The 68th escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 27
Avalanche


Notas iniciais do capítulo

Enjoy, my loves



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Não vou mentir: estou com medo, muito medo.

Não sei até que ponto os Idealizadores seriam capazes de ir para trazer o garoto do 11 até mim, ou vice versa. A qualquer momento, eu poderia ser atacada por bestantes, chuva ácida ou algo parecido. Seja lá o que fossem inventar, eu sei que não será nada bom.

A partir do momento em que ouço o canhão de Madeline, passo a ficar alerta. Ando com uma faca em minha mão direita e com a outra mão em meu cinto, pronta para tirar de lá outra arma caso necessário.

Deixo a Cornucópia e vou ingressando em meio às coníferas, não sabendo ainda qual seria meu destino e, infelizmente, não sabendo exatamente o que deveria fazer.

Depois de alguns passos, ouço um barulho vindo das árvores um pouco mais a frente de mim. Sem pensar, me escondo atrás do tronco mais próximo.

Sinto minha respiração acelerar assim como os batimentos de meu coração. Começo a tremer, sem saber que arma provavelmente estaria pronta para me matar atrás daquelas árvores.

Por sorte, é só um alce.

Solto o ar, aliviada. Continuo a andar, dessa vez nem tão tensa.

Atravesso o lago gelado e o rochedo, passo pelas montanhas cobertas de neve, mas nenhum sinal do garoto do 11. Não paro de caminhar. Naquelas circunstâncias, certamente não pararia por motivo algum. Pelo menos isso era o que eu pensava até ser forçada a interromper meus passos.

Sinto alguém me segurar por trás e me jogar na neve. Não consigo segurar um grito de dor ao colidir contra uma árvore, mas não paro. Consigo movimentar a mão com que seguro minha faca, e a atiro na direção do garoto do 11. Sem sucesso. Não consigo força no arremesso e a faca acaba simplesmente caindo no chão.

– Droga! - grito, tentando pegar outra do cinto.

Mas eu e ele rolamos na neve, lutando para ver quem ficaria em cima de quem, disputando quem seria o primeiro a sacar sua arma. Deslizamos pelo chão e eu consigo imobilizar suas mãos com o peso de meus joelhos, bem a tempo de arrancar uma faca do cinto.

Vejo pela primeira vez o rosto de meu oponente. Para minha sorte, estamos na mesma situação; o garoto é magro ao extremo e seus ossos não passam de compridos palitos. Não deve ter mais de 15 anos, pelo o que noto. Aproveito minha posição para segurar a faca com a maior precisão que consigo antes de avançar.

Aponto-a na direção de seu coração, mas ele consegue livrar um de seus braços de meu joelho e empurra a faca na direção oposta, acidentalmente causando-me um corte na bochecha. Não consigo resistir a mais um grito, se bem que estamos ambos gritando com os golpes um do outro. Coloco involuntariamente a mão sobre o ferimento, apertando-o. Com isso, ele consegue escapar e invertemos as posições.

Tento movimentar os braços e pernas, mas ele havia colocado todo o seu peso em cima de mim antes que eu pudesse ter qualquer mobilidade; não consigo escapar. Mas é quando ele está prestes a apontar-me uma lança que eu vejo algo se aproximando de nós dois.

Neve corre montanha abaixo, um barulho torna-se cada vez mais alto e estrondoso a cada segundo.

Uma avalanche.

No mesmo instante, o 11 sai de cima de mim e começa a correr da neve que avança em nossa direção. Sem hesitar, faço o mesmo. Mas não correria para o outro lado; se estou no meio de uma luta cuja vitória me tiraria desse inferno, não deixaria que uma avalanche me impedisse de terminá-la.

Ele então escorrega na neve, e eu consigo assumir a posição de cima novamente. Pego a faca e encosto de leve em seu peito, apreciando sua expressão de medo e pavor. Tento abrir um sorriso estilo Amelia, do tipo intimidador e que parece comunicar - mesmo que sem palavras - à alma do oponente que seu fim está próximo. Assim, talvez o garoto pense que sou mais capaz do que a vida realmente me permite ser, e talvez seu medo me dê alguma vantagem no confronto. Eu poderia usar qualquer coisa que me ajudasse a vencer as probabilidades. Estou esperando que o garoto implore misericórdia, mas isso não acontece.

Percebendo que eu havia me distraído, acabamos rolando novamente na neve e ele me imobiliza tão rapidamente que não chego a ter tempo de pensar no que havia acontecido.

Ele me aponta sua lança, e eu sinto meu corpo gelar.

– Suas últimas palavras, 6? - ele me pergunta, sendo ele agora o dono do sorriso intimidador.

Mas não consigo pensar em nenhuma. Naquele momento, milhões de pensamentos brotam em minha cabeça. Capital. Jogos Vorazes. Arena. Avalanche. Garoto do 11, Madeline, Joy, Amelia, Chad, Garret, Trevor, Sally. Cameron. Elise, Fennie, Burton. Meus pais, meus irmãos. Tudo gira em torno da lança que me aperta o peito, e eu ainda estou pensando em últimas palavras para dizer.

No fim, não encontro nem sequer uma palavra em minha mente que valha a pena ser dita. Deveria me despedir da vida? Das pessoas que perdi? Das pessoas que amo?

Deveria falar agora o que penso sobre a Capital? Deveria ficar calada?

Não sei o que fazer. Fico apenas olhando para o rosto do garoto do 11, para sua lança, para a avalanche, para a arena. E faço tudo isso calada, sem capacidades de formar qualquer palavra que seja, muito menos uma frase completa.

– Quer um chá para acompanhar as reflexões ou prefere acabar logo com isso? - ele volta a dizer, dessa vez sem conter uma risada, sedento pelo momento em que se tornaria Vitorioso. Sua aparência fraca realmente não me permitiu imaginar uma personalidade tão cruel.

Não respondo nada. Apenas engulo em seco e sinto minhas últimas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Quando percebo que tudo está perdido, eu fecho os olhos.


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Notas finais do capítulo

Esse NÃO é o último capítulo da fic. Aguentem firme. (Rescrito em 11/12/2014)



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