Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 48
Capítulo 47 – Reforma


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos, tudo bem? ^^
Demorei um pouco mais do que o esperado para subir esse capítulo e peço desculpas. Mas cá está! Estamos cada vez mais próximos do fim e se preparem porque vem muita emoção por ai!
Espero que gostem e continuem acompanhando até o final ;)



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Esperava ter uma noite tranquila para poder colocar as ideias no lugar. Mas infelizmente aquele não era o meu dia de sorte. Assim que cai no sono comecei a sonhar com algo muito familiar. Uma campina iluminada com uma luz fantasmagórica que vinha de trás das árvores. Eu não enxergava o céu nem nada além dos limites da floresta. Meus olhos estavam semicerrados enquanto eu mantinha meu olhar a frente. Já sabia o que iria acontecer a seguir. Já sabia quem viria falar comigo. Então apenas esperei. Ela devia estar querendo fazer algum clima de suspense porque demorou mais do que o normal para aparecer. Porém alguns minutos depois lá estava ela. Linda e resplandecente como sempre. Se aproximou de mim lentamente como se flutuasse. Continuei sentada na grama sem me mover um milímetro sequer.

- Por um momento cheguei a pensar que tínhamos nos livrado de você para sempre – falei sem conseguir me segurar. Já estava farta daquela deusa e de seus avisos – Mas é claro que eu estava completamente engana!

- Devia tratar com respeito os mais velhos, minha querida. Mas eu não a culpo por isso, sua mãe não pode se encarregar disso e os pais mortais simplesmente não levam jeito para educar semideusas presunçosas, como você – ela me lançava um olhar analítico acompanhado de um sorriso sombrio que a deixava com uma expressão de dar arrepios. Bonita e fatal.

- Por que não diz logo o que tem a dizer e me deixa dormir em paz? – eu não queria expressar o meu medo então continuei na mesma postura. Em todo caso eu já sabia que se Afrodite quisesse me fazer algum mal, ela já teria feito há tempos.

- Serei breve, mas não por que você está ansiosa para se livrar de mim. O que tenho a dizer é algo simples. E ainda que não acredite existem assuntos muito mais importantes esperando por mim – eu quis rir dessa sua declaração, mas me contive. Se ela estava querendo ser breve então eu não iria me opor. Quanto antes ela desse seu recado antes ela abandonaria meus sonhos e eu poderia descansar minha mente.

- Esta bem, então vá em frente, o que quer me dizer?

- Percebi uma ligeira tensão entre você e Percy há poucas horas atrás. E me surpreendi quando averiguei do que se tratava – disse a deusa do amor de forma tranquila.  

- E se surpreendeu por quê? Por que não foi você quem causou essa discussão? – eu não me aguentei, tive que provoca-la com aquele comentário.

- Sua perspicácia é quase tão intrigante quanto a sua audácia, heroína. Mas vou passar por alto a sua displicência dessa vez – disse ela sem perder o seu ar de superioridade – Percebi que os planos para o futuro preocupam você. Acredita que eles podem interferir de alguma forma na relação de você e Percy, não é? – eu me sentia muito desconfortável ao ver como ela conseguia ler meus sentimentos e emoções tão bem – Você acha que pode acontecer com vocês o que aconteceu com Clarisse e Chris. Tem medo de que tenha que ficar longe do seu amado por um longo tempo. Por isso vocês brigaram essa noite.

- Não brigamos – me defendi – Apenas não chegamos a um consenso. E não vejo por que isso seria um problema tão grave a ponto de fazê-la vir até mim de novo.

- Infelizmente você verá que esse pode sim ser um problema bem grave – ela me lançou um olhar de pena – Mas ainda assim, não foi por isso que eu vim. O que quero lhe dizer é que não há porque vocês dois se preocuparem com o futuro agora. Não esse futuro que planejam de construir uma vida juntos. Vocês acham que assim que o verão terminar encontrarão enfim paz para viver suas vidas, quando na verdade nem podem imaginar o que está por vir. Receio que vá demorar um pouco mais para que possam enfim planejar o caminho que querem seguir para o resto da vida. Antes disso ainda será preciso saber se haverá alguma vida por onde traçar esses caminhos... Já existe um plano muito maior traçado para vocês e ele está mais próximo do que imaginam. Tempos difíceis estão por vir, Annabeth.

