- Está com medo?

Loki rolou os olhos para a pergunta do irmão. Se não fossem as correntes, ele teria se afastado de Thor, mesmo que isso não significasse uma distância muito grande, já que a sala em que estavam não era maior que um quadrado de 4 metros por 4 metros.

- Não - respondeu. Disse isso da forma mais ácida que podia, para que, ao convencer ao louro, convencesse a si mesmo também sobre não ter medo. Porque estava realmente difícil manter a mente coerente com a ansiedade sobre o que estava por vir. No fundo, agradecia a insistência de Thor em ficar ao seu lado enquanto aguardava a formulação de sua punição por Odin e os membros do conselho de Asgard.

- Irmão, você está tremendo - observou o mais velho.

- Você sempre diz apenas coisas óbvias, Thor. - Loki não estava interessado em poupar os sentimentos do irmão. Não, não irmão, lembrou a si mesmo. Depois de alguns minutos em silâncio, ele nãoconseguiu mais aguentar. - Não entendo o motivo de eles demorarem tanto! Qual é o problema deles? Será que não estão encontrando um meio cruel o suficiente para me executarem?

- Não acho que farão isso com você, Loki. O Pai não faria uma coisa como essa com seu próprio filho.

O mais novo não pôde deixar de sorrir. Thor era tão ingênuo.

- Mas você se esquece, Thor, de um detalhe importante. EU NÃO SOU FILHO DE ODIN!

- Pare com essa ladainha, Loki! Você é o que sempre foi. O que você fez ou o útero que o gerou, isso não importa. E nós sempre vamos ser irmãos.

Nesse momento, os guardas adentraram na pequena sala, anunciando que o Pai-de-todos solicitava a presença dos irmãos na sala do trono, porque a sentença seria anunciada. Então eles levaram um Loki acorrentado e Thor os seguiu.

O mais novo foi forçado a ajoelhar-se diante do trono do soberano de Asgard, mas seus olhos jamais encontraram os olhos de Odin.

Só o que Thor podia fazer era assistir enquanto o pai se aproximava do irmão com expressão impassível, e esperou que realmente Loki não fosse condenado à morte por seus crimes.

- Loki Odinsson, por seus crimes contra os reinos de Jotunheim, Midgard e Asgard – enquanto rei falava, Thor viu o irmão encolher-se sob o uso do sobrenome que Odin usara para si -, eu tiro de você a sua magia.

Loki sentiu então um estranho formigamento em todo o seu corpo, e ele soube que estava sendo despojado de seu precioso poder. A magia que ele adquirira através de milênios de estudo, agora o deixava. Sentiu vontade de chorar, mas não faria isso na frente de ninguém. Manteve-se firme onde estava, ainda sem olhar para nada além do chão dourado da sala do trono.

Odin continuou:

- Você será banido para Midgard, onde deverá ser deixado até que aprenda o verdadeiro valor de cada vida humana que tirou em sua busca egoísta pelo poder.

Pela primeira vez, Loki ergueu os olhos para o pai adotivo, e falou:

- E o que faz pensar que isso funcionará?

- Sua memória lhe será tirada.

Thor viu os olhos de Loki arregalarem-se com medo, ao mesmo tempo em que seu próprio coração apertou no peito. Se a memória de seu irmãozinho fosse levada, como eles poderia um dia novamente se recordar dos bons momentos juntos?

- Não, por favor – a voz de Loki era um sussurro fraco, um eco que morria. Ele olhou para Thor, seus olhos pediam socorro. – Eu... eu sinto muito, eu não queria...

- Chega!

O brado de Odin encheu o salão, silenciando-o.

A próxima coisa que Loki viu foi uma forte luz branca a cegar-lhe e em seguida sentiu-se caindo, porque a consciência lhe escapava. Mãos grandes e ásperas o seguraram antes que atingisse o chão.

- Vai ficar tudo bem, Loki. Eu vou encontrar você.

Com essa promessa, o mundo que ele conhecia o abandonou.