Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 3
Capítulo 2 - Os Outros




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24249/chapter/3

_Não sei como você pode perder o cervo. – Jasper reclamou. – Se fosse um animal feroz, ainda entenderia… mas um cervo?
_Não gosto de caçar com você, Jasper. – Edward protestou. – Você é muito chato.. Emmet não fica colocando defeitos em minhas preferências.

Os dois rapazes andavam pela mata. Eu não os via, nem ouvia. Eles vinham em minha direção, sem saber. Eles tinham presas expostas, e perseguiam algo pelo cheiro.

_Tenho sede. – Jasper vacilou, ao encontrar outro animal. – Bebo qualquer coisa, ou terei vontade de beber você

Ouvi ruídos. Grunhidos. Meus olhos estavam cerrados, mas meus ouvidos atentos como antenas. Sempre foram atentos… sempre ouvi muito bem. Aquele grunhido parecia de um animal. Um animal muito grande… e outros ruídos me preencheram os ouvidos e eu acordei plenamente. Abri os olhos, levantei as pálpebras rapidamente, e assustei-me. Finquei os dedos na terra, encarando o predador que me observava. Presas significativamente robustas… olhos acobreados… ele me encarava, e seu olhar me assustou. Franzi o cenho, pisquei algumas vezes, pensei em me levantar mas ele se aproximou. Tanto que seu nariz colou em minha roupa suja. Ah sim… eu estava suja. Do dia anterior. Eu achava, já que a noção de tempo me era confusa.

O predador cheirou-me, e empertigou-se. Colocou-se nas duas pernas, endireitou o jeans. Passou os dedos pelos cabelos e ofereceu-me a mão para levantar. Olhei diretamente em seus olhos, completamente aterrorizada. A forma era tão… ele parecia comigo. Seria um deles? Não… eles não tinham presas. Eles não caçavam com os dentes.

_Ora vejam… uma viajante. – Ele me sorriu, e eu só conseguia encará-lo com curiosidade. Não tinha medo dele, então… não sabia o que ele era. E não sentia nenhuma vontade de bebê-lo, como senti com aquele animal. Ou ele não era um deles… ou eu estaria segura no meio deles. Ou ainda, eu estava saciada. – Edward Cullen. – Fez uma reverência.
_Be… Beatrice Caldwell.

Ele então sorriu outra vez. O outro que o acompanhava chegou, e pude notar… minhas narinas puderam notar o sangue em seus lábios avermelhados.
_Edward é a sua vez… – Ele parou de falar ao me ver. – Humana? – Ele imediatamente alarmou-se.
_Não… uma viajante. – Edward sorriu. Ele parecia só saber sorrir…
_Sabe que não sou humana? – Foi minha vez de alarmar-me. Puxei minha mão, que ainda estava entre as suas, repentinamente.
_Não teria como errar… teria? – Edward pareceu confuso. – Apesar de que… por um momento, cheguei a confundir-me.
_Ela tem um cheiro… – o outro falou.
_Apresente-se, mal educado.
_Jasper Cullen. – Outra reverência. – Então, vaga sozinha? Ou tem família e está somente caçando?
_Não estou caçando! – O termo me causou desconforto. Eu não caçava…
_E esse sangue todo aí é seu, então? – Uma risada. Os dois rapazes se entreolharam. Eu me senti ridícula. Olhei para minhas roupas, e estava mesmo preenchida de sangue. Havia sangue por toda a extensão do vestido. E em meus cabelos longos.
_Eu… – Não tive palavras.
_Tudo bem… você me parece confusa. Talvez o sangue estivesse contaminado… pertence a algum clã? Precisa de ajuda para chegar em casa? Você.. está meio que em nosso território.
_Eu não tenho para onde ir. – Olhei diretamente nos olhos de Edward. Ele era muito… bonito. Mais do que os meus. Se ele não era um deles, o que ele era? Arfei, puxando uma grande quantidade de ar para meus pulmões. Seu aroma era doce, quase nauseante. Muito doce… senti repulsa e ao mesmo tempo, meu estômago pulsou. – Eu… o que são vocês?

