Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 4
Poder


Notas iniciais do capítulo

Então pessoas que estão acompanhando a história, finalmente postei o terceiro capítulo. Desculpem pela demora e espero que gostem.
P.S.: Reviews me fazem feliz.



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    Tudo acontece tão rápido que fico sem saber o que fazer. Aparentemente os enormes lobos de sexta-feira resolveram nos fazer uma visita, de novo.

    Eles estão em grande número, o que me deixa cada vez mais desesperada. Talvez cerca de trinta lobos. Todos enormes e com dentes e garras para lá de afiados. Noto que suas cores são diferentes e apesar de assustadores, me deixam encantada, mais uma vez me questionando sobre o fato de criaturas sobrenaturais existirem.

    Sinto-me extremamente inútil e extremamente espantada quando um dos lobos passa por mim e ataca Luke, que está bem ao meu lado. Ele pula de forma incrível e consegue correr até a pequena sala ao lado da cozinha. Logo volta com uma espada, muito maior do que a adaga que usou outro dia e começa a lutar.

    Nina está ao meu lado, também lutando contra os enormes lobos que nos atacam. Ela está com um arco e com uma aljava de flechas, que eu não sei de onde surgiram e faz uma coisa surpreendente: Coloca fogo nas flechas, com apenas um movimento de sua mão.

    Sinto o chão tremer fortemente e caio ao chão, numa tentativa frustrada de fugir. Já disse o quanto me sinto inútil?

    Olho para o lado e percebo que é Jeremy. Ele está com os olhos fechados, agachado e com as duas mãos espalmadas ao chão. Está concentrado, como se ele estivesse causando aquele pequeno terremoto que assusta aos lobos. E a mim.

    Confusa, rastejo até um aparador, tentando esquivar-me das chamas e me escondo atrás dele.

    Estava realmente duvidando sobre Luke, Jeremy e Nina serem feiticeiros, mas vendo tudo o que fazem, começo a acreditar. O que eu precisava mesmo era de ver para crer.

    Sou acordada de meus pensamentos por um lobo que descobre meu esconderijo, que é péssimo por sinal. Tento correr, mas é inútil, já que ele morde minha jaqueta e começa a me arrastar. Luto, debilmente e grito por ajuda, mas quando percebo já estou fora da casa, longe de Nina, Luke e Jeremy.

    Sinto minhas mãos e rosto arderem, por estar sendo rastejada. Estou assustada, muito assustada e cansada também. Minha visão fica turva e eu desisto de lutar, de repente. Mas quando estou prestes a desmaiar e sinto que é o fim, acontece.

    Minha mão é repousada em cima de uma poça d’água e é como se todas as minhas forças voltassem. Como se eu pudesse levantar agora mesmo e dar um chute no traseiro desse maldito lobo.

    O golpeio com um chute certeiro no estômago e ele geme de dor, me soltando. Levanto-me e fico aterrorizada com os milhares de lobos já rosnando ao meu redor. Percebo que estou na ruazinha da casa de Nina e sem saber o que fazer, volto a tocar a poça de água. Os lobos já estão se preparando para me atacar quando coloco a mão involuntariamente em minha frente, como uma débil defesa. Fecho os olhos e espero pela dor.

    Ela demora. E então quando eu abro os olhos, vejo os lobos correndo para longe. Para bem longe.

    Sinto minha mão estendida formigar e sinto também que está molhada. É estranho, mas sinto como se estivesse mais forte do que nunca.

    É aí que percebo o grande e sinistro jato de água saindo diretamente da minha mão.

                                                                                                                            ***

    Estou sentada, ainda no banheiro da casinha que fora semi incendiada pelas flechas de Nina. No final, eu e o meu jato mágico de água é que apagamos o fogo.

    Descobri que a casa não é de Nina, claro. É apenas uma casinha abandonada qualquer, em que os três estavam vivendo enquanto me espionavam. Só não sabia mesmo o porquê de me espionarem.

    – Acredita agora? – Nina pergunta limpando os machucados em meu rosto.

    – Sim. – Respondo um tanto trêmula. – Como eu fiz aquilo?

    Ela dá uma risadinha delicada, fazendo-me corar pela pergunta. Era mesmo tão estúpida assim?

    – Eu também não sei te explicar como fez aquilo, você simplesmente fez. Devia mesmo era ter visto a cara de Luke quando viu o que você estava fazendo.

