Distrito 5 - A Força Da Inteligência escrita por BelleJRock
Notas iniciais do capítulo
Oiee gente! Desculpa a demora! é que como minhas aulas voltaram eu estou atolada em tarefas e estudo e esse ano está dificultando ainda mais --'. Mas irei tentar postar o mais rápido possível. Brigada!
Fico encarando a paisagem que uma vez fora verde com gramíneas rasteiras, mas agora está repleta de sangue de tributos mesclados. Clove ainda está deitada no campo, com a têmpora esmagada. Imóvel, adormecida. Fico com uma sensação estranha, e evito olhar por muito tempo para a cena. Na verdade, eu queria mesmo era pegar a mochila dela com seus suprimentos, porém Cato também pensara nisso.
O aerodeslizador chega ao local e recolhe o corpo de Clove por garras presas á cordas enormes. Era a terceira vez que vejo um aerodeslizador, e esse era o menor de todos.
A primeira vez que vi um foi no próprio distrito 5: Quando um grupo de aproximadamente cem habitantes revoltou-se contra o prefeito da época. Ele idolatrava a Capital e depois de muita revolta, luta e destruição pelo regime intenso que fizera todos passar fome, sede e doenças pelas usinas termelétricas, foi convocado um pequeno exército da Capital que constituía de cinquenta pacificadores e um aerodeslizador de bombas porte pequeno. Daí, os cinquenta soldados imobilizaram eles no centro da cidade e as bombas foram soltas. Eu tinha oito anos quando ouvi as bombas da escola. Enquanto corríamos para nossas casas o grupo que se nomeava I.E 5 (Inferno Elétrico 5) foi bombardeado e todos morreram. Algumas das pessoas próximas também e crianças que entravam no meio do caos a procura de seus pais também morreram. A sorte foi que meu pai, eu e meus irmãos construímos um porão secreto um ano antes para se proteger em alguma ocasião.
Ainda me lembro de minha família e algumas outras que conseguimos abrigar durante a explosão gritando e chorando. Felizmente as bombas não se enterravam no solo, porém a destruição levou quatro anos de prejuízo para o conserto de tudo.
O segundo aerodeslizador fora justamente quando estava vindo para a arena. Era o maior que já vi, e seu interior era um emaranhado de tecnologia. Porém, outra lembrança que só tenho a opção de guardá-la pelo resto da vida, ou ir ao túmulo com ela.
Perco-me na lembrança sórdida, e mal vejo que se passara um bom tempo e quando olho para o céu, surpreendentemente, está nublado! Uma ponta de esperança toca em meu coração e se transmite num sorriso. Espero que realmente chova.
Olho para baixo e verifico se não há ninguém por perto. Desço da árvore e fico andando devagar, felizmente reconheço o local como a palma de minha mão. Fico fortalecida só de pensar que finalmente poderei tomar água e sobreviver.
De repente paro e lembro-me das marquinhas. Minha faca finalmente começa a trabalhar e faz cortes profundos manchados de hesitação. Uma brisa tênue corta o ar mesmo com árvores cobrindo toda a floresta. As copas das árvores ficam se mexendo e produzem uma canção natural. Tudo está tão quieto que chega a ser estranho. Provavelmente os tributos estão descansados das feridas físicas e emocionais. Olho para cima por um furo entre as copas das árvores e o céu continua com muitas nuvens cinzentas carregadas de chuvas torrenciais.
Ando durante três horas, porém a temperatura não muda e isso me dá muita vantagem. A brisa continua no ar e bate contra minhas costas e o solo vai descendo quase imperceptivelmente.
Faço uma pausa de dez minutos e recosto-me numa árvore. Abro minha mochila e abocanho alguns biscoitos açucarados. Depois vou a pequena bolsinha do ágape. A ansiedade é estonteante e só de encostar os dedos no zíper fico arrepiada. Quando abro vejo dois recipientes cilíndricos. Pego o primeiro de cor cinza e as pílulas contida neles eram iguais as minhas perdidas. Um sorriso sai pelo canto e praticamente abraço o pequeno recipiente. O segundo cilindro de coloração vermelha era do tamanho da metade de meu dedo mindinho. Nele continha somente uma pílula. Coço a cabeça como sinônimo de dúvida. Talvez seja um remédio contra envenenamento, ou talvez seja um que mate instantaneamente. Mas porque mandariam isso? Eu não preciso de nenhum dos dois.
