- Posso dar a minha opinião? – perguntou Thalia – Bem, vocês dizem que se formos para o lado de Caríbdis seremos estraçalhados, mas se formos pelo lado de Cila nós seremos comidos... Não há outra opção? Têm certeza?

  Eu e Percy balançamos a cabeça, lembrando de nossa última vinda para cá.

  Mas Mare Laudes sorriu como se tudo fizesse parte de um plano.

  - Bem, há um outro meio, mas pode ser complicado já que só eu e Percy respiramos debaixo d’água...

  - Isso é fácil de resolver, é só criar bolhas para Annabeth, Nico e Thalia poderem respirar. – Percy deu de ombros – Mas diga, como podemos fazer isso?

  - Bem, há um meio de entrar no mar de monstros sem passar por Sila ou Caríbdis. Existe uma corrente que nos leva direto para dentro, ela passa bem debaixo de Caríbdis, e por isso, não há como sermos sugados pelo monstro, e, assim, também não seremos devorados por Sila.- Falou Mare Laudes

  - Isso é perfeito – o Cabeça de Alga respondeu

  - Mas.. – começou Mare Laudes

  - Mas o que? – perguntei desconfiada de que esse plano não era tão bom quanto parecia.

  - Bem, tem um problema...quando digo bem debaixo de Caríbdis quero dizer bem debaixo mesmo...

  - Não entendi – falou o Cabeça de Alga

  - Mas é claro – eu disse – nós não suportaríamos a pressão – falei apontando para mim, para Nico e para Thalia.

  Mare fez um aceno breve com a cabeça e se virou para Percy.

  - Percy, você consegue diminuir a pressão?

  - Eu? Bem...eu posso tentar, mas nunca fiz isso antes e...- ele ia continuar mas eu o interrompi balançando a cabeça.

   -É arriscado demais. Thalia, Nico, o que acham? – Olhei para eles.

   Os dois permaneceram calados enquanto falávamos e eu imaginava o porquê.

   - Bem, Annie, eu não me sinto muito confortável entrando no mar, é como invadir o reino de Poseidon...acho que Nico concorda comigo – disse Thalia.

   Nico assentiu parecendo um pouco pálido.

  -Meu pai não tem nada contra vocês dois...não os fulminaria se entrassem na água! – contrapôs o Cabeça de Alga.

  - Percy, como se sente quando tem que voar de avião? Entrar no mar é a mesma coisa para nós!

  - Me sinto como se fosse ser atirado lá de cima...mas esse não é o caso aqui. Eu só me sinto assim porque voar significa invadir o território de Zeus, que não vai muito com a minha cara...agora, meu pai não faria isso.

  - Mesmo assim prefiro não desafiá-lo, a não ser que não haja outro jeito. Além disso esse plano parece arriscado demais, se você não conseguir mudar a pressão morreremos. – falou Nico.

  - Não é tão rápido assim... se formos descendo devagar eu posso testar para ver se consigo, e se não conseguir, bem... – disse Percy, se complicando.

  - Se você não conseguir teremos três opções. Número um: somos engolidos por Caríbdis por ficarmos demorando. Número dois: voltamos à superfície e somos devorados por Sila. E, finalmente, número três: tentamos continuar e morremos em razão da pressão. – Eu falei – nesse meio tempo o navio já deve ter sido despedaçado.

  - E, além disso, não daria tempo de você testar, Percy, porque teríamos que chegar bem rápido à corrente, para que não fossemos engolidos. – Mare completou.

  - Bem, quem é à favor de tentarmos passar entre os monstros? – perguntou Thalia

  - Acho que essa é a nossa melhor opção, não é? – respondeu Nico

  - Ou a menos pior – eu falei

  Percy olhou para nós com as sobrancelhas franzidas.

  - Bem, essa é a decisão final? Porque não vamos ter mais tempo para pensar, olhem.

  Estávamos chegando perto demais de Caríbdis, precisávamos virar e tentar passar pelo meio.

  - É sim, Percy. – eu respondi

  O Cabeça de Alga, então, virou o navio, indo para longe do monstro marinho.

  - Como vamos fazer para ficar exatamente entre Caríbdis e Sila? – perguntou Thalia

  - Não faço a mínima ideia – eu falei derrotada, detesto perder o controle das situações – não há como saber ao certo onde é o meio.

  - Vamos morrer – Nico disse tão veemente que eu fiquei arrepiada

  - Não vamos, não. Já passamos por situações bem piores que essa. Vamos dar um jeito.

Mas como devem saber, a nossa sorte não é lá muito boa. 

Quando acabei de falar ouvi um ruido estranho. Era como se alguma coisa estivesse se movendo muito depressa em nossa direção. Sila. 

  Eu e Percy nos entreolhamos.

  - RÁPIDO! TODOS LÁ PARA BAIXO!

  Corremos para os quartos e ficamos os cinco no quarto dos meninos.

  Sila estava destruindo a embarcação. Os barulhos que emitia ao devorar as partes do navio eram altíssimos.

  De repente, a parte de cima do barco foi arrancada e nós ficamos vulneráveis.

  Era agora, iríamos morrer.

  Saquei a minha faca no mesmo momento em que Percy, Thalia e Nico sacavam suas armas. Mare Laudes fez surgir do nada um arco e uma aljava feitos de...aquilo eram pérolas?

  O monstro atacou e nós nos defendemos, investíamos com todas as nossas forças, mas nem o arranhávamos.

  Sila voltou sua atenção para mim. Veio em minha direção com uma velocidade impressionante eu me defendi com minha faca , e de novo, e de novo. Continuávamos nesse ritmo, até que tropecei. Ela teria me engolido não fosse a flecha atirada por Mare Laudes. O monsto soltou um som agudo, como se estivesse com dor.

  Saia um filete de fumaça onde a flecha se alojara.

  - Conhece veneno de baiacu? Pense nisso um milhão de vezes pior – Mare riu enquanto voltava a atirar flechas na criatura.

  Percy veio correndo até mim.

  - Sabidinha, você está bem? – ele perguntou enquantou me ajudava a levantar.

  - Estou ótima, Cabeça de Alga, agora vamos – falei quando percebi que o veneno de Mare perdia o efeito sobre o monstro.

  Continuamos a lutar até que o monstro recuou.

  - Ela está desistindo? – perguntou Nico esperançoso.

  - Não pode ser. Está fácil demais... – comentei.

  Senti o navio se elevar.

  - Acho que Sila desistiu de lutar conosco e vai devorar o navio inteiro! – gritou Mare enquanto o  que restava do nosso barco era levado para cima em uma velocidade alucinante.

   - Só há uma saída! De mãos dadas, agora! – gritou Percy – Vamos ter que passar pela água!

  Fizemos o que ele disse e saltamos de mãos dadas.

  Não senti nenhum impácto quando meu corpo atingiu a água, acho que Percy foi o responsável por isso.

  Começamos a descer cada vez mais rápido, a bolha de ar me permitindo respirar.

  Íamos mais e mais para baixo até que comecei a sentir como se estivesse sendo comprimida por uma força imensa, que ia ficando mais forte. Minha visão foi escurecendo e eu perdi a consciência. A última coisa que vi foram os olhos verdes de Percy toldados de preocupação. Isso só podia significar uma coisa, a pressão.