Eu estava dentro da água, eu girava dentro de uma bolha de ar, mas esse ar era... Estranho, eu não podia respirar, era como, uma bolha sem ar nenhum dentro da água. Na superfície, lá em cima, brilhavam olhos verdes. Os olhos de Glimmer. Ela estava com apenas um dardo na mão e atirou direto em meu coração.

Antes de morrer em agonia, sem ar e sem sangue eu pude vê-la se virando para o lado e beijando Cato enquanto ele passava suas mãos em sua cintura. Enquanto eles estavam no beijo, ela pegou a cabeça dele e rolou com força, o que o fez cair no lago. Morto. Junto comigo.

Acordei suada, de novo. Sentei num impulso, me machucando, pois os braços de Cato eram fortes ao meu redor. Ele se sentou também.

–Pesadelo, pequena? – balancei a cabeça – Vem cá. – ele me puxou pra ele, eu não impedi. – Dorme.

–Não consigo. Alguém vai te matar de novo.

–Eu não deixo. Ninguém vai me matar. – ele ri.

–É sério. Não vou mais dormir, eu juro que quero, mas não posso. – ele assentiu, meio com pena – Que horas são?

–Duas e vinte.

–Dorme. – eu falei.

–Você fica?

–Aham.

–Tudo bem então. Ele deitou em minhas pernas cruzadas. Como uma criança. Eu mexia no cabelos loiros e espetados dele, e depois de um tempo, eu acabei dormindo sentada. Eu estava tão tranquila que não tive nem pesadelos, nem sonhos. Apenas uma “boa noite”.

–Clove. – a voz de Cato dizia perto de meus ouvidos. – Acorde. Nós temos treinamento para a entrevista. – não era a cara de Cato me acordar pra coisas como essa, geralmente era o contrário. Devia ser sério.

Eu me virei na cama, e percebi que eu não estava mais sentada, e sim deitada e abraçada.

–Que preguiça, cara. Já chamaram a gente?

–Só umas três vezes. Disseram que essa é a última e deveríamos ser rápidos.

–Eu tenho que trocar essa roupa?

–Só se for na minha frente. – eu não liguei. Às vezes ele fazia essas brincadeiras idiotas. Parece que ele estava levando essa coisa de virar amigos bem mais na boa que eu.

–Idiota. – falei arrastado, ainda com sono.

–Vem, não precisa não, nós não vamos sair do andar mesmo.

E foi assim que passei o dia. De camisola. Rick me disse que eu teria que ter a mesma leveza que tive ao andar de salto na noite do desfile. Não foi difícil. Jonh me treinava para ser uma garota educada, porém discretamente matadora. Não seria – tão – difícil assim também. A tarde já estava terminando e eu já decorara as respostas para quase todas as perguntas possíveis. Tory – com um pacote tipo cabide, como os da armadura - e o resto da equipe chegaram. Eles pintaram minhas unhas novamente, porém agora de laranja, fizeram minha maquiagem de laranja também e arrumaram meu cabelo num penteado elaborado – elaborado demais, devo dizer, mas eu estava muito bonita.

Logo a equipe saiu e me deixou apenas com Tory.

–Os sapatos estão no guarda-roupa. Pegue e veja apenas um detalhezinho para seu vestido perfeito, modéstia a parte. – eu dei uma risadinha e fui pegar os sapatos no guarda-roupa. Eram lindos, alaranjados – certamente a cor de meu vestido – o salto era alto e era arredondado na ponta. Não me lembrava o nome deste, mas era bem bonito.

–É lindo, Tory. Bom trabalho. – ela sorriu.

–Saltinhos meia-pata. – estranho ela dizer “saltinhos” pra uma coisa daquele tamanho – Nunca saíram de moda. Nunca mesmo. – ela pausou e pegou o cabide encapado na cama – Pronta para o vestido, Clove?

–Sim. – respondi.