Revenge escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo I




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Portugal, Lisboa, 03 de Abril. 08:15 AM

O dia estava radiante naquele dia de primavera e todos os alunos do conceituado Colégio Planalto estavam no início das suas aulas da manhã. A estrutura da escola era moderna e simples, sem nada que lembrasse os tradicionais prédios de arquitetura europeia. Todas as instalações eram contemporâneas e bem providas de tecnologia, em todos os espaços, com sua arquitetura modernista emoldurada por jardins planejados e geométricos.

No pátio vazio àquela hora, um único aluno caminhava apressadamente, com semblante cansado e ofegante da breve corrida que o trouxe até ali. Ele tinha cabelos bagunçados e escuros, dando sempre a impressão de que acabara de acordar, o que era nesse contexto, verdade. Seus olhos eram igualmente castanhos, amendoados e na maior parte do tempo, sérios. Sua pele tinha um bronzeado suave, que combinava perfeitamente com todo o resto. Para todos os parâmetros existentes, ele era considerado bonito.

O uniforme escolar, que se resumia em uma calça preta, um suéter vermelho escuro com o emblema da escola gravado e uma gravata dourada, estava completamente desalinhado no corpo magro, que já havia desistido de correr a algum tempo, e agora apenas caminhava rapidamente, trazendo nas costas a mochila pesada. Esse garoto, que chegava atrasado, era o ocupante do trono do Rei no Colégio Planalto. Pode parecer estranho aos olhos externos, e também não era algo comum naquele lugar, mas havia nessa escola um tipo de Conselho Estudantil especial, com seus cargos usuais trocados para os nomes das cartas do baralho. Parece com uma simples brincadeira, mas havia nisso um significado especial, que somente o diretor, juntamente com seus antigos amigos da escola, que criaram esse conceito, saberiam explicar.

— Droga! Eu tinha que acordar atrasado logo hoje? O diretor disse que tinha algo importante que ele queria... ah, eu já devo ter perdido tudo mesmo, não tem importância mais. E eu fui perder o ônibus na hora de vir... tudo sua culpa Grace!! – o garoto resmungava baixo, marchando a passos duros. Aparentemente, ele estava sozinho, e poderia parecer meio maluco de censurar alguém quando obviamente não havia ninguém ali, no entanto, pessoas com bons olhos poderiam enxergar o pequeno volume que voava ao lado da cabeça do garoto.

Era uma pessoa em miniatura, quase como uma boneca. Tinha longos e volumosos cabelos vermelho-fogo, e olhos dourados com longos cílios. Vestia uma roupa preta, coberta pela longa capa vermelha, e pequeninas botas de salto. A pequena pessoinha sorriu de maneira maldosa, piscando seus olhos expressivos de maneira sugestiva.

— Minha culpa? Diga-me como, eu nem consigo imaginar... – ela indagou, falsamente inocente. Miguel bufou de impaciência.

— Você sabe do que estou falando! Na parada do ônibus. Você me fez olhar... para aquele garoto que passava... e eu perdi completamente a concentração, o ônibus passou e eu nem vi! – ele explicou, com o rosto irremediavelmente corado.

— Hunf, você olhou por que quis! – a garotinha falou, e logo depois sorriu com escárnio – Vá dizer que você não gostou do que viu?

— Ah, cale essa boca! – Miguel resmungou uma última vez, segurando Grace na mão e a forçando a ficar quieta. Se nenhuma atitude fosse tomada, ela continuaria a falar ininterruptamente até deixá-lo louco.

Com isso, Miguel adentrou o prédio, que tinha a recepção vazia àquela hora, e já ia subindo as escadas, quando ouviu alguém se aproximar. Grace mordeu sua mão, querendo se libertar, e ver quem estava ali, e ele a soltou, deixando escapar uma interjeição de dor. Olhou para trás, com discrição, e sentiu seu coração falhar uma batida, dolorosa e miseravelmente. Logo abaixo da escada, parecendo distraído com alguns papéis em mãos, atravessava aquele que um dia fora o melhor amigo de Miguel. Ele era alto, tinha cabelos loiros que chegavam aos seus ombros, e o par de olhos azuis mais lindos que qualquer um já tenha visto, isso na humilde opinião do garoto. Ele também tinha um sorriso encantador, o raciocínio lento de um esportista nato e um senso de humor precário, mas que podia ser muito fofo. E, acima de tudo, ele tinha mão pesada. Mente fechada. Era um grande monte de carne insensível.

