Subimos a bordo do Rainha Vitória – pelo menos Mare Laudes nos disse que esse era o nome do barco. Percy fechou os olhos como se estivesse sentindo a caravela, cada corda e cada arranhão. Ele sorriu, ainda de olhos fechados, e soltou um suspiro de contentação.

Olhei para os lados, Thalia e Nico pareciam bem desconfortáveis por estarem nos domínios de Poseidon.

Mas quem mais me chamou atenção foi Mare Laudes. Ela simplesmente tinha se transformado, passou de uma garota assustada para uma mulher sábia e séria que parecia ter vivido muita coisa. Ao mesmo tempo, ela parecia ainda mais bonita e tão... poderosa, era como se emanasse energia de sua pele.

A nereida olhou para nós e sorriu com seus dentes brilhantes murmurando “casa”.

Percebi que Nico a olhava de um modo estranho, devorando-a com os olhos. Quando viu que eu tinha reparado, ficou muito vermelho.

- Bem, senhor..digo, Percy, agora você é o capitão – a Nereida riu e fez uma reverência. Percy abriu os olhos, finalmente reparando na mudança da ninfa, ele pareceu surpreso e admirado, o que me fez ficar com um pouco de ciúmes. – Devo supor que já conheça o caminho para o Mar de Monstros, não?

- Sim.. – disse Percy – me lembro bem das coordenadas.

Ele ficou pensativo como se estivesse lembrando da nossa última visita ao local.

- Bem, depois que entrarmos, pegaremos uma rota diferente – ela suspirou

- Como sabe exatamente para onde devemos ir? – eu perguntei desconfiada

- Bem, estamos atrás de alguém que quis causar discórdia no reino do senhor Poseidon, não? – ela olhou para mim como se fosse óbvio – então teremos que começar com o lugar onde os piores elementos marinhos vivem.

- E esse lugar existe? – Percy pareceu surpreso

- Sim – disse Mare Laudes – não é um lugar muito simpático, devo dizer. Na verdade esses seres vivem aprisionados lá, mas nem sempre há a vigilância necessária, e, assim, alguns conseguem fugir. E acabam migrando para um local em especial. – ela estremesse como se já tivesse ido a esse lugar.

- Mare Laudes? – Percy perguntou

- Hum?

- Você disse que meu pai te criou como uma filha...pode me falar sobre isso?

Ela sorriu de um jeito tão melancólico que me deu vontade de desviar os olhos, mas a verdade é que eu estava curiosa sobre isso também. Quero dizer, eu sabia que as nereidas serviam a Poseidon, mas considerá-lo um pai, isso era diferente.

A ninfa suspirou.

- Dentre minhas irmãs eu sou a mais nova, só tenho 250 anos – ela começou deixando Percy de olhos arregalados. Eu não me surpreendi em nada, na verdade achei-a realmente muito nova para uma nereida.

- E, além disso, eu sempre fui diferente. – Ela fez uma pausa para respirar – Eu queria mais do que apenas ajudar viajantes e seres marinhos. Não que eu ache isso ruim...mas não bastava para mim. Eu queria viver aventuras, conhecer lugares e pessoas. Você pode achar que é fácil para nós viajarmos, e isso é verdade, mas de que adianta ir à França, Itália, Espanha sem pisar realmente no território. A única coisa que fazemos é observar de longe, da água, porque somos medrosas demais para pisar em terra firme.

- Mas você saiu do mar – disse o Cabeça de Alga estupidamente – Veio até nós.

Mare Laudes sorriu lisongeada.

- Eu fui. Isso gastou muito de minha energia, mas eu realmente fui – ela pareceu muito feliz consigo mesma.

- E como ganhou coragem para sair da água? – eu perguntei realmente interessada em saber mais.

- Fiz isso para ajudar o senhor Poseidon...devia isso a ele – Ela sorriu – Mas, voltando a história, eu disse que sou diferente das demais nereidas e, por isso, sempre fui uma piada para elas. Maltratada, excluida...- ela parou para controlar sua angústia – o senhor Poseidon me estendeu a mão na hora em que eu mais precisei. Eu ainda era muito novinha, ele me criou como filha no palácio. Outra coisa que me fez ter vontade de vir foi para conhecê-lo, Percy. Seu pai e Tyson falam muito sobre você. Tanto que já o considero um irmão. – ela disse pegando as mãos do Cabeça de Alga.

Fechei os olhos e cerrei os punhos. Ela...Segurou...As...Mãos...Do...Percy. Meu namorado. Antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa senti alguém segurando meus ombros. Olhei, era Mare Laudes parecendo preocupada. Eu já ia retirar as suas mãos de meus ombros quando ela disse:

- Annabeth, não precisa ter ciúmes. Vejo Percy como um irmão que ainda não conheci. E, além disso, ele ama você. Não duvide dos sentimentos dele. E eu realmente gostaria que fossemos amigas.

Ela suspirou e nos virou as costas, indo em direção a Thalia e Nico, que ao vê-la tentou endireitar os cabelos.

Eu estava confusa, ainda com uma mescla de ciúmes, um pouco de raiva (afinal, quem essa nereida pensava que era) e de curiosidade. Estava intrigada.

Percy olhou para mim, um pouco confuso também.

- O que acha de tudo isso? – ele perguntou

- Interessante...-foi só o que eu disse

- Eu senti um pouco de pena dela. – ele suspirou

Não respondi, só acenei indicando que estava ouvindo.

Percy segurou meu queixo me forçando a olhá-lo nos olhos.

- Sabidinha...Mare Laudes tem razão. Eu te amo, você sabe disso. E isso nunca, nunca vai mudar.

- Eu sei, Cabeça de Alga – eu o abracei sentindo o seu cheiro de mar – Sei...que estou sendo uma boba, idiota e ciumenta. Até entendo o lado de Mare Laudes, eu só...não consigo evitar.

Eu disse isso enquanto arquejava, afinal, admitir isso era muito difícil para mim, muito mesmo.

- Eu sei que não consegue evitar – ele riu – Eu vou continuar te amando mesmo assim, ok?

– Eu também te amo, Percy – eu falei e o beijei rapidamente.

– Será que você poderia pedir desculpas a Mare Laudes agora? Eu realmente quero saber como é ter uma irmã e quero muito notícias de Tyson e...

Eu suspirei.

- Está bem, Cabeça de Alga – eu disse revirando os olhos – vou me desculpar

– Obrigado, Sabidinha – ele segurou a minha mão e me conduziu até onde a nereida estava.