ANNABETH

Eu estava em um lugar agradável.  Havia paisagens lindas, casas, pessoas se divertindo infinitamente. Era como... o paraíso. Eu não fazia ideia do que estava fazendo lá, até que vi uma figura conhecida. Um garoto loiro, sorrindo. Um amigo, um amor, um irmão. Luke estava parado ali, nos campos elísios, com um sorriso enorme para mim.

- Annabeth! – Ele exclamou.

- Luke... O que... Como você conseguiu se comunicar comigo? – Eu disse, confusa, porém muito feliz. Sorri para ele.

- Nós temos alguns direitos por aqui... Mas não por muito tempo. Consegui me comunicar com minha mãe... Bem, eu só queria te ver pela ultima vez.

- Pela ultima vez? – Fiquei perplexa. Como assim pela ultima vez? Deuses, ele estava morto.

- Sim. Eu vou renascer, Annabeth. Resolvi passar um tempo no Elísio, e foi bom. Agora quero voltar a viver. Não como Luke, mas como outra pessoa. Quero conseguir alcançar o Elísio três vezes. Eu disse isso quando morri, não disse? – Ele falou, brincalhão.

- Ah Luke... – Eu estava com lagrimas nos olhos. Fazia muito tempo que eu me comunicara com Luke. A última vez que eu o vi, quando ele morreu. – Tenho certeza que vai alcançar. Você foi um herói, sempre será. – Falei, encorajando-o.

- Obrigada. Annabeth, as vezes eu observo vocês. Você encontrou Percy? – Ele disse, agora preocupado.

- Sim. Estamos juntos agora. Partindo para a profecia dos sete. – Agora ele parecia nervoso. – Precisamos encontrar as Portas da Morte, que agora estão abertas. Vamos para Roma procura-las, e temos que fechar. Tudo muito básico.

- As portas da Morte estão abertas? – Luke falou, de olhos arregalados. Como ele não sabia disso? De repente, a imagem começou a escurecer. – Meu tempo está acabando. Quero falar com Thalia. Você provavelmente vai acordar daqui a 30 segundos, então vou me despedir.

- Luke, não conte aos mortos sobre as portas! – Eu disse, me arrependendo. Se ele não sabia, eu provavelmente não podia contar.

- Certo. – Ele disse baixinho, inseguro. – Annabeth, acorde. Eu te amo.

O sonho foi escurecendo aos poucos, até ficar totalmente sem luz. Ouvi umas vozes no fundo, imagino ser de Hazel e Leo. Eu não estava totalmente descansada, mas abri os olhos. Olhei para o lado, Percy ainda estava dormindo. Esse cabeça de alga... Leo tinha um aparelho suspeitíssimo na mão, e imaginei o quanto eu tive sorte de ter acordado antes. Ele estava prestes a nos acordar com aquilo.

- O que pensa que vai fazer? – Eu disse, assustando eles. Dei uma risada, e Hazel riu também. Leo pareceu meio decepcionado.

- Ah, não. Isso daqui é potente, OK? Mas ainda bem que Percy ainda está dormindo. – Ele foi até o beliche de Percy. – E babando. Credo, isso é coisa de Poseidon?

- Imagino que não, Leo, já que no Acampamento você praticamente alagou a mesa da Casa Grande com seu cochilo. – Eu disse. Ele me olhou com cara de quem foi ofendido, descaradamente.

- Eu vou ignorar você. – E virou. – Está vendo? Virei as costas para você, Annabeth. Agora vou ficar aqui, apreciando a baba de Percy, só porque quero ver ele pular de susto.

Hazel e eu demos uma risada. Leo pregava muitas peças. Quando não estava construindo o Argo II, estava armando planos com os irmãos Stoll. Enfim, ele ligou o aparelho que parecia uma pequena caixinha de música, e saiu um som absurdo de lá. Tampei meus ouvidos, e fiquei olhando. Percy deu um pulo tão alto que bateu a cabeça na madeira da cama de cima.

