El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 7
A fuga




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Capítulo 7

Fuga

 

Los Angeles

1 ano antes

 

            Letty tinha pedaços minúsculos de vidro espalhados pelos cabelos. Um filete de sangue incômodo escorria de um ferimento na cabeça, manchando-lhe a testa e escorrendo para os lábios, fazendo com que ela pudesse sentir o gosto do próprio sangue. Seu corpo inteiro doía e ela caminhava contando seus passos, obrigando-se a seguir em frente. O frio em sua pele era cortante, podia sentir que seu corpo estava prestes a entrar em choque, mas não podia desistir agora, tinha conseguido fugir, precisava continuar lutando até que não pudesse agüentar mais.

        De toda a dor que estava sentindo naquele momento ao caminhar pelo pântano escuro em busca de ajuda e se esgueirando da perseguição implacável do capanga de Braga, a dor maior era em seu ventre. Podia sentir seu corpo se contraindo por dentro, a dor tão dilacerante que ela sentia vontade de gritar. A umidade escorria abundante entre suas coxas, manchando o jeans de suas calças. Estava sangrando, era um fato inegável. Estava perdendo o seu filho. O filho de Dom!

- Não!- ela gemeu se encostando a uma árvore no caminho, abraçando o próprio corpo com força num esforço desesperado para conter o aborto que poderia ser inevitável.

      Por que fora tão estúpida em continuar naquela missão depois de saber que estava grávida? Podia ter dito à Bryan que estava desistindo de tudo, mas não foi capaz de fazê-lo porque simplesmente não queria desistir da esperança de que Dom voltaria para ela se conseguisse limpar a ficha dele. No final das contas tudo tinha sido por causa de Dom. Mas o que podia fazer se o amava tanto?

      Sem forças para prosseguir, Letty deixou-se escorregar pela árvore até o chão, o corpo tremendo sem controle. Então esse seria o seu fim. Morrer sozinha em um pântano numa noite escura junto com seu filho não nascido. Estava tão orgulhosa de si mesma, pensou com ironia.

      De repente, Letty escutou o som de passos chacoalhando na lama, vindo na direção dela.

“Fênix!”- Sua mente gritou em desespero e ela chegou a se preparar para fugir buscando forças dentro de si, porém um grito feminino agudo fez com que ela estancasse no lugar.

- Ai, meu Deus, Jason! È uma mulher!- disse a voz logo após gritar. – Será que está morta? Eu disse a você que não queria vir aqui.

- Fica calma, Ella!- disse um homem. – Eu acho que ela está viva!- acrescentou ele se aproximando de Letty. – Hey, você está bem?

      Letty conseguiu respirar fundo e relaxou um pouco quando se deu conta de que aquelas duas pessoas que tinham acabado de encontrá-la no pântano eram provavelmente um casalsinho de namorados procurando um bom lugar para dar uns amassos, gente comum, não gente de Braga.

- Por favor, me ajudem!- ela pediu o mais alto que conseguiu, mas sua voz soou baixa e abafada.

     O homem se ajoelhou ao lado dela.

- O que aconteceu? Está ferida?

- Jason, acho que é melhor chamarmos a polícia!- disse a mulher.

- Cala boca, Ella!- falou ele, concentrando toda sua atenção em Letty. – O que aconteceu, moça? Você foi assaltada?

- Por favor...eu estou grávida...grávida...

   Foi tudo o que Letty conseguiu dizer antes de perder os sentidos completamente.

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              Um barulho fino lhe incomodava os ouvidos e Letty gostaria de saber de onde aquele barulho infernal estava vindo. Sua cabeça doía muito e ela gemeu de desconforto. Tentou se mexer, mas uma mão quente em seu braço fez com que ela permanecesse onde estava.

- Hey, procure não se mexer.- disse uma voz masculina suave.

              Letty abriu os olhos e resmungou:

- Maldito barulho!

- A dor de cabeça tornou seus ouvidos sensíveis, mas com a medicação você vai melhorar logo. Teve muita sorte.

- Onde estou?- ela olhou ao seu redor sentindo-se confusa.

- Na emergência de um hospital.- respondeu o homem. – Eu sou o Dr. Larson. Um casal trouxe você pra cá. Disseram que a encontraram ferida.

            Aos poucos, Letty começou a se lembrar.

- O que aconteceu?- indagou o médico. – Consegue se lembrar?

- Eu sofri...um acidente de carro.

- Faz sentido.- disse o médico. – Tinha vidro no seu cabelo, um corte considerável na cabeça e um braço deslocado.

           Letty notou que seu braço esquerdo estava preso a uma tipóia.

- Também teve algumas escoriações nas pernas. Mas o que estava me preocupando era a hemorragia por causa da gravidez.

          Ela piscou os olhos, sentindo-se um pouco zonza.

 - Ainda estou grávida?

         O médico sorriu.

