Still Doll escrita por Miss Kwon


Capítulo 1
You still do not answer...


Notas iniciais do capítulo

Fiquei até quatro da manhã escrevendo essa coisa, por isso saiu ~tão~ ruim (geralmente só sai ruim mesmo), os trechos em itálico são da música Still Doll, da Kanon Wakeshima (acho que é isso G_G) e eu me baseei bastante num curta-metragem chamado Alma.



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 O sereno caía lentamente nas ruas vazias. Já era quase madrugada e o frio absurdo maltratava o corpo mal protegido. Os trajes finos e maltrapilhos não eram capazes de manter a criança aquecida, portanto, ela andava encolhida e tremendo. Os olhos estavam cerrados para poder tentar enxergar aquilo que estava a um palmo de distância, já que névoa atrapalhava bastante. A menina colocava o cabelo cor de cobre na frente do rosto como forma de proteção contra o vento gélido que a chicoteava e as mãos escondidas na cola da jaqueta, podia manter-se razoávelmente quente dessa maneira.

 Ela provavelmente continuaria assim até achar um lugar quente para passar a noite, do contrário, teria de aguentar a nevasca que estava vindo. Distraída e provocando atrito nos braços com as mãos, avistou uma pequena loja entre dois prédios antigos. Havia uma única luminária funcionando na rua e esta parecia que também se apagaria logo e mergulharia toda a rua numa escuridão densa. Porém, ali estava o pequeno estabelecimento, fechado, iluminado e, provavelmente, quente. Ela não pensou duas vezes antes de sair correndo pela calçada para parar em frente ao lugar. A correria repentina lhe espalhara um leve calor aconchegante pelo corpo e ela suspirou exausta. Não descansava direito ou comia bem há dias.

 Em frente ao local, ela reparou em dezenas de borboletas azuis no chão. Todas imaculadas e perfeitamente imóveis. As asas eram desde um turquesa puro até um azul-petróleo e eram detalhadas por linhas que formavam um padrão complexo demais para as asas de simples borboletas. Ela se permitiu um leve sorriso e tocou uma com a ponta do dedo e, então, gritou e pulou para trás assim que a pequena se deformou e se destruiu - terminando em cinzas.

 Assustada, ela se afastou, mas ao ver uma certa boneca na vitrine, voltou a se aproximar. Fascinada, se prensou no vidro, afim de ver mais detalhes do brinquedo. Definitivamente, era ela. As roupas eram limpas, sofisticadas e, aparentemente, novas. Os olhos que deveriam ter um tom cristalino eram de um azul cobalto, porém tinham o mesmo brilho astuto da menina e eram delineados graciosamente por uma linha magenta. O cabelo, mesmo tão quebrado e sem tratamento como o dela, parecia muito mais bonito naquele tom também azul. Fora isso, não havia diferença. As feições, os traços, as sobrancelhas, os lábios, o nariz, tudo era idêntico. E por isso decidiu que aquela boneca deveria ser dela.

 Correu até a porta e com um chute, conseguiu destrancar. Um bufada de ar quente com aroma de café fresco lhe atingiu e ela se deliciou antes de entrar. O interior parecia uma réplica de algum conto de fadas macabro e tinha inúmeras estantes cheias de bonecas nas prateleiras. A boneca-ela estava mais longe do que parecia na vitrine e a garota não tinha ideia de como chegar lá, até que viu alguns banquinhos espalhados e os empilhou, subindo em seguida. Agora estava frente a frente com o ser e bastava esticar o braço para apanhá-la. E foi isto que ela fez.

 Em seguida, aconteceu muito rápido. Houve um clarão e um baque alto, denunciando a queda dos bancos, tudo ficou branco. Ela abriu os olhos com calma, buscando compreender a situação, mas suas pálpebras já abertas não se moviam. Girou os olhos e viu seu corpo embaixo de si, caído e desacordado com a boca sangrando e um arranhão pela queda, mas ela não estava ali. E nem perto. Estava a algumas prateleiras abaixo. E, pelo reflexo no vidro da vitrine, ela pode entender. Presa. Imortalizada na boneca.

  Um grito desesperado morreu em sua garganta, os membros estavam completamente imobilizados, as lágrimas secavam antes de chegar aos olhos e ela não podia fazer nada. A boneca e ela eram apenas uma agora e não havia nada para fazer para mudar isso. O pânico mergulhou seu ser e a fez lutar inutilmente.

 Um homem alto no qual ela não reparara, de pele ligeiramente azulada e boca costurada veio até ela, saindo das sombras do fundo da loja e largando pela metade a confecção da próxima boneca. Ele sorriu, o que somado com as linhas pretas mantendo seus lábios juntos e as cicatrizes espalhadas pelo rosto, deu um efeito completamente sinistro. Pegou a menina-boneca delicadamente e escreveu algo rapidamente no pescoço desta, escondendo logo em seguida com a gola alta do vestido. Ela não viu, mas imediatamente soube que ele escrevera seu nome.

 Seus olhos brilharam implorando por ajuda, mas ele apenas balançou a cabeça negativamente e pegou um outro brinquedo, com expressão ainda mais humana e parecida com um garoto que ela vira dias atrás. Colocou o objeto na vitrine e se afastou, esperando pela criança vir.

 Sua cabeça começou a doer, uma gritaria de vozes guturais ecoou em sua mente e ela prontamente desistiu de tudo, se entregando à escuridão dentro da mente do brinquedo no qual fora presa.

Em seu olho de vidro, que tipo de sonho, Você está vendo? Você já esteve em transe?

Logo seus lábios estavam na mesma situação. Pedir ajuda se tornara impossível.

Mais uma vez, eu transformo minhas palavras.

Tornou-se fria a canção para o amor que não pode ser cantada.

A eternidade desacordada não parecia um opção tão ruim agora, era melhor estar tecnicamente morta do que ser uma boneca viva sem poder fazer nada. O silêncio era quase doloroso.

Ainda assim, você não responde.

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 E a boneca já não tinha mais vida.


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