- AI! AI! O QUE ESTÁ FAZENDO? AI! – Ele berrava, tentando fazer sua voz ficar mais alta que o barulho. Leo rolava de tanto rir.

- Está na hora de acordar, Bela Adormecida. Vamos, preparei uns ovos pra gente. – Disse ele, no meio das gargalhadas.

- Vai ter troco! – Percy disse.

- A menos que você consiga um cinto tão eficiente quanto o meu, vou estar ali na minha sala confortável, relaxando. Vamos!

Leo saiu do quarto, ainda rindo. Hazel também saiu, nos deixando com mais privacidade. Percy veio até mim e me beijou.

- Bom dia. – Ele disse, me abraçando.

- Bom dia... – Eu falei, minha voz saindo fraca.

- Sonhou com alguma coisa? – Ele perguntou. Era sempre importante se nós tínhamos sonhos ou não. Eles significavam muito. Mas eu não tinha certeza se queria contar. Acho que deixei escapar uma informação que não devia para Luke. Será que ele tentaria achar as Portas? Ou iria para a Ilha dos Abençoados renascer, como ele disse? Eu não tinha as respostas. De uns tempos pra cá, eu não tinha mais como responder nada. Nada fazia sentido. Era tão irritante!

- Sim. – Falei. – Sonhei com Luke.

Eu não queria mentir para Percy. Sabia que podia confiar nele, assim como ele confiava em mim. E, ele era meu namorado. Confesso que eu não iria compartilhar meu sonho se eu não tivesse tão insegura em relação a tudo que acontecia.

- Com Luke? Foi um sonho do passado? – Ele perguntou, confuso.

- Não. Do presente.

- Luke voltou? Ele fugiu das Portas? – Percy disse. Ele não parecia preocupado, e sim esperançoso.

- Não. Porque pareceu tão animado com essa ideia?

- Imagine o quanto que ele nos ajudaria. Se ele achar as portas da morte, poderá nos dizer onde está. – Ele falou, como se dissesse o obvio.

- Não sei. Cronos já o usou uma vez, Gaia poderia muito bem usa-lo também. Mas essa não é a questão. Ele disse que irá renascer, vai para a Ilha.

- Imaginei que ele faria isso. – Ele ficou pensativo. Eu adorava quando ele se concentrava... Não funcionava muito, mas era lindo. – De todas as formas, essa não é o nosso foco. E não será, espero. Vamos tomar café?

- Vamos. – Respondi. – Mas podemos ficar mais uns minutos por aqui, se não se importa...

Eu queria todo o tempo possível com Percy. Fiquei sem ele por muito tempo, e queria recuperar. Eu sentia tanta falta dele que chegava a doer. Uma dor pior que todas as outras que já enfrentei. Ele olhou nos meus olhos e sorriu.

- Não me importo, definitivamente. Não acredito que me esqueci o quanto amava ficar olhando para esses seus olhos cinzentos... São lindos. A propósito, eu te amo.

- Eu sei, Cabeça de Alga. Mas tenho uma noticia ruim para você. Eu te amo mais. – E o beijei.

O beijo foi longo... Ele me abraçava com força, enquanto eu puxava o rosto dele para mais perto do meu. Ele fez uma pequena pausa do beijo.

- Eu duvido. – Ele sussurrou, com os lábios ainda colados nos meus. Eu não queria ser irresponsável, principalmente numa missão daquelas. Porém, aquele momento estava tão... Perfeito. Até mais que perfeito. Não existiam palavras para descrever o que eu sentia.

Eu estava prestes a tentar resistir, quando a inconveniência em pessoa apareceu na nossa porta.

- Ei, Quíron está na linha! E eu chamei vocês faz tempo. Alguém viu FraUOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOU – Leo disse, constrangido. Eu e Percy nos afastamos na hora. – Eu... hã... Me desculpem. Quíron quer falar conosco. Eu só quis... Quer saber? Esqueça. Estou indo. – Leo virou. Ele resmungava consigo mesmo algo como ele ser o único solteiro no barco e casar com Festus. Foi impossível não ficar constrangidos, Percy estava tão vermelho quanto eu devia estar. Olhamos um para o outro, e começamos a rir.