Uma risada. Alta, daquela vez. Os dois novamente se olharam. E pareciam divertir-se com minha estupidez.
_O que é você? – Jasper me fitou. Ele estava mais próximo. – Somos vampiros, oras… você deve mesmo ter tomado sangue contaminado.
_Eu não sou um vampiro. – Balbuciei, olhos arregalados a encarar os dois. Vampiros! Eles não deviam existir… ou deviam estar exilados, como nós. Os vampiros… eles eram puros. Os puros eram os mais perigosos. Felicia não falava neles. Rudolph não falava neles. Todos temiam os puros. Mas… o que eles faziam andando ao ar livre?

E os dois me fitaram, então com muita curiosidade.
_O que é você, então? – Edward parecei cheirar-me novamente. – Você… não cheira como humana.
_Sou um híbrido.

Outra risada, mais alta ainda. Os dois gargalhavam de mim, porque minha frase pareceu um absurdo completo.
_Híbridos não existem! – Edward ria.
_São uma lenda! – Jasper segurava o estômago.
_Não são! – Protestei. Afastei-me dos dois, talvez com medo, talvez com ansiedade. – Não somos lenda… eu sou um híbrido.
_Híbridos não existem. – Edward então aproximou-se, segurando minha mão. – Você está muito confusa, acho que devemos levá-la para nossa casa.
_Ficou doido? – Jasper pareceu não concordar com o outro.
_Carlisle não vai ligar… ele vai até gostar. Não recebemos muitas visitas.. e ela é uma de nós, não temos que nos preocupar com a exposição. Talvez ele possa tratar dela… e ela deve tomar um banho. Daqui a pouco outros predadores com menos consciência vão atrás dela.
_Se ela é um de nós, não precisamos nos preocupar.

Edward puxou minha mão, sorrindo para mim. Ele sorria lindamente… cheguei a pensar que era mesmo um macho. E eu, uma fêmea. Mas não, não éramos da mesma espécie. Vampiros.. não conhecia nenhum. Jurava que eles não existiam. Que eles haviam sido banidos. Deveria temê-los? Aqueles pareciam tão inofensivos… decidi então segui-los, afinal eu não sabia para onde ir mesmo. Eu não tinha para onde ir.

_Espere. – Edward parou, pouco depois de iniciarmos nossa caminhada. – Ainda não me alimentei.
_Vá fazê-lo, então. – Jasper pareceu entediado. – E não demore.

Edward desapareceu, uma velocidade excruciante. Assustei-me, e Jasper pareceu achar graça das minhas reações. Elas não deveriam ser muito objetivas, claro. Eu vivenciava coisas que ignorava existirem. E estava na companhia de dois puros. Sentia-me confusa, demasiadamente confusa. Jasper pareceu desconfortável comigo, eu senti. Aquilo foi interessante… eu senti o desconforto dele próximo a mim. Talvez ele não acreditasse que eu fosse híbrida, mas também não sentisse que eu fosse inteiramente um vampiro.

Quando o vampiro de olhos dourados retornou, fui levada, guiada até uma clareira. Um espaço grande, sem as árvores, e com uma… estrutura interessante.
_Essa é nossa casa. – Jasper disse, apresentando a estrutura com uma palavra que me era familiar. – É aqui que moram os Cullen… o que acha?
_É… interessante. – Disse, olhando boquiaberta para a enormidade.
_Você parece assustada. – Edward disse. Ele também pode sentir?
_Eu estou… eu nunca vi… uma casa.
_Nunca viu uma casa? – Jasper gargalhou. Ele parecia sim.. divertir-se com a minha ignorância. – De que planeta você é?
_Morava sob a terra. – Confessei.

