Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 26
Capítulo 25 - O casamento - parte 01


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo terá 3 partes distintas, todas relacionadas ao casamento. Estamos na parte 01 ;)



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PARTE 01 – PREPARAÇÕES NECESSÁRIAS: UM CONVITE


*tema: Secondhand Serenade’s Fall For You*


Não foi uma missão difícil fazer os dois irmãos pararem de discutir por minha causa. Por causa do casamento. Afastar Edward de Alice e deixá-la trabalhar sozinha foi a melhor idéia dentre todas as idéias que eu poderia ter. Eu até poderia sentir-me um pouco inteligente, apesar de tudo. Quando a cidade de Seattle começou a anoitecer e os humanos começaram a recolher-se em casa, fugindo da friagem que assolava aquele dia, retornamos para nossa casa em Forks. Durante o trajeto tentei idealizar mentalmente a lista dos convidados, pois essa era a única escolha real que eu faria. Eu não queria mais discussão entre Edward e Alice, então eu não queria mais saber de decidir sobre o casamento. Que Alice tomasse as rédeas de tudo.


A lista de convidados me remeteu ao fato de que os humanos não sabiam de Charles. Eles não sabiam de nada, era verdade. Mas como ludibriá-los com uma história fantástica a respeito da concepção de uma criança vampira? A questão tempo seria difícil de lidar. Era como eu considerava. Deixei de sentir-me inteligente ao não conseguir bolar uma desculpa razoável para minha gravidez ter iniciado e terminado em tão pouco tempo.


_Não se incomode com isso, Bea. – E lá estava meu vampiro respondendo aos meus pensamentos novamente. Tola, que não conseguia ficar quieta. – Eu vou explicar a eles que você escondeu a gravidez.


_Por que eu esconderia? – Era uma pergunta legítima.


_Algumas humanas jovens sentem-se envergonhadas por estarem grávidas sem estarem casadas. Principalmente se o pai é um parente.


_Oh. – Arregalei os olhos, em surpresa. – Então foi isso? Engravidei, não tive coragem de contar-lhe… e quando você descobriu tudo ficou bem?


_Sim. Os humanos adoram problemas com finais felizes, nem vão se prender a detalhes. – Edward riu.


Fácil demais, era como parecia. Seria mais prudente deixar por conta de Edward a elaboração da desculpa. Ainda havia muito a ser feito, só que não seria feito por mim. Não tudo, na verdade quase nada. Continuei a tarefa de mentalizar a lista de convidados, precisando lidar com os risos de Edward toda vez que considerava um humano. E também lidar com a reação dele pelo fato de todos na lista serem humanos.


Era uma segunda feira, e o casamento seria no final de semana. Coloquei Charles adormecido em seu leito, e o observei mais um pouco. Ele tinha cor em suas bochechas; ele tinha mais cor do que eu. Seus cabelos muito loiros estavam maiores, e com fartos cachos. Ele tinha a boquinha entreaberta e respirava cadenciadamente. Eu nunca havia lidado com um bebê, a sensação era fantástica. Meu filho era mesmo muito perfeito, e nada poderia dizer que ele não era para existir. A sua existência não podia contrariar nenhuma lei natural, ele não podia ser contra a natureza. Charles era tão natural quanto qualquer outro ser vivo. Com algumas pequenas diferenças. Os humanos se encantariam por ele, eu tive certeza. Retornei para meu quarto, enquanto Rosalie já estava pronta para tomar meu lugar nos cuidados com Charles. Obviamente o fato de ele estar sempre dormindo a noite era decepcionante para as mulheres Cullen, mas elas conseguiam superar a frustração observando-o dormir.


No quarto, Edward me esperava como sempre. Apesar de que eu sabia que seu olhar divagante ainda denotava preocupações que ele não deveria ter; preocupações que seriam tolas demais para ter, e que provavelmente só combinariam comigo.


_Eu estou mais nervosa do que você. – Disse, sentando-me delicadamente na cama.  Edward observava a natureza do lado de fora.


_Não está não. – Ele riu. – E você não lê mentes para saber, futura senhora Cullen.


