ANNABETH

Todos discutiam silenciosamente sobre o que fazer. Eu não estava prestando atenção em quase nada. Sei que era um motivo para me preocupar, mas eu achava que não seria tão difícil encarar aquilo, com Percy e Leo no comando. Se alguns monstros invadissem... Bem, já enfrentamos monstros antes, não é? Claro que eu tinha alguns planos em mente, caso algo desse errado. Poseidon mesmo havia dito, “Hera não falha”. Mesmo que ela fosse a menos preferida de minhas deusas, eu concordava com aquilo. Todos os outros tinham o que era necessário para vencermos. E eu tinha a estratégia para fazer com que aquilo funcionasse.

Estávamos no segundo dia no Argo II. Confesso que eu não saberia dizer ao certo onde é nossa localização agora, mas dava pra ver que era muito longe do acampamento. O barco era muito rápido, e Percy fazia com que ele fosse ainda mais depressa. Mais alguns dias e chegariamos em Roma sem nem perceber. Tudo ali estava tão calmo... O que é totalmente anormal para um semideus.

- Não é melhor nós pararmos um tempo para pensar? – Disse Jason.

- O barco? Não! Não vai demorar muito para chegarmos,  e quanto antes estivermos lá, melhor. – Disse Leo.

- E isso seria um problema. Não podemos nos atrasar. Iremos para lá, encontraremos as portas e as fechamos. Depois vamos pra Grécia. Não se esqueça que tem muitos romanos em perigo, e eles podem estar a espera de nós nesse exato momento. – Falou Percy. Ele não gostava de Jason. Enquanto ficamos sozinhos com Hazel, conversamos sobre isso. Hazel disse que gostava de Jason, e que ele não era um motivo para preocupação. Mas Percy acha que tem algo errado com ele. Eu não tinha muita certeza. Jason era muito calado, muito... na sua. Não compartilhava seus pensamentos conosco. Para Percy, eu achava que era só uma coisa de “Filho de Zeus”. É, eu sei, Jason é filho de Júpiter... Ah, deixa pra lá.

- Eu sei, Percy. Mas depois do que o seu PRÓPRIO PAI disse, é melhor pararmos um pouco para refletir. Os monstros devem estar agindo como você disse que os romanos estavam esperando. Nesse exato momento.

Percy se levantou. Não, não, não. Ele não ia começar uma briga agora, ia?

- Não vamos parar. Temos que ir pra Roma imediatamente, e seu plano não ajuda em nada. Se pararmos, os monstros vão atacar.

Jason também se levantou. Todos encaravam eles, prontos para separar uma possível briga. É claro que separar uma briga entre um filho dos céus e um filho do mar não deveria ser nada amigável. Eu fiquei parada, e olhei para Piper. Ela costumava separar as brigas entre Clarisse e os irmãos Stoll, mas não gostava disso. Por mais que Piper tivesse um poder muito poderoso, ela não usava com frequência. Não gostava de ter que enganar as pessoas.

- Estaremos em terra! Ou até mesmo, no ar. Você não quis ir pelo céu, pelo seu medo. Meu pai não nos mataria, e muito menos ia vir e dizer que tem deuses e monstros tentando nos matar como se falasse algo bom.

- É obvio que ele não faria isso. Seu pai é um covarde. – Percy retrucou. Sim, agora ele estava pedindo.

Um raio estrondoso passou pelo céu. Não, nada bom. Jason ia para cima de Percy, que pegava sua caneta.

De repente, milhares de sons começaram a soar. Tapei meus ouvidos. Aquilo ali acordaria um hemisfério inteiro. Quando Leo disse que ia instalar os alarmes, não imaginei que seria assim tão exagerado.

- O BARCO ESTÁ SENDO INVADIDO! – Berrava Leo.

- JURA???? – Disse Piper, sarcástica.

Ninguém sabia o que fazer. Leo se remexia sem parar, tentando escolher se ficava ali para ajudar ou se desligava os alarmes. Uma figura na forma de cavalo começou a aparecer no fundo do barco. Todos haviam pegado suas armas, inclusive eu. Hazel foi a primeira a se manifestar.

