El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 8
O mal entendido




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Capítulo 8

 

O mal entendido

 

1 ano depois

 

- Será que eu posso entrar?- perguntou Bryan cuidadosamente fitando o cenho franzido de Mia.

- Cinco anos, Bryan e você aparece à minha porta esperando que eu o deixe entrar.

- Eu preciso muito falar com você.- insistiu ele.

              Mia o observou. Ele estava ainda mais bonito do que ela se lembrava, principalmente vestido de maneira tão impecável. Paletó e gravata azul-marinho.

- Eu estou atrasada para o trabalho.- disse ela. O que não deixava de ser verdade, embora Mia estivesse usando isso como desculpa para evitar uma conversa com ele.

- È sobre a Letty.- Bryan apelou quando percebeu que Mia não o deixaria entrar.

              Ela sentiu um aperto instantâneo no coração ao ouvir Bryan pronunciar o nome de Letty. Não tinha notícias dela desde que se despediram no hospital há um ano atrás e de repente Dom estava voltando para LA porque queria encontrá-la e Bryan aparecia diante de sua porta dizendo que queria falar sobre Letty. Não podia ser coincidência.

- Entre!- ela disse finalmente dando espaço para que ele passasse.

             Ao adentrar a sala de estar da casa de Mia, Bryan não conseguiu não lembrar sobre os ótimos momentos que passara naquela casa há cinco anos atrás, quando a equipe de Dominic Toretto ainda estava completa. Dom, Mia, Letty, Leon, o irritante Vince e o cientista louco dos carros, mais conhecido como Jesse. Quando foi que esses momentos preciosos começaram a se perder no tempo? Bryan pensou consigo.

            Educada como sempre, Mia indicou a ele o sofá para que se sentasse e lhe ofereceu algo para beber. Bryan aceitou um copo de água. Ia precisar para o que estava prestes a dizer.

            Mia foi até a cozinha, trouxe o copo de água em uma pequena bandeja de prata e sentou-se no sofá ao lado dele antes de perguntar:

- O que tem a me dizer sobre Letty?

            Bryan engoliu um pouco de água e pigarreou.

- Não sei nem por onde começar...

- Que tal pelo começo?- disse Mia, ficando impaciente.

            Ele cruzou os dedos de ambas as mãos uns nos outros e começou a falar:

- Há cerca de um ano atrás, Letty esteve em Los Angeles.

             Mia sabia disso, era óbvio, mas preferiu continuar escutando o que ele tinha a dizer. Algo lhe dizia que ela não ia gostar do rumo daquela conversa.

- Ela me procurou no FBI.- continuou Bryan. – Não sei se sabe mas tem uns três anos que fui reintegrado à polícia federal.- Mia continuou em silêncio, escutando. – Letty me procurou porque queria que eu a ajudasse a limpar a ficha do Dom.

            Mia ergueu uma sobrancelha, parecendo muito surpresa.

- Eu estava com um caso muito difícil nas mãos. Um traficante de drogas escorregadio chamado Arturo Braga. Eu tinha um plano para me infiltrar na organização dele, mas meu superior nem sequer cogitou a possibilidade de eu me envolver pessoalmente nisso, então, eu perguntei a Letty se ela faria isso.

- Você o quê?- a voz de Mia já pareceu um pouco alterada aos ouvidos de Bryan. Isso acontecia quando ela ficava nervosa, disso ele se lembrava.

- Braga estava sempre precisando de pilotos para entregar sua mercadoria em Tecate, no México e eu perguntei a Letty se ela se infiltraria entre esses pilotos.

              Mia balançou a cabeça negativamente, começando a compreender o que Letty quisera dizer no hospital há um ano atrás sobre ter se envolvido com os caras errados.

- A Letty aceitou e conseguiu se infiltrar na organização. Mas algo aconteceu. Algo que não tomei conhecimento até o dia de hoje.

- Como assim?- Mia indagou com preocupação.

- A última vez em que falei com ela foi pelo telefone. Ela ligou pra mim de seu celular dizendo que estava desistindo da missão e que ia precisar sair de LA. Tentei encontrá-la, mas não consegui.

- E o que quis dizer com algo que você só tomou conhecimento hoje?