_Vou ter que me acostumar, certo? Beatrice Cullen?


_Sim. – Edward aproximou-se de mim, naquela velocidade peculiar sua, e me tomou nos braços. – Não poderia ser de outra forma. Como está nosso filho?


_Dormindo. Rosalie, nossa mais eficiente babá, está a observá-lo.


_Adoro a família. – Meu vampiro moveu-se rapidamente por sobre mim, mas eu não estava preparada para aquilo, naquele instante. Eu ainda tinha muitas coisas na cabeça, que não deixaram Edward prosseguir com seus objetivos. – Okay, Beatrice. Diga-me, por que você está tão ansiosa com o casamento? Não parecia assim antes.


_Talvez antes eu ainda não tivesse absorvido tudo. – Olhei-o nos olhos. – Desculpe-me Edward… eu não quero ser inconveniente, afinal hoje o dia foi maravilhoso.


_Todos os meus dias são maravilhosos ao seu lado. Diga-me, pode falar sobre suas preocupações.


_Eu entreguei a Alice a lista dos humanos. Mas eu considerei… como será a cerimônia? Os humanos têm cerimônias em templos, com pregadores… não somos amaldiçoados demais para termos a bênção divina?


_Eu havia pensado apenas em um juiz de paz. – Edward ajeitou-se na cama, cobrindo-nos com os cobertores. Ele já havia entendido que aquela noite apenas conversaríamos. – Nunca me considerei digno da bênção divina.


_E… teremos a mesma celebração? Quem vai me conduzir até o altar? Teremos um altar?


Edward riu. Sua risada sonora era uma música deliciosa aos meus ouvidos. Eu poderia passar horas vendo-o sorrir para mim. Mas naquele momento eu não entendi as razões de seu divertimento.


_Bea, essas não deveriam ser preocupações de Alice? Pensei que teria deixado tudo por conta dela…


_É que eu quero fazer tudo certo, Edward. Não quero parecer mais esquisita do que já sou.


_Você não é esquisita e fará tudo certo. Mas eu também já pensei nessa questão… sobre o altar. Precisamos de um altar, ou não será um casamento tradicional. Precisamos de algo assim… sei que Alice fará isso acontecer, ela é muito boa nisso.


Sorri para ele, tentando fazer dissipar aqueles pensamentos inconvenientes. Edward não respondeu uma das minhas perguntas, mas eu considerava que não tinha o direito de fazê-la.  Ele já estava se desgastando demais para me satisfazer com aquele casamento, porque ele sabia que era um desejo meu. Eu nem sabia, realmente, por que eu desejava casar-me. Mas eu desejava, sim. Intimamente, bem no âmago do meu ser, eu queria me tornar Beatrice Ann Cullen, e ter Edward como meu esposo. Era como se o fato de sermos imortais e jurarmos amor eterno não fosse suficiente para uma tola como eu; eu também queria uma união tradicional e humana, como se aquele ato significasse tanto quanto as declarações de amor que ele já me fizera.


*****  Edward’s POV  *****


Eu tinha uma idéia muito clara em mente, mas eu não sabia como realizá-la. Eu precisava, inicialmente, distrair Beatrice para que ela não desconfiasse de nada. Se ela suspeitasse de minhas intenções ela jamais me deixaria concretizar meu plano, então ela precisava ser distraída. Novamente, eu precisaria contar com minhas irmãs e seus métodos nada ortodoxos. Como Beatrice não estava indo à escola, não seria tão difícil assim sair da casa e mentir a ela para onde eu iria. Mas eu sinceramente não estava feliz com a idéia de mentir. Eu sabia que não havia outra opção, mas aquilo não me deixava satisfeito. Depois, eu precisava assumir que eu ainda exercia a mesma atração sobre Ferdinand, o irmão híbrido de Beatrice. Eu precisava crer que ele ainda me adorava, como antes. Pois só assim eu teria sucesso em minhas pretensões.


