-Você está atrasada- foi a primeira coisa que sua avó disse na manhã de segunda-feira quando Charlie entrou na cozinha para  tomar café.

-Eu sei- ela respondeu indiferente.

-E posso saber por que não se apressa?

Charlie parou de cortar o pão e olhou para sua avó, em dúvida se deveria ou não contar para ela sobre o término do namoro com Harry.

Ela achou melhor não, aliás, não podia contar para a sua avó que tinha beijado outro, mesmo que na verdade não foi ela que beijou e sim ela que foi beijada. De qualquer modo, sua avó nunca entenderia.

Charlie deu de ombros e começou a comer, hoje não era um dia para se preocupar com essas coisas. Na verdade, hoje não era um dia perfeito para nada.

A vontade de espírito de Charlie, se não era zero, era algo abaixo disso.  Ela não queria sair da cama, ela não queria sair de casa, ela não queria ir à escola, e muito menos olhar para a cara do Harry. Mas ela era apenas uma jovem de dezessete anos com o coração partido e sem vontade própria. Se a mãe dela tinha tido para ela ir à escola, ela deveria ir.

-Charlie, eu não acredito que ainda está aqui- falou sua mãe quando entrou na cozinha.

-Eu já estou indo- falou a menina colocando o último pedaço de pão na boca e tomando o resto do leite em um gole só.

Charlie pegou sua mochila na sala, sem conferir o que é que tinha dentro, e saiu para o jardim. A escola não era longe, mas não era um percurso de cinco minutos. E como era esse o tempo que ela tinha para chegar lá e conseguir entrar para assistir a primeira aula, a menina resolveu não se apressar.

Enquanto arrumava a blusa que estava um pouco amarrotada, a porta da casa vizinha se abriu. Charlie logo se virou pensando encontrar Anne, Robin ou até mesmo Gemma, que havia chegado a pouco na cidade. Mas ao invés disso...

-Bom dia!- disse Charlie tentando ser educada.

Harry não disse nada, e nem sequer olhou. Em vez disso, continuou a andar normalmente como se ninguém tivesse falado com ele.

-Olha, não é porque você me odeia que precisa ser mal- educado.

Harry parou e a encarou por uns instantes antes de falar.

-Eu não te odeio, muito ao contrário disso, eu só não vou falar contigo de agora em diante.

Os dois continuaram em silêncio e parados encarando um ao outro.

Harry, para o azar de Charlie, estava incrivelmente irresistível.

Os cabelos encaracolados, como sempre, estavam bagunçados e jogados para o lado. Ele estava vestindo uma camiseta xadrez vermelha, um jeans e um all-star branco. Por mais simples que estivesse, Charlie tinha certeza que ele havia demorado tempo suficiente para conseguir aquele efeito sobre ela. No fundo, o que ele queria era tortura-la.

“De jeito nenhum”, pensou Charlie. Não era hoje que ela iria cair nas garras sedutoras de Harry Styles.

Charlie recomeçou a andar e logo sentiu que Harry também.

Eles não haviam andado nem um quarteirão inteiro quando um sedã prata estacionou perto deles. Charlie parou, e alguns metros atrás, Harry parou também.

-Charlie!- falou Olivia enquanto abaixava os vidros- Você não foi à escola então nós resolvemos busca-la.

-Nós?

-De quem você acha que é o carro?

Charlie se debruçou um pouco sobre a janela para tentar ver um motorista. Para sua surpresa, era Will que estava no volante.

-Então, vamos?- perguntou ele com um meio sorriso no rosto.

Charlie olhou para ele e depois para Harry. O menino estava furioso, pelo menos era o que o seu rosto deixava transparecer.

-Vai entrar ou não?- perguntou Olivia.

A menina pensou um pouco antes de se decidir.

-Mas é claro- disse Charlie entrando logo em seguida.

Sem esperar por mais um segundo a mais, Will pisou no acelerador com força fazendo com que o carro arrancasse de uma vez, deixando um Harry estupefato sozinho na calçada.

***

-Então vocês vieram com o Will?- perguntou Sophie na hora do recreio.

-Foi- respondeu Olivia.

A menina, quando sugeriu que ela e o Will fossem buscar Charlie, nem havia pensado na  possibilidade de se deparar com Harry. Mas já que o destino havia proporcionado aquele encontro, melhor para Charlie.

Mas a menina não pensava do mesmo modo que a amiga, pelo contrário, Charlie estava arrependida imensamente por ter aceitado aquela carona. Se as coisas já estavam  ruins com Harry, depois daquilo elas estavam catastróficas.

-Isso significa que tem algo rolando entres vocês?- perguntou Sophie se dirigindo para Charlie que não parava de encarar o One Direction do outro lado do pátio.

- Claro que não!- respondeu rapidamente.

-E será que não pode rolar?

-Também não, por enquanto eu continuarei solteira- disse Charlie determinada- Eu estava muito bem dessa maneira e continuarei assim.

-Se você diz isso...

E as duas começaram a rir.

-Onde estão Georgina e Carol?- perguntou tentando fazer com que ambas parassem de rir.

-Onde você acha?- Olivia perguntou de volta- O mais longe possível deles.

E ela apontou em direção aos meninos.

Charlie os olhou e depois voltou a olhar Sophie.

-Você também não deveria estar longe?

-Eu? Por quê?- falou Sophie- Fui eu quem terminei com tudo, é ele que deveria estar triste.

E a menina voltou o seu olhar para o lado.

 Por mais que tentasse esconder, Sophie estava tremendamente chateada, e Charlie sabia disso. Mas do mesmo modo que Sophie estava sendo um fracasso em esconder aquilo que todos já sabiam, Charlie também estava da mesma maneira.

Porque ela simplesmente não conseguia ser convincente?

-O que eles estão fazendo?- perguntou Olivia fazendo com as duas virassem a cabeça instantaneamente.

O que elas viram não era nada satisfatório. Os meninos estavam cercados do “Fã Clube” deles, que era dirigido por ninguém menos que Amy, a insuportável.

-Não acredito nisso- disse Sophie observando Niall ser assediado por uma das comparsas de Amy- Se eu pego essa menina...

Charlie também estava furiosa. Não havia nem dois dias que ela e Harry tinham terminados e ele já estava dando em cima de outras garotas. Como isso era possível?

Charlie esperava tudo, mas tudo mesmo, exceto isso.

Ele sabia que ela estava vendo, ele até mesmo chegou a olhar para ela, e mesmo assim continuava com tudo.

“Ah, é assim?”, pensou Charlie.

Ele estava pedindo, e Charlie iria atender.

Harry estava declarando guerra e Charlie estava pronta para entrar na luta. Agora, era pra valer.