Miguel sentiu seu peito expandir, para então quebrar-se em pedacinhos, de novo e de novo. Ele sabia que seria assim cada vez que visse aquele maldito garoto na sua frente, mas aquela expectativa tola de que ele talvez pudesse vir na direção das escadas, e então vê-lo, simplesmente não queria sumir. Ao contrário do que esperava, o garoto seguiu reto, e Miguel ficou apenas observando ele se afastar.

— Você já devia ter desistido dele – Grace observou, perspicaz.

— Eu já desisti. Mas isso não significa que eu esqueci, também – Miguel murmurou, tristemente.

— Depois do que ele fez para você... – Grace exaltou-se, furiosa, parecendo prestes a ter um ataque de nervos – Ele deveria apenas se apressar e morrer!

— Não, Grace... quem deveria fazer isso sou eu. Eu que fui precipitado. Eu que sou o errado. – Miguel tentou sorrir, sem resultados, então apenas afagou a cabecinha vermelha da sua Chara – Eu não devia ter me confessado pra ele. Eu mereci apanhar, depois do que eu fiz…

— Mas você só roubou um beijinho – Grace disse simplesmente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Miguel corou, e resolveu que era hora de mudar de assunto. Nesse exato momento, outra pessoa descia as escadas, na sua direção.

— Sr. Gonçalves, era com você mesmo que eu queria falar... – a voz grave do diretor se fez ouvir. Ele era razoavelmente jovem, considerando o cargo que ocupava. Tinha os cabelos castanho-claros bem alinhados, e um sorriso que fazia muitas jovens alunas suspirarem pelos cantos. As únicas coisas que Miguel sabia sobre ele era que havia estudado no Japão quando criança, e que não tolerava atrasos. A última constatação, em especial, lhe preocupava mais.

— E-eu sei que faltei à reunião de hoje, e que ainda não terminei aqueles relatórios, mas eu prometo que isso não vai se repetir! – ele se desculpou antes que o diretor tivesse a oportunidade de acusá-lo.

— Acalme-se meu jovem – ele riu, apoiando a mão nas costas de Miguel, protetoramente – Eu apenas quero dar uma palavrinha com você. O que acha de uma viagem de intercâmbio?

— Intercâmbio? – Miguel estranhou aquela mudança repentina de assunto. Ao seu lado, Grace fez uma pequena dança de comemoração, absolutamente animada com a ideia.

— Esse assunto foi tratado na reunião de hoje, a qual você não estava presente, e nenhum dos seus colegas Guardiões demonstrou interesse na viagem, de forma que a minha última esperança é você. Eu já posso adiantar que não se trata de uma simples viagem de estudos, mas você só poderá saber mais detalhes se aceitar participar.

Miguel olhou para o seu professor por longos segundos, e antes que percebesse, um sorriso iluminou seu rosto. Era disso que ele precisava. Uma viagem, de preferência para bem longe, onde ele não visse nenhum rosto conhecido, ninguém para condená-lo. Um lugar onde ninguém o reconhecesse, e ele pudesse dar voz ao seu verdadeiro-eu.




Inglaterra, Londres, 03 de abril. 08:30 AM

A manhã chuvosa se estendia, longa, entediante e monocromática, mas isso não era nenhuma novidade. Aquela era a Holy Triniy School, a renomada escola interna para garotas que tinha sua sede em Londres. Suas instalações mais pareciam com as de um palácio, que se ajustava perfeitamente a atmosfera daquele lugar. Com seu aspecto rígido e antigo, o prédio grande, escondido pela neblina e pela chuva, se destacava entre as árvores do bosque, naquele lugar afastado e longe da agitação da cidade.