Para conseguir dar início ao meu plano, apelei imediatamente para minha mãe. Encontrei-me com Esme no salão, pouco antes do horário de partir para a escola. Beatrice estava dormindo ainda; ela já tinha se acostumado com meus horários. Charles também dormia, e Rosalie o observava como fazia toda noite. Esme sabia que eu estava para pedir algo diferente desde o primeiro momento em que a abordei. Mães são assim, elas não precisam ler mentes para saber o que acontece com você. E Esme era a pessoa mais maternal que eu já conhecera, em todos os meus mais de 100 anos. Ela era indescritível, como se fôssemos realmente seus filhos biológicos.


E então eu expliquei a ela meu plano. Que não era nada simples, devo confessar. Eu pretendia, sim, resolver o problema de quem levaria Beatrice ao altar. Ela queria casar-se, eu queria dar o casamento a ela, e tinha que sair tudo como ela queria. Exatamente como ela sonhava. E eu sabia o que ela queria; aquele dom de ler mentes era conveniente e insuportável, às vezes. Saber o que ela queria significava obrigar-me a aventurar-me em uma viagem louca. Que Esme refutou, imediatamente.


_Isso é uma completa falta de senso, Edward. – Minha mãe me repreendeu. – Você não pode considerar retornar àquele lugar horrível. O que Beatrice diz disso?


_Ela não sabe. Por isso preciso da ajuda de todos vocês.


_Pretende ir escondido? Ela ficará louca quando souber… é muita preocupação para nós, Edward.


_Eu sei. – Senti constrangimento. Não queria que ninguém se incomodasse ou se preocupasse comigo, eu sabia que não correria nenhum risco. Eles não me queriam, as decisões já haviam sido tomadas. – Mas Esme, eu quero muito dar a Beatrice esse casamento perfeito. Não sei se o pai dela pode vir até aqui, creio que seja uma temeridade trazer um vampiro bebedor de sangue humano para o meio de humanos. Mas o irmão, Ferdinand… ele é bem controlado. Posso tentar.


_Seu pai pode entrar com Beatrice e conduzi-la até o altar.  – Esme insistiu.


_Não seria a mesma coisa, apesar de que eu sei que ela se sentiria honrada.


_O que deseja que façamos, além de mentir para sua noiva?


_Apenas distraiam Beatrice. – Fui enfático. – Fiquem com ela o máximo de tempo possível, não a deixem pensar em mim. Vocês mulheres são muito sensitivas, e eu não quero que ela pense em mim. Não quero conexão nenhuma entre nós, para que ela não suspeite de nada.


_Despeça-se de seu filho, antes de ir. – Esme tinha o semblante rígido, e eu sabia que ela reprovava minha atitude e minha idéia. Mas Esme nunca ia contra nossa vontade, apesar de tudo.


Sorri para minha mãe, e fui até o quarto de Charles. Ele ainda dormia, e ele definitivamente parecia irreal. De todas as coisas surreais com as quais lidei; de todas as coisas absurdas que eu já vivi, Charles parecia a mais irreal delas. Eu não acreditaria, nem em mil anos, que aquela criança perfeita, loira, imaculada, era minha. Que ela tinha meus genes, que ela havia sido concebida por mim. Quando Beatrice ficou grávida eu estava apenas apavorado. Eu temi que ela engravidasse desde a primeira vez, mas depois o tempo passou e nada aconteceu. Parecia que ela fosse incapaz de conceber, então não havia risco algum. Mas depois daquela viagem maravilhosa à Europa ela retornou carregando uma incógnita em seu ventre, e aquilo me aterrorizou por vários dias. Eu não sabia o que esperar, eu não sabia o que ela poderia gerar. Seja o que fosse, tinha que ser um monstro. Afinal, o que um vampiro poderia conceber? Por mais que eu acreditasse que Beatrice fosse uma coisa diferente, que ela tivesse humanidade o suficiente dentro de si, eu era uma monstruosidade.


