"Eu tenho que manter o controle. Lembro-me de fazer o tempo distorcer, bebendo aqueles momentos em que a escuridão me batia e o vazio estaria chamando. Vamos fazer o tempo distorcer de novo."

(Time Warp - The Rocky Horror Picture Show)

Rachel ainda morava na mesma casa. Quinn se lembrava de vir todos os dias até ali quando a morena tinha ido embora. Os Berry nunca tinham vendido a casa, então ela sempre conseguia entrar no quintal e sentar na casa da árvore.

Ela gostava de ir lá pensar. Era acolhedor. Era lar.

Era a mesma sensação que sentia ao ser engolida pelos grandes braços de Hiram. O homem havia ficando alguns segundos paralisado quando vislumbrou a loira, mas tão logo o choque passou ele agarrou firmemente a garota contra seu peito. Eles ouviram uma risadinha vindo de algum lugar e se separaram. Encontraram Rachel e mais dois garotos que Hiram não conhecia os olhando.

“Pensei que ia ter que desgrudar os dois!” A morena sorriu e arqueou uma sobrancelha. Os garotos riram e finalmente Hiram prestou atenção neles. Os dois estavam de mãos dadas. “Vai ficar matando a Q sufocada ou eu posso apresentar os meus dois amigos?”

“Não seja bruta estrelhinha.” Seu pai ralhou ofendido e cruzou os braços no tórax. “Não foi assim que eu te criei.”

“Tanto faz.” Ela deu de ombros e revirou os olhos castanhos. Hiram bufou e Quinn começou a rir. Sentia tanta falta desses momentos. Pai e filha pareciam duas crianças brigando. “Papai, esses são Kurt Hummel e Blaine Anderson. Meninos, esse é meu pai Hiram Berry.”

“Muito prazer senhor Berry.” Um dos meninos saudou abrindo um sorriso brilhante. “Eu sou Kurt Hummel.”

“Pode me chamar de Hiram.” O homem sorriu e depois franziu o cenho levemente. “Você é o filho do Burt?”

O garoto o olhou com os olhos azuis arregalados e assentiu. Olhou confuso para Rachel, mas a mesma tinha a mesma expressão que ele ao encarar o pai.

“Seu pai não casou com Judy?”

“Casou sim.”

Hiram sorriu. Sempre tinha visto o quão bem Burt fazia para Judy depois da morte de Russel Fabray. Os três sempre foram muito amigos, mas infelizmente o tempo os tinha separado. Quem sabe agora poderiam voltar a estreitar os laços.

“Não posso acreditar ainda que perdi esse casamento.” O homem abanava a cabeça sorrindo. Os quatro jovens o encaravam com expressões que iam da diversão a confusão. “Conheço Burt a muito tempo estrelinha.”

“E como eu não lembro dele?”

“Você era muito pequena quando eles foram embora de Lima.” Hiram deu de ombros e todos assentiram. Abriu passagem em sua porta os convidando a entrar. “Querem entrar um pouco?”

Rachel e os garotos fizeram menção de entrar mas a loira tocou o braço do homem de forma leve, e todos pararam em seu caminho.

“Na verdade Hiram, queria te perguntar se a Rach pode ir lá em casa. Mamãe vai ficar muito feliz com uma visita dela.”

“Claro que pode Quinn.”

A loira abriu um largo sorriso. Por um lado queria ficar na casa dos Berry, mas tinha uma necessidade gritante de levar Rachel conhecer sua casa. Queria que a morena percorresse todos os cômodos e os enchesse com seu espírito leve.

Conversaram por mais alguns minutos com Hiram. Quinn prometeu que voltaria no dia seguinte e com isso o homem os deixou ir. Voltaram para o carro e então seguiraram para a casa dos Fabray-Hummel.

O imenso casarão ficava a vinte minutos da casa de Rachel. Era muito parecido com a antiga casa de Quinn – desde o imponente portão até o bonito jardim que se estendia a frente da casa branca. Rachel sempre pensou na antiga mansão Fabray como um pequeno palácio, mas essa que se estendia a sua frente era muito mais majestosa. Podia facilmente vizualizar Judy caminhando pelos cômodos, imprimindo sua marca em cada pequena parte.

“Mamãe?”

A voz de Quinn viajou pelo comodo vazio assim que os jovens entraram na sala. Logo o som de um salto batendo contra o piso foi ouvido. E então Judy apareceu. Usava um vestido de verão e tinha os cabelos loiros soltos, batendo um pouco abaixo dos ombros. Os olhos azuis digitalizaram os jovens e pararam na morena.

“Rachel Berry.” Um sorriso desenhou os lábios finos da mulher, que se aproximou lentamente dos jovens. Judy parou em frente a morena que lançava um sorriso acanhado. “Não acredito que vocês voltaram a Lima. Não vou ganhar meu abraço mocinha?”

Rachel se lançou para os braços estendidos da mulher. Judy Fabray sempre foi a representação materna na vida da morena. Todas as vezes que tinha algum problema corria para os braços dela e ouvia seus conselhos de mãe.

