1968 escrita por laraestrela


Capítulo 4
Capítulo 4 - Unexpected Meeting




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- Pelo amor de Deus Marty Mcfly, nem acordar antes do meio dia você consegue? – ralhei assim que avistei a cabeleira bagunçada de Marty adentrando a oficina.

- Deixa o menino dormir Lara, você que acordou cedo para me ajudar. Não precisava, mas agradeço mesmo assim. – Doc disse com um sorriso. – Não sei como eu vou ser daqui a 30 anos, mas o meu eu atual não sabe cozinhar. Então, tomem esse dinheiro e vão comer algo.

- Não, eu quero ficar e te aju... – Fui interrompida pela mão de Marty agarrando o dinheiro e indo em direção a porta sem ao menos me esperar – EI, ESPERA!

Saí correndo atrás dele, mas pude ouvir Doc dizendo:

- Esses dois tem alguma coisa juntos...

 ***

- Dá pro senhor andar um pouco mais devagar? – lá estávamos nós, brigando de novo. Não importava a época: Lara Estrela e Marty Mcfly nunca se dariam bem.

- Dá pra senhorita calar a boca? – ele respondeu e eu mostrei a língua. É, toda a fofura da noite passada se converteu no antigo Mcfly. Só porque eu estava gostando!

- Ah, da um tempo Mc... Ai meu Deus.

Enquanto brigava com Marty, olhei para a praça da Torre e meus pés pararam de me obedecer. Minhas pernas ficaram bambas e meu rosto devia estar completamente branco, porque Mcfly me encarava assustado.

Mas não era para menos.

Do outro lado da rua, um casal passeava comendo pipoca. Ela usava um vestido amarelo e tinha a pele levemente bronzeada. Seus cabelos eram uma réplica do meu: longo, liso e castanho. A moça estava de mãos dadas com um menino de óculos (eu uso óculos) e de pele bem branca (exatamente igual a minha). Avistaram o fotógrafo e então pararam e pediram uma foto.

Sentaram-se no banco e fizeram a pose na mesma hora que eu tirei uma fotografia do bolso.

Era a mesma pose. As mesmas pessoas.

Aqueles dois eram meus pais.

Meu olhos corriam desesperados entre a foto e o banco, eu não podia acreditar. Tentei dar um passo, mas Mcfly foi mais rápido e me abraçou pelos ombros.

- Marty, me solta.

- Lara, você sabe que não pode falar com eles! Pode ser perigoso. Eles podem pirar na maionese ou até mesmo ter o futuro alterado!

Depois de muito discutirmos, decidi que não falaria com eles. Por enquanto.

- Ok, não vou falar com eles. Mas vou segui-los. Eu mereço isso. – Disse, me soltando de seu braço que ainda me segurava e atravessando a rua.

- Tudo bem, mas eu vou com você pra garantir que tudo dê certo. – Marty falou enquanto me seguia.

- Eu tenho direito de negar isso? – Perguntei, fazendo graça.

- Claro que não. – Marty sorriu de volta e por um momento eu esqueci de tudo: meus pais, máquina do tempo quebrada, Doc morto, raio no próximo sábado, o fato de estarmos em 1955... Tudo sumiu.

Maldito sorriso.

Maldito rosto.

Maldito Marty Mcfly.

*** 

Frio. Fome. Exaustão.

Nunca pensei que seria tão difícil perseguir meus pais.

Não que nós estivéssemos correndo feito loucos atrás deles. Esse que era o pior: desde que entraram em casa, o Sr e a Sra Estrela (eu ainda não sei o nome deles) não fizeram absolutamente nada!

E, como se minha situação não pudesse piorar, ainda tinha o Mcfly. Ele estava usando TRÊS blusas (tirando aquele estúpido colete salva-vidas dele) e eu só estava usando UMA. E foi assim que eu presenciei a morte do cavalheirismo: ele não me emprestou NENHUMA!

Quando eu estava prestes a bater nele, meus pais entraram na sala. Acho que iam jantar, pois minha mãe foi para a cozinha e meu pai foi ligar a TV. Logo após, ele foi atrás dela e...

Pera ai, ELE BEIJOU A BARRIGA DELA?

Ok, isso no meu mundo só tem um significado: minha mãe estava grávida. Até ai tudo bem, isso é meio óbvio que ela ficou grávida. Mas nessa época ela tinha uns 16 ou 17 anos! E o meu pai também! 

Ei, espera ai de novo: a casa não é nem do meu pai nem da minha mãe. A casa é dos dois! E o que é aquilo que minha mãe está tirando? Meu Deus, é uma aliança! Eles já eram casados nessa época!

Enquanto estava no meio de minhas descobertas, a anta do Marty me interrompeu:

- Ei, Lara, já está tarde. É melhor nós voltarmos, Doc deve estar preocupado.

- Mas...

- Sem mais. Amanhã nós voltamos. - Coitado, acha que eu nasci ontem.

- Voltamos nada. Não confio em você, Mcfly.

- Eu sei. Acho que isso não vale nada, mas eu prometo. E, como prova de que eu mudei, vou a pé com você e te emprestarei minha blusa. 

