- Thalia! – reclamei, mas ela já estava dormindo.

  Virei para o lado e tentei fazer o mesmo.

  No entanto, no momento em que fechei os olhos e caí no sono, um sonho horrível começou.

  Eu estava perdida no oceano, estava frio, muito frio, eu tentava me equilibrar em um pequeno barco, mas o mar estava agitado demais. Eu sentia medo, não por mim, mas por Percy, ele estava em algum lugar lá no fundo e eu, como não respirava debaixo d’água, não podia ajudá-lo.

  Eu conseguia ver os relâmpagos e as luzes. Conseguia ouvir os estrondos. Uma guerra estava sendo travada no reino de Poseidon.

  Fechei os olhos frustrada por não ser capaz de estar ao lado do Cabeça de Alga. Quando os abri, uma imensa figura saia das águas. Não consegui distinguir o que era, mas pude sentir sua raiva. Saquei minha faca, pronta para lutar.

  Mas, de repente, não estava mais à deriva no oceano. 

  Olhei para os lados reconhecendo as colunas brancas e os detalhes dourados. Estava no templo de minha mãe, aquele que construi no Olimpo.

  - Annabeth – ela disse aparecendo em minha frente.

  - Mãe? – semicerrei os olhos – Pensei que não estivesse falando comigo. Desde que eu e Percy... – mas ela não me deixou terminar, fez um gesto com as mãos como se não quisesse tocar no assunto.

  - Por favor, não me fale disso agora! É verdade, eu estava zangada, tinha razão em estar. Afinal, aquele filho de um peixe...

  - Não fale assim de Percy, eu o amo. – eu disse, a fuzilando com os olhos. Sei que estava sendo imprudente, mas não me importei, estava chateada com minha mãe, afinal, ela estava me ignorando há quase um ano.

  - Annabeth, sou sua mãe e me preocupo com você. Aliás, foi aquele peixe que lhe incluiu nessa missão para salvar o reino do pai dele, você não tinha nada a ver com isso.

  Revirei os olhos.

  - Mãe, eu quis vir nessa missão. Eu sei como o reino de Poseidon é importante para Percy e eu quero ajudá-lo. E por que está aqui? O que queria me mostrar com aquele sonho?

  Ela pareceu confusa.

  - Mas que sonho?

  - Ora, aquele que eu estava tendo antes de a senhora aparecer

  - Eu não sei do que está falando, Annabeth- ela pareceu sincera.

  Franzi o cenho. Se ela não me mandou para aquele sonho o que aquilo tudo significava? Tinha certeza de que era importante, afinal, sonhos de semideuses nunca são apenas sonhos.

  Minha mente começou a trabalhar, imaginando diversos significados para aquela guerra no mar. Poderia ser uma premonição, algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde.

  - Bem, eu só queria desejar boa sorte. E tome cuidado. – minha mãe me lançou um olhar severo. Mas antes que tudo sumisse consegui ver a preocupação genuína em seus olhos, estava realmente preocupada comigo.

  Acordei ensopada de suor. Tentei dormir novamente mas não consegui. Então, me levantei, calcei meus tênis e saí, deixando Thalia dormindo sozinha.

  Andei um pouco, quando, imersa em pensamentos, esbarrei em algo...ou melhor, alguém.

  - Nico? O que faz acordado? – perguntei, percebendo que a mesma pergunta se aplicaria a mim.

  Ele apenas deu de ombros.

  - Não consigo dormir.

  Ele vestia jeans pretos, camisa de esqueleto e jaqueta de aviador, usava um anel prata de caveira no dedo, seus cabelos negros estavam completamente desgrenhados. É, o mesmo Nico de sempre. Mas ao mesmo tempo parecia tão diferente... mais vivo.

  - Percy disse que, com essa velocidade, devemos chegar de manhã à entrada do Mar de Monstros.

  Acenei com a cabeça.

  - Por que não subimos para contar a Mare Laudes? – eu perguntei

  Ele ficou vermelho e olhou para o chão.

  Permaneci em silêncio, pois não queria deixá-lo envergonhado, não queria que ele soubesse que eu havia descoberto seus sentimentos por Mare. Mas sua voz me surpreendeu.

  - Eu sei que você sabe – ele falou sem olhar em meus olhos – Afinal, eu não sou nem um pouco sutil...

  Ele pareceu encabulado com a afirmação.

  - Sim, eu sei – confirmei

  - Eu não sei o que acontece comigo – ele pareceu desesperado – quando a vejo minhas mãos começam a suar e eu fico agindo como um idiota.

  - Você não é um idiota, Nico. Só tente relaxar. Não posso ajudar muito, já que não sou uma filha de Afrodite, mas sei como é gostar de verdade de alguém – eu sorri

  Gostar de verdade é pouco, amar, estar completamente apaixonada seriam melhores palavras, mas não disse nada disso pois não queria assustá-lo ou fazer com que ficasse ainda mais envergonhado.

  Ele suspirou e se apoiou na parede.

  - Pareço um bobão, caidinho por uma nereida, o tipo de coisa que me faria rir antes.

  Antes que pudesse dizer qualquer coisa ouvi passos. Mare Laudes apareceu em nossa frente.

  - MARE – Nico disse, um pouco alto demais...só um pouco.

  - Olá, ouvi vozes e resolvi descer para ver se tinha alguém acordado.

  - Só nós – eu disse, dando de ombros

  - Ah, que bom...é que estou morrendo de sono! Se importariam de ficar no meu lugar?

  - É claro que não – eu falei e Nico concordou com a cabeça.

  Mare entrou no quarto das meninas.

  - Viu? Um bobão... – Nico resmungou, batendo a mão na testa, indignado.