- Como eu disse, você teve muita sorte, moça. As pessoas que a trouxeram disseram que você mencionou a gravidez. Fui chamado de imediato para atendê-la. Sou obstetra. Tratei de imediato a hemorragia e consegui contê-la. Vai precisar ficar alguns dias no hospital repousando e terá que tomar muito cuidado pelos próximos meses, mas seu bebê vai ficar bem.

        Letty sentiu um soluço tomar conta de sua garganta. Ainda estava grávida. Teria o filho de Dom. Era mesmo um milagre.

- Preciso saber o seu nome para dar entrada nos papéis de hospital. Possui plano de saúde?

- Não, mas posso pagar minhas despesas. Só preciso entrar em contato com uma amiga.

- E seu nome é?

       Letty pensou um pouco antes de responder. Braga mandou que Fênix assassinasse todos os seus pilotos uma vez que a missão tinha sido cumprida e ela tinha sobrevivido. Agora eles não a deixariam em paz até que acabassem com a vida dela. Mas não se tratava mais só da vida dela, um bebê estava a caminho e ela precisava protegê-lo de qualquer ameaça.

- Meu nome é Maria Fernandez.- respondeu por fim.

- Certo, Srta. Fernandez, se puder contatar sua amiga para que possamos providenciar os papéis...

- Podem telefonar para Mia Toretto. O telefone dela é 555-342-701.

       O médico anotou o número e em seguida lhe entregou seu aparelho celular que tinha sido encontrado no bolso de sua jaqueta. Letty agradeceu pegando o aparelho. Achava que o tivesse perdido. Assim que o médico saiu do quarto deixando-a sozinha, Letty discou o número de Bryan e falou rapidamente com ele.

- Letty, onde você está?- a voz de Bryan soou desesperada ao telefone. – Nós perdemos contato com você há horas e...

- Bryan, eu quero desistir.- foi tudo o que ela disse.

- O quê? Não estou entendendo.

- A situação mudou. Eu preciso sair de Los Angeles.

- Como assim precisa sair de Los Angeles?

- Bryan, eu não consegui descobrir nada do que você precisa para incriminar o Braga.- ela mentiu. – Vai ter que continuar procurando, porque eu estou desistindo da missão.

- Letty, não pode desistir agora!- disse ele. – Nós estávamos perto de limpar o nome do Dom...

- Não, Bryan! Acabou! Por favor, esqueça o que eu te pedi e não me procure mais.

                Dizendo isso, ela desligou o telefone e retirou o chip de dentro. Não usaria mais aquele telefone. Os capangas de Braga não poderiam encontrá-la. Letty sabia que daquele dia em diante estava marcada para morrer.

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               Mia achou estranho quando recebeu uma ligação do hospital dizendo que uma amiga sua, chamada Maria Fernandez estava internada e precisava de sua ajuda. Mas logo ela somou dois mais dois e pensou em Letty que tinha desaparecido na noite anterior e não dera mais notícias. Ficou se perguntando por que ela usara uma identidade falsa. Teria a ver com Dom?

              Ao chegar ao hospital, ela foi conduzida imediatamente para o quarto onde Letty estava internada. Havia uma enfermeira trocando o soro dela.  Mia esperou que ela saísse para que pudessem conversar.

- O que diabos está acontecendo, Letty?- Mia indagou num sussurro, muito preocupada ao vê-la na cama tomando soro, com um dos braços envolto em uma tipóia e o rosto marcado por pequenas escoriações.

- Sofri um acidente de carro.- Mia respondeu. – Eu estava correndo...

- Sofreu um acidente em uma corrida? Mas por que estava participando de uma corrida se está...

- Grávida!- disse Letty. – O beb|ê está bem.

            Mia soltou  um suspiro de alívio e puxou uma cadeira, sentando-se de frente para a cama de Letty.

- Por que está usando um nome falso?- ela perguntou.

- Porque me envolvi com os caras errados.

- Letty, que história é essa?

- È tudo o que você precisa saber, Mia. Eu te chamei aqui porque preciso saque dinheiro da minha conta para pagar as despesas médicas. Vou ter que ficar alguns dias no hospital por causa do bebê.

- Sim, eu posso fazer isso.- disse Mia. – Quando pretende contar ao Dom sobre o bebê?

- Como se eu fizesse alguma idéia de onde ele está.- falou Letty.

- Eu posso entrar em contato com ele, Letty. Ele precisa saber...

- Não, ele não precisa saber!

- Como não precisa saber?- retrucou Mia.

- Ele não vai voltar por causa do bebê, Mia. Dom partiu para sempre.

- Letty, ele...

- Ele fez sua escolha e eu estou fazendo a minha. Assim que eu puder sair desse hospital, eu vou embora de Los Angeles.

- Embora pra onde? E o bebê?

- Vou pra um lugar onde ele possa nascer em segurança.

- Não, Letty! Você tem que ficar aqui. Eu posso te ajudar com o bebê.

- Não é seguro aqui pra mim, Mia. Não entende?

- Tem coisas que você não está me contando.

                Letty desconversou:

- Mia, nós somos amigas há muito tempo. Conseguimos superar a fase da competição pela atenção do Dom, então pela nossa amizade, eu te peço: não conte ao Dom sobre essa criança.

