Colorblind escrita por HeyWonderland


Capítulo 13
Grades




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/250219/chapter/13

Eu voltava para o carro e tinha um sorriso estampado no meu rosto que eu simplesmente não conseguia tirar de lá. Era engraçado como minutos faziam tudo valer a pena.

Entrei no carro e encarei Steve, o que fez meu sorriso desmanchar.

– O que você pensa que estava fazendo lá, seu idiota?

– Era por isso que você não queria contar? Por que ela é doente? – Steve era tão sarcástico que deveria receber um prêmio pelo seu sorriso fingido.

– Não, eu... Eu... – Minhas mãos batiam inquietas no volante. – Você é um babaca! –Liguei o carro e arranquei, cantando pneu.

– Por favor, Grades! – Steve riu. – Eu não sou um babaca, você é. Você tem vergonha dela, vergonha por que ela não se encaixa bem com o seu perfil não é?– Ele fazia vozes e caretas. Como eu suportava Steve por todo esse tempo mesmo? Eu tentava argumentar, mas ele simplesmente queria bancar o palestrante. Mantive meus olhos na rua. – Você não sabe o quê está fazendo, e é por isso que tem vergonha de falar sobre isso! Sabe que esse não é o Harry Grades. Escuta só: Príncipe Grades, o salvador da pátria para uma garotinha doente... – Ele riu. – Parece começo de piada, Harry.

– Cala a boca! – Eu brequei o carro com violência e o desliguei. – Cala a sua maldita boca, Steve! E... Sai do meu carro! Eu não... Eu não pedi a sua opinião, eu não quero saber o quê você acha sobre ela ou sobre nós dois, não pedi para você fazer uma coluna crítica sobre minha vida sentimental! – Minha voz rouca ecoava alto dentro do carro, e o trânsito atrás de nós fazia uma sinfonia de buzinas.

– Você está reagindo assim porque sabe que eu tenho razão. Quer que eu saia do carro? Ótimo, eu posso sair do carro e ir andando. Mas e você, Grades? Você pode sair do caminho que você está seguindo? Isso não tem volta, seu babaca!

– Eu não quero um caminho de volta! – Gritei impaciente.

– Você é tudo pra ela. Você. Que já dormiu com sabe-se lá quantas meninas, que consegue achar um duplo sentido para cara resposta que você dá. Que quer ser um astro só porque é rico e um pouquinho talentoso, então acha que é o suficiente para não precisar de um emprego de verdade. Você, Harry Stephen Grades! Seu filho da puta! – Steve apontava o dedo para mim e eu bati em sua mão.

– Não aponta pra mim! Você fala como se fosse bem melhor que eu! Não adianta ficar tentando me fazer acreditar que você está preocupado. Você é um desgraçado preconceituoso. Eu já não disse para descer do carro? – Eu me inclinei e destravei a porta de Steve.

– Acha que eu ligo se ela é doente? Acha que o problema é ela? O problema é você! Acha que tem capacidade de largar tudo e desempenhar bem o papel de herói para ela? De fazer o pouco de vida que ela tem valer a pena? – Steve gritou de volta e suspirou em seguida. – Eu acredito que você pode ser o herói da garota, Grades. Só quero que você tente agir com a razão e ir com calma.

– Você não acredita em porra nenhuma! – Eu fitei o volante, ainda gritando.

– Ela não pode sair de lá! Você vai cansar disso! Você vai cansar dela! – Ele começou a socar meu braço. Segurei seu punho e empurrei ele contra a porta destravada, fazendo-a abrir um pouco mais. Os carros começavam a desviar pelas laterais. Os motoristas passavam gritando xingamentos, mas eu estava com tanta vontade de socar a cara de Steve que eu nem me lembro do quê eles diziam.

– Já escapamos uma vez, não vai ser difícil escapar outras.