- Eu dei à Letty um Playmouth 1970 para que ela pudesse usar enquanto estivesse na missão.- explicou Bryan. Os gestos dele começaram a parecer mais nervosos. – Esta madrugada a polícia tirou o carro dela do fundo do rio...

            Os olhos de Mia se alargaram.

- E um corpo foi retirado de dentro do pântano, não muito longe de onde o carro foi encontrado. Tudo indica que esse corpo...

            Agora os lábios de Mia tremiam e os olhos lagrimavam.

- Sinto muito pelo que eu vim aqui pedir, Mia. Mas preciso que você faça o reconhecimento do corpo.

            Bryan não estava preparado pela reação que veio a seguir. Mia ergueu-se do sofá e desferiu vários tapas contra ele.

- Maldito! Desgraçado! Você nunca deveria tê-la envolvido nisso!

- Letty, eu sinto muito, ela só queria ajudar o Dom...

- E você precisava de alguém pra sua maldita missão. Seu filho da puta!

- Mia!- Bryan segurou os pulsos dela tentando fazer com que ela se acalmasse até que Mia parou de atacá-lo e voltou a sentar-se no sofá, desolada.

           Ele tomou a liberdade de ir até a cozinha pegar um copo de água para ela.

- Mia, eu queria não ter que trazer essa notícia pra você...me perdoe...

           Mia engoliu a água de um gole só, as lágrimas continuavam escorrendo por seu rosto. Então tinha sido por isso que Letty desaparecera e não dera nenhuma notícia sobre ela ou sobre o bebê. Teria sido assassinada naquele mesmo dia quando estava deixando Los Angeles?

- Onde está o corpo?- ela quis saber.

- Foi levado para o Instituto Médico Legal. Eu posso levá-la até lá.

- Então vamos agora!- disse ela resoluta devolvendo o copo vazio para ele e enxugando as lágrimas com as costas das mãos.

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          Lar doce lar. Pensou Letty ao desembarcar no aeroporto internacional de Los Angeles depois de uma longa viagem que começara no ônibus que partira da cidadezinha onde estava vivendo a um ano na República Dominicana. Depois da viagem de ônibus ela conseguiu um lugar confortável em um vôo para LA na classe econômica junto com Caterina.

- Estamos em casa, Nina.- disse Letty, feliz por ver Los Angeles novamente. Precisava decidir para onde iria. Resolveu fazer isso enquanto levava Nina ao banheiro do aeroporto para trocar a fralda dela.

           Entrou no banheiro arrastando em uma das mãos a mala de rodinhas com roupas novas que tinha comprado em Santo Domingo, a mochila com as coisas de Caterina nas costas e na outra mão a cadeirinha que transportava sua filha.

          Estavam sozinhas no banheiro e Letty começou a conversar com a filha.

- Mama está tão cansada, Nina. Estou aqui pensando para onde iremos. Não podemos ir para a casa da tia Mia. Duvido que aqueles homens tenham me esquecido.

          Ela sorriu para o bebê que sacudiu as mãozinhas e pernas, sorrindo alegre para a mãe, um sorriso sem dentes.

- È, você é forte como a mamãe não é? Nós vamos sair dessa, vamos sim...meu bebê...

          Letty soltou Caterina da cadeirinha e estendendo uma manta sobre a pia do banheiro, ela pousou a menina nela e retirou-lhe a fralda descartável, jogando-a no lixo em seguida. Enquanto ela limpava a filha e a preparava para colocar-lhe uma fralda limpa, uma mulher entrou no banheiro e sorriu para ela.

- Olá!- disse a mulher.

- Oi.- disse Letty, ocupada em fixar os adesivos da fralda limpa no bebê.

- Ela é uma gracinha!- derreteu-se a mulher tocando o rostinho de Nina com a ponta do dedo. Letty não gostou daquilo. Na gostava que estranhos tocassem sua filha.

- Por favor, poderia não tocá-la?- pediu num tom educado, porém muito sério.

- Ah,m tudo bem.- disse a mulher se desculpando. – Mas ela é mesmo muito linda.

         Letty sorriu falsamente e começou a desmontar a cadeirinha de Caterina pois pretendia prendê-la em seu corpo com o bebê-canguru que também tinha comprado em Santo Domingo.

- Ela tem os olhos do pai.- comentou a mulher de repente fazendo o coração de Letty falhar uma batida.