- Eu não posso fazer isso, Letty. Dom precisa saber.

- Você jurou lealdade a ele e eu respeitei isso, agora preciso que me ajude. Que confie em mim. Sei o que estou fazendo.

               Mia assentiu, ainda que pesarosa.

- Já sabe para onde vai?

- Não tenho a menor idéia.- respondeu Letty, mas vou ficar bem.

- Eu vou providenciar o dinheiro para as despesas médicas. Só me prometa que mandará notícias onde quer que esteja.

- Eu prometo.- disse Letty.

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             Cerca de quatro dias depois, o Dr. Larson deu alta à Letty. Ela providenciou por telefone uma passagem de avião de volta à República Dominicana, sem contar seus planos à Mia. Quando chegasse lá, iria para uma cidade do interior e arranjaria um emprego qualquer até que o bebê nascesse, depois pensaria no que fazer. Seu vôo sairia naquela mesma noite. Letty estava apenas esperando Mia chegar ao hospital para que as duas se despedissem. Bryan não tinha mais tentado entrar em contato com ela. Provavelmente ele não sabia onde procurar e era melhor que partisse antes que ele descobrisse onde ela estava. Tinha tomado a melhor decisão para não pôr em risco mais uma vez a vida de seu filho.

            Letty esperou por Mia na recepção do hospital. Estava de malas prontas. Mia as tinha providenciado. A cunhada entrou no hospital com um embrulho em uma das mãos e uma pequena sacola na outra.

- O que é isso?- Letty indagou com um sorriso.

- Um lanchinho pra viagem.- Mia mostrou o embrulho. – Sabe como é, você precisa se alimentar bem.

- Sempre atenciosa.- disse Letty checando o embrulho que continha suco natural e um sanduíche de peito de peru.

- E isso...- Mia mostrou a sacolinha. – È o primeiro presente do meu sobrinho.

- Sério?- disse Letty checando o interior da sacola. Um ursinho de pelúcia branco, com uma fita verde no pescoço. – È tão bonitinho!- exclamou Letty. – Obrigada, Mia.

            As duas mulheres se abraçaram.

- Por favor, Letty, me dê notícias em breve!

- Sim, farei isso. Não se preocupe.

- Sabe, eu estava aqui pensando que o Dom seria um pai muito babão se você tive uma menininha...

- Tenho certeza que será uma menina!- afirmou Letty tocando o ventre plano, que ainda não apresentava nenhum sinal da gravidez.

- Promete que vai tomar cuidado...

- Eu vou ficar bem, Mia.- disse Letty antes de abraçá-la novamente e deixar o hospital, pegando um táxi para o aeroporto.

        A viagem de táxi até o aeroporto foi tranqüila, mas ao chegar lá, Letty sentiu-se enjoada e precisou ir ao banheiro antes de passar pelo check-in. Arrastando sua mala de rodinhas, ela adentrou o banheiro feminino e entrou no primeiro box despejando tudo o que tinha comido no hospital. Sua mala ficou do lado de fora da porta, apenas sua bolsa de mão com o dinheiro para a viagem e os presentes de Mia estavam com ela.

      De repente, Letty ouviu passos do lado de fora do box e teve um mal pressentimento. Saiu depressa e encontrou sua mala no mesmo lugar. Não havia ninguém lá dentro além dela. Letty então foi até a pia e lavou a boca e o rosto. Foi quando ela viu uma figura conhecida atrás de si. Fênix. O homem enorme e assustador a fitava com olhos zangados e tinha uma faca em uma das mãos. Letty sentiu o estômago ficar enjoado novamente, mas dessa vez era de medo.

- Dessa vez não vou atirar em você... – disse ele. – Vou te retalhar em pedacinhos. O Braga não quer você viva e nem eu!

        Letty respirou fundo e quando se virou acertou Fênix com um chute antes que ele pudesse pegá-la. A faca voou longe e eles lutaram corpo a corpo. Letty era menor, mas era bem mais ágil do que Fênix por ser pequena.

     Ele conseguiu atingi-la nos lábios fazendo jorrar um pouco de sangue, mas ela o acertou na virilha e se livrou do aperto de aço dele, correndo para fora do banheiro. Deixou sua mala para trás, com o dinheiro que tinha poderia comprar roupas quando chegasse à República Dominicana. Entretanto, ela não contava que Fênix estivesse acompanhado e um homem e uma mulher surgiram diante dela no meio do aeroporto com olhares ferozes. Letty pensou em seu bebê e preferiu correr do que enfrentá-loa.

    Eles saíram em perseguição a ela, atirando, não se importando de estarem no meio de um aeroporto lotado. Letty correu o mais rápido que pôde, mas na corrida perdeu a bolsa com o dinheiro e os presentes de Mia. Só restou-lhe sua bolsa de documentos e alguns trocados para a viagem. Ela não teve escolha senão correr para a fila do check-in e embarcar antes que Fênix conseguisse matá-la de verdade.

 

Continua...

 


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