Volto a andar novamente e fico a tarde inteira procurando o lago. Sugiro que já andei quase uma milha. Aos poucos minhas forças e paciência vão se esgotando e penso em desistir, sentar em algum lugar e esperar algum acontecimento. Paro no meio da floresta e respiro fundo, olhando para o horizonte com olhos opacos e sem vida. Mas não é de admirar: há muito tempo não me sinto viva.
O cansaço consome meu corpo inteiro e me sinto enjoada e com muita dor. E a contaminação da água continua a fazer efeito. O céu progride a passar sua imagem tristonha e cinzenta, iludindo com sua suposta chuva.
Lamentável! Minha situação que transparecia estar resolvida volta à estaca zero. A possiblidade de desistência me parece tentadora, mas resisto á ela quando a imagem de meus pais e irmãos materializa-se em minha mente. Vejo-os correndo e sorrindo numa campina florida com o sol grande e escaldante acima de suas cabeças. Uma imagem suave, porém melancólica nesses tempos.
Mais uma vez faço uma pausa de dez minutos. O anoitecer estava com um clima hostil. A brisa tênue desaparecera e o som das árvores virou um silêncio sórdido e inquebrável. Mas quando olho para o lado e viro para a diagonal vejo que finalmente encontro meu destino.
A margem de um rio.
Sem hesitar, levanto esbaforida e saio correndo como uma criança pusilanimemente ao encontro de algum ente querido. Chego à margem arenosa e sou desiludida:
- Onde está a água? Ela deveria estar aqui! Isso é um rio, eu tenho certeza!
Realmente era. Um grande buraco com a margem arenosa, as algas mortas no solo e, ao todo, sete peixes mortos espalhados pelo chão. Tudo isso confirmava a existência de água ali, além disso, eu lembro muito bem sua localização.
Com o rosto murcho e com pílulas supérfluas, começo a imaginar um jeito de morrer dignamente. Mas é aí que percebo que o cansaço provavelmente me deixa burra: Há diversos peixes espalhados por aí e eles ainda não estão putrefatos, isso significa que posso alimentar-me com eles e todo alimento possui água, mesmo sendo pouca, é necessário.
Continuando minha linha de raciocínio, se os peixes não estão podres, ou pelo menos não cheiram á isso, significa que a água sumiu faz pouco tempo. O sol não evaporou a água, pois o dia todo ficou nublado e é impossível dissipar um rio inteiro, que é relativamente grande, por meio da evaporação.
Então, os idealizadores fizeram algo simples: eles sugaram o rio para baixo. A razão é que eles querem complicar a vida dos tributos, mas para não matar todos de uma vez (já que esse é o principal rio) eles farão chover torrencialmente para que encha tudo de novo. Essa é uma hipótese. Veremos.
Vou até o rio e pego dois peixes que estão lá. Sento no fim das árvores, onde começa a clareira do rio e decido estabelecer-me lá. Olho ao meu redor e começo a bolar um plano para que eu coma carne de peixe cozida e sem atrair ninguém. A barriga volta a doer muito e fico me contraindo, mas com um plano já formado me sinto revigorada.
Bem, eu vou encontrar algumas pedras por aqui, fazer um tipo de caverninha com uma chaminé e tapá-la no final. Eu vou fazer uma fogueirinha dentro e jogar os pedaços no fogo durante míseros segundos. A carne que está dentro da fogueira vai assar mais fácil e rápido. Depois, eu acenderei uma segunda vez e destamparei a chaminé e colocarei o resto dos peixes ao redor, porém com um tempero especial:
Um pouquinho de água da preciosa alga-cadáver.
Considero isso um movimento muito arriscado, mas tenho que fazer algo para chamar a atenção de alguns patrocinadores, fortalecer-me e tentar vencer esse jogo para voltar para casa, se é que parece algo possível.
