Spell The Most escrita por Angel Salvatore


Capítulo 10
Capítulo 9




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Capítulo 9

“O quê?!”, três vozes arfaram em um uníssono.

Eu estava no meu quarto com os meus amigos tentando estudar, mas não conseguindo. Mesmo sendo sábado, ninguém tinha nada a fazer, por isso resolvemos sentar e conversar, dando a desculpa a inspetora que iríamos estudar.

As gêmeas estavam deitadas na cama de Luen lendo revistas. Eu e Suzy estávamos na minha cama sentadas, uma em frente a outra de pernas cruzadas e com Chelsea e Sam no colo dormindo. Daemen estava sentado no chão no espaço entre as duas camas e recostando sua cabeça na parede.

Como eu tinha uma leve suspeita, Sam e Lien se identificaram muito e até fizeram piadas de mal humor. É claro que meus amigos se afeiçoaram a Chelsea e Sam, eles eram encantadores. Bem, menos Sam. Ele, com certeza, não era encantador.

Estava tão silêncio que eu resolvi que esse era o momento da verdade. Eu não tinha contado a ninguém que eu e Nick tínhamos nos beijado, e ele esperava que eu o fizesse, já que eles eram os meus amigos. Parece que a novidade não foi tão bem recepcionada quanto eu esperava.

Os três que arfaram (Lien, Suzy e Daemen) ficaram me encarando com os olhos arregalados, mas tinha algo em Lien que me fez estudá-la por um segundo a mais e desnecessário. Ela rapidamente desviou o olhar de mim e voltou sua atenção a revista de moda, mas eu sentia que sua atenção estava voltada para o novo tema: Beijo em Nick.

Luen era a única que não tinha se espantado. Ela parecia normal com a sua revista, até mesmo desinteressada. A não ser que eu conte o fato dela estar toda hora trocando olhares furtivos com Daemen. Mas eu não tive muito tempo para estudar AQUELA situação, já que estava presa em um tipo de interrogatório.

“Que dia foi isso?”, Daemen perguntou.

“Por que não nos contou?”, Suzy perguntou.

“Dá pra me deixar fora dessa conversa?”, Sam rolou os olhos.

“Por que demoraram tanto?”, Luen levantou os olhos e piscou para mim.

Eu jurava que por um momento eu tinha escutado Lien dizendo “Por que não demoraram mais?”, mas foi tão baixo que ignorei e questionei a minha sanidade. Tomei fôlego e comecei a responder.

“Ontem.”, respondi olhando para Daemen. “Era uma coisa pessoal.”, arrastei meu olhar para Suzy. “Não.”, revirei-os para Sam. “Por minha causa”, corei para Luen.

Abafei um bocejo e senti meus olhos lacrimejando. Mesmo sendo sábado, tínhamos acordado cedo. O sol nem estava a pino ainda. O silêncio e a expectativa reinaram em meu quarto. Todos queriam saber os detalhes de ontem, mas não queriam ser indiscretos demais.

Um barulho nos fez sobressaltar e olhar para as gêmeas.

Lien estava fechando sua revista e a jogou no rosto de Daemen enquanto levantava da cama. “Hey.”, Daemen reclamou. “você acertou o meu rosto, notou?!”

Lien deu um sorriso seco.

“Me desculpa, não deu para mirar em outra pessoa”

Sam riu.

Ela continuo seu caminho até a porta quando a voz triste de Luen ecoou no ar.

“Onde você vai?”, ela perguntou. Luen parecia chateada por sua irmã não passar mais tanto tempo com ela.

Lien parou com a sua mão na maçaneta e olhou por cima do outro para a gêmea. Um sorriso legítimo estava lá dessa vez. “Calma-te, mana”, ela abriu a porta. “Vejo vocês no almoço”, e fechou a porta.

Arrastei meu olhar da porta para Luen. Ela ainda encarava a porta com uma tristeza quase palpável. Ás vezes eu sentia um pouco de ciúme da relação das gêmeas. Era como se um completasse a outra. A parte boa era Luen e a parte... não ruim, mas, menos boa era Lien.

