Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 4
Capítulo 3 - Família




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****** Enquanto isso, no covil dos Caldwell ******

_Alguém viu Bea? – A pergunta de Felicia.
_Não, ela não esteve em seu quarto hoje.
_Então ela desapareceu! – Felicia assombrou-se. – Bea não está em lugar algum do covil.
_Ela deve ter feito o que prometeu. – Rudolph aproximou-se.
_E o que seria isso?
_Ela foi até a superfície. Foi conhecer o mundo deles.
_Ela enlouqueceu!!! – Felicia desesperou-se. – E se ela se encontrar com eles? Pior, com os outros?
_Bea sabe defender-se. Deixarei que ela fique mais algum tempo sob o sol… depois vamos buscá-la. Eu e Ferdinand.

Os Cullen pareciam interessantes. Não eram eles… mas conviviam com eles. Talvez isso me ajudasse. Porém eu era um objeto tão curioso para os puros que me acolheram quanto eu era para eles. Outros puros apareceram depois, de nomes Emmet, Rosalie e Alice. Alice, a que me cedera forçadamente as roupas. Todos me cheiraram… e todos riram com a simples menção da palavra híbrido. Carlisle precisou deixar claro que eu fora testada, com sucesso. E que aquela descoberta era muito fascinante. Descoberta… eu era um achado científico, então. Eles, bebedores cruéis de sangue, e eu, um experimento.

Mas eu também era um cruel bebedor de sangue. Depois de provar o sangue fresco, senti-me saciada… como não me sentia há tanto tempo. Talvez eu não fosse nada diferente deles, e o que restava de minha humanidade fosse apenas uma fraqueza. Após o interrogatório e a bateria de testes, decidiram acomodar-me em algum lugar. Eu precisava de um lugar diferente do deles… os puros não dormiam. E eu sim, tinha sono. Pouco, mas tinha. O adormecer me era penoso, mas eu não conseguia livrar-me dele.

_Seu mausoléu é assim? – Esme perguntou, enquanto terminava a organização do meu espaço. Fora escolhido um quarto não utilizado na casa e ela tentava arrumá-lo para mim. – Espero que a palavra mausoléu não a incomode… é como visualizo um covil.
_Não, é úmido. – Disse, entrando. – E sim… pode nomear mausoléu. Não há claridade lá, só artificial. Nem… – toquei meus dedos em uma almofada, macia. – coisas como essas.
_Vai ficar bem aqui, Beatrice.
_Pode chamar-me de Bea… é como Felicia me chamava.
_Sua mãe?
_Minha tutora… não temos pais e mães… não sei, é confuso.
_Também não temos filhos aqui, Bea. – Esme foi gentil. – Eu tive um, quando humana… mas perdi. Eles são meus filhos, os cinco. E Carlisle..
_É seu companheiro?
_Sim, pode dizer. As famílias aqui são menores, creio eu. Quantos vivem em seu covil?
_Muitos. – Tentei fazer a conta mentalmente. – Acho que somos uns 50… algo assim. Já perdi a conta. Não me relacionava com todos.
_Bastante gente. – Esme sorriu. – Bem, este será seu quarto. Fique à vontade se quiser… dormir? E… sua pele… notei que está queimada.
_Foi o sol. Eu… nunca vi o sol.
_Ele nos é cruel, não? – Esme riu. – Bem, deveria usar sempre mangas. Além de fazer frio aqui, as pessoas não vão estranhar.
_Vou conhecê-los? Quero dizer… eles… os humanos?
_Ah, claro que vai. Deve ir à escola… ou trabalhar. Quantos anos têm?
_Tinha 20, quando fui transformada. – Disse, tentando me lembrar.
_Boa idade. De certa forma, é interessante ser sempre jovem. Meus meninos são todos mais jovens do que você…

Senti algo queimar em minhas bochechas, e instintivamente levei a mão até elas. Calor. Havia algo quente ali. Olhei-me no espelho correndo, e havia um rubor pálido e esfuziante em minha pele. Eu estava… corada? Aquela reação de meu organismo à superfície era quase assustadora.

