Leis da Noite - Antes do Escurecer escrita por Ryuuzaki


Capítulo 6
Nathan - final




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...

 

 

 

Imediatamente após dar as costas para sua ex-secretaria, Nathan Rivera sentiu que pelo menos doze quilos haviam sido retirados de suas costas e ombros. Começou a ir em direção ao elevador, o mesmo que trouxera sua funcionária, mas logo mudou de idéia, não queria correr o risco de encontrar mais algum trabalhador e ter que ou explicar o que havia acontecido ou fingir que estava tudo normal e ouvir bajulações e assuntos relacionados à empresa. Portanto, optou por um caminho que já era um velho conhecido dele: as escadas.

 

 

 

Fez um pequeno desvio para a esquerda, passando por um corredor apertado, difícil de ver por qualquer um e invisível aos olhos de empreendedores acomodados, Nathan imaginou se alguém alem dele e o pessoal da limpeza lembrava daquelas escadas quando não estivesse tendo um incêndio e se perguntou, mais uma vez, como frequentemente fazia, o porque de acharem que as escadas e os indivíduos de cargos inferiores possuíam menos dignidade. Não conseguindo encontrar uma resposta plausível, olhou para o primeiro lance de degraus.

 

 

 

Prédios de grandes industrias costumam ser altos, como uma tática para intimidar os concorrentes e também para poder acomodar os muitos setores que precisam para que todo sistema da empresa sobreviva. Este edifício da Rivera LTDA era particularmente muito alto, o maior núcleo empresarial de Los Angeles. cortesia do pai de Nathan, antigo dono da empresa, que tinha políticas de administração muito diferentes da do filho e adorava exibir o poder que detinha mesmo que naquela época a Rivera tivesse tanto capital quanto no presente momento o que levou a empresa à beirar a falência por muitas vezes. Devido à essa característica de seu pai, o ex-dona da multinacional citada teria que descer uma quantidade enorme de andares.

 

 

 

O homem suspirou, não por ter à sua frente aquela quantidade enorme de degraus, afinal estava em boa forma e, principalmente, já pegara aquele caminho algumas vezes quando queria escapulir da empresa sem ser notado, nunca o havia descido completamente, mas desta vez estava mais do que disposto, pois não queria ter mais qualquer tipo de contato com os funcionários... Não... Aquele gesto, tão parecido com sinal de fadiga, não fora por causa do esforço físico que faria... O suspiro tinha vindo junto com a lembrança do pai e, principalmente, pelo tempo que demoraria a sair das dependências da Matriz da Rivera. Já não tinha vínculos com a empresa, mas sentia que só estaria verdadeiramente livre quando saísse do lugar que fora como uma prisão, desde bem antes de Nathan ser adolescente. Com passos decididos começou a caminhar, descendo de dois em dois degraus.

 

 

 

Nathan, com não mais que seis anos de idade, estava sentado em uma poltrona na sala do dono da Rivera, seu pai. O responsável do garoto esbravejava e discutia com um grupo de quatro executivos, decidiam questões importantes sobre a empresa de eletrônicos que seu tio fundara, com a ajuda de parte da família, pouco antes de falecer, as ações estavam em alta e o homem pretendia ampliar seus negócios, mas seus parceiros tinham idéias que divergiam das suas. Nathan estava entediado com tudo aquilo, queria estar com alguns de seus colegas e brincar com seus bonecos, coisa que o pai nunca o deixava fazer. Quando o menino chorava e reclamava ouvia sempre a mesma coisa: Filho, você deve estar presente nesses momentos, para aprender como levar A Rivera para frente... Nossa família fez muito sacrifício para chegar aonde esta. Então pare de chorar já está grande o suficiente para saber que tem uma responsabilidade.

 

 

 

O empresário não gostava de lembrar de sua infância e nada que estivesse diretamente relacionado com seu pai. Não tinha uma boa imagem do homem que lhe privara boa parte da infância e da vida por causa do futuro de uma empresa. Queria não lembrar de todas essas lembranças que vinham lhe atormentando por anos, contudo, mesmo tendo finalmente conseguido se libertar das amarras que lhe atavam, tais recordações agora lhe atingiam com tamanha intensidade que ele nunca havia sentido.

 

 

 

Deus! Como era terrível aquela sensação, a lembrança de seu cárcere. Nathan não agüentava a torrente de reminiscências que invadia sua cabeça, imediatamente parou de descer as escadarias e massageou, com a ponta dos dedos, suas têmporas, numa tentativa inútil de se livrar de tudo aquilo que atravessava seu âmago, bem como da dor cabal que lhe dava a impressão de estar levando choques de alta voltagem no cérebro. Desceu mais dois degraus, em um passo vacilante. A sensação de ser eletrocutado aumentou e mais imagens sobre sua vida vieram-lhe à mente. Xingou por entre dentes que se apertavam, parecia que suas próprias lembranças o impeliam para trás, tentavam manter-lo dentro da prisão que vivera por toda sua vida...