“Estranho”, Daemen disse quebrando aquele momento de tensão. Minha mente ainda estava rodando e revendo esse últimos cinco minutos.

“Muito estranho”, Suzy concordou voltando a acariciar a cabeça de Chelsea.

“O que houve com com Lien?”, perguntei.

Os olhos de Luen saíram da porta e se arrastaram até mim junto com um sorriso forçado.

“Ela é a Lien”, ela respondeu, mas ninguém riu. Tinha algo estranho ali e eu tinha que saber o que era.

“Hey, então”, Daemen levantou do chão e se sentou ao lado de Luen na cama. “O que vamos fazer no restante do sábado?”

Era óbvio que essa pergunta não era nem para mim e nem para Suzy. Muito menos para nossos animais elementares. Luen corou quase que imediatamente deixando seu rosto tão vermelho quanto seu cabelo.

“O que você tem em mente?”, ela provocou.

Eu admirava Luen. Mesmo envergonhada, não afastou seus olhos do rosto de Daemen.

“Que tal um cinema? Vai estrear um filme novo com aquele ator que você gosta”, ele sorriu. “Oh!”, Daemen pareceu se lembrar da gente e corou um pouco, mas não tanto quanto Luen. “Vocês podem ir também”

“Oh, não”, Suzy se apressou em respondeu balançando suas mãos no ar. “Estou com muito dever de casa atrasado”

“E eu estava pensando em andar de cavalo um pouco, senão Wish vai me renegar”, eu ri. “Além disse, quero ficar um pouco mais com meu animal elementar, não é, Sam?”, olhei para a raposa que estava deitada em minhas pernas e a vi rolando os olhos.

Daemen deu de ombros e voltou sua atenção para Luen enquanto terminava de marcar o “encontro”. Em Spell the Most, podíamos sair aos fins de semana, mas apenas com a permissão da diretora Nice e com um adulto responsável. Seja ele um professor ou um parente de algum dos alunos que estava saindo.

Como eu e Suzy percebemos que estávamos sobrando, resolvemos ir para o refeitório e comer alguma coisa. Deixamos Luen e Daemen conversando no quarto sobre quem levariam como responsável. Estavam até cogitando a ideia de ser um professor. Eles estavam tão excitados com a ideia do primeiro encontro que nem perceberam a nossa saída.

Nós descemos as escadas dos quartos e, quando chegamos ao lobby, seguimos o corredor pouco movimentado em direção ao refeitório. Quando abri as portas duplas, , me surpreendi vendo o número de estudantes que estavam ali aquela hora. Deveria ter, no mínimo, a metade da escola tomando café da manhã.

Fomos para a fila do lanche e eu ainda tinha uma esperança de que tivesse sobrado rosquinhas de chocolate. Suzy enchia seu prato de salada enquanto eu enchia o meu de rosquinhas e recebia um olhar rigoroso da senhora Burne, a moça da cantina.

A única mesa livre era perto do time de futebol. Não me entendam mal. Eu não estava reclamando, mas não gostava muito desses caras. Alguns eram cúmplices de Lana em sua batalha de transformar nossa vida em um inferno completo.

Mas outros não eram assim. Como Eron, Drake, Connor e Jason. Eu já tinha saído com esses três primeiros e arrumado um tipo de camaradagem. Já Jason só tinha olhos para Suzy desde que entrei na escola, mas ela nunca parecia notar. E, naquele momento, ele estava olhando pra ela de novo, mas ela estava encarando a salada e falando algo sobre estar feliz por Luen e Daemen.

A cortei imediatamente.

“Ele está te olhando”, eu disse e encarei os olhos azuis de Jason por baixo do meu braço.

“Quem?”, Suzy perguntou confusa por causa da mudança brusca de assunto. “Daemen”

“Não, diabos”, eu a repreendi e apontei com os olhos para a mesa dos jogadores de futebol. “Jason Hastein”

No momento que eu disse o nome de Jason, Suzy o encarou e ele nos cumprimentou com um movimento coma cabeça.

“Acene”, eu disse para Suzy enquanto meus dedos dançavam em um tchau.