    Luke. Não parece o mesmo que conheci sexta-feira à noite, sinceramente. Parece uma pessoa mais fria e rude. Não é mais o mesmo que me ajudou a acabar com a cara de Stacey Richards e que ainda ficou fazendo piadinha da minha cara. É completamente outra pessoa. Não que eu me importe, claro.

    – Deve ter ficado bem surpreso, para uma pessoa que não espera nada de mim. – Digo, com uma certa raiva.

    – Na verdade, ele ficou. – Ela diz dando outra risadinha. – Mas não que ele não espere nada de você.

    – Acho que ele não gosta muito de mim, quer dizer... Ele é sempre tão rude.

    Ela não me responde, então olho para trás para me certificar de que não disse algo errado. Na verdade acho que disse, pois Nina para de arrumar o banheiro sujo pelo meu sangue para encarar o chão. Depois olha para mim, com preocupação em seus olhos.

    – Não é isso o que você está pensando. Luke é uma pessoa muito boa, é só que... Ele vem enfrentando muitos problemas. Está sobre uma pressão tão grande que você não pode nem imaginar. Mas o perdoe pelas grosserias, é só o estresse.

    Com o que Nina diz me sinto um pouco culpada por julgá-lo. Mas fico com uma ponta de dúvida: Qual é o peso que Luke carrega? Por que se sente tão pressionado como Nina diz? Quero perguntar, mas não quero parecer intrometida. Então apenas digo:

    – Entendo.

    A verdade é que não estou entendendo nada, mas tudo bem.

    Respiro fundo e espero por Nina. Depois saímos e vamos juntas até a sala.

    Jeremy e Luke estão jogando uma emocionante partida de xadrez, mas param quando chegamos.

    – Estamos pensando no porquê de os lobisomens estarem tão invocados com a gente. – Jeremy diz.

    Nina dá de ombros, como se não fosse importante.

    – Qual é? São lobisomens. – Fecha o assunto.

    Luke levanta sua cabeça e olha em meus olhos, curioso. Ele não diz nada, então baixo minha cabeça, tentando esconder o tom avermelhado de minhas bochechas.

    – Você está bem? – Ele pergunta como se tivesse adivinhado minha conversa e de Nina no banheiro.

    – Sim. – Respondo torcendo para que não tenha escutado nada do que havíamos dito.

    Acho que é mais uma coincidência, ou meus machucados do rosto devem estar extremamente feios para ele perguntar algo assim.

    – Acho que é melhor você contar à ela. – Jeremy diz a Luke, meio preocupado.

    – Também acho. – Luke concorda, fazendo-me respirar fundo de ansiedade. Finalmente vão começar a me explicar alguma coisa.

                                                                                                                    ***

    – Como eu estava dizendo, existem feiticeiros brancos e negros. Eles simplesmente se odeiam. Há dezesseis anos, o mundo estava em guerra. Uma guerra sem fim, onde feiticeiros disputavam pelo poder. – Luke começa a me explicar novamente, mas eu o interrompo.

    – Por que se odeiam?

    Nina é quem responde minha pergunta.

    – É meio que da nossa natureza, ou mais um ódio passado de pai para filho, se é que me entende. Quase todos os feiticeiros negros odeiam os brancos e vice e versa. É assim porque é, porque sempre foi. E esse ódio é passado de geração à geração.

    – Esse ódio sustentou muitas brigas entre os feiticeiros e isso podia nos expor aos humanos e é claro, nos enfraquecia muito. Quero dizer, feiticeiros são os seres mais poderosos do universo, mais do que lobisomens, vampiros, fadas, e tudo mais, mas a briga entre nossas raças estavam fazendo nosso poder cair cada vez mais. – Luke volta a falar olhando em meus olhos, o que me deixa meio sem graça. – Então para resolver esse problema, decidiram unir feiticeiros brancos e negros como um só grupo.

    É tudo meio louco e complicado, parece mais coisa de filme. Mas consigo entender o que Luke diz e de repente, me pego interessada na história.

    – E como pretendiam fazer isso?