Os dois novamente se entreolharam. Será que acreditariam em mim? Ou teria que demonstrar? Edward abriu a porta, e conduziu-me para dentro. Os dois sorriam em direção a uma mulher que chegava, e que me encarava de forma nada sutil. Eu olhei em volta, e estava dentro da casa. Casa… minha casa, o lar, era algo muito diferente. As paredes não tinham cor, e os móveis não eram.. como aqueles. Os móveis ali tinham o aspecto macio. Suave. Como o toque da seda. Eu estava dentro de uma casa… seria parecida com a casa deles? Eu ainda tinha a idéia fixa de me encontrar com eles.

_Esme, bom dia. – Edward fez uma reverência. – Carlisle está em casa?
_Por sorte sim… está no seu escritório. Vocês… trouxeram uma amiga? – A mulher me observava ainda.
_Essa é …
_Beatrice Caldwell. – Senti-me instigada a me apresentar. Também fiz uma reverência.
_Gostaríamos de falar com Carlisle… Esme, você poderia ajudar Beatrice a lavar-se? – Edward sorriu para mim. – Parece que ela teve problemas com a comida.

Jasper novamente caiu na risada, e Esme também riu. Esme.. que nome interessante. Aliás, os nomes eram interessantes. Edward me agradava o som. Os rapazes sumiram em segundos, enquanto a mulher me conduziu para um outro ambiente, branco. Tanto branco que chegou a incomodar meu olhar.
_Você pode banhar-se aqui. – Ela abriu uma porta. Um lavatório… muito diferente do nosso. – Vou buscar toalhas limpas e uma roupa para vestir. Você… deve vestir o mesmo que Alice, tão pequena.

Eu era pequena? A mulher fechou a porta atrás de si, me deixando sozinha no cubículo que não era nada pequeno. O banheiro dos meus era antigo… muito antigo. Não tínhamos nos modernizado, porque a tecnologia não importava lá embaixo. O banheiro sequer tinha água quente… bem, água quente era um dos mitos de Felicia. Mas para que água quente, se não sentíamos frio? Era tão desnecessário… então, não tínhamos. Era tudo frio. Então despi-me, envergonhada sem saber por que, e liguei o chuveiro. Meio confusa, afinal, de como usar toda aquela parafernália.

Batidas à porta, e a voz de Esme ecoou. Eu já reconhecia sua voz, era muito boa para reconhecer vozes. Dos outros. Ela entrou, e eu me senti mais envergonhada ainda. Sorridente, Esme deixou-me toalhas e roupas. Ela disse qualquer coisa sobre alguém de nome Alice e depois retirou-se. A água deles era mais gostosa do que a dos meus. E parecia mais limpa. Senti-me revigorada. Limpa, sim. Mas não ousaria demorar-me, afinal. Aquela não era minha água… finalizei o banho imediatamente, e saí. Enxuguei-me e tentei caber nas roupas que me foram ofertadas. Muito diferentes do meu vestido… Havia um grande espelho na minha frente, e me fiz ver por ele. Calças… as fêmeas não usavam calças entre os meus. Calças e uma blusa; senti-me muito estranha.

Saí do banheiro, e Edward me aguardava do lado de fora. Recostado na parede, ele me encarou assim que eu saí, e ele inspirou o ar profundamente.
_Muito melhor… não parece mais um cervo. – Ele riu.
_Eu não parecia um cervo. – Protestei.
_Cheirava como um. Foi o que jantou ontem?