A garota sentada no último lugar da fila da janela deitou sobre a classe, espreguiçando-se, e olhando para a paisagem cinzenta e chata do lado de fora. Apoiou a cabeça sobre os braços, acomodando-se, e os óculos grandes se desajustaram no seu rosto infantil, enquanto ela fechava os olhos verde-claros, quase se rendendo ao sono. Deixou seus cabelos curtos e negros caírem sobre o rosto, e logo, sua mente já vagava indistinta, em um mundo colorido onde ela pudesse ser quem quisesse, tivesse chá e bolos a todo o momento, e não tivesse que estudar coisas maçantes como aritmética ou literatura.

Logo depois disso, algo bateu na mesa, despertando a garota do seu sonho. Ela levantou a cabeça, assustada, e ouviu ao fundo as risadinhas contidas de todas as suas colegas.

— Senhorita Lewis! O que estava fazendo? Dormindo durante a minha aula! Esse não é o comportamento esperado de uma guardiã! – a professora, com seu rosto severo, bradou.

— Sinto muito, Professora... isso não vai se repetir – ela pronunciou, ainda tonta de sono, e sentou-se ereta na classe. A professora lançou a ela um último olhar de censura, e voltou à frente da classe, discursando algo sobre a Segunda Guerra Mundial.

— Essa foi por pouco, Anna! Eu achei que ela ia te deixar de castigo... – uma pequenina figura disse, no lugar abaixo da classe. Ela usava um vestido roxo, com um colete preto por cima, e meias listradas verticalmente em preto e branco, assim como as mangas. Tinha os cabelos curtos e roxos, com dois rabinhos pequeninos de cada lado, e grandes olhos lilases que brilhavam muito. Na sua mão, ela brandia um bloquinho de papel, e uma pena de desenho.

— Está tudo bem, Peach, ela não vai fazer nada agora. Mas acho que mais tarde, talvez... ela possa me dar deveres extras – Anna supôs, temerosa. Peach suspirou, lamentando.

— Que pena... As suas encomendas chegariam hoje, não é? – ela adicionou, sobrevoando e pousando sentada sobre o caderno da garota, onde ela fazia as anotações do que a Professora falava, de modo aleatório.

— Sim... – Anna sussurrou, mal contendo a expectativa na sua voz. Finalmente, ela havia conseguido fazer uma grande encomenda de mangás na livraria da cidade, e hoje, durante seu tempo livre, iria buscá-la. Mas isso não seria possível se ela estivesse cumprindo tarefas extras.

Distraidamente, Anna começou a rabiscar o canto do seu caderno, esquecendo completamente das lições. Desenhou alguns personagens, e roupas, e antes que percebesse, já tinha uma pequena história nos cantos das páginas. Peach sorriu, vendo a concentração de sua dona ao desenhar. Era o único momento em que ela parecia verdadeiramente séria e compenetrada. Estava, assim, terminando de desenhar o cabelo de uma figura, quando uma campainha, seguida da voz inexpressiva, soou nas caixas de som.

— Atenção Guardiãs da Holy Trinity. Apresentem-se na Sala do Conselho, imediatamente.

Anna levantou-se de supetão, alarmada, e acabou derrubando a cadeira para trás com esse ato, com um estrondo. Apressada e ciente dos olhares de todas as suas costas, ela levantou a cadeira e a colocou no lugar, preparando-se para sair correndo. Peach a acompanhou, agitada. Esbarrou em mais de uma classe, e prendeu o pé na beirada de uma das mesas, mas enfim conseguiu sair, sabendo que a professora a censuraria por esse comportamento indevido mais tarde. Cruzou pelos corredores abastados, cheios de quadros, obras de arte, e estátuas valiosas, as quais Anna sabia que não deveria em hipótese alguma esbarrar. Subiu as escadas pulando alguns degraus, e perdendo o equilíbrio instantaneamente, mas conseguindo passar sem cair nenhuma vez, o que era raro.