Fiquei naquele ambiente chamado quarto por algum tempo, considerando o que estava fazendo. Eu havia deixado o covil para explorar a superfície… para conhecê-los. E fora encontrada por puros, enquanto eu acreditava que eles não existissem. O mito encontra o mito. A experiência de beber sangue fresco foi brutal demais. Em pouco tempo do lado de fora eu já havia.. experimentado muito.

Mas, o que exatamente eu estava fazendo? Havia encontrado para mim uma… outra família? Uma família pequena, onde as pessoas se relacionavam diretamente… sem tutores ou criadores, somente com pais e irmãos? Aquele conceito familiar de humanos, que Felicia também narrava como se fosse um mito, uma fábula para nos fazer acreditar que nosso lado fraco era, também, um lado bonito. Então, eu estava procurando uma… família?

Aqueles conceitos me eram pouco familiares, afinal. O emprego do vocábulo era duplamente divagante. Estava absorta em pensamentos simples e inadequados quando a porta se entreabriu, exibindo timidamente a figura confusa de Edward. E seus olhos caramelados.

_Vim ver se está bem acomodada. Sabe como é… Esme e Carlisle desejam que sejamos bons anfitriões. – Ele sorriu. Parei então para observá-lo. Foi como se o tempo realmente parasse, enquanto ele estava ali, de pé, contrastando com a porta branca. Eu ainda não o tinha observado, só mirado em seus olhos. Ele tinha cabelos de fogo. Quando a luz lhe iluminava, o cabelo reluzia. De fogo. Os olhos pareciam variar… eu os vira de várias cores, então. Caramelo, pareciam naquele instante. Como… um doce. Eu sabia o que era um doce. Eu só nunca tinha saboreado… mas eu sabia o que era. Ele tinha olhos de doce. E sua pele era quase tão branca quanto a minha. Sua pele era… lisa. A minha tinha bolhas, do sol. Ele não. Os puros não tomavam sol, pensei. Se tomassem, não sofriam seus efeitos. Eram puros… pensei que temiam o sol, mas caçavam à luz do dia. Ele vestia roupas pouco convencionais para os machos da minha espécie. Usava sapatos muito estranhos, com cadarços esgarçados. Jeans eu conhecia, mas os machos mais velhos raramente os vestiam. E uma blusa escura agradavelmente contrastando com todo o branco, evidenciando contornos de seu corpo. Corpo… eu nunca vira o corpo dos machos.

_Eu estou bem. – Disse, lembrando-me que ele me fizera uma pergunta. Talvez.
_O que acabou de acontecer? Você… saiu do ar por alguns instantes.
_Não sou sempre alerta. – Brinquei. – Tenho fraquezas humanas… envergonho-me delas.
_Não deveria. Elas te fazem mais interessante.
_Não sou interessante. – Balbuciei. Ele se moveu e sentou-se ao meu lado.
_Quer conhecer o lugar? Dar uma volta?

Encarei o vampiro, curiosa. Sim, ele parecia tão inofensivo. Eu havia sido acolhida por sua família, não podia temê-lo. Até porque eu não era tão frágil. Acabara de ser golpeada de uma forma bastante letal, e estava bem. Mas eu era muito mais frágil que eles todos. Sentia-me inferior. Mesmo assim, considerei que Edward era meu… parente, então. Parente. Palavra estranha… entre os meus, a gente nem se tratava por parente. Mas parente era família, e em família poderíamos confiar. Eu queria acreditar quando aceitei “dar uma volta” com um puro. Eu devia mesmo estar ficando doida e sem nenhum amor à minha existência.

Colocamos o pé para fora do quarto e Emmet surgiu, enorme. Ele era tão grande que me assustava. Edward era grande, mas o suficiente. Emmet era quase… gigantesco. Ele jamais caberia onde os meus residiam. O grande vampiro queria falar algo com Edward, e eu não compreendi a comunicação entre eles. Era confusa. Eles falavam sem se falar. Os meus precisavam usar a boca e a língua para se comunicarem… aqueles puros pareciam usar outros métodos.

Depois da pequena conversa, dirigimo-nos para o quintal.


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