- ARION! – Ela gritou. O som estava tão alto, que parecia que estava gritando de felicidade. O cavalo veio devagar na direção de Hazel. Percy e Frank largaram as armas, mas Jason foi a frente.

- O QUE É ISSO? AFASTE-SE DELA! – Gritou Jason. Leo desistiu de tentar ajudar depois que viu os outros largando as armas, e foi correndo desligar os alarmes. O som absurdo parou, enquanto o cavalo deu um grunhido alto para Jason, que o fez recuar.

- Não ataque! – Disse Hazel. – Ele é meu.

- Seu? Como assim? Hazel, ele apareceu do nada, estamos no meio do mar. Só pode ser perigoso.

O cavalo grunhiu ainda mais alto.

- É um filho de Poseidon. Como vê, também temos nossas vantagens. – Falou Percy, aborrecido. Ele saiu, entrando no corredor para os quartos. Jason parecia um pouco arrependido, mas ainda estava com um olhar irritado. Ele suspirou, e eu também.

- Vi Arion pela primeira vez em minha outra vida. Reencontrei-o na sede das Amazonas. Ele me escolheu. Só não sei o que ele esta fazendo aqui. – Ela foi andando para um pouco mais perto do cavalo. – O que foi, Arion? Annabeth, pode chamar Percy de volta, por favor? Ele é o único que pode entender.

Assenti e fui buscar Percy. Ele estava sentado em seu beliche, olhando para sua caneta. Fui para seu lado.

- Não pode brigar. Você sabe. Essa guerra NÃO é sobre você contra Jason, e sim sobre os dois juntos. – Falei. Eu não queria jogar na cara, mas era necessário, já que eu repetira aquilo milhares de vezes e parece que ninguém me escutou.

- Sim, eu sei Annabeth. É por isso que estou aborrecido. Não gosto do jeito que esse cara pensa. Ele age por impulso. Não gosto disso, e eu quase coloco tudo a perder.

- Porque você age como ele, Percy. Lembre de Thalia. – Ele olhou para mim. Thalia e Percy tinham uma relação boa, mas com muitas brigas. Na verdade, eles só viraram amigos a principio porque Thalia passava o tempo todo comigo e com Grover, junto com Percy.

- Não quero ser comparado a ele. E Thalia é diferente. – Ele disse. Disso eu não podia discordar. Por mais que Jason e Thalia tivessem a mesma teimosia, eles tinham um jeito muito diferente. Decidi não discordar.

- Tudo bem, se você acha assim. Mas Hazel precisa de você. – Ele revirou os olhos.

- Falar com cavalos talvez não seja assim tão bom. Vamos.

Fomos andando até lá fora, onde estavam os outros. Hazel estava alimentando Arion com algo brilhante em suas mãos.

- Percy, precisamos descobrir porque Arion está aqui. Me ajude. – Hazel falou.

Percy pensou por um momento, ouvindo os pensamentos de Arion. Ele franziu as sobrancelhas.

- Bom, tirando os palavrões, ele me disse que estava procurando por você, no começo. Ele passou pelo acampamento meio sangue, onde ficou sabendo que você tinha partido. Encontrou Quíron e Tyson, e... ei, não chame Tyson assim! Enfim, ele foi mandado para vir aqui, para te contar uma coisa sobre Nico.

- O que? O que houve?

- Ele diz que Quíron conseguiu se comunicar com Nico. Disse que Nico falou que sabe o plano de Gaia, e que era pra você tomar cuidado. Ele não disse muito porque... há um gigante cuidando dele. Mantendo ele preso. Os romanos e os gregos já partiram para salvá-lo.

Hazel estava acabada. O desaparecimento de Nico era desconfortante para todos, mas principalmente para ela. Ele era seu irmão, sua família. Não imaginava como ela estava se sentindo.

- Qual gigante? – Ela perguntou, desanimada. Percy parou, parecendo entender algo.

- A profecia... o deus. Será isso? – Ele murmurou. Olhou para ela e para mim, como se a profecia começasse a fazer sentido. – O castigo de Apolo. Efialtes mantém Nico preso, e é o gigante criado exclusivamente para a destruição do deus sol.