- O que está querendo dizer com isso? – por mais que eu me forçasse a não dar ouvidos à deusa eu não pude ignorar aquelas palavras – Que algo grande está para acontecer e que talvez nós dois não saiamos vivos dele? Isso tem algo a ver com a profecia dos sete?

- Você é inteligente o suficiente para se dar conta dessas coisas sozinha – disse ela se desviando de minha pergunta – Com o tempo irá conseguir encaixar as peças e entender tudo. No momento, não deixe que essas preocupações mundanas interfiram na vida de vocês. Acredite em mim, esse é o menor de seus problemas agora.

E ela sumiu um segundo depois de terminar de dizer aquilo. E eu mal tive tempo de começar a tentar processar aquele sonho quando percebo que ele não havia acabado. De repente eu não estava mais na campina. Eu estava no acampamento meio-sangue ainda, mas na área dos chalés. Reconheci logo aquela parece de pedra que estava próxima de mim. Era o chalé de Poseidon. Por uma janela eu conseguia ver Percy lá dentro. Ele estava deitado em sua cama, acordado e olhando para o teto. Possivelmente não estava conseguindo dormir depois da nossa discussão. Ele parecia inquieto. Rolava de um lado para o outro e trocava de posição constantemente na cama. Até que algo dentro do chalé chamou sua atenção e a minha também.

A pequena fonte de agua que Percy havia ganhado de seu pai se iluminou mostrando uma imagem. Eu reconheci de imediato de onde vinha aquela mensagem de íris. Só quem já esteve no fundo do mar e visitou o reino de Poseidon sabe que é impossível esquecer aquele lugar. Eu conseguia ver as construções naturais repletas de corais e vida submarina. No centro da imagem estava o ciclope mais gentil e amigável do mundo inteiro. Tyson acenava para chamar a atenção de Percy que logo se levantou e andou até o objeto que projetava a imagem de seu meio-irmão. A janela estava aberta e como eu já tinha percebido que Percy não notara minha presença resolvi me aproximar mais. Encostei-me ao parapeito e me inclinei para frente tentando ver e ouvir melhor o que eles diziam.

- E ai grandão, tudo certo? – dizia Percy que agora estava posicionado a frente da fonte e tapava quase toda a minha visão.

- Tudo certo! – respondeu o ciclope com seu costumeiro e exagerado entusiasmo – Tyson tem boas notícias para Percy!

- Sério? Acho que era exatamente disso que eu estava precisando – disse ele parecendo ainda um pouco chateado. Ele então se sentou na cadeira que ficava próxima a sua escrivaninha e então eu pude ver melhor o que a mensagem de íris mostrava.

- Irmão triste. Tyson não gosta de ver seu irmão triste – assim como eu, Tyson também havia notado que havia algo de errado com Percy.

- Não é nada – disfarçou ele – Não precisa se preocupar, Tyson, estou bem. O que é que você tem de tão bom para me dizer?

- Papai quer você aqui depois que for embora do acampamento – eu instantaneamente arregalei os olhos e abri a boca numa expressão de surpresa e choque – Quer que nós ajudemos na reconstrução do reino, isso não é legal?

- É sim, demais – respondeu Percy sem um pingo de ânimo na voz. Ele devia estar tão surpreso quanto eu. Até onde eu sabia Percy nunca gostou da ideia de viver em baixo d’agua ao lado de seu pai. E esperava que ele não tivesse mudado de opinião. Os dois irmãos trocaram mais algumas palavras até que Percy se despediu  – Agora tenho que tentar dormir um pouco grandão, a gente se fala depois.

Percy então passou os dedos sobre a imagem do irmão que se dissolveu em uma fumaça colorida que aos poucos foi desaparecendo. Quando ele voltou para a cama, não me notou mesmo eu estando agora nem próxima a janela. Provavelmente ele não podia me vez pois aquele era meu sonho. Meu sonho que fez com que eu visse algo que precisava ver. Porém eu ainda não tinha certeza se realmente queria ter visto aquilo. O sonho terminou enquanto eu ainda pensava se meu namorado iria ou não atender ao chamado de seu pai. Parece que, assim como eu havia suspeitado, nosso futuro acabaria por nos separar, cedo ou tarde. Eu só não imaginava que seria assim tão cedo.