Percy e eu andamos de mãos dadas até onde os outros estavam. Quíron mandou uma mensagem de Iris para nós.

- Annabeth! Percy! Que bom que puderam vir. – Quíron disse, com um tom totalmente indiferente, mas com um olhar debochado. Acho que ele sabia exatamente o que ele interrompera.

- Oi Quíron. – Falei. –Temos algumas novidades.

- É, mas você chegou um pouco atrasada, minha querida. Jason e Piper já me contaram. Eu ia ligar para vocês de qualquer maneira, mas o fato é que também temos novidades. Hoje a noite vai ser a ultima noite dos romanos aqui, até partirem para a Grécia. Eles estão mandando alguns campistas daqui para o Acampamento Júpiter, e vice-versa. Conversei com Thalia, e ela virá para cá hoje a noite, onde faremos um jogo de caça a bandeira. Clássico. – Quíron disse. – Enfim, as Caçadoras estão dispostas a fazer um trato com as Amazonas, e tudo aqui corre bem.

- Isso é ótimo, Quíron. – Disse Percy. – Bom saber. Mas você conseguiu mais alguma coisa sobre a profecia?

- Rachel não viu mais nada sobre isso, mas deduzimos que é provável que encontrem o deus sol, que foi citado. Apolo.

Suspirei. Apolo era um dos meus deuses prediletos, admito, mas ter que ouvir seus haicais era pior que enfrentar Cronos.

A conversa não se estendeu muito, e Quíron se foi. Tomamos café, e sentamos todos juntos, em circulo. Até que, como se o dia já não tivesse completo, uma onda enorme cercou o barco.

- Percy, isso não é justo! Pare com isso! – Disse Leo, assustado.

- Eu não estou fazendo nada!!

E então, meu sogro apareceu no meio de onde nós estávamos, com uma camiseta havaiana e um short de surf. Poseidon estava ali, parecendo relaxado. Olhou para Percy e ergueu os braços.

- Meu filho! – Ele disse. Percy foi caminhando lentamente e deu um pequeno abraço em Poseidon. – Eu fiquei preocupado com você, garoto. Mas Hera sabe o que faz. E, olá para todos.

Os outros olhavam nervosos para Poseidon. Nunca recebíamos visitas dos nossos pais, a não ser em sonhos, ou que eles queiram algo.

- Ahn... O que você quer? – Percy disse.

- Ah, só queria dar um oi. – Certo. Um deus aparece para nós só para dizer oi. – E para avisar... Bom, alguns deuses dos mares também estão mudando de lado, DE NOVO. Estou tentando dar cobertura, Percy, mas eles estão sendo discretos. Por isso você não os percebeu ainda.

- Então não podemos ir por nenhum lugar, que seremos atirados ou puxados para baixo? Pai, tem que nos ajudar.

- ESTOU ajudando, Perseu. Porém, acho que uma hora você terá que enfrentar os monstros marinhos. Consegui refrear o ataque de alguns deuses, mas os monstros estão chegando sem parar. Ciclopes estão mudando de lado. Precisa tomar cuidado, e ficar atento. Se bem que, com um barco desses... – Poseidon deu uma risadinha. – Pelos sete mares, nunca vi algo tão resistente!

- Mereço créditos. – Disse Leo, se intrometendo.

- Um filho de Hefesto, manipulador do fogo, hein? Vejo que o time de vocês também é bom. Hera não falha, não é mesmo? – Ele disse isso mas para si mesmo do que para nós. – Mas, Percy, era só isso. Só queria te avisar. Fique de olho. Tenho que ir, se Zeus me vir aqui falando com você... – E seus olhos passaram para Jason. Ele franziu as sobrancelhas. – Tenho que ir.

O deus partiu, deixando todos ali parados, sem dizer nada.

- E então... o que temos para agora? – Perguntou Leo, quebrando o silencio.

- Nada demais. Nenhuma novidade especial. – Respondeu Percy. – Só mais alguns monstros tentando nos matar.