Colorblind escrita por HeyWonderland


Capítulo 17
Coltrain




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Meu coquetel de medicamentos agora incluía um novo tipo, e logo em seguida fui para o quarto ouvir música. Mas antes que eu pudesse imaginar a próxima música do playlist, meu estômago começou a revirar com violência, e só tive tempo de largar tudo e correr para o banheiro. Chamei Anny assim que não havia mais nada sobrando. Me deitei na cama com a ajuda de Anny e ela me cobriu.

– O que está havendo comigo?

– Provavelmente o efeito secundário do novo medicamento... Muitos pacientes tem essa reação quando começam com o Avonex... Receio que vamos ter que colocar um novo medicamento para diminuir o efeito se ele continuar... Mas vamos esperar que passe daqui uns dias, tudo bem? - Ela ajeitou meu cabelo atrás de minha orelha com a mão e sorriu. - Durma meu anjo. Amanhã você vai estar bem!

Respirei fundo e fechei os olhos, com certo receio. Nunca tinha tido reação contrária aos remédios, graças aos céus, mas provavelmente teria que passar por mais essa agora. Em poucos minutos, adormeci pensando o quê Harry estaria fazendo naquele momento enquanto eu quase dormia.

Haviam passado por volta de três semanas, e todos os dias depois do jantar eu sentia um enjoo horrível. Eu chegara a fazer alguns exames e ninguém queria me medicar quanto à náusea até o resultado deles, mas era quase impossível conviver com aquela sensação de quê meu estômago ia sair pra fora do meu corpo toda noite.

Anny era a enfermeira-chefe, mas havia outras que também me medicavam, incluindo enfermeiros, e implorei para que um deles me arrumasse algo que fizesse o enjoo passar.

– Eu ainda estou estagiando e não poderia estar te medicando, sabe Alice? Mas passei por um período de enjoos muito fortes no mês passado e esse remédio fez um milagre na minha vida. - Ele sorriu e me estendeu um comprimido e um copo de água. - Espero que faça na sua também!

Apenas sorri e peguei o medicamento como se ele fosse a salvação da minha vida, e não pensei duas vezes antes de colocá-lo na boca e fazê-lo chegar até meu estômago revolto. Logo em seguida acabei pegando no sono.

Um novo dia e dessa vez com o sol brilhando através da cortina de nylon. Me levantei, fiz minha higiene matinal, tomei café e voltei para o quarto. Sentia pontadas no meu abdômen e pensei em contar à Anny sobre o medicamento do dia anterior, mas em enquanto eu pensava nisso, Harry ligou.

Ally! - Ele disse, animado. - Está tudo muito corrido desde que voltei de Manchester, eu sei, mas estou chegando aí para passar o dia com você!

Senti meu coração bater mais alegre.

– Jura? - Eu sorri. - Estou te esperando! Com tanta saudade... Você tinha me dito que eram apenas sete dias, Grades.

E eram. – Ele suspirou. - Tenho uma novidade para você e já estou chegando. Te amo!

– Eu também te amo! - E desligamos.

Me levantei e encarei o horizonte pela janela. Será que em outro lugar do mundo alguém estava fazendo a mesma coisa que eu? Meus olhos encaravam o céu e eu pensava no quê Kyle poderia estar fazendo agora. Certamente ele aprovaria o Harry, porque me fazia feliz, e seria amigo dele também. Seria como se eu tivesse uma família outra vez se ele estivesse aqui. Mas acho que ele estava bem sentado em uma nuvem comendo suas preciosas uvas quais gostava tanto. Quando você sofre algo real e de verdade, existem coisas que passam a ser mais fáceis de tolerar, e saber que Kyle poderia estar preso em uma cama e sendo mantido vivo por aparelhos agora me fazia pensar no quanto ele era sortudo por ter ido morar no céu antes que isso acontecesse.

O barulho da porta se abrindo interrompeu meus pensamentos e eu me virei para avistar os olhos verdes de Harry. Eu sorri imediatamente e corri até ele, que me pegou e me girou antes de me beijar apaixonadamente. E repetidamente.

– Agora chega de beijos. - Eu sorri. - Qual é a novidade?

– Está preparada? Acho melhor você se sentar. - Ele riu e eu arregalei os olhos, ansiosa.

– Puxa, deve ser algo grande. - Me sentei na cama e ele sorriu.

– Pronta?

– Fala logo! - Bati as mãos na cama, já entrando em pânico.

– Minha banda... Vai... GRAVAR UM CD!

Eu admito que eu não sabia se sorria ou se chorava, mas só a expressão de Harry me fez ficar feliz por ele, mesmo que isso me deixasse receosa. Me levantei e o abracei forte, colando meus lábios nos dele.

– Meus parabéns, meu amor! - Eu sorri. - Todo sucesso para vocês!

– Obrigada, e você faz parte do meu sucesso. Eu te amo. - Ele me olhou nos olhos ao dizer e isso fez meu corpo estremecer em si. Encostei minha testa na dele e ficamos assim por algum tempo.

– Isso não vai mudar certo? - Eu pedi.

– Nunca. - Ele respondeu em um sussurro e me beijou novamente.

Ficamos a tarde toda conversando e a cada segundo eu percebia que Harry era a melhor coisa que existia nessa minha vida triste. Harry foi ao banheiro e me levantei para pegar um cobertor, sentia muito frio e provavelmente isso era culpa do meu sistema nervoso maluco. Ao levantar, senti a pior dor do universo em meu abdômen e cai no chão, gemendo. Harry saiu correndo do banheiro e só me lembro de ver o desespero em seus olhos antes que a escuridão chegasse.

Abri os olhos, mas tudo estava embaçado. Pisquei-os repetidamente até as coisas voltarem a tomar forma e vi que não estava no meu quarto, mas na ala de tratamento intensivo. Não sabia mais que dia era hoje e nem o quê eu estava fazendo lá e quando tentei me levantar, vi que meus braços estavam presos a agulhas e máquinas. A porta se abriu e Anny entrou no quarto com lágrimas nos olhos.

– Você acordou! Você acordou, graças a Deus, Alice! - Ela beijou minha testa enquanto sorria e deixou um suspiro aliviado escapar. Eu não estava entendendo absolutamente nada.

– O quê aconteceu? - Eu disse baixo.

– Você estava desacordada fazia dez dias. Algo muito errado aconteceu no teu sistema, e ele não conseguiu entender a informação... Então ele desligou. Eu senti tanto medo de te perder, Alice...

– Pelo jeito, estou viva... De novo. Onde está o Harry?

O sorriso em sua face se desmanchou devagar e ela serrou os lábios, se sentando ao meu lado na cama.

– Ally, o meu maior medo era que o Harry se tornasse tudo o quê você tem. E vejo que isso está acontecendo... Mas tem que parar. Tem que parar para o seu próprio bem e para sua sanidade mental.

– O quê você quer dizer com isso, Anny? - Pedi, me sentando um pouco mais acima com certa dificuldade.

Anny suspirou e fitou o chão.

– Quando os holofotes começam a brilhar, meu anjo... Não são só eles que aparecem mais. Mas também a gente que fica ofuscada no canto.

Ela pegou a minha mão e olhou fundo nos meus olhos. Senti até medo de quê ela pudesse estar vendo minha alma, ou lendo meus pensamentos. Anny tinha um tipo de conexão comigo que parecia mais forte do quê qualquer tipo de sentimento que eu jamais havia tido. Ela respirou fundo e desviou os olhos.

– Eu também já tive uma vida, certo? E acho que essa é a hora exata para contar à alguém sobre isso.




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