E o maldito o fez. A partir do momento em que ele colocou a jaqueta em meus ombros, minhas narinas foram agraciadas com aquele maravilhoso cheiro de perfume masculino. Eu não queria me livrar daquela pedaço de pano nunca mais. 

Andamos quietos pelo percurso inteiro, mas não pude deixar de notar que, sempre que alguém suspeito passava pela rua, Marty colocava sua mão em minha cintura de um jeito tão delicado que eu fingi que não percebi. Mas é claro que eu sonharia com isso essa noite.

Finalmente chegamos. Doc teve uma reação não muito discreta quando percebeu que eu usava a jaqueta de Marty, mas tentei ignorar isso.

- Por onde andaram o dia todo? - Doc perguntou.

- Enquanto andávamos na praça eu... - Comecei a explicar, porém Marty me cortou.

- Eu percebi que sempre fora apaixonado pela Lara. Nós nos beijamos, fomos ao cinema e caminhamos na praça. Foi o melhor dia da minha vida.

O QUE?

Olhei para Marty com minha melhor cara de "what the fuck dude" e ele me respondeu com um olhar de "entra na onda!". E foi o que eu fiz.

- Pois é Doc. Marty até me pediu em namoro! Disse que era doido por mim - Mcfly fez uma careta ao ouvir isso, e eu continuei - e que não conseguia mais viver sem meu amor! Bem, eu não era afim dele mas resolvi dar uma chance ao coitado. E acho que eu estou até que gostando dele agora...

Quando Marty ia me mandar ir a merda, Doc interrompeu.

- Ah, que felicidade! Dois pombinhos! Eu sempre soube que vocês dois iriam dar alguma coisa, é só ver o jeito que o Marty te olha, Lara!

Agora a porra ficou séria.

Marty ficou vermelho e abaixou a cabeça enquanto eu tentava consertar tudo com um sorriso amarelo. Porém, alheio a seres humanos normais, Doc nem percebeu e continuou:

- Se vocês quiserem, podem dividir o quarto. Não sou quadrado, sei que vocês estão doidinhos para... Vocês sabem... Chep chep, nhec nhec...

Doc no momento conversava com dois pimentões.

Eu era um misto de vergonha e vontade de rir. Marty então nem se fala. 

- Hã... Sei la, acho melhor não... - respondi pouco á vontade.

- Ótima ideia Doc! Muito obrigada! Vamos para o quarto agora, não é meu amor? 

Marty beijou minha bochecha e abraçou minha cintura. Ficamos assim até entrarmos no quarto. Doc havia dito para que nós dormíssemos em seu quarto, pois a cama era de casal e "muito resistente a movimentos pélvicos". Meu santo Deus, olha o ser que foi me adotar!

Soltei-me de deu abraço e Marty soltou um muchocho.

- Ah, achei que ia rolar um chep chep - Ele piscou com malícia e eu senti meu cérebro derreter.

- Só em sonho que eu vou perder a virgindade com você, Mcfly. - EU FALEI MESMO ISSO?

- VOCÊ É VIRGEM?

- Hã... Não... Foi modo de dizer e... - Boa Lara, agora não dá mais pra consertar a cagada!

- Sempre soube! Também, quem é que vai querer transar com você?

Ai. Essa doeu.

Doeu demais.

- Eu... Eu vou tomar banho, se você não se importa. - Disse com lágrimas nos olhos e entrei no banheiro sem esperar uma resposta.

Tomei meu banho chorando igual uma condenada. Quando sai do box pensei: "Lara, presta atenção, você está chorando por causa do ridículo do Mcfly! Esquece isso menina, levanta essa cabeça e manda ele ir a merda!"

Foi o que eu fiz. Coloquei uma camisa do Doc (a qual eu estava usando como pijama) e sai do banheiro. Marty estava deitado na cama olhando para o teto com cara de quem está fazendo uma prova de matemática.

- Sai. A cama é minha.

- Que tal dividir e... - Nem deixei ele terminar a cantada.

- Não. Afinal de contas "ninguém transaria comigo". Não vou te obrigar a isso, Mcfly. E outra: essa ideia estúpida de "casal" foi sua. Então o senhor que durma no chão.

- O que você preferia? Contar ao Doc que estamos seguindo seus pais? Ele ia pirar, igual quando você contou que era filha adotiva dele! Fiz isso pra te ajudar e ainda levo patada.

- Agradeço por isso, mas o que você me disse agora pouco machucou. Mesmo sendo verdade, machucou pra caramba. Licença, vou beber água. - Disse saindo do quarto sem olhar para trás.

- Ei, Lara! - Ele gritou e eu (retardada) olhei dentro daqueles olhos azuis. - Me perdoa. Eu fiz aquilo pra tentar ter alguma vantagem sobre você, mas a verdade é que... Eu também sou virgem. Ninguém sabe disso.

- E o que te leva a crer que eu não vou espalhar isso para a escola inteira, como uma forma de vingança?

- Você tem bom coração e caráter. Sei que não faria isso. - E então, Marty deu aquele sorriso de lado que me faz morrer do coração e ressuscitar só para vê-lo novamente.

- Espero que quando eu voltar você não esteja na minha cama, Mcfly. Eu te jogo no chão se isso acontecer, e você sabe muito bem disso. - Sorri de volta antes de fechar a porta do quarto. Tudo voltou ao normal.



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