***

Quando acordei, demorei alguns minutos para tomar coragem e levantar da cama. Era sábado e não havia nenhum horário para cumprir. Também não havia nada me motivando a começar aquele dia. Só de pensar no que eu teria que encarar me dava vontade de voltar a dormir e só acordar dali a uma semana, deixando que as coisas se resolvessem por si só. Entretanto eu sabia que nada se resolveria sozinho por mais que eu dormisse um ano seguido. Juntei todas as minhas forças e sai da cama. Tomei uma longa ducha morna e me arrumei. Já que não era dia de treinamento resolvi colocar uma roupa mais casual e diferente da que eu usava todos os dias. Um vestido azul rendado até a cintura e com uma saia de um tecido macio que ia até quase meus joelhos. Minha madrasta sempre me presenteava com essas coisas na esperança de me deixar mais feminina. Deixei os cabelos soltos e passei um perfume que também fora presente da minha madrasta.

Não tinha ideia do porque eu estava me comportando daquela maneira. Me preocupando tanto com a aparência. Isso não era comum. Talvez fosse porque por dentro eu estava uma verdadeira bagunça. Pensamentos desordenados. Sentimentos confusos. Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Aqueles sonhos que eu tivera na noite anterior não haviam ajudado nada. Ao contrário, me deixaram ainda mais intrigada. Se tinha uma coisa que eu sabia sobre o meu futuro é que ele era incerto, imprevisível, e muito provavelmente desastroso. Talvez um pouco de autoestima me fizesse sentir mais confiante. Ou talvez não. De qualquer forma me empenhei em ficar com a melhor aparência possível antes de deixar o chalé de Atena.

Encontrar Percy não estava na minha lista de prioridades daquele dia. Então passei bem longe do chalé do Poseidon mesmo sabendo que ele ainda não teria acordado aquele horário. Os fins de semana eram sagrados para Percy, ele nunca despertava antes das dez horas da manhã. Pelo menos Morfeu, o deus dos sonhos, deveria achar que esse era um bom jeito de prestar uma oferenda. Fui ao refeitório e tomei um café da manhã bem rápido. Enquanto estava lá pude avistar Rachel que ainda parecia bem feliz e animada com seu retorno ao acampamento. Por um momento pensei em ir falar com ela, perguntar como estava. Mas não foram necessários nem dois segundos para eu perceber que não era uma boa ideia. Eu não me importava com ela mais do que com qualquer outro campista. Se eu fizesse aquilo seria por puro peso na consciência pelo que eu havia feito a ela.

Terminei meu café e me levantei para sair. Nesse momento Quíron chamou a atenção de todos os semideuses presentes para informar que haveria uma reunião onde ele faria um anuncio a todos. Deveríamos nos encontrar no “punho de Zeus” em dez minutos. O plano de adiar meu sofrimento foi por água abaixo. O inevitável encontro com Percy aconteceria antes do que eu estava esperando. Bem talvez eu conseguisse me misturar entre os outros meio-sangues e despistá-lo. Seria difícil fazer isso, afinal eu não poderia ficar me movendo o tempo todo enquanto Quíron falava. E seus anúncios nunca eram simples anúncios, eram verdadeiros discursos longos e monótonos. Mas não tinha outro jeito. Eu ainda não queria encarar Percy então teria que dar um perdido nele de qualquer jeito.

Enrolei o máximo que pude para ir até o local da reunião. Queria dar tempo para que pudesse haver uma considerável concentração de campistas para me “perder” no meio deles. Dei algumas voltas por áreas seguras do acampamento, ou seja, áreas onde eu não esperava encontrar meu namorado. Depois do que deviam ter sido quase os dez minutos que Quíron havia dito, me encaminhei para me reunir com os outros. Achei que seria melhor não ficar procurando para ver se Percy estava por ali. Então apenas andei entre os semideuses procurando uma agrupação mais densa onde pudesse ficar sem ser notada. O Chalé de Ares, um dos que tinham mais membros, sempre permanecia unido nesse tipo de ocasião, então me posicionei perto deles. Quíron, agora em sua forma original de centauro, já se encontrava em cima da pedra apelidada de “punho de Zeus”. Ele não esperou nem mais um minuto para começar seu anúncio.