    – É aí que entra Blake Darkbloom. – Jeremy diz, dando um sorrisinho. – Os feiticeiros negros e brancos têm dois líderes, os reis e rainhas. Eles lideram e cuidam das nossas leis de sobrevivência, para que não sejamos expostos aos humanos. Blake Darkbloom era a rainha dos feiticeiros negros e esposa de Therion Darkbloom. Eles tiveram uma filha, uma filha que amavam mais do que qualquer coisa.

    – E o principal acordo de paz entre os feiticeiros seria o casamento entre a filha dos Darkbloom com o filho dos Lightlair, os reis feiticeiros brancos. Quando completassem dezoito anos, claro. – Nina interrompe Jeremy, que faz uma careta. – Assim os dois “reinos”, vamos assim dizer, seriam um só, uma espécie fortalecida de feiticeiros. Nenhuma outra criatura seria uma ameaça para nós.

    – Mas tem um pequeno problema... Blake Darkbloom desapareceu com sua filha poucos dias depois que a menina nasceu. Alguns dizem que ela não suportava a ideia de ter sua filha casada com um feiticeiro branco, outros dizem que era louca mesmo. – Jeremy explica.

    – Depois que Blake fugiu com a filha, os feiticeiros brancos se irritaram, mas mantiveram a proposta: O casamento entre Leo Lightlair e a filha dos Darkbloom deveria acontecer. Caso o contrário, todos os acordos de paz seriam dissolvidos. Os feiticeiros brancos também prometeram que se não houvesse nenhum casamento, os feiticeiros negros pagariam caro. O que significa que as guerras voltariam, só que piores. – Luke diz, brincando com os dedos.

    Entendo bem o que querem dizer, só não consigo entender a parte em que três jovens são escolhidos para encontrar a filha perdida dos Darkbloom. Tenho a impressão de que estão prestes a chegar nesta parte.

    – Você deve ter percebido que sobrou para os feiticeiros negros. Quer dizer, os brancos deixaram bem claro: “Ou vocês encontram a garota e o casamento acontece ou já eram.” – Nina fala, andando de um lado para o outro naquela pequena sala.

    Concordo com a cabeça, sem hesitar, e acontece algo estranho. Nina, Jeremy e Luke se entreolham cuidadosamente, como se estivessem escolhendo quem iria contar a próxima parte. Luke se habilita para tal tarefa.

    – Cada feiticeira nobre tem um escudeiro. Os escudeiros representam-nas em guerras e cabe também aos escudeiros protegê-las a qualquer custo. Mesmo que isso signifique que tenham que morrer para protegê-las. A vida de um escudeiro é proteger sua feiticeira, isso acima de qualquer coisa. – Ele para de falar um pouco e olha para o chão. – Quando a feiticeira se casa o escudeiro finalmente é livre para poder viver sua vida.

    O interrompo, indignada.

    – O quê? Que coisa mais... Antiga! Isso é ridículo. Vocês são feiticeiros, isso não quer dizer que tenham que viver como na Idade Média. As jovens feiticeiras nobres são iguais a quaisquer outras, penso eu. Elas podem se defender sem precisar da ajuda de um cara. Isso é tão machista! – Cruzo os braços, revirando os olhos.

    Nina e Jeremy dão uma risadinha, mas Luke continua sério.

    – Particularmente, eu concordo. – Nina diz. – Mas não tem o que fazer. As leis são assim e têm de ser seguidas, não é?

    Um silêncio absurdo enche a sala e eu me arrependo por ter interrompido Luke. Sim, estou curiosa e ele não continua.

    – Concordo com você também, Emily. – Ele diz. – Se não fosse por causa da existência de escudeiros, eu estaria livre de tanta coisa... Meu pai foi escudeiro de Blake Darkbloom, até que ela se casasse. Eles eram muito amigos, tanto, que meu pai chegou a se apaixonar por ela. Mas não podiam ficar juntos, mesmo porque Blake não gostava dele da mesma forma. Então ele encontrou a minha mãe e eu nasci quatro anos antes da filha dos Darkbloom. Como meu pai era de muita confiança, Therion Darkbloom pediu para que o cargo de escudeiro de sua filha fosse meu.

    Arregalo meus olhos com a informação. Não me passava pela cabeça que Luke era o escudeiro da garota perdida. O que fazia dele... Responsável por encontrá-la.

    – Então você é responsável por encontrar a princesa feiticeira negra perdida?

    Ele fecha os olhos e percebo como está cansado e tenso. Sinto um pouco de pena, para falar a verdade.