Os braços finos e macios se apertaram em volta da morena. Judy sentira tanta falta da filha postiça. Depositou um suave beijo nos cabelos castanhos e se afastou lentamente.

“Rachel, você precisa convidar seus pais para virem jantar aqui em casa hoje.” A mulher loira anunciou com os olhos brilhando. “E não aceito um não como resposta.”

“Tudo bem Judy.” A morena deu seu melhor sorriso para a mulher, que deu um pulo animada. Rachel viu Quinn levar a mão aos olhos e sacudir a cabeça. Soltou um riso leve que contagiou todos.

Logo Judy saia da sala deixando os quatro jovens a olhando de forma divertida.

“Tudo bem.” A voz de Kurt cortou o silêncio da sala. Ele segurava a mão do namorado que ainda mantinha o sorriso divertido no rosto. “Eu e Blaine vamos subir. Qualquer coisa é só chamar.”

“Tchau meninas.” O menino de cabelos escuros acenou e seguiu o namorado, deixando as duas meninas paradas no meio da sala. Quinn olhou para Rachel de forma expectante.

“Quer conhecer a casa?”

“Claro.” A morena assentiu, sendo guiada pela loira por todos os cômodos da casa.

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“Esse é meu quarto.” A loira disse, parando em frente a uma grande porta. Girou a maçaneta e deu passagem para a morena entrar.

Rachel olhava para todos os lugares do cômodo. As paredes eram claras e uma delas estava sendo preenchida por uma enorme estante, abarrotada de livros. Num outro lado estava uma mesa com um notebook e acima um painel coberto de fotos. Havia ainda duas portas – uma dava acesso ao banheiro e a outra a um closet. E uma imensa cama estava exatamente no meio do quarto.

A luz que entrava por uma das janelas dava um aspecto ainda mais bonito ao quarto. Tudo - absolutamente tudo – lembrava a loira que estava parada perto da porta olhando para a morena com uma expressão ansiosa.

“É a sua cara Q!” a morena sorriu e a loira suspirou aliviada.

“Kurt me ajudou com as coisas.” Quinn sorriu entrando no quarto. A morena já estava perto do painel e observava atentamente as fotos.

“Vocês fizeram ‘The Rocky Horror’?” ela apontou para uma foto de Quinn e Kurt vestidos como Magenta e Riff Raff. Seus grandes olhos castanhos estavam brilhantes e arregalados. Era tipo totalmente adorável para Quinn.

“Fizemos sim.” A loira mordeu o lábio inferior e sentou na borda da cama. Rachel virou sua atenção para ela. “O Sr. Schue queria fazer o show, só que tivemos que cortar algumas coisas. Apresentamos durante quase um mês. Foi absolutamente divertido.”

“Alguém gravou isso?”

“Mamãe e Burt gravaram.” A loira riu. “Se quiser, podemos assistir mais tarde.”

Os olhos de Rachel arregalaram mais ainda. Teve a oportunidade de assistir com seus pais uma sessão a meia noite em Munique – onde está em exibição desde o lançamento. Mas assistir a performance de um clube de coral do infame musical deveria ser épico.

“Óbvio que eu quero.”

A loira abriu um largo sorriso com a animação da baixinha. Era algo tão Rachel.

“Liga pros seus pais avisando do jantar.”

“Verdade Q. Eu tinha absolutamente esquecido disso.” Rachel deu um tapa na testa e puxou o celular do bolso. “Que horas eu peço para eles virem?”

“Acho que as sete está bom.” Quinn deu de ombros. “Enquanto isso eu aproveito para tomar um banho e depois nós podemos convidar o Kurt e o Blaine para assistirem o musical. Como isso soa?”

“Perfeito.” A morena abriu um sorriso radiante. Quinn sorriu e foi em direção ao banheiro enquanto a judia falava com seus pais.

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Os quatro se acomodaram confortavelmente no imenso sofá negro no centro da sala. Blaine estava em uma das extremidades com os pés do namorado colocados cuidadosamente em seu colo. A cabeça de Kurt deitava confortavelmente no colo de Quinn e Rachel estava em seu lado. Segurava uma das mãos da loira e tinha a cabeça inclinada em seu ombro.

Rachel realmente estava apreciando o espetáculo. Apesar do corte óbvio de algumas partes, o modo como todos se encaixavam em seus papéis tornou tudo uma grande coisa. E agora a morena poderia finalmente colocar uma cara em Harmony. Passou o dia todo tentando encaixar um rosto para a garota que quebrara o coração de Quinn, mas não tinha obtido sucesso.

A menina era linda. Os cabelos eram negros como a noite e os olhos eram claros. Não conseguiu definir a cor – mas o conjunto com a pele clara a deixou de queixo caído. E ela realmente tinha uma voz de anjo. Podia perfeitamente entender o desespero do coral em encontrar outra pessoa que pudesse fazer jus a uma voz daquelas.

“É linda.” Terminou por fim externalizando os pensamentos em forma de sussurro, mas a loira conseguiu ouvir com nitidez.