A aceitação dela me fez compreender que tudo ia dar certo. Ela disse, era meu filho. Ela chamou o pequeno ser de filho, ela quis gerá-lo e pari-lo. Para ela, estava tudo bem. Mesmo quando ele lhe chutava os órgãos internos e lhe quebrava vários ossos, para ela estava tudo bem. Beatrice enfrentou aquilo como toda mãe enfrenta uma gravidez: assustada, apavorada, e completamente apaixonada por seu filho. E então eu sabia que tudo ficaria bem, porque ela tinha essa certeza dentro de si. Mas eu ainda não sabia o que esperar. Meu filho foi um mistério até a mãe de Beatrice, Felicia, aparecer e confirmar que Beatrice havia sido gerada da mesma forma que ele. Se ela era a coisa mais perfeita que eu conhecera em toda a minha existência, o pequeno ser que ela gerava também seria.


Tomei Charles em meus braços com bastante cuidado para que ele não despertasse, e beijei sua testa. O bebê moveu-se em minhas mãos, mas continuou seu sono. Passei os dedos pelos cabelos muito loiros e admirei sua pele corada por vários instantes. Eu não podia medir o quanto eu o amava. Estava além da capacidade de qualquer unidade de medida. Era impossível mensurar o meu amor por Charles Henry. Bem como era impossível mensurar o que eu sentia por Beatrice.


_Onde você vai, Edward? – Rosalie sabia que eu não iria à escola. Mulheres, sempre tão conscientes de tudo!


_Esme explicará a você, Rose. Não me faça contar essa história novamente.


Quando eu liguei meu carro, Alice colocou-se ao meu lado. Eu consegui sair da casa sem chamar sua atenção, mas não consegui partir. Até porque eles não poderiam ir à escola comigo, teriam que usar o carro de Rosalie.


_Você precisa mesmo fazer isso? – Alice tinha os lábios franzidos.


_Você sabe que sim. Está… tudo bem? – Era uma pergunta legítima, mesmo eu já sabendo a resposta.


_Mesmo assim, é estúpido e você sabe. Sua noiva ficará arrasada.


_Não conte a ela, Alice. Por favor.


_Ela vai descobrir.


_Distrai-a e mantenha-a feliz até meu retorno. Leve-a para fazer alguma coisa, faça-a esquecer de mim por algumas horas, apenas.


_Ela vai querer saber onde você está, quando chegarmos da escola sem você. – Alice ainda estava sendo difícil.


_Você sabe ser criativa, irmãzinha.


E então eu parti em direção ao covil dos Caldwell. Eu me perguntei diversas vezes por que eu iria àquele lugar horrível apenas dois dias depois de sair dele. Eu me perguntei todas as vezes por que eu iria convidá-los para comparecer ao casamento. A resposta era sempre a mesma, mas eu continuava me perguntando assim mesmo. Eu queria uma resposta negativa, algo que me fizesse desistir e retornar para casa, para meu filho e minha noiva. Mas não, todas as respostas eram positivas e encorajadoras. E eu dirigi avidamente até o covil dos Caldwell, daquela vez sem desvios e sem dúvidas. Nada me impediria de encontrar o lugar que eu já sabia onde era.


Eu precisei de imensa coragem para caminhar lentamente para dentro do covil sem saber exatamente o que me esperava. Eu não sabia exatamente como fazer para me encontrar com Ferdinand; da vez passada eu espreitei os caçadores e acabei por me encontrar com ele. Mas o que fazer naquele momento? Eu não sabia nem o que acontecia na entrada do covil; se eu conseguiria entrar. Estacionei o carro em uma trilha que estava próxima ao covil e caminhei até lá. Não havia ninguém por perto, nem animais. Eu não conseguia ouvir nenhum pensamento, então imaginava que todos estivessem dentro do covil. Respirei fundo, aquele cacoete humano que nunca me deixaria, e caminhei para dentro da fenda que me levaria ao antigo lar de Beatrice. Antes mesmo que eu pudesse captar algo, olhos avermelhados me cercaram e se aproximaram perigosamente. Eu poderia atacar, reagir àquela aproximação. Mas eu não pressenti nenhum risco então deixei que os olhos se transformassem na figura de um híbrido, tão loiro quanto Ferdinand ou Charles. Ele não falou comigo, apenas intencionou me imobilizar para poder me levar para dentro. Ele sabia que eu não era humano, mas ele não tinha idéia de que eu fosse um vampiro, muito mais forte e ágil do que ele. Deixei-me capturar, pois assim eu conseguiria entrar no covil.