         Ela apressou-se em enfiar a cadeira desmontada dentro da mochila e pegou a filha de cima da pia, apertando-a junto ao seio como se temesse que ela fosse raptada de repente.

- Quem é você?- ela perguntou desconfiada e a mulher apenas sorriu, dizendo:

- Se eu fosse você, tomava cuidado com sua filha.

         Letty estava a ponto de chutar a mulher para obter informações mas nesse momento um grupo de adolescentes barulhentas adentrou o banheiro na maior algazarra e a mulher sumiu como num passe de mágica.

        Assustada, Letty tirou o bebê canguru de dentro da mala, amarrou Nina contra seu peito e colocando a mochila nas costas ela deixou o banheiro do aeroporto, olhando para todos os lados, com medo de estar sendo seguida.

        Precisava sair dali imediatamente e só havia um lugar para onde ela poderia ir e ficar em segurança.

- Táxi!- ela chamou correndo para a calçada arrastando sua pesada mala consigo, com a filha pendurada em seu corpo.

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       Não importava o quão luxuoso fosse o prédio do Instituto Médico Legal de Los Angeles, o lugar cheirava a angústia e morte, Mia concluiu quando Bryan a levou pelos corredores em direção à sala de reconhecimento de corpos.

       Um agente baixo, de olhar irritante e terno preto cafona estava à porta da sala e lançou um olhar debochado à Bryan quando o viu se aproximar com Mia.

- Stasiak, esta é a Srta. Toretto. Ela veio fazer o reconhecimento do corpo de Letícia Ortiz.

        O homem assentiu e apesar de sua óbvia animosidade para com Bryan, ele tratou Mia com deferência quando a conduziu para dentro da sala. Bryan quis ir com eles, mas o agente o impediu.

- Não será necessária sua presença, O’Connor. A não ser que a Srta. Toretto faça questão.

- Não faço questão.- Mia respondeu de imediato e Bryan ficou do lado de fora.

         Stasiak levou Mia até uma janela de vidro que estava com as persianas do outro lado, fechadas.

- Está pronta?- ele indagou. Mia assentiu.

         Acionando um botão em uma pequena tela de computador, Stasiak disse:

- Pode erguer as persianas!

         Mia deixou escapar um soluço de desconforto quando viu o corpo sem vida e em estado avançado de putrefação em cima de uma mesa. O agente do outro lado tinha levantado apenas a parte de cima do lençol que cobria o corpo. Sim, havia uma semelhança muito grande entre aquele cadáver e Letty. Mas isso não significava que fosse ela. Mia não queria acreditar nisso.

- Posso mandar abaixar o lençol?- indagou Stasiak.

- Por favor.- pediu Mia contendo um novo acesso de choro.

        Ela foi direto encontrar Bryan do outro lado da porta e se atirou nos braços dele quando o viu. Bryan a abraçou com força e acariciou-lhe os cabelos escuros e muito lisos.

- È ela?- perguntou baixinho no ouvido de Mia que balançou a cabeça negativamente, demonstrando sua confusão.

- Parece ela, Bryan...mas não posso acreditar nisso!

        Stasiak foi ao encontro deles e Mia enxugou as lágrimas, criando coragem para perguntar:

- Há quanto tempo ela está morta?

- Duas, três semanas no máximo.- respondeu Stasiak. – Tentamos descobrir a identidade dela pelas impressões digitais, mas o estado do corpo atrapalhou o processo.

- Como ela morreu?

- Mia, você não precisa saber disso!

- Bryan, eu preciso sim!

- Ela foi assassinada.- Bryan respondeu. – Provavelmente já estava morta quando a jogaram no rio.

       Então Letty estava em Los Angeles há duas ou três semanas? Por que não a tinha procurado? E o bebê? Onde estaria?

- Mesmo se a senhorita identificar positivamente o corpo, nós gostaríamos que uma autópsia fosse autorizada. Precisamos ter 100 porcento de confirmação da identidade dela, assim como da causa mortis.

- Stasiak, vamos deixar isso para depois!- disse Bryan, preocupado com Mia.

- Bryan, nós estamos com esse caso nas mãos há muito tempo, precisamos de respostas...

- Você é um filho da puta insensível... – Bryan começou a dizer, mas foi interrompido por Mia.

- Você disse autópsia?

- Sim.- repetiu o agente. – Uma autópsia nos daria muitas respostas.

