Estava eu e ele sentados em uma rede em frente a sua casa, olhando pra rua calma. Meus olhos ainda com lagrimas enquanto ele passava a mão em minhas costas tentando me reconfortar.

- Por quê? – repeti aquela mesma pergunta, mas agora o olhei querendo a resposta.

- Mamãe o matou. – ele me olhou – Desculpa.

- Mas... – franzi a testa sem entender.

- Depois que você se foi os dois ficaram furiosos demais e me expulsaram de casa. É claro que papai me ameaçava às vezes, pelo o que houve com você, mas... – ele pensou um pouco antes de continuar – Mas eu continuava visitando a mamãe, escondido é claro, porque nosso pai não me queria por perto. Até que um dia nossa mãe me obrigou a dizer o porquê você tinha saído de casa, mas dessa vez ela queria a verdade e eu contei. – ele tinha o olhar tristonho – Ela ficou chocada e com um odeio mortal. Fiz ela prometer pra mim que não faria nada...

Ele parou de falar, já sabíamos o final da historia. Em parte eu era a vitima disso, apenas em parte. Esperei pela continuação. Mesmo não querendo ouvi-la.

- Um dia ele chegou bêbado em casa e começou a gritar com ela e por fim quando ele levantou a mão ela o esfaqueou e o ódio dela se juntou naque...

- Chega! – coloquei a mão em seu ombro – Mesmo que ele tenha abusado de mim não era o que ele merecia. – choraminguei.

Ouvi um pigarro e nós dois olhamos em direção à porta, era Grissom. Na mesma hora fiquei envergonhada e com medo de ele ter ouvido alguma parte da conversa.

- Marie esta chamando pra jantar. – Grissom deu um meio sorriso entrando.

Jamie ficou de pé.

-Vamos, se não ela vai reclamar.

- E mamãe? – perguntei enquanto ficava de pé.

- Já esta solta, o advogado conseguiu provar que tudo foi por legitima defesa.

- hn. – respirei fundo e decidi mudar de assunto – Sua casa é linda.

Ele sorriu, mais por estar perto de mim outra vez e vendo que eu agora estava crescida o suficiente pra cuidar de mim, mas não pelo fato de eu me cuidar, mas porque sabia que alguém estava cuidando de mim naquele momento.

**~~

- O que? – franzi a testa olhando a minha mala no canto da sala – O que minha mala esta fazendo aqui?

- Chegou ontem à noite aqui em casa! Um homem disse que era uma encomenda, mas que não era pra mim e nem pra Marie. – Jamie riu – Achei estranho demais, mas aceitei e acabei deixando aqui...

- Grissom?! – olhei pra ele furiosa, fazendo com que Bree risse.

- Droga. – ele estava meio desconcertado – Paguei a um homem, de confiança pra que trouxesse nossas malas até aqui.

- Por quê?

- Porque eram pesadas demais! – ele arregalou os olhos.

- Mas, por que não me contou?

- Pra dizer a verdade achei divertido. – Grissom ficou de pé pegando a sua mala.

- Divertido? E quem era esse tal homem “confiável” – coloquei a mão na cintura – Quer dizer que você conhecia alguém por lá? – franzi a testa.

- Opa! Opa! – Jamie ficou de pé pegando Bree no colo – As crianças tem que dormir e não vai ser eu que vou me meter em briga de marido e mulher. – ele sorriu chamando Marie.

- Somos amigos. – gritei.

Diogo fez um coração pra nós dois e quando Marie o encarou ele saiu correndo escada acima. Jamie arregalou os olhos, mas logo deu de ombros. Maria nos deu boa noite e subiu as escadas.

- Tem um quarto de hospedes depois da cozinha, não é muito grande, mas é confortável. Vocês podem ficar lá, tem roupa de cama e tudo que precisam. Sara, sabe que essa casa também é sua, então fique a vontade. – ele nem esperou eu responder e saiu andando escada a cima brincando com Bree.

- Boa noite tia Sara e tio Gil. – a menina ria nos braços de meu irmão.

- Ele é um bom pai! – olhei pra Grissom que admirava a minha família.

- Sim. – sorri. Encarei Grissom e meu sorriso se foi – Não vem mudando de assunto. Fale logo... Responda-me.

- Um amigo meu que morava aqui e... – ele deu de ombros – apenas o pedi pra que trouxesse as malas.

- Aposto que também se lembrava de cada rua daqui. – cruzei os braços o fuzilando com o olhar.

- Desculpa. – ele baixou o olhar.

- Idiota. – dei as costas pra ele pegando a minha mala.

**~~

A noite estava fria. Eu não se lembrava das noites serem tão frias como esta. Agora não tinha ninguém na rua e o único som que poderia ser ouvido era do vento que levava as folhas das arvores com elas.

- Não vai dormir? – não olhei, porque eu sabia que era Grissom – Achei que estivesse cansada.

- Estou pensando na minha... mãe. – pude sentir Grissom sentando ao meu lado, no meio fio da rua.

- Reparei que demorou no banheiro! – olhei pra ele.

- Demorei porque há muito tempo que eu não tomava um banho maravilhoso e é ótimo vestir as minhas roupas. – sorri pra ele que fez um biquinho – Mas eu gostei da nossa viagem. – desviei o olhar.

- Eu disse que gostaria. – seu tom de voz era presunçoso.

- Realmente disse. – esfreguei uma mão na outra a fim de me esquentar.

- Lá dentro esta mais quentinho! – olhei novamente pra Grissom.

- O que quer dizer com isso? – serrei o olhar e Grissom arregalou os olhos.

- Nada disso! Sa-Sara! – ele ficou sem graça e eu ri – Poderia ter avisado que a antiga Sara voltou!

- Mas não voltou. – fiquei sorrindo quando ele olhou pra mim sem entender.

Fiquei de pé num salto me abaixando um pouco.

- Vamos.

- Pra onde? – ele estava curioso.

- Pra um lugar que fiquei pensando tanto que não me deixou dormir. – olhei mais uma vez pra rua, agora sem aquele sorriso de antes, aquele que Grissom tanto esperava e acabou que conseguiu ver...

Ele ficou de pé esperando minha decisão.