Para minha surpresa – e sorte absoluta, quem respondeu ao chamado do híbrido para lidar com o recém capturado foi ninguém mais do que Ferdinand Caldwell, meu aliado. Eu esperava que ainda fosse, então.


_Edward? – Ele se aproximou incrédulo, ao ver-me rendido pelo híbrido que fazia a guarda do covil. – Edward, é você?


_Saudações, Ferdinand. Parece que eu deveria ter-me anunciado, certo?


_Solte-o! – Ferdinand ordenou, e o guarda obedeceu. – Ele é um vampiro, seu tolo. Edward… o que faz aqui no covil? O que houve, é Beatrice? Diga, aconteceu algo?


_Acalme-se, Ferdinand. – Eu pude sentir a ansiedade no pobre híbrido. Aproximei-me dele tão logo fui solto pelo guarda, e fiz um gesto de conforto. – Nada aconteceu… eu vim aqui porque gostaria de lhe falar.


_Venha comigo.


Ferdinand guiou-me por alguns corredores escuros e de odor desagradável até um salão iluminado por uma clarabóia, circundado por estantes com livros empoeirados. O cheio de poeira podia ser sentido a distância, principalmente por quem estava acostumado com ar fresco.


_Belo lugar. – Tentei ser simpático.


_É o salão de convenções. Os anciãos quase não vêm aqui, portanto poderemos conversar sem interrupções. Diga-me, o que precisa falar-me?


_Ferdinand, você sabe que vou casar-me com Beatrice. E pretendo dar a ela um casamento perfeito, exatamente como ela deseja. Ela tem essa imagem de um casamento humano, com vestido, ornamentação, celebração. E ela terá tudo isso, eu garantirei. Mas falta algo para que tudo saia como Beatrice idealiza, e por isso eu precisei vir até aqui.


_Por que ela também não veio?


_Ela não sabe que estou aqui. – Confessei. Ferdinand me olhou como se meu comentário não lhe causasse nenhuma emoção diferenciada. No covil os homens não costumavam necessitar fazer coisas escondidas das mulheres, pois elas não tinham mesmo muita voz. E depois da reação de Beatrice à autonomia que Rudolph lhe concedera, eu duvidava que outras mulheres fossem ter regalias por lá. – Eu preferi fazer-lhe uma surpresa.


_Compreendo. Bem, você está nos fazendo um convite, então? Um convite… para o seu casamento?


_Sim, é isso. Eu gostaria muito que você e Felicia comparecessem. Na verdade, eu gostaria que os dois pais de Beatrice pudessem estar presentes. Eu era humano, meus pais morreram. Eu tenho pais adotivos maravilhosos, porém Beatrice tem os dela vivos. Ou o mais próximo disso… porém eu creio ser muito temeroso que Rudolph compareça ao casamento.


_Você teme que ele queira clamar Beatrice novamente? – Era uma dúvida legítima, considerando que eu dera poucos detalhes ao garoto.


_Não, o problema é que teremos humanos dentre os convidados.


A interjeição na face do híbrido foi suficiente para que eu percebesse que o problema não se limitava a Rudolph. Nem Ferdinand nem Felicia nunca haviam sido submetidos à provação da presença de um humano, e mesmo que eles nunca tivessem se alimentado de sangue humano, a reação deles ao aroma irresistível do sangue era imprevisível. Eu não teria nenhuma garantia que eles resistiriam ao sangue. Não foi somente porque Beatrice conseguiu bravamente resistir que eles também teriam a mesma reação. Ela queria resistir; Beatrice sonhou com o encontro com os humanos e ela sabia como deveria portar-se. Por mais irresistível e insuportável que fosse estar na presença deles, ela conseguiu balancear a sede com o controle emocional. Mas nenhum daqueles híbridos estava nas mesmas condições que ela. E eu acreditei, naquele instante, que minha empreitada seria inútil. Que minha ida ao covil fora para nada.


