena, larguei o braço de Reddon e me afastei dele um pouco, ficando numa parte mais íngreme e escorregadia da rocha.

— Ayesha... - Reddon começou, me fazendo voltar o olhar pro seu rosto. Ele tinha uma feição metade triste, metade curioso. – Você gosta do Sun?

— O QUÊ?! – acho que acabei soltando mais alto do que devia, dando um salto com o susto da pergunta e caindo na água gelada lá de baixo.

Sai da água me arrastando e cuspindo a água que entrou no meu pulmão. Olhei para cima e vi que o Reddon me olhava preocupado. Mas não é culpa dele que eu tenha essa mania – talvez fatal – de saltar quando sou pega de surpresa. Foi assim que eu e Sun fomos parar dentro de uma caverna e ainda por cima sem camisa.

Peguei uma toalha qualquer que estava jogada em cima de uma árvore, me enrolei com ela e adentrei a casa, ignorando os gritos preocupados de Jarely. Lá dentro, meu pai não estava mais no sofá lendo seu jornal, ele deveria ter ido pro seu quarto. Mas Sun estava enrolado numa toalha, sentado no chão e encarando este. Fui até ele e me sentei no seu lado, encostando minha cabeça no ombro dele e ficamos lá, calados, sem dizer um pio, observando o chão.

*

Estava todo mundo com um pote cheio de biscoitos, marshmallows, balinhas, chocolates, jujubas e caramelo na mão, sentados em roda. Só eu que tinha um pote de pringgles sabor creme e cebola aberto na minha frente, já ficando vazio.

— Poxa, me dá uma batata. – Reddon implorou, com a boca cheia de chocolate, já estendendo a mão para o meu pote verde.

— NÃO! – dei um tapa estalado na mão dele.

Reddon – ao meu lado – ficou com uma cara de decepcionado enquanto Sun  - do meu outro lado – gargalhava da situação.

Todo mundo se empanturrando de doce e conversando, quando a Jarely sugere algo maluco:

— E se trocássemos de quarto?

— É o que? – olhei para a cara maliciosa dela. Ai, Senhor, to vendo que isso vai dar merda.

— Digo, está os meninos em um quarto e eu e a Ayê no outro, certo? –ela esperou a confirmação de todos e continuou. – Bem, proponho que a Ayesha troque de lugar com o Daniels.

— É o que, hein? – meus olhos estavam arregalados. O que essa menina estava aprontando?

— Eu acho que o pai da Ayesha não deixaria. – Sun comentou.

— Por favor, eles destrocam antes dele perceber! – Jarely pegou a mão do namorado, que já estava ficando completamente vermelho. – Eu só quero dormir com o meu namorado.

Essa pegou todos de surpresa, até mesmo Daniels. Ela acabou de admitir que planejava transar com o Daniels, tipo, ali e agora?

— Ta, okay... – passei a mão no rosto. – Agora se tranquem naquele quarto antes que eu perceba a cagada que estou fazendo e troque de ideia.

Jarely pegou a mão de Daniels e eles já iam se dirigir para a porta do quarto, quando subitamente a Jarely para e olha para a gente por cima do ombro.

— Eu sei que os meninos querem me agradecer... – ela sorriu como se fosse a dona da razão, o que obviamente não é. – Já ouviram falar em “ménage a trois”?

— SAI DAQUI! – os dois meninos ao meu lado gritaram simultaneamente.

Logo ficou só eu (ainda enchendo minha barriga de porcaria), Reddon e Sun, que se encaravam numa espécie de briga silenciosa, em que só eles ouviam os gritos.

— Eu até me ofereceria para dormir no sofá... mas não confio em você sozinha no quarto com o Reddon. – Sun disse, ainda encarando o olho do ruivinho.

— Digo o mesmo sobre você. – foi a resposta de Reddon, encarado o solzinho de volta.

— Er... Então eu fico no sofá. – disse com a boca cheia de marshmallow, sentindo a tensão que pairava entre eles.

—Não! – eles gritaram juntos de novo.

Sun se virou para mim e disse:

— Prefiro que durma com a gente, aí eu vou poder...

— Observá-los. – Reddon completou, agora também olhando para mim.

Eu alternava meu olhar entre a versão morena e a versão vermelha dos rostos praticamente idênticos a minha frente, tentando entender o que se passava na cabeça deles. Qual a necessidade deles de observar eu e o outro? Sun acha que eu e Reddon planejamos fugir para Tumbuktu? Reddon acha que eu e Sun vamos tacar fogo na casa e sair como dois psicopatas sorridentes por aí? Qual o problema desses dois?

Mas no final, ficou no quarto eu deitada no meio, os outros dois em cada lado meu (nenhum deles queriam que o outro ficasse mais perto de mim do que si, eu hein, eles tinham cada neura). Os três colchões estavam no chão, os dois com as costas viradas para mim, eu encarando o teto que só era iluminado por uma faixa de luz vindo da janela.

— Ayesha? – Sun sussurrou do meu lado. Virei o rosto para vê-lo. – Não consegue dormir? – concordei com a cabeça.- Também não.

Olho para meu outro lado e percebi que Reddon dormia serenamente. Voltei meu olhar para Sun.

— O que foi aquilo entre vocês dois? – eu estava com as sobrancelhas dobradas em confusão.

— Ah... – ele suspirou, com os olhos fechados. – Deixa para lá. Competitividade entre primos quase irmãos.

— Vocês são doidos.

— Talvez. – ele sorriu um sorriso perfeito para mim. – Mas se estamos, a culpa é sua.

— Minha? – perguntei, agora subindo um pouco o tom dos nossos sussurros.

— Shh... Não precisa acordar o outro louco. Um louco por você por vez, né? – ele continuava sorrindo e isso estava acabando com o meu emocional. Aquele era o mesmo sorriso que ele deu minutos antes de me jogar na parede de sua casa...

Virei-me, ficando de costas para ele, sussurrando que ia tentar dormir.

— Boa noite, Loveless. – Sun depositou um beijo em minha bochecha e voltou a se deitar, dormindo rapidamente.

Mas eu continuei ali, tentando se lembrar como é que se respira.


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Notas finais do capítulo

Se tem UMA alma viva, comente pelo menos OI para eu saber que não estou sozinha no deserto, obrigada, dois bejo.