Olhei para Suzy a tempo de vê-la revirando os olhos e dando um rápido aceno a Jason. Ele interpretou aquilo como um sinal e se inclinou para uma conversa rápida com os amigos, então se levantou e veio em direção a nossa mesa.

“Oi, Suzy”, ela a cumprimentou e puxou uma cadeira sentando ao seu lado, então seu olhar foi para mim. “Hey, Alex”, ele fez aquele cumprimento novamente de modo que seus cabelos castanhos claros quase caíram em seus olhos.

“Hey, Jay”, eu respondi colocando outro pedaço de rosquinha em minha boca.

“Então, esses são os seus animais elementares?”, Jason perguntou apontando para Chelsea e Sam.

Sam estava deitado no chão ao lado da minha cadeira enquanto esperava eu lhe jogar algum pedaço de rosquinha e Chelsea estava em cima da mesa olhando para Suzy séria. Enquanto Sam parecia entediado, Chelsea parecia fascinada com o novo ambiente.

“Yep”, eu disse mastigando e encarei Sam. “Sam, esse é Jason.”, me virei para Jay. “Jason, esse é Sam”

Sam deu sua típica revirada de olhos e Jay sorriu acenando com a cabeça. “E essa beleza aqui?”, ele perguntou apontando para Chelsea.

Suzy estava tão desligada encarando a sua salada que se sobressaltou quando eu a chutei por baixo da mesa. Ela se levantou seus olhos cinzas para mim e eu levantei uma sobrancelha na direção de Jason.

“Apresente seu animal elementar, Suzy”, eu disse lhe fazendo uma careta. Jason estava tão distraído com o rosto corado de Suzy que nem sequer viu meu rolar de olhos (e o de Sam).

“Oh, claro”, ela disse sorrindo timidamente para Jay. “Essa é a Chelsea.”, ela se virou para a pequena coruja. “Chelsea, esse é o Jason”

Preciso dizer que ele fez aquele aceno de cabeça de novo? E que estava ficando irritante? Pois estava. O silêncio se instalou e eu me vi obrigada a fazer o papel de cúpido. Era óbvio que Suzy não estava gostando e estava ficando, tanto desconfortável, quanto irritada, mas eu tinha que fazer aquilo.

Ela não saía com mais ninguém desde de Matt. Era como se tivesse morrido para os garotos. Aquilo me corrompia e me deixava inquieta, por isso que, mesmo Suzy ficando com raiva, eu teria que fazer aquilo.

“Hey, Jason.”, eu o chamei fazendo com que ele tirasse seus olhos azuis do rosto corado de Suzy, com muito esforço. “Quando vocês vão jogar?”

“Hoje, ás 8, por que?”, ele levantou uma sobrancelha. “Quer torcer para Eron? Não acha que Drake e Connor vão ficar com ciúmes?”

“Ah, cala a droga da boca, idiota”, eu respondi e nós dois rimos. Dos três amigos de Jay, o que eu tinha tido um “quase namoro sério” foi Eron.

“Hey, não fique com raiva por eu dizer a verdade”, Jason tentou se defender. “Mas, por que vocês não aparecem lá no jogo?”

“Yeah, nós vamos”, eu confirmei.

Enquanto os olhos de Jason ficavam brilhantes e sonhadores, os de Suzy ficaram arregalados e suplicantes para que eu não a incluísse. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer palavra, Jason acenou freneticamente para alguém atrás da ente desviando a atenção de Suzy.

“Nick, hey. Aqui.”, ele chamou.

Eu aproveitei esse momento de distração e movi minha cadeira para mais perto de Suzy.

“O que diabos você está fazendo?”, eu sussurrei para ela. Seus olhos estavam fixos na salada novamente. “Estou tentando te arrumar um encontro e você ignora?”

“Não lhe pedi para me arrumar nada”, ela murmurou sem me encarar.

Aquilo foi pior do que levar um tapa no meio da cara e eu recuei quase que imediatamente. Suzy levantou seus olhos na minha direção tentando se desculpar, mas fomos interrompidas pela voz de Nick.

“Oi.”, ele se sentou ao meu lado e colocou um braço em meus ombros estalando um beijo em minha bochecha. “Onde estão os outros?”, ele perguntou.