 

 

 

Ele pensou em desistir. Voltar de onde estava. Rastejar por vontade própria para aquela sala que por tanto tempo o impediu de ser livre. Parecia uma boa alternativa. Esquecer aquela fuga sem sentido, voltar ao trabalho, não teria dificuldade em desfazer o que fizera, ainda havia tempo para cancelar os arranjos com os advogados e poderia subornar algumas pessoas para que nada daquilo vazasse para a mídia. Sim, era o que faria...

 

 

 

Deu um murro na parede, e mordeu os lábios a ponto destes sangrarem. No que estava pensando?! Como podia deixar-se dominar por algumas recordações e uma dor imaginária, que no fundo não deveria passar de medo da mudança? Seu peito se inflou de determinação e seu coração foi novamente tomado por desejos de liberdade. Mesmo sentindo dor, continuou a avançar rumo à saída daquele lugar opressor.

 

 

 

Os choques que parecia sentir em sua massa encefálica pareciam aumentar de voltagem a cada segundo que passava, mas Natham não parou, desceria até o inferno, se isso fosse preciso para escapar. Não sentia o tempo passando, parecia que tudo estava acontecendo em segundos, achava que estava perto do final das escadas, mas não tinha certeza, tudo aquilo o deixara confuso, talvez não tivesse nem mesmo saído do lugar.

 

 

 

Venha comigo, tem uma reunião agora.

 

 

 

Começou a descer mais rápido.

 

 

 

Acabo de autorizar a construção de um prédio, será o maior de Los Angeles...

 

 

 

Tirou as mãos do corrimão e tapou os ouvidos, querendo pifiamente bloquear um som que existia apenas em sua mente. Não se livraria daquelas ultimas reminiscências tão fácil.

 

A empresa está em crise Nathan, é seu dever salva-la... Já fiz tudo o que pude...

 

 

 

As Imagens passavam cada vez mais rápido e mais dolorosamente, toda a sua vida estava sendo revisitada. Dizem que uma pessoa lembra de cada coisa que lhe aconteceu no instante de sua morte. Talvez fosse isso que estivesse acontecendo com Nathan... Ele estava morrendo, para renascer... livre. Não desistia, continuava a descer, agora sabia que tudo aquilo iria acabar assim que o longo percurso terminasse. “É como uma caminhada espiritual”. Pensou ele. Sentiu que seu corpo era destruído, desfragmentado e reconstruído logo em seguida, pedaço por pedaço, célula por célula, fazendo com a sensação que se limitara a sentir no cérebro tomasse cada átomo do seu corpo.

 

 

 

Novamente pensou em desistir, era insano continuar com aquilo, imaginaria ou não, aquela dor acabaria o matando. Assim que cogitou em dar meia volta... acabou. A agonia foi embora, as lembranças sumiram, as duvidas não mais existiam. Restara apenas um homem que agora sabia que era livre. Abriu os olhos, pois os havia fechado a muito tempo, tivera medo de abri-los e se achar em um lugar estranho, de ver algum demônio que lhe cuspia fogo, mas, tudo o que viu, foi o saguão de entrada e, para sua sorte, não havia ninguém ali.

 

 

 

Saiu pelo portão principal despreocupado e com o coração leve. Pensara em sair pelos fundos, onde certamente ninguém o veria. Mas nem se importava mais em ser ou não ser visto, sabia que tinha feito à coisa certa e agora abandonava sua prisão de cabeça erguida.

 

 

 

Alcançou a rua e parou de caminhar, estava cansado, mas satisfeito. Olhou para o céu, o mesmo céu cinzento de LA de sempre, mas mesmo ele agora parecia belo. Inspirou e expirou, como se o monóxido de carbono expelido pelos carros fosse o mais sublime dos perfumes. Parou.

 

 

 

Agora só faltava reunir suas coisas, e ir para alguma cidade, nunca mais voltar para Los Angeles, nunca mais voltar para a Rivera. O nome de um lugar pairava em sua mente...

 

 

 

- Santa Felícia... – Sussurrou com um pouco de assombro.

 

 

 

Era para lá que ele iria...

 

 

 

... E isso deixava alguém muito satisfeito.


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Notas finais do capítulo

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Ficou uma droga, não me matem ._. Ah, não tah betado