Finalmente, conseguiu chegar até o lugar onde as reuniões dos guardiões aconteciam. Parou na frente da porta, ajeitou os óculos, desamassou o vestido cinza e pesado, e arrumou a gola da camisa branca que usava. As meias-calças brancas e a sapatilha lustrosa completavam seu uniforme. Bateu na porta, timidamente, e adentrou na sala da ala oeste, vendo toda a parede revestida de vidro, que tinha um cenário privilegiado e maravilhoso para a cidade, e ao longe, podia ser visto o Big Bang, embora agora, com toda aquela chuva, fosse difícil distingui-lo. As outras paredes eram todas cobertas de estantes de livros, e bem no centro, havia uma mesa redonda de madeira escura, com cadeiras estofadas ao seu redor. Sentadas ao redor da mesa, as outras ocupantes dos tronos de Rainha e Coringa, que eram os únicos postos existentes naquela escola, já esperavam por ela, junto com suas Shugo Chara.

Anna se aproximou, ocupando a cadeira vazia, sentindo falta do chá que normalmente era servido ali. Peach sentou sobre a mesa, ao seu lado. A diretora da escola, uma mulher alta e jovem, de cabelos loiros presos em um coque alinhado atrás da cabeça, ergueu-se, imponente, e começou a se pronunciar.

— Como a ocupante do trono de Ás já está presente, eu posso finalmente dizer a vocês o motivo de chamá-las até aqui há essa hora – a diretora disse – Um velho amigo meu está tendo problemas, e pediu que eu enviasse ajuda. Uma de vocês terá que viajar, e viver durante um tempo em outro país, enquanto estudam, é claro. Alguma de vocês deverá se voluntariar para essa tarefa. Antes que pensem que é alguma viagem de turismo, eu digo a vocês que não se baseiem nessas ideias. A incumbência da qual uma de vocês será encarregada não é nada fácil, e peço que tome cuidado e pensem bem antes de aceitar essa tarefa. Eu acho prudente só revelar os detalhes após ser escolhida a enviada, por isso, eu pergunto, qual de vocês se propõe a aceitar esse encargo?

As três garotas se entreolharam, hesitantes. Nem uma delas parecia inclinada a aceitar, até que a ocupante do Trono de Rainha se pronunciou.

— Diretora… para qual país a senhora irá enviar uma de nós?

— Ah, claro. É para o Japão, onde esse meu antigo colega tem uma escola.

Anna, ao ouvir aquelas palavras, levantou-se imediatamente, sentindo-se agitada por dentro, e olhou com quase desespero para a diretora, sobressaltando-a.

— Eu! Por favor, deixe-me ir! Eu quero muito... – ela parou por um momento, avaliando suas palavras - ...poder ajudar! Por favor, escolha-me!

— Sim! Escolha ela! Escolha ela, escolha ela! – Peach se pronunciou, sem medo, e consciente de que sua voz poderia ser ouvida agora. Ao perceber o olhar severo da diretora, recuou, escondendo-se atrás do ombro de Anna.

A diretora a fitou com desconfiança, e então pigarreou, fitando as outras guardiãs. Nenhuma delas parecia ter objeções, e a diretora se viu sem opções.

— Tudo bem, Anna, você pode ir.





Espanha, Madrid, 03 de abril. 09:00 AM

O sol brilhava radiante na cidade, iluminando todos os espaços. Na escola Nossa Senhora da Guadalupe, uma imponente construção no centro do distrito, feita de pedras polidas e mármore, e que mais parecia um castelo medieval, alunos andavam de um lado para outro, entre as salas, muitos agitados. Um boato começou a correr desde o início da manhã, deixando todos em polvorosa, e agitando os ânimos naturalmente exaltados dos jovens.