Eu estava em estado de choque para responder. Suzy estava me mandando uma mensagem de desculpas pelo olhar, mas eu estava assustada demais com a sua reação anterior para prestar a atenção. Foi só quando sua mão tocou a minha que eu acordei do estado de torpor.

Me desculpe, fui dura. , ela me mandou pelo toque e um tipo de raio acolhedor me envolveu. Apertei a mão dela em retorno e dei um pequeno sorriso de compreensão.

A culpa foi minha. Fui com muita sede ao pódio.

Ela sorriu e respondeu.

Eu sei, você sempre faz isso.

Nós duas rimos e encontramos os olhares confusos de Nick e Jason.

“Eu vou ao jogo, Jay.”, Suzy disse falando diretamente com Jason pela primeira vez naquela conversa. “Talvez leve Lien comigo. Ela está de mal humor e precisa se distrair.”

“Oh, claro”, ele disse e sorriu deixando a mostra suas presas.

Devo dizer que todos os jogadores de futebol da escola eram vampiros? Todos achavam que era melhor. A lógica que os vampiros eram mais rápidos e espertos. Mas claro que isso fazia a ideia de assistir a um jogo de futebol, um enorme e desconfortável pé no saco.

“Daemen e Luen estão no quarto”, eu respondi Nick e sorri também. Me levantei da cadeira deixando metade de uma rosquinha do prato e olhei para Suzy. “Vou cavalgar um pouco”, meu olhar foi para Sam. “Vamos?”

“Tenho escolha?”, ele perguntou já se levantando.

“Claro que sim. Você pode voltar para dentro de mim ou ir ao estábulo.”, disse sarcástica. “Viu que boas escolhas?!”

Sam bufou e se juntou a mim.

“Depois diz que não é debochada”, ele murmurou e antes que eu pudesse responder, Nick me interrompeu.

“Será que eu posso ir com você ao estábulo? Gostaria de ver Wave”, ele sorriu.

“Oh, claro”, respondi corando um pouco.

Vi pelo canto do olhos Sam começar a abrir a boca para mandas algum cometário esperto e o chutei na hora. Como ele foi pego de surpresa, caiu de lado no chão. Então tudo que eu fiz foi mandar um olhar de CALA A DROGA DA BOCA AGORA OU VAI VOLTAR PARA DENTRO DE MIM. Ele pareceu entender e ficou quieto.

“Então, até o almoço”, eu disse sorrindo para os outros e puxei Nick pela mão.

Sam nos seguia em silêncio, mas eu conseguia sentir a sua insatisfação. Outra coisa que eu conseguia sentir era o arrepio que Nick me mandava com o nosso pequeno toque. Não trocamos nenhuma palavra desdo dia anterior. E, a não ser que um OI e um TCHAU sejam contado como conversa, não tínhamos conversado também.

A professora Caroline sempre deixava a chave das casinhas do estábulo em um gancho ao lado de onde guardava as rédeas e coisas desse tipo. Abri a casinha de Wish e acariciei seu rosto, logo passei a chave para Nick e ele soltou Wave. Nós montamos e começamos a passear pelo amplo espaço de Spell the Most. Sam continuava quieto entre os cavalos e apenas se permitia andar pela grama, apreciando a vista.

“Daemen e Luen no quarto? Fazendo o quê?”, Nick finalmente perguntou como se as palavras só tivessem entrado em sua cabeça agora.

“Eles estão marcando um encontro”, eu disse olhando apenas para frente. Eu ainda não estava acostumada a olhar nos olhos tão azuis e profundos de Nick sem corar.

Minha resposta o fez ficar em silêncio.

Mas não por muito tempo.

“O que você vai fazer no restante do sábado?”, ele perguntou de repente.

Isso quase me fez tropeçar do cavalo. Encarei seu rosto e o vi olhando para frente, assim como eu estava fazendo. Será que ele também achava meus olhos castanhos intensos? Ainda corada, me propus a responder.

“Por que?”, respondi.

Por um momento hilário me vi presa igual a Luen. Como ver em primeira mão como aconteceria, para depois acontecer. Um dejá- vú. Era como ter umas das visões de Luen.

