Ela abriu o zíper, e vi um vestido perfeito. Era laranja tomara-que-caia e com babados no busto. Não era uma coisa patricinha, o laranja escuro bloqueava isso. Estava perfeito. Assim que me vesti, percebi que estava ainda mais bonita do que no desfile.

–O que achou querida? – perguntou animada.

–Está perfeito, como tudo que você faz. Muito obrigada. – acho que a única pessoa da capital que eu já respeitei na minha vida. Mesmo que eu conheça poucos, não acho que seria “gentil” com a maioria.

Vi uma lágrima se formando no rosto de Tory.

–Não acaba por aqui, ta bom? Você usará o melhor vestido na premiação dos vitoriosos. Te garanto. – sorri – Bom, - Glimmer voltou à minha mente me deixando um pouco irritada – vamos logo, antes que nos atrasemos.

Ela me puxou pelo braço e saiu pelo corredor. Quando chegamos todos já estavam lá, como sempre. A reação que eu lá no fundo esperava. Todos me olharam perplexos, e logo começaram a elogiar.

–Está linda, querida. Com isso e mais tudo que te ensinei, você terá os patrocinadores em sua mão. – disse Rick.

–Está bonita, Clove. Fale o que treinou e tudo estará certo. – Jonh falou. Olhei para Aria e ela estava boquiaberta.

–Linda, Clove, linda. Mais perfeita impossível. – ela disse dando risadinhas e pulinhos.

Olhei para Cato esperando uma reação. Ele estava com um sorrisinho no canto da boca.

–Linda, Clove. – ele falou me olhando nos olhos. Ele falaria mais depois. Sorri pensando nisso.

O lugar da entrevista era no mesmo prédio. Assim que o elevador se abriu eu pude ver alguns tributos se alinhando na fila para a entrada. Naturalmente, Glimmer e Marvel já estavam lá. Glimmer vez um gesto com a mão para nos juntarmos a ela. Tão “provocativa” quanto possível. Assim que chegamos, ela se atirou nos braços de Cato.

–Gato! – ela falou, de propósito. Ele a abraçou de volta como se fosse uma de suas ficantes lá no dois – Demoraram. Acho que pelo menos até o distrito oito os tributos já chegaram. – ela disse o soltando e colocando seu rosto perto do dele. Piranha.

–Oi Clove. – Marvel veio e me abraçou. Por reflexo, eu o abracei de volta. Já me disseram que as pessoas do um são amigáveis, Marvel até podia ser. Mas aquilo que Glimmer fazia não era “amigável”.

–Ei Marvel.

–Está linda. – pude sentir os olhos de Cato se virarem pro meu lado, mas fiz o máximo para não encará-lo. Tentei ignorar.

–Obrigada, Marvel. Você está bem bonito também. – eu disse. Olhando seu terno azul. Ele piscou pra mim. Senti mãos em minha cintura.

–Nós temos que esperar na fila. – ele disse e me puxou para mais perto dele, bem a seu lado.

–Tudo bem, Cato. – disse Glimmer, se intrometendo na conversa. Os dois se viraram pra frente, e Cato recuou pra ficar o mais longe possível, porém ainda na fila no lugar certo. Se ele falasse baixo, não daria para ouvir.

–O que eu te falei, você lembra Clove? – ele segurava meu braço forte, estava machucando, mas não deixei que ele percebesse.

–Você já me falou muitas coisas né, Cato. – tentei rir pra descontrair, mas o rosto dele irradiava pura raiva.

–Longe do Marvel, Clove. Ta me ouvindo. – ele apertava cada vez mais.

–Me solta, Cato. – falei e ele me soltou. A marca tinha ficado muito vermelha em minha pele clara. Ele olhou pra sua própria mão, um pouco assustado e se afastou meio metro de mim.

–Desculpe, Clove. Eu não... Eu não queria... Me desculpa.

–Tudo bem. – eu disse passando a mão na marca em meu braço. – Eu vou ficar bem longe dele ta? - falei sorrindo, mas de novo foi uma tentativa frustrada de paz.

–Desculpa pequena? Não vou mais fazer isso, te prometo.

–Ta tudo bem, Cato. Deixa di...

Fui interrompida pela voz de Caésar Flickermann. Ele anunciou o programa e depois de alguma enrolação chamou a Glimmer. Olhei pra Cato e ele me olhou de volta. Dei um sorriso pra ele, dessa vez funcionou. Logo Glimmer deu lugar a Marvel. E já era minha vez de entrar. Assim que Caésar disse meu nome eu subi ao palco.

Tudo rolou tão naturalmente que mal pude pensar em ser quem eu tinha ensaiado, mas como meus estilistas, Rick e Jonh deram um “ok” da plateia, eu me senti bem. Cato entrou logo depois e se saiu muito bem.

Assim que nós dois saímos fomos direto para nosso andar. Jonh, Rick, Aria, Tory e a equipe de preparação teve que ficar lá até o fim. Todos os tributos foram bem, pude ver na TV. Alguns mais confiantes, outros mais tímidos, mas todos foram bem. Quando chegou a hora da esfomeada ela parecia nervosa. Ri com isso. Mas logo se deu bem. O vestido dela estava com as mesmas chamas da roupa do desfile. Não me importei tanto, na verdade pra mim isso já era passado. "Oh, mais chamas, que legal”, pensei. Mas na verdade o ruim chegou quando o garoto loiro de ombros largos começou com sua entrevista. El era simpático, gentil, amigável. Até aí tudo bem, mas quando Caésar perguntou sobre as garotas, ele acabou dizendo que era apaixonado pela esfomeada.

Foi aí a gota d’água. “Os amantes desafortunados” finalmente conseguiram os tão queridos patrocinadores. E um bando de carreiristas correndo atrás deles para mata-los.