Na abissal biblioteca da escola, longe dessa agitação, uma garota caminhava entre as estantes, devolvendo alguns livros para seus lugares. Ela havia passado a maior parte da manhã ali, fazendo alguns rascunhos para suas próprias histórias, e tentando tirar alguma inspiração daquele lugar, mas sem sucesso. Tinha volumosos cabelos cor-do-céu, amarrados com duas fitas brancas nas pontas, e expressivos olhos azuis e brilhantes. Vestia o a camisa branca de mangas bufantes, com detalhes em azul, e um laço de fita azul mais escuro no pescoço. A saia pregueada era azul-claro, com listras brancas na barra, e ainda tinha meias compridas e brancas cobrindo suas pernas, com os apertados mocassins de couro comprimindo seus pés.

— Ei! Stéffanie! – uma pequena figura surgiu entre os livros, esbaforida e impaciente. Tinha cabelos rosados, amarrados em duas maria-chiquinhas altas por fitas, e usava um vestido fofo e arroxeado, trazendo nas mãos pequeninas um livro proporcional ao seu tamanho – Você não vai acreditar no que eu ouvi!

— Você andou espionando as pessoas para saber o que está acontecendo de novo, Setsuna? Eu já disse a você para não bisbilhotar atrás das portas! – Stéffanie a censurou, mas intimamente, estava bem curiosa para saber do que sua Chara estava falando.

— Não foi atrás da porta, dessa vez foi no corredor mesmo – Setsuna desconversou, mas a breve repreensão de Stéffanie não tirou sua animação em partilhar da história – Parece que eles vão escolher...

— Senhorita De la Blanca! Finalmente a encontrei! – a diretora da escola surgiu por entre as estantes, parecendo aliviada. Ela tinha uma expressão jovial, e era bem pequena apesar da idade, e até mesmo os alunos, como Stéffanie, eram mais altos que ela. Tinha os cabelos castanho-escuros, arrumados em ondas perfeitas sobre os ombros.

— Sim, diretora? – Stéffanie indagou.

— Eu tenho uma importante tarefa para você. Na verdade não é bem uma tarefa, é mais como uma missão. E só alguém como a nossa excelentíssima e competente Rainha atual é capaz de cumprir! – a diretora dizia animadamente, não parecendo sentir a urgência que suas palavras pressupunham. Stéffanie acenou com a cabeça, compenetrada. Sabia que a Diretora tinha o costume de elogiar as pessoas quando queria pedir algo. – Tem algo acontecendo em outra parte do mundo, algo que exige total atenção dos nossos guardiões, e então, eu estarei enviando um representante da nossa escola para tentar conter essa calamidade. E a escolhida, obviamente, foi você.

— Eu? Mas como assim? Eu não entendo o que a senhora está dizendo... – a garota perdeu-se, vendo a sua Shugo Chara se retorcendo para querer falar também, ao seu lado.

— Bem, essa tarefa exige que você vá estudar em outro país, o Japão! E obviamente, minha escolha foi minuciosa, e eu percebi em você qualidades que vão além da simples vontade de ajudar, e que são vitais para o sucesso dessa missão. Você, querida... é a única dos guardiões que sabe falar japonês. É isso... – a diretora diminuiu o tom de voz gradualmente, a medida que ia falando.

— Ah, bem… - Stéffanie riu sem graça dos motivos que fizeram sua diretora escolhê-la, mas ainda assim, não conseguia acreditar no que estava acontecendo – Se eu puder ajudar...

— Eu sabia que podia contar com você! Vou cuidar dos documentos e de falar com seus pais agora, com licença!! – e dizendo isso, a diretora saiu apressada, sem dar à garota a chance de resposta.

Stéffanie ficou alguns segundos ainda olhando atônita para o nada, digerindo a informação. Então... ela ia para o Japão? Era isso mesmo?

— Viu?! Era isso que eu ia contar! Estão falando disso a manhã inteira, Stéffanie, só você não sabia! – Setsuna agitou o livro no ar, agitada.

— Eu não acredito que não ouvi falar... tem certeza de que estavam falando disso hoje? – Stéffanie ainda estava incrédula com a notícia que recebera, então nem conseguia mais conter um sorriso.