Envergonhei-me com a pergunta, e ele novamente pareceu divertir-se com isso. Conduziu-me então a outro ambiente… subimos escadas… e encontramo-nos com outra pessoa. Um homem mais velho. Ele parecia mais velho, mas não tão velho como Rudolph. Tinha cabelos muito bonitos, macios.
_Carlisle, essa é Beatrice. – Fui apresentada. Ele se virou para mim, curioso.
_Beatrice. Muito prazer… os rapazes me disseram algo intrigante a seu respeito.
_Deve ser que cheirava a cervo. – Eu não sabia se tinha senso de humor. Ou se eles tinham. Mas riam tanto… deveriam ter.
_Ela disse que é uma híbrida. – Jasper parecia excitado. – E eu disse que híbridos não existem…
_Eu também pensei que não. – Carlisle me fitou. Eu me senti em um observatório. Todos me olhava minuciosamente, como se eu fosse um experimento. – Mas… eles me disseram que você não cheira como um de nós.
_Eu não sei. – Falei, olhando para baixo. – Mas sei que sou híbrida.
_O que guarda de sua humanidade? Pode ferir-se?
_Sim, posso.
_Tá brincando! – Jasper alterou-se. – Você… sangra?
_Sim, eu sangro. Eu me machuco com certa facilidade, em verdade. Sou muito… delicada. – Envergonhei-me novamente, porque levantei os olhos e os três ainda me encaravam.
_O que acontecerá se eu te ferir, agora? – Edward perguntou, sombrio.
_Eu me regenero. A parte vampira…
_Sim, claro. A regeneração. – Carlisle parecia entusiasmado. – E o que mais? Você… adormece? Seu coração pulsa? Alimenta-se de algo além de sangue?
_Eu… – fechei os olhos, respirei fundo. Aquela conversa me aborrecia… mas eles me acolheram. Eu deveria ser grata e saciar-lhes a curiosidade. – Eu adormeço, sempre. Tenho sono, e sonhos. Meu coração pulsa lentamente… quase não posso senti-lo. Ele pulsa para levar o oxigênio pelo meu corpo. Eu respiro… mas estranhamente creio que não precise de ar. Já tentei.. quero dizer, já fiz o teste. E eu só me alimentei de sangue, até agora. Sob a terra… nada mais cresce, só para baixo.

Acho que eles entenderam que aquele assunto me aborrecia. Pararam o interrogatório e ficaram algum tempo em silêncio.
_Poderia… testá-la? – Carlisle aproximou-se. Elevei o olhar, e ele tinha algo em suas mãos.
_Sim, poderia. – Eu o encarei, sem temor. Seja lá o que ele fosse fazer, eu não imaginei nada ruim. – Se vai me golpear intentando me ferir, poderia golpear-me em um lugar mortal para os humanos. Assim, teria certeza.

Carlisle respirou fundo, como se adquirisse coragem para fazer o que faria. Vacilante, ele desistiu. Mas Jasper lhe tomou das mãos o objeto e veio em minha direção. Pensei em correr, era instintivo. Eu ali não era predador, era caça. Mas novamente não temi. Jasper me golpeou no meio do peito, atingindo em cheio meu coração. A dor dilacerante dominou cada célula, viva ou morta, de meu corpo. Caí ao chão desfalecida, sentindo-me partida em pedaços. Aos poucos, meu coração recomeçou a pulsar, tão lentamente que parecia sem vida. Quase o era. Respirei, e passei a mão no local da ferida. O objeto estava caído ao chão, e eu totalmente regenerada.

_Isso é impressionante. – Carlisle parecia não acreditar. – Uma híbrida!
_Eu disse o que era. – Falei, mais aborrecida ainda. – Poderiam ter apenas acreditado.
_Desculpe-nos. – Edward ajudou-me a levantar. – É que… nunca ouvimos falar de um híbrido.
_Não vivemos sob o sol. – Recompus-me, com alguma dificuldade. – Nós… fomos exilados, muitos anos atrás. Eu não sabia que os puros podiam viver ao ar livre.
_Não podemos. – Jasper considerou. – Não sabem o que somos.
_Eles não sabem? Mas como… como se escondem? Somos parecidos com eles? – Minha vez de perguntar.
_Sim, somos. Fisicamente, quero dizer… temos aparência semelhante. – Edward sorriu. – Mas somos mais bonitos.

Risadas. Melhor do que golpes no coração, eu tinha que admitir.
_A que clã pertence, Beatrice?
_Aos Caldwell. Mas… eles não me seguiram. Saí sozinha de nossa clausura…
_Vai viver onde?
_Não sei.
_Pode ficar conosco, se quiser.
_Mas Carlisle… era é… meio humana. – Jasper considerou.
_Ela é meio vampiro. – Ele sorriu. – Será bem vinda à nossa casa


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sob a Luz do Sol" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.