“Sabe, meu pai trabalha em uma pista de patinação. Está afim de ir?”, ele finalmente me olhou e sorriu. Eu sorri de volta e aproveitei que ele tinha tocado no assunto da família dele. Queria saber mais sobre com quem estava me envolvendo.

“Claro que eu gostaria.”, respondi.

“Espero que eu não esteja incluído”, Sam resmungou. Eu olhei para baixo e fechei a minha boca que estava pronta para lhe dar uma resposta, mas aquele momento era muito importante para ser atrapalhado.

Balançando minha cabeça, voltei a encarar Nick. “A que horas nós vamos?”

“Que tal umas oito?”, ele perguntou.

Seria a hora do jogo, mas tinha certeza que Suzy poderia ir com Lien, como ela mesmo tinha dito a Jason. “Claro. Mas já vou te falando que eu não sou muito boa patinando, ou melhor, nunca patinei na minha vida”, lhe contei.

“Eu te ensino”, ele ofereceu.

Corei mais ainda e resolvi que estava na hora de mudar de assunto. “Me conte sobre a sua família”, disse voltando a olhar para frente.

“Meu pai, como eu te falei agora, é gerente de um ringue de patinação.”, ele dizia com alegria. Deveria ter orgulho de sua família. Ás vezes eu achava que era a única bruxa amargurada da história. “Minha mãe é dona de casa mesmo.”

“Tem irmãos?”, perguntei um pouco baixo e sem querer peguei o olhar de Sam. Ele sabia tanto quanto eu que o tópico IRMÃOS era delicado para mim.

“Sim, duas irmãs mais novas. Gabrielle com 14 anos e Ana Gabriela com 15”, mesmo sem encará-lo conseguia ouvir um sorriso em sua voz. “Elas são uns amores, mas ás vezes agem de uma maneira tão sombria que me assustam. Elas sempre foram fascinadas em coisas sobrenaturais desde pequenas, deveria estar no sangue.”, ele soltou uma risada leve. “Você deve imaginar como elas ficaram quando souberam que tudo que elas lamentavam ser mera fantasia, se provou ser real. Elas estão ansiosas por me visitar, ou melhor, visitar a escola”

Pelo modo que ele falava das irmã, parecia as amar de modo surpreendente, assim como Suzy amava Carly e Natálie. Não pensem que eu não amo Lissa. É claro que a amo, mas esse amor tem seus limites. E quando eu escutava Nick ou Suzy falando de suas irmãs, pareciam não ter limites para amá-las. Pareciam prontos para se jogar a frente de uma bala por elas.

“Na escola, elas eram descritas meio como estranhas, pelos seus pensamentos sombrio e obscuros. Vou lhe confessar que até eu mesmo as achava estranha, e até as evitava, mas depois que meus pais me contaram o que eu era”, ele parou para balançar a cabeça. “Comecei a compreender a fascinação delas pelo mundo desconhecido.”

Ele realmente parecia fascinado pela escola e tudo mais. Parecia que aqueles poderes, ás vezes destruíam relações fraternais e construíam relações fraternais. Restava saber qual era a mais forte.

“De quem você herdou os seus poderes?”, perguntei cada vez mais interessada em sua história.

“Minha mãe”, ele sorriu. “Uma pequena e delicada bruxinha da água”

Outra coincidência com Suzy. Sua mãe, Helena Cool, era tão baixa e delicada quanto a própria filha. Antes de conhecê-la, me perguntava de onde Suzy tinha herdade todas aquelas qualidades que eu não possuía. Não me entendam mal! Não era ciúme. Apenas curiosidade.

“Quando eu tinha quinze anos – e minha irmãs 11 e 12 – pensei que estava maluco. Os poderes me faziam pensar que estava maluco, mas depois, quando as pessoas que anteriormente eu chamava de amigos se afastaram de mim, eu entendi que se não pudesse contar com as minhas irmãs estranhas, não poderia contar com mais ninguém”, ele puxou a rédea do cavalo fazendo-o parar e enfiou a mão no bolso.