“De quem fala Rach?”

“Harmony.” Rachel murmurou depois de alguns segundos. Seus olhos ainda fixos nas imagens que corriam na tela de plasma. “Não me surpreende que tenha caído de amores por ela.”

A loira não falou nada e Rachel temeu ter estragado a tarde. O comportamento de Quinn no refeitório ainda queimava em seu cérebro, e morria de vontade de saber mais sobre a garota, mas não queria que tudo se resultasse em um momento tenso e estranho entre elas.

Ergueu o rosto em direção a Quinn e observou como os olhos da garota estavam prendidos na imagem de Harmony. Conseguia ver uma sombra pequena de tristeza nos olhos avelã e culpou-se mentalmente por ter trazido o assunto a tona.

“Desculpe.” Sua voz saiu arrependida, e isso atraiu a atenção da loira, que cravou os olhos confusos no rosto da morena. Arqueou a sobrancelha em um gesto caracteristico seu.

“Por que se desculpa pequena?”

“Não queria provocar desconforto falando de Harmony.”

“Não tem problema Rach.” A loira tratou de tranquilizar a garota.

Alguém limpou a garganta. Ambas viraram o rosto em direção a Kurt que tinha um sorriso divertido enquanto as olhava.

“Por mais que eu já tenha assistido isso milhares de vezes,” Ele falou apontando para a tela, sem levantar a cabeça do colo da loira. “eu realmente gostaria de apreciar a minha magnifica voz cantando em ‘Time Warp’.”

“Kurt.” Blaine se pronunciou pela primeira vez repreendendo o namorado, que se limitou a revirar os olhos azuis e voltar a atenção a televisão. As meninas sufocaram o riso e voltaram a atenção para o musical.

Não foi muito mais tarde que foram novamente interrompidos, agora pela chegada de Hiram e Leroy. A loira abriu um imenso sorriso ao avistar Leroy e o mesmo era espelhado no rosto do homem. Quinn se adiantou e levantou do sofá correndo para o abraçar. Ao ser engolfada pelos braços do homem, novamente voltou a se sentir em casa.

Todos os Berry eram casa para a loira.

Todos tinham a capacidade de completar ela. Eram sua família. A família postíça que mais amava em toda a terra.

“Leroy.” A voz doce de sua mãe os separou. “Hiram.” ela entrava na sala sorridente e tão logo chegou abraçou os dois amigos com carinho. “Que bom que puderam vir.”

“Claro que viriamos Judy.” Quem falou foi Leroy, a voz grossa se sobressaindo.

“Isso me faz muito feliz.” Judy ainda sorria. Os cabelos agora estavam presos em um coque elegante, mas permanecia com o mesmo vestido de antes. “Venham, Burt acabou de chegar e quer os ver.”

x-x

O jantar ocorreu muito bem. Todos trocavam anedotas sobre os quatro anos que passaram separados. Hiram e Leroy entretiam todos com as mais variadas histórias sobre as viagem que fizeram pela Europa – desde os lugares mais incriveis que visitaram até as pessoas mais engraçadas que tiveram o prazer de conhecer.

Rachel contava sobre a escola, e o quanto adorava as classes de música e teatro que frequentara. Logo entraram no assunto do casamento de Judy e Burt, o que rendeu comentários animados de Hiram e fez o casal corar. Leroy tentava conter o marido, mas logo também entrou na brincadeira, dizendo que deviam ter casado no tempo de juventude, quando coravam só de olharem um para o outro.

Os quatro jovens gargalhavam das brincadeiras dos adultos. Nunca tinham visto seus pais se divertirem tanto em toda a sua vida, e torciam para que mais jantares como esses voltassem a acontecer.

Já se aproximava da meia noite quando começaram a se despedir. Hiram e Leroy deram um abraço caloroso em casa um dos Fabray-Hummel e seguiram até o carro, deixando Rachel se despedir sozinha de todos. A morena abraçou carinhosamente Judy e Burt, prometendo que voltaria o mais breve possível.

“Como se não soubessemos que a Quinnie vai te arrastar para cá todos os dias.”

“Mamãe!” Quinn bufou corando e todos riram.

A morena abraçou Kurt e então seguiu para a loira. Esse foi a abraço mais longo. Ficaram por longos segundos sentindo o calor dos braços uma da outra, até Quinn as separar beijando carinhosamente a bochecha de Rachel.

“Nos vemos amanha Rach.” A loira deu um sorriso de dentes brancos para a morena.

“Até amanha Quinn.” A judia falou e foi em direção ao carro onde seus pais a esperavam, rebocando com si Blaine. O garoto morava no caminho para a casa dos Berry, então se ofereceram para deixá-lo em casa.

Poucos minutos depois já conseguiam avistar a charmosa casa que voltaram a morar. Rachel desceu do carro e subiu em direção ao quarto. Tomou um longo banho e caiu na cama exausta. Realmente havia sido um dia de muitas surpresas e reencontros, mas o sorriso não deixara sua face.

Naquela noite sonhou com Quinn.