— Também... fica trancada aqui, tentando escrever... – a Chara disse, indignada.

— Ah, não diga isso, Setsuna! Eu estava indo muito bem, se você quer saber. – a garota rebateu.

— É, eu vi todas as folhas amassadas ao redor de onde você estava sentada.

— Foram só algumas ideias que não foram pra frente. Mas alguma coisa boa vai surgir para eu escrever, você vai ver – ela articulou, confiante.

— Você devia mesmo era usar as suas vantagens de guardiã para andar por aí, e ter ideias, e não para matar aula na biblioteca – Setsuna sugeriu.

— Isso seria errado! Não deixa de ser uma boa ideia... mas uma ideia errada! Pensando bem... se eu fizer essa viagem... e ainda mais para o Japão...! Sinto que terei muita inspiração para escrever assim, isso será maravilhoso! Eu vou arrumar ótimas histórias, e vou conseguir escrever meus livros!

— Sim! Eu tenho certeza que sim!! – Setsuna bradou, e Stéffanie riu da animação excessiva da pequenina.

Enquanto ela terminava de guardar os livros, Setsuna sobrevoou calmamente, dando um passeio entre as prateleiras e dando uma olhada nos títulos. Se interessou por um em especial, e tentou pegá-lo, mas ele era muito grande e ela escorregou e caiu, derrubando o livro no chão e trazendo alguns outros junto, acabando por fazer uma grande bagunça.

— Setsuna!!! Pare de fazer bagunça!! – ela repreendeu, juntando os livros do chão. Setsuna riu, sem graça.

— Ei, você! Você não é a Rainha? Pare de fazer barulho! – a bibliotecária censurou em um sussurro ameaçador, irritada.

— Me desculpe – Stéffanie sussurrou rapidamente, terminando de arrumar a confusão da Chara. Ainda assim, conservava o sorriso recém-adquirido. A ficha havia acabado de cair. Ela ia viajar! E para o Japão! Não poderia ter recebido novidade melhor, afinal de contas.







Japão, Tokyo, 04 de abril. 04:30 PM

Juntos, os guardiões caminhavam pelo caminho entre o bosque, andando apressadamente. Tsukasa havia mandado os chamar após as aulas, e eles se esforçavam para chegar rapidamente até o Royal Garden e conversar com ele;

Os antigos guardiões, Tadase, Nagihiko, Rima e Amu, haviam acabado de se formar e agora estudavam na escola Ginasial, a mesma de Kukai, que ficava na quadra de trás à Seiyo e era conectada a ela por meio daquele bosque. Estavam todos vestidos com os novos uniformes, ternos pretos com a gravata verde para os meninos, e os vestidos escuros com detalhes em vermelho para as garotas. Apesar de não frequentarem mais a escola, os quatro ainda eram membros dos Guardiões, afinal, os antigos postos não puderam ser ocupados, e Tsukasa deu um jeito de burlar as regras ao seu favor. Agora, os únicos guardiões oficiais eram Yaya e Kairi, que havia se transferido nesse ano e agora era novamente o valete. O restante, incluindo Kukai, foi nomeado como guardiões honorários, um tipo de conselho de veteranos. Não houve objeções por parte dos alunos, que ficaram gratos por poder ficaram com seus senpais por perto mesmo depois da formatura deles.

Todos os cinco finalmente chegaram até o pátio da escola, e sorrateiramente, torcendo para não serem vistos por nenhum estudante, correram até o Royal Garden, onde Yaya e Kairi já os esperavam com o chá pronto, na mesa.

— Ah! Finalmente!! Pensei que não vinham mais! – Yaya reclamou – a Yaya estava com saudades! Desde que vocês se foram e deixaram a Yaya para trás, nem parece que se lembram dela, não mandam notícias, não querem nem saber como a Yaya está! - ela fazia escândalo, quase a ponto de chorar – O Nagi nem faz mais bolinhos pra Yaya! Vocês se esqueceram da Yaya!!!!