    – Sim. Faço isso desde os treze anos de idade. Nina, minha amiga desde pequena e Jeremy, meu primo, resolveram me ajudar com a busca há dois anos, que foi quando terminaram o seu treinamento.

    – Treinamento?

    – Sim, somos treinados dos cinco aos quatorze anos de idade. Claro, para sabermos lutar e usar nossos poderes da melhor maneira possível. – Nina responde. – Luke teve seu treinamento um pouco adiantado, para que já fosse um feiticeiro apto aos treze anos. E desde então ele está à procura da “garota perdida”. Já são sete anos de busca.

    Faço as contas e chego à conclusão de que Luke tem vinte anos. Nina e Jeremy têm dezesseis, assim como eu. Assim como eu e a “garota perdida”.

    – Até pouco tempo não tinha nem sinal da garota. Não sabia nem por onde começar a procurar. Na verdade, sabia sim. Quando comecei a busca, meu pai disse que Blake gostava muito de vir a New York e que tinha até um amigo humano. Fui atrás desse amigo, e ele tinha uma filha que chamou muito à minha atenção. Principalmente por ela ser uma feiticeira branca.

    O encaro surpresa por ele estar falando de mim. Então Luke já me conhecia, é isso mesmo?

    – Você já me conhecia?

    – Sim. Observei-a por um longo tempo durante seus dez anos de idade, mas parecia inofensiva então passei a procurar por outros lugares em que Blake Darkbloom costumava ir. Nada encontrei em quatro anos, então resolvi voltar para ver como você estava. Se tinha algum tipo de contato com Blake Darkbloom, quero dizer. Fiquei amigo do seu irmão, no intuito de conhecê-la, mas ele facilitou demais mandando-a no lugar dele naquela festa. Desconfiei que você pudesse saber da “garota perdida” ou até mesmo...

    – Não está insinuando que eu possa ser a “garota perdida”, está?

    Nina, Jeremy e Luke se entreolham, coisa que eu realmente passei a odiar.

    – Até poderia ser, mas você é uma feiticeira branca. Procuramos uma feiticeira negra, penso eu. – Luke responde. – Mas acho que você tem algum tipo de ligação com Blake Darkbloom, quer dizer, seu pai era um grande amigo dela.

    – Acha que meu pai possa ter ajudado Blake e ter me adotado para confundir aqueles que viessem procurar pela “garota perdida”?

    – Algo assim. – Luke diz, colocando o dedo em seus lábios. – Temos que interrogá-lo. O que acha disso?

    Dou uma risada súbita. Meu pai? Interrogá-lo? Como se ele tivesse tempo para alguma coisa assim.

    – Não acho que vão conseguir fazer isso. Meu pai é o cara mais ocupado da face da Terra, acreditem.

    O silêncio novamente. Deito o resto do meu corpo naquele pequeno sofá, já que Luke não está mais sentado. Mas me levanto com sua chegada repentina. Fico sentada e ele continua em minha frente, sério.

    – Me ajude, por favor, Emily. Tudo o que mais quero encontrar é a “garota perdida” e tirar esse peso das minhas costas. Todos dependem de mim, e estou falhando. Depois disso, posso ajudar você a encontrar seus verdadeiros pais. Eu prometo ajudá-la, se me ajudar.

    Luke está mesmo implorando pela minha ajuda? Olho para ele confusa. Como poderia rejeitar algo assim? Além de estar fazendo uma baita chantagem sentimental, ele está prometendo ajudar-me descobrir sobre o meu passado.

    – Sei que somos feiticeiros opostos, você branca e eu negro... Mas eu realmente preciso da sua ajuda. Só tenho mais dois anos até que a “garota perdida” complete dezoito.

    Levanto-me do sofá, decidida.

    – Não são as nossas diferenças que vão fazer com que eu não te ajude. Pode contar comigo. – Digo.

    Ele arregala os olhos, sobressaltado. Nina já está saltitando e Jeremy comemorando, e por isso tenho que segurar uma risada.

    Estendo a mão, esperando por um aperto formal, como fazem aqueles empresários depois de fecharem um grande negócio. Mas ele não me cumprimenta, aliás, faz algo que me surpreende ainda mais.

    Abraça-me, me fazendo corar e sussurra.

    – Muito obrigado!


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