      Mia mordeu o lábio inferior e Bryan soube que ela diria algo muito importante.

- Meu Deus! Por que não pensei nisso antes?

- Não pensou nisso o quê?- perguntou Bryan.

- Pode não ser ela, Bryan.

- Mia, o carro era o dela e eu te contei que ela estava envolvida...

- Agente Stasiak, uma autópsia poderia dizer se ela deu à luz?

- Como é que é?- retrucou Bryan.

      Stasiak meneou a cabeça em afirmativo.

- Sim, com toda a certeza.

- Então pode não ser ela, Bryan!- insistiu Mia. – Letty estava grávida!

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               O som dentro da oficina era barulhento, mas Vince só conseguia trabalhar desse jeito. Ele estava animado porque tinha conseguido comprar no Harry’s um carburador novo de última geração para dar um grau em seu carro. Em dois dias haveria um racha em Hollywood e ele estava louco para ver as caras de Hector e Edwin babando em cima do carburador novo dele.

- Ô Vince!- chamou um de seus colegas da oficina. Um sujeito calado, mas que entendia muito de carros. Seu nome era Tyler.

- Que que foi, Tyler? Não está vendo que estou ocupado?

               Tyler abaixou o volume de uma das caixas de som que estava sobre um apoio de madeira no canto da oficina, o que enfureceu Vince.

- Porra, Tyler! Eu já te disse que não pode abaixar o som quando eu estiver trabalhando...

- Mas é que tem uma mina aí querendo falar contigo, valeu?

- Uma mina?- retrucou Vince, menos aborrecido. – Por acaso é a Susie Silicone?

             Tyler balançou a cabeça em negativo e Vince largou suas ferramentas no chão.

- Olha só, tô indo lá falar com a mina, mas se for furada tu vai ver só o que eu vou fazer contigo depois!- ameaçou Vince.

             Ele caminhou até a entrada da oficina lembrando-se de cheirar ambos os suvacos para ver se estava cheirando bem antes de ir falar com a tal garota. Ela estava de costas usando um suspensório engraçado. Tinha cabelos longos e negros e um corpo curvilíneo que se exibia nas calças apertadas.

- Gostei do traseiro arrebitado... – murmurou Vince consigo antes de se dirigir à garota. – E aí gata? Tava a fim de falar com o Vinceman?- indagou ele, mas pegou um enorme susto quando a garota se virou e ele viu que se tratava de Letty.

- E aí, Vince?- disse ela batendo cuidadosamente nas costas de um bebê que estava preso ao corpo dela.

- Que merda é essa?- ele indagou a si mesmo sem conseguir esconder seu espanto em ver Letty diante dele depois de tanto tempo e com um bebê nos braços.

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            Havia uma esperança, mas isso não era uma garantia. Mia pensou depois que Bryan a deixou em casa. Ele perguntou se poderia fazer alguma coisa e tudo o que Mia disse foi ligue pra mim depois que tiver o resultado da autópsia.

           Ainda abalada pelos últimos acontecimentos, Mia entrou em casa querendo tomar um banho para tirar a sensação ruim que sentia depois de vir do necrotério. Depois tomaria um remédio para dor de cabeça e dormiria um pouco. Entretanto, o barulho de alguém mexendo na cozinha fez com que ela mudasse seus planos. Por um momento ela pensou que veria Letty procurando frango frito na geladeira, e então todo o pesadelo acabaria, mas não era Letty quem estava na cozinha e sim Dominic.

- Por acaso não tem mais frango frito nessa geladeira?- ele indagou ao vê-la na cozinha.

- Dom!- Mia gritou e correu para abraçá-lo.

         Dominic estreitou-a em seu peito forte, embalando-a como se ela fosse uma criança por alguns momentos.

- Olhe só pra você!- ele disse com um sorriso. – Tão adulta agora!

        Mia sorriu de volta, mas seus olhos ainda estavam tristes e Dom poderia reconhecer a tristeza dela em qualquer lugar.

- O que houve? Pensei que ficaria feliz em me ver. Juro que não trouxe muita roupa suja pra você lavar.- ele brincou.

      Mia deu um sorriso amargo dessa vez e resolveu dizer a ele a verdade:

- Dom acabo de vir do necrotério. Fui reconhecer o corpo da...Letty.- ela completou com um soluço.

 

Continua...


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