— Yaya... nós estivemos aqui ontem... e eu trouxe brownies pra você... lembra? – Nagihiko disse cuidadosamente, sentindo uma gota descer pelo seu cenho, assim como nos outros que assistiam a cena que a Ás protagonizava.

— Ah, é – ela voltou ao normal imediatamente, sentando de novo na cadeira – Mas já acabou, e a Yaya quer mais...

— Eu verei o que posso fazer por você... – ele se aproximou, tomando um lugar na mesa. Kukai fez o mesmo, e Tadase o seguiu. Amu sentou logo a frente, e Rima, pegando uma xícara de chá, também.

— Ano... Fujisaki-senpai... – Kairi, sentando ao lado de Nagihiko, sussurrou na direção dele – Será que você poderia mesmo fazer essa gentileza? Eu... não aguento mais... A ás consegue ser mais imperativa que o próprio Rei, e não importa o que eu faço, ela sempre diz que não chegam aos pés da sua comida... e além disso, ela não cumpre completamente com os deveres burocráticos, e sobra toda a papelada para mim...

— Ah, tudo bem... – Nagihiko riu sem graça, percebendo o desespero nos olhos do valete. Ele estava sofrendo nas mãos da Yaya, e ainda mais, deveria ser o único a trabalhar ali. Estava sendo difícil para ele...

— Aaah~ - a ás, alheia a conversa dos dois, suspirou – Eu estou tão cansada. Você não trouxe mesmo nenhum bolinho, Nagi?

— Não, sinto muito, Yaya.

— O ponto principal agora não são os brownies do Fujisaki-kun. – Tadase interpôs, sério – Tsukasa-san nos chamou aqui por algum motivo, e ele disse que tinha urgência.

— Eu desconfio que tenha algo a ver com a onda de Batsu-tamas que invadiu a cidade. Todos os dias nós encontramos novos casos, e eles parecem se alastrar com uma velocidade inacreditável. – Rima expôs, tomando um gole de chá.

— Sim, no caminho para cá, nós encontramos um, e eu tive que purificá-lo, mas pareceu muito mais difícil do que normalmente é, estou exausta agora... – Amu contou, e os guardiões que presenciaram a cena assentiram – E não é só isso. Eles parecem mais fortes também. Na noite passada, eu encontrei um grupo de batsu-tamas na rua da minha casa, e corri para pegá-los, e mesmo depois de fazer o Open Heart, eles não se purificaram! Fugiram todos, e eu não consegui capturá-los!

— Nem mesmo com o Open Heart? – Kukai se espantou – Então o negócio é sério mesmo!

— Muito mais sério do que você pensa – uma voz se fez ouvir, ecoando pelo espaço. Todos olharam ao mesmo tempo para a entrada, e viram Tsukasa aproximar-se com um semblante sério no rosto – Foi exatamente por isso que chamei vocês aqui. Apesar de a Easter ter encerrado suas atividades ligadas ao Embryo, algo de anormal está acontecendo, e eu desconfio que haja outra organização trabalhando por esse objetivo. O número de ovos maculados está crescendo rapidamente, e nem mesmo a nossa Joker é capaz de purifica-los com facilidade. Já é hora de tomarmos atitudes com relação a esse problema, ele se estendeu por muito tempo.

— E o que sugere que façamos, Tsukasa-san? – Tadase indagou, preocupado.

— Primeiro, nós devemos nos unir aos nossos amigos. Somente se estivermos juntos, seremos capazes de pensar em algo. Por isso, eu tomei a liberdade de chamar alguns aliados – e dizendo isso, ele acenou para a porta, por onde algumas figuras adentraram.

— Ikuto e Utau? – Amu indagou alto, ao ver quem eram as pessoas que adentravam no Royal Garden.

— Sim. Eles se ofereceram de bom grado a ajudar, e como já fizeram parte da Easter, conhecem seus métodos de ação, caso ela esteja envolvida com esses fatos. Alguém tem alguma objeção com a adição dos Tsukiyomi ao nosso grupo?