Eu parei logo em seguida, curiosa e Sam também. Nick puxou a sua carteira e a abriu me entregando uma foto muito bem guardada. Ali estava ele ao lado de duas meninas. A do lado direito tinha cabelo curtos e negros, assim como os de Nick, e os olhos de um tom azul esverdeado invejável. Seu estilo parecia meio largado, com calças folgadas e camufladas, regata branca e uma gravata vermelha. Sem contar o boné em sua cabeça que fazia seus cabelos ficarem de lado.

“Essa é a Ana Gabriela”, ele apontou para a menina que eu tinha acabado de descrever. “E essa é a Gabrielle”

Gabrielle era um pouco mais alta que a Ana, mesmo sendo a caçula. Os cabelos eram longos e com grande cachos vermelhos. Ao contrário de Ana, ela tinha um estilo mais sombrio, com uma saia e blusa preta, botas de ataque e gargantilha com um morcego pendurado. Estranho, muito estranho. Mas, mesmo com esse estilo meio sombrio, seus olhos verdes esmeralda que me chamaram a atenção. No meio da foto, Nick parecia mais do que feliz com as suas irmãs. Elas também.

“São lindas”, eu disse devolvendo a foto a Nick. Ele guardou- a na carteira e colocou no bolso. Assim que terminou de se ajeitar, voltou a cavalgar. Eu e Sam também voltamos a acompanhá-lo. “Mas, como elas se sentiram quando descobriram que seriam mortais e morreriam mortais?”, perguntei.

Um sorriso sarcástico brilhou nos lábios de Nick.

“Primeiro elas piraram. Pensaram em se colocar em situações de riscos para que eu tivesse a obrigação de dar-lhes um pouco dos meus poderes para que elas sobrevivessem.”, ele riu com um olhar distante. Parecia se lembrar de algo engraçado. Um piada interna de irmãos. “Mas com o tempo”, ele continuou. “elas se acostumaram. Preferiram a ideia de ter um irmãos bruxo, não ter poderes e saber que tudo o que elas gostavam e eram fascinadas existia, do que continuar vivendo num mundo onde eram chamadas de estranhas e ignoradas pelo irmão mais velho”

Assenti sozinha e sorri. Apesar de todo o drama que eu vivia com Lissa, ela nunca me ignorou. Na verdade, eu sempre a ignorei para que evitássemos conflitos onde eu seria obrigada a calar a boca dela com uma queimadura. Lissa sempre pareceu querer a minha atenção com aquelas brigas e o ciúme. E quando eu fui embora e ela se despediu?! Tudo bem que foi só um aceno de cabeça, mas para quem quase nunca tinha uma conversa civilizada com a irmã, era muito.

“Mas, agora me conte sobre a sua família”, ele pediu me tirando de meus pensamentos sobre Lissa. Fiz uma careta antes de começar. Era justo que Nick pedisse isso. Ele me contou sobre a dele e eu deveria contar sobre a minha.

Suspirei e comecei a falar.

“Minha mãe é acompanhante. Ela cuida de uns velhinhos que precisam de ajuda.”, eu sorri com a lembrança de minha mãe, sempre tão cuidadosa se preocupando com os idosos. “Meu pai é contador. É claro que isso nos faz ficar um bom tempo separados, mas ele compensa tirando férias junto comigo”

“Tem irmãos?”, Nick perguntou.

“Oh, sim”, respondi como se tivesse acabado de lembrar, o que não era o caso. Citar Lissa, era umas das coisas que nunca saiam de minha mente. “Tenho uma irmã mais velha. Alisson, mas nós chamamos ela de Lissa.”

O silêncio reinou. O único som que escutei por longos e intermináveis segundos foi o arfar das folhas contra o vento. Eu prendia a respiração enquanto esperava uma reação de Nick, mas não veio. Arrastei meu olhar até seu corpo perfeitamente parado e o vi tenso. Sua mãos estavam na rédea como garras de ferro e seu olhar, Oh, seu olhar, estava chocado.

Na nossa cultura, apenas os bruxos mais velhos herdavam os poderes. Os mais novos, como eu havia dito antes, eram mortais e morriam mortais. Mas isso não aconteceu comigo. Eu era a mais nova e tinha herdado os poderes. Infelizmente e felizmente.