– Claro! – Ele bateu as mãos na perna. – Vai fazer com que a garota fique pulando janelas para sempre! Ótimo! E se der errado? E se ela passa mal em uma dessas fugas noturnas? Você a salvaria, Grades? Seria o grande herói? – Eu apenas o encarei. – E... Se ela morre, cara? E se ela morre? – Ele gritava tanto que eu não conseguia mais ouvir meus próprios pensamentos.

– Sério Steve. Some. – Eu disse quase sussurrando. Percebi os movimentos de Steve, mas não mudei minha posição até escutar o barulho da porta batendo.

Um silêncio fúnebre tomou conta do carro. A sinfonia de buzinas lá fora me fez virar a chave e seguir viagem. Eu não tinha parado para pensar em tudo aquilo. E agora, parecia fazer todo sentido. Eu só não queria admitir.

Ao chegar, tomei banho e me joguei na cama. As palavras de Steve ainda faziam meu estômago revirar. Era como se elas estivesse no "repeat" dentro da minha mente. Encarei o telefone por um tempo até tomar coragem para pegá-lo. Disquei os três primeiros números, mas desisti e desliguei.

Eu realmente nunca tinha sido o garoto mais certo do mundo. Eu nunca seria o príncipe do cavalo branco que Alice esperava para salvá-la. Eu dormia com muitas garotas, não perdia uma festa. Sempre levei as coisas de qualquer jeito, e Alice precisava de uma coisa concreta. O mais perto de concreto que eu cheguei foi quando passei por uma construção na Avenida Principal a caminho de uma boate.

Eu sabia que eu não teria como dar à Alice tudo o quê ela precisava. Mas eu estava escondendo esse pensamento em mim, talvez por medo. Ou talvez porque eu realmente queria tentar. Eu já não sabia.

Eu gostava dela, mas sabia que acabaria me tornando o tudo para o nada que Alice tinha no momento. E se eu acabasse não correspondendo às expectativas, ela se tornaria miserável. Steve tinha razão. Eu não podia bagunçar o pouco de vida que Alice tinha. Se eu fosse fazer, tinha que ser direito. E acredite, eu não sei se eu aprendi como ser direito. Foi por isso que eu tinha decidido ir até à clínica, como voluntário. Tentar me tornar mais humano.

Acabei me tornando mais confuso.

Me levantei e encarei o espelho. Percebi como eu não ficava muito bonito chorando. Até agora, eu tinha me dado bem nisso de ser o mocinho, mas e se eu cansasse? Até quando ia ser divertido bancar o herói? Não, Grades. A quem você estava querendo enganar mesmo?

Esse é você, Harry Grades. Um anjo de asas quebradas.

Disquei o número do telefone que dei à Alice e minha respiração falhou ao ouvir a primeira chamada. Meu coração acelerava a cada segundo.

Harry? - Por que sua voz tinha que parecer mais suave ainda no telefone?

– Ally. - Mal conseguia fazer minha voz sair.

O que houve? - Ela pediu cautelosa. Pelo jeito, meu nó na garganta era perceptível.

– Alice, eu... Não vou voltar. - Serrei os lábios e fechei os olhos à espera da resposta.

Tudo bem! - Ela riu. - Eu prefiro mesmo estar completamente bem para te dar uma surra no basquete!

Não... Você... Não entendeu. E-Eu não vou voltar. - Agora meu nó na garganta estava quase se desfazendo. Meus olhos começavam a marejar e eu respirei fundo longe do telefone para que ela não pudesse ouvir.

Não vai voltar? - Ela disse confusa. Sua voz era triste.

– Ally, isso não vai... Dar certo.

Como é? Eu... Harry. Harry Grades, você está terminando comigo? Você nem se deu ao trabalho de começar!

Antes que você me odeie Ally... Me deixe explicar, eu...

Harry. Eu... Não quero ouvir. Chega. - Minha boca se abriu para argumentar, mas era tarde demais. Ela já havia desligado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colorblind" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.