— Objeção alguma – Tadase se pronunciou, e então sorriu gentilmente – Sejam bem-vindos.

— Ah! Obrigada, Tadase! – Utau disse, pulando os degraus que a separavam da mesa e avançando sobre Tadase, dando nele um sufocante abraço – Eu tinha me esquecido o quanto você é bom de abraçar! Você nem ligou para mim, desde que eu saí da Easter... a Onee-sama estava com saudades, sabia?

— T-tudo bem... – Tadase se desvencilhou, enfim conseguindo respirar – Vamos nos esforçar juntos, e trabalhar. Yoroshiku onegai shimasu!

— Hai, hai! – Ikuto se jogou na cadeira entre Amu e Kairi – Eu vou adorar trabalhar com você, Amu-chan! – ele pousou o braço no ombro de Amu, displicentemente. Fez o mesmo com Kairi que estava do seu outro lado, e corou furiosamente ao sentir o toque do garoto.

— C-com licença... – ele tentou se desvencilhar, constrangido.

— M-me solta, seu neko depravado! – ela protestou, com o rosto em chamas, mas não fez nada para tirar o braço dele do seu redor. Ikuto se endireitou, e sem nenhuma cerimônia, serviu-se de chá. Rima lançou para ele um olhar raivoso, com o impulso de afastar o bule de chá, e parecendo querer fuzilá-lo só com isso.

— E não serão apenas Ikuto-kun e Utau-chan que se integrarão à nossa frente de combate aos Batsu-tamas – Tsukasa articulou, sorrindo ao ver todos interagirem de maneira tão amigável – Eu contatei meus antigos colegas guardiões, da época em que estudávamos aqui – ele disse, e todos se assombraram. Tsukasa nunca falava sobre seus tempos de guardião, então, além de surpresos, todos estavam muito curiosos. – Todos eles têm escolas espalhadas pela Europa, e gentilmente nos ofereceram reforços. Da Inglaterra, a Rainha fundadora, Baxter-san, irá enviar sua Ás, Anna Lewis. Da Espanha, a Ás fundadora, Martínez-san, enviará sua Rainha, Stéffanie de la Blanca. De Portugal, o valete fundador, Abreu-kun, enviará seu Rei, Miguel Gonçalves. Eles chegarão amanhã, pela parte da manhã, e Nikaido-sensei irá buscá-los no aeroporto.

— Então... a escola receberá alunos de intercâmbio? – Kairi indagou, já preparando-se mentalmente para organizar preparativos.

— Não exatamente. Eles virão para cá, mas considerando suas idades, serão matriculados na escola Ginasial. – ele respondeu – Peço que, pela manhã, todos vocês estejam aqui, incluindo Utau-chan e Ikuto-kun, para dar-lhes as boas vindas. Também, gostaria que vocês me informassem quem de vocês poderá hospedá-los, durante o tempo em que estiverem aqui. Sei que é repentino, mas se vocês puderem falar com seus pais, tenho certeza de que entenderão.

— Sim, entendido.

— Wooow! Parece que vamos nos preparar para uma guerra ou algo assim! Isso é tão legal...! – Yaya exclamou.

De certa forma, o que a Ás disse, estava correto, aquele era de fato o início de uma guerra. Uma guerra por vingança. E nenhum dos jovens presentes, que se entreolharam com expectativa e apreensão, podia sequer imaginar o que estava por vir.




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Notas finais do capítulo

Shiroyuki desu!
Mais uma vez, eu e a Teffy-senpai nos juntamos para escrever uma fic o/ Depois de muito tempo planejando e discutindo ideias, finalmente, estou postando o primeiro capítulo!

O desenho ali em cima foi feito por mim n_n E mostra Anna, Miguel e Stéffanie e seus devidos Shugo Charas, Peach, Grace e Setsuna!

Espero sinceramente que apreciem e deixem suas opiniões, sugestões e dúvidas nos reviews! Estarei esperando!!! E o próximo capítulo é com a Senpai!!
Kisuu♥
Janee