- Caros campistas do acampamento meio-sangue – ele falou num tom alto para que os que ainda não estavam em silêncio parassem de conversar – Como todos já sabem estamos próximos ao final desta temporada. Logo muitos de vocês estarão retornando as suas casas. Alguns ficaram o restante do ano. E ainda existem outros que talvez nunca mais retornem a esse local. Sendo assim, muitas despedidas, temporárias ou permanentes, serão feitas. Por isso é que iremos organizar uma atividade envolvendo todos os membros desse acampamento para concluir o treinamento desse verão.

Ele fez uma breve pausa. Eu sinceramente não esperava algo muito diferente do que acontecera nos anos anteriores. Normalmente uma “Captura a Bandeira”, ou uma “Corrida de Bigas” ou até mesmo uma “Caça ao Tesouro” como a que ele havia proposto no início do verão. Algo grande e desafiador, esse era o plano normalmente. Mas nem eu, nem nenhum dos outros semideuses ali presente podia adivinhar o que estava por vir. Por alguma razão Quíron quis inovar naquele ano, pois sua ideia era sem dúvida uma novidade. Um tanto quanto estranha, mas indiscutivelmente inédita.

- “Maratona de Reforma”! – exclamou ele empolgado. Houve um longo silêncio onde todos estavam provavelmente entendo entender o significado daquilo que o centauro acabara de dizer. Até que alguém finalmente resolveu perguntar:

- E o que, em nome de todos os deuses, seria isso? – perguntou sem cerimônia um campista do chalé de Hermes.

- É exatamente o que o nome diz – disse ele achando que assim todos entenderiam. Porém continuamos com os mesmos semblantes de dúvida o que o fez continuar a explicação – Acho que todos sabem, estamos passando por uma Reforma aqui no acampamento certo? Construindo novos chalés, expandindo os antigos, e ampliando os locais de treinamento como a arena e a parede de escalada. Pois bem, a atividade que encerrará o verão será essa. Vocês terão que ajudar na reforma. Serão divididos em três grandes grupos e cada um ficará responsável por uma parcela das obras. Quem tiver melhor desempenho vence.

Eu não podia dizer com certeza, mas se eu tivesse que arriscar, apostaria qualquer coisa na seguinte dedução: ninguém do acampamento gostou daquela ideia. Não demorou nada para começar o burburinho entre vários grupos de semideuses. Aos poucos comecei a ouvir exclamações de protesto e indignação. Só não falei nada porque no lugar onde me encontrava não havia ninguém que fosse próximo a mim. Foi nesse momento que meus olhos encontraram Percy no meio da multidão. Ele também não parecia nenhum um pouco feliz com o anúncio que acabara de ser feito. Quando ele se voltou para minha direção eu desviei o olhar no mesmo instante. Fiquei sem saber se ele tinha me visto ou não. Mas decidi me deslocar um pouco para que ficasse oculta pelos semideuses corpulentos do chalé de Ares.

Os protestos continuaram, e Quíron pacientemente respondeu a todas as perguntas e reclamações. Infelizmente ele não voltou atrás e não cedeu aos apelos dos campistas. A atividade estava de pé quando enfim todos começaram a se debandar dali. Grande parte havia se conformado, mas ainda havia muita gente insatisfeita. Confesso que eu estava mais para o grupo dos insatisfeitos. Não me desagradava tanto a ideia de colaborar com a reforma, mas usar isso como uma competição entre os meio-sangues não me parecia nenhum pouco interessante. Quem é que iria querer ganhar isso? Consegui deixar o local sem que Percy tivesse me alcançado. Porém, mais tarde naquele dia, eu não tive a mesma sorte.

- É impressão minha ou alguém esta me evitando? – a voz de Percy vinha da minha direita quando eu me aproximava do chalé de Atena. Era quase hora do almoço e eu esperava conseguir me refugiar em meu chalé enquanto isso. Mas ele havia me encontrado e não tinha porque eu continuar fugindo. Era hora de encará-lo e resolver de uma vez o nosso assunto pendente. 


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Notas finais do capítulo

Essa conversa dos dois será tensa, sim ou claro? Será que os pombinhos vão se acertar de uma vez? Aguardem o próximo capítulo e saberão! ;)
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beijos ;**
@SarahColins_