Começo a andar num raio de cinquenta metros de onde eu estou. Fico verificando o solo cada vez que dou um passo. Chega a ser magnífico como as pedras somem quando necessito. Fico cerca de uma hora procurando e catando-as. Era difícil enxergar no escuro, mas recolhi no total de vinte e três pedras.
Volto ao começo da clareira e monto minha pequena caverninha com uma chaminé. Para empilhas as pedras era algo considerado impossível. Toda vez que eu chegava perto de terminar elas caíam e desmontava tudo. Com a minha paciência chegando á zero grito algumas palavras mal-educadas.
Não demora até eu me lembrar de meus fios e faço um emaranhado que termina com uma chaminé amadora. Muito amadora. Coloco três galhos seco. E agora era só eviscerar o peixe e cortar os pedaços de carnes.
Com dois peixes consegui bastante carne e isso me deixa animada. Pego os fósforos e acendo a fogueira. Arremesso os pedaços para dentro e não mais que cinco segundo fumaça começa a sair pelas extremidades da caverninha. Com temor de que algo acontecer, eu apago a fogueira desmoronando todas as pedras em cima e batendo minha jaqueta por cima.
Quando retiro as pedras vejo a carne do peixe. Boa parte tostou, mas o resto dava para comer. Abocanhei todo o peixe, pois aquela carne não duraria muito. Senti-me tão revigorada que eu enfiava na boca sem respirar e engolindo tudo o mais rápido que podia. Felicidade, tristeza e apetite. Tudo misturado.
Depois como mais um biscoito e fico satisfeita, porém a sede está impiedosa. A garganta começa a doer junto com minha barriga, a panturrilha está até roxa e não urino faz quase uma semana. Minha bexiga parece algo morto e meus batimentos cardíacos estão fracos. A respiração, portanto, está árdua.
Dessa vez guardo boa parte das pedras na minha mochila e faço uma fogueira pequenina com pedras somente ao redor. Pego o restante dos peixes e empilho-os como e fosse cozinha-los um por um. Pego o recipiente do paraquedas que havia recebido e derramo, cautelosamente, a água contaminada sobre os peixes e as pedras. Acendo a fogueira e saio correndo atravessando o rio.
Um erro.
Assim que piso no rio meu pé afunda. Droga! Então eles realmente sugaram a água, porém deixaram-na embaixo da terra. Como fui burra! Eu poderia ter cavado um buraco chegando aos lençóis freáticos feitos pelos idealizadores e pegar água. Os lençóis geralmente são fundos, mas eles decidiram que dessa vez não. Afinal, não são eles que mandam em tudo?
A fogueira está em chamas médias e eu estou afundando num rio de terra. Começo a me movimentar e puxando o pé com força colocando-o na frente. Parece que estou andando em ovos e fico tensa e lerda. O roxo das minhas panturrilhas está ardendo, cada vez que ando fico gemendo.
Quando estou quase na metade, a fumaça chega ás copas das árvores. Acelero-me e caio. Apoio com minhas mãos e elas começam a afundar. Fico andando mais rápido e vou tropeçando junto. Minha barriga, rosto, mãos e pés estão todos cheios de lama. Vou rastejando, depois vou de quatro, ando de novo e caio. E depois de engolir muita terra, chego a margem.
Não era areia movediça, pois quando me mexia eu não afundava mais e mais, somente até certo ponto. A força foi tamanha que quando chego ao outro lado minha respiração está ofegante e não consigo nem me mexer direito.
Paf, paf, paf.
Um barulho perto suficiente faz-me levantar e sair correndo até ao fim da clareira. Subo na primeira árvore e, surpreendentemente, sem escorregar chego á uma altura boa. Como estou cheia de lama fico disfarçada na escuridão, e pelo menos me dá vantagem.
Como sou um imã para encrencas, vejo o tributo que se aproxima: Thresh.
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E ai? gostaram? odiaram? algum erro? Não custa nada mandar um review né? Elogios e críticas são aceitos como forma de motivação! Brigada por ler ^^