O caminho para o lago era curto, então enchi tudo rapidamente. Olhei em volta e percebi como aquilo tava parado. Era óbvio que eles não colocariam mais de uma fonte de água na arena, impossível que ninguém ia tentar pegar água aqui. Eu ainda tava meio que com esperança de ter alguém pra eu matar e nada. Ninguém. Que decepção. Decidi voltar para o acampamento, já estava com uma ideia na cabeça.

–Você não tem vergonha na... – começou Glimmer assim que cheguei, mas eu a interrompi.

–Cala a boca, eu quero matar, fica quietinha se não eu mato você loira burra. – Cato olhou em reprovação pra mim, mas tava prendendo o riso, coisa que Tara não se preocupou em fazer, deu uma gargalhada alta que Glimmer decidiu ignorar – Você, você e você – apontei para Marvel, Tara e Cato – vão vir caçar comigo na floresta. Você e você – apontei para Glimmer e Peeta – vão ficar aqui vigiando as coisas.

–Mas eu... – começou Glimmer.

–Mas que droga, eu já não disse pra você calar a tua boca?

–Olha aqui sua tampinha sardenta...

–Olha aqui é o caralho. Você vai ficar aí na sua na companhia do conquistador, o que já ta bom demais pra você. – Ela estava corada de raiva, e eu mantinha meu sorriso sarcástico no rosto. Ela parecia pronta pra atacar, mas Marvel foi até ela e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Ela relaxou – só um pouco. Fiquei curiosa com o que ele tinha falado, mas decidi ficar na minha e perguntar depois. A final de contas, ela odiava ele, certo? To esperando realmente que eles tenham conversado essa noite, ele gosta dela, quero que eles fiquem amigos – mesmo achando ela uma bosta pra ele, mas tudo bem, isso não é da minha conta.

Peguei minha mochila com um pouco de comida, facas, garrafas de água, etc – estava bem pesada – e saí com Cato, Marvel e Tara as minhas costas. Glimmer reclamava enquanto sentava em um saco de dormir, mas a deixamos para trás com um conquistador quieto. Entramos na floresta calados, fazendo o mínimo de barulho possível – o que era difícil, já que Marvel e Cato não tinham a mínima preocupação em pisar em galhos.

–Vocês tem que fazer menos barulhos, garotos. – falou Tara.

–Desculpe. – respondeu Marvel pisando mais leve e olhando pro chão. Cato permaneceu do mesmo jeito.

Ficamos um bom tempo rondando pela arena, e infelizmente não achamos nada.

–Devemos voltar. – falei.

–Também acho, estou sentindo um cheiro nada bom. – eu não estava falando em voltar por causa de cheiro, mas comecei a sentir assim que ela falou.

–É fogo. – sussurrei mais pra mim mesma do que para o outros, mas todos me olharam assustados. Espera, não era pra mim que eles estavam olhando, seus olhos estavam focados em algo atrás de mim. Me virei e quase dei um grito. A floresta inteira atrás de mim estava em chamas.

–CORRAM! – disse Cato, e eu disparei a correr na direção da qual viemos. Eu estava muito lerda comparada aos outros. Tara saía em disparada bem na frente de todos nós. Marvel era o segundo e Cato estava bem perto dele. Eu fiquei para trás. Não entendi minha lerdeza, eu sempre fui rápida... Eu corria o máximo, mas algo me puxava para trás. Minha mochila. Minha mochila era pesada demais para correr.

–Clove, largue a mochila. – gritava Cato em minha frente. Eu não podia falar, qualquer perda de oxigênio pra mim poderia custar minha vida. Apenas balancei a cabeça, certa de que ele não veria, pois corria para frente sem se virar. A maioria de minhas facas estavam na mochila, eu não poderia simplesmente larga-las no meio do fogo – A mochila, Clove. Largue! – ele repetiu.

Eu já me sentia fraca, eu não estava mais correndo, e sim me arrastando até eles. Agora sim eu estava em uma grande desvantagem. Não podia mais ver Tara, que escapou tranquilamente. Eu tentei colocar a gola de minha blusa no rosto, mas já era tarde demais. Eu tossia como uma asmática em crise, meu ar estava acabando, levando junto com ele meu tempo na arena.

–CLOVE! – quando ele percebeu que eu ficava para trás, parou. Ou eu achava que tinha parado, eu não podia ver mais nada em meio a tanta fumaça. – CLOVE! – eu o via voltando, voltando para o fogo, voltando para mim.

–Cato! – falei baixo quando ele parecia mais perto de mim. Apenas parecia. Era assim que eu estava, sem ter certeza de mais nada.

Senti algo me levantando do chão e saindo em disparada. Depois disso não me lembro de mais nada.

–Clove, levanta. – abri os olhos, eu me encontrava no acampamento.

–Eu bem que tinha esperança dela ter morrido. – ouvi uma voz ao fundo, uma voz fina e irritante.

–Fica quieta, Glimmer. – Cato falou.

–Se fosse eu não ia dar esse trabalho, eu sou bem rápida.

–Cala a boca Glimmer. – eu disse, ainda meio tonta.

–Vocês duas agora não! – Marvel chegou correndo e ofegando, pensei que ele estivesse na minha frente. – Tem gente no lago.

Cato, que estava sentado perto de mim, se levantou.

–Vem. – ele estendeu sua mão pra mim e nós saímos correndo em direção ao lago. Todos nós, inclusive Peeta.

Enquanto corria eu estava curiosa pra saber o que aconteceu.

–Me da uma explicação rápida do que aconteceu. – falei pra Cato, acordada pela adrenalina.

–Você desmaiou, eu te peguei e te trouxe pra cá.

–O que Marvel foi fazer no lago?

–Ele foi pegar água mais fresca pra molhar seus machucados.

–Mas que...? – quando ele disse comecei a sentir. As mangas de minha jaqueta estavam chamuscadas de fogo, e meu braço estava muito queimado. Senti a pontada de dor, mas não podia me dar ao luxo de parar para reclamar.

Chegamos ao lago.

Quando Cato viu quem era, começou a dar risada. Glimmer também e Marvel logo depois. Olhei para frente e só pude ver uma garota com trança mal feita correndo do lago. Katniss, a garota em chamas.