“Mas, isso é impossível”, Nick conseguiu balbuciar as palavras.

“Eu sei que é um choque, mas é verdade”, eu disse e comecei a contar a minha história desde o início. “Meus pais começaram a treinar Lissa desde pequena, quando ela tinha 10 e eu oito anos. Eu era nova demais e achava lindo o que meus pais contavam sobre bruxo e coisas do tipo e Lissa ficava mais encantada ainda quando soube que ela, como a irmã mais velha, herdaria os poderes do meu pai.”

“Um bruxo contador?”, Nick perguntou e sorriu, dissolvendo um pouco a tensão o ar.

Eu sorri também.

“Eu sei que parece estranho, mas é verdade.”, ele apenas assentiu e eu continuei. “Normalmente os poderes dos bruxos se instalam completamente entre os 15 até os 17 anos. Se eles não vierem, nenhum deles herdou os poderes.”

“Isso é fato”, Nick me interrompeu de novo.

“Da pra calar a boca e escutar?”, Sam disse frustado.

“Desculpe”, Nick disse e voltou a me escutar.

Eu estava tão absorvida na história que nem me dei o trabalho de mandar Sam calar a boca também. Ou de agradecer por 'pedir' a Nick para calar a dele.

“Quando a chegou a idade dos poderes de Lissa começarem a se instalar, eu já conseguia acreditar naquela babuzada toda. Pensava que a minha família toda estava maluca e os evitava ao máximo. Me admirava a minha mãe, uma mulher tão segura e pé no chão acreditando naquela historinha de conto de fada.”, eu ri. “Mal sabia eu.”, balancei a minha cabeça e passei a mão pelo meu cabelo escuro. “Lissa já estava com 17 anos e nada dos poderes vim. Ela estava começando a ficar preocupada, enquanto minha mãe se sentia mais e mais aliviada por todas as suas filhas serem normais. Enquanto isso, eu passava pela pior fase de toda a minha vida”

“A instalação”, Nick disse me fazendo voltar ao mundo normal.

“É, a instalação”, eu sorri. “Lissa é dois anos mais velha do que eu, isso queria dizer que quando o período dela estava terminando, o meu estava começando. Nos éramos muito unidas na época, sabe. Ela sempre me falava o que faria quando entrasse na Spell the Most, e como faria. Você não imagina como ELA ficou quando soube que os SEUS poderes vieram para mim.”

“Arrasada”, ele tentou.

“Mais do que isso. Minha mudança aconteceu de modo lento. Calores excessivos, alto combustão em objetos inanimados, incêndios inexplicáveis. Meus pais só ficaram sabendo de tudo isso quando foram chamados na escola. Minha mãe, sim, ficou arrasada. Sua filhinha, uma bruxa. Meu pai ficou radiante que os poderes dele tivessem sido passado além. Mas Lissa... ela foi a pior de todas. Aquele era o seu sonho e não o meu. Ela merecia os poderes e não eu.”

“Isso é um absurdo!”, Nick disse tentando me dar apoio. “Quem lhe disse isso?”

“A própria.”, eu respondi e ele ficou quieto. “Ela ficou com tanta raiva que, até hoje não fala comigo direito e guarda rancor.”

Assim que terminei a minha história, notei como o ar tinha ficado pesado demais para eu respirar. Sam estava tão quieto que eu quase tinha me esquecido dele. O recolhi para dentro de mim, porque já estava ficando muito fraca e deixei que o silêncio reinasse. Esperar que ele tirasse todo aquele clima pesado do ar.

“Sinto muito”, Nick finalmente disse quando estávamos no final do percusso.

“Hey, não se desculpe.”, eu sorri forçado. “Fui eu que trouxe o assunto FAMÍLIA a tona”

“Mas, fui eu que persisti”, ele respondeu.

Suspirei e tive uma ideia.

“Corrida até os estábulos?”, ofereci. Seu rosto se iluminou de repente e ele sorriu.

“Só se for agora”, e colocou mais impulso para frente de modo que Wave começou a cavalgar mais rápido.

Mas é claro que eu não fiquei para trás.


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