Mas eu precisava continuar tentando. Eu não era de desistir.


_Ferdinand, seria possível conversar com Felicia e Rudolph? – Foi a pergunta. Beatrice diria que era uma pergunta tola, e ela tinha toda razão.


_Tem certeza? – Ferdinand coçou o queixo, confuso.


_Sim, eu gostaria muito.


Obviamente falar com o líder dos Caldwell não era uma missão simples. Eu precisava testar como estava a minha popularidade com meu ‘cunhado’ híbrido, porque só se ele continuasse meu fã número um eu conseguiria uma audiência com Rudolph. Por sorte, Ferdinand ainda parecia tentado a agradar-me e conduziu-me por mais corredores, até outro salão. Daquela vez, as coisas não foram tão simples. Inicialmente, vacilei em adentrar o cômodo. Rudolph sentiu meu cheiro, e recebeu Ferdinand com agressividade. “Aquele vampiro maldito”, era meu nome. Eu não temia lutar com Rudolph nem me importaria em matá-lo naquele covil imundo. Ele era um vampiro experiente e um cientista, mas eu duvidava que ele pudesse lutar melhor do que eu. Eu era um estrategista e muito habilidoso. Jasper me havia ensinado táticas de batalha que só eram vistas nos campos, nas guerras. Rudolph não teria grandes chances contra mim, a não ser que ele conseguisse destacar seu exército de caçadores antes que eu fugisse. Contra dez vampiros, eu não seria número suficiente. Mesmo assim, ele não me assustava em nada.


Porém matá-lo significaria ter que lidar com Beatrice. Ela poderia me perdoar por matar seu pai? Por mais abominável que Rudolph estivesse sendo para ela, ele ainda era seu pai biológico e quem ela aprendeu a admirar e respeitar por toda a existência. Eram mais de 100 anos amando Rudolph, um simples erro que ele cometesse, por mais terrível que fosse, não faria desaparecer aquele sentimento. Eu sabia o que ela sentia por ele, ou eu não teria ido até ali para fazer o que ela queria. Ela nem sabia que queria. Então, era melhor que eu conseguisse me entender com aquele vampiro mal humorado, ou eu ficaria muito irritado por não conseguir o que eu queria.


Respirei fundo novamente e entrei no salão, encarando Rudolph com seriedade, porém subserviência. Eu não ousaria desafiá-lo em sua casa, não era necessário.


_Saudações, Rudolph.


_Edward Cullen. – Ele ainda lembrava meu verdadeiro nome, então. – És mesmo muito ousado em vir aqui novamente. O que quer? Tripudiar sobre minha desgraça? Já não é suficiente ter-me tirado Beatrice?


_Acalme-se, Rudolph… não é nada disso, não vim aqui tripudiar sobre nada. Eu sequer tenho motivo para fazê-lo… eu vim aqui por Beatrice.


_O que tem ela? – O semblante de Rudolph suavizou-se. Minha noiva tinha razão, ele a amava. Um tipo de amor suficientemente perturbado, mas era amor. – O que houve com Beatrice? Deixou que algo acontecesse a ela?


_Rudolph… – Ferdinand colocou a mão por sobre o ombro do pai, em um gesto de conforto. – Edward veio nos fazer um convite.


_Eu e Beatrice vamos nos casar. Um casamento como os casamentos humanos. Teremos uma celebração, um juiz de paz, documentos que não têm muita validade para nós, alianças, convidados e uma festa. Pode parecer ridículo, eu sei, mas é o que Beatrice quer. E eu gostaria de convidá-los para estar presente nesse momento… porém há um problema. Humanos estarão presentes, também. Amigos de Beatrice.


Eu disse tudo de uma vez, porque Rudolph não ficaria de guarda mais baixa por muito tempo. E eu não queria me demorar, porque se eu chegasse muito tarde em casa Beatrice perceberia minha ausência. O vampiro em encarou por diversos segundos, e eu tentei não demonstrar muito claramente que o estava lendo. Eu não sabia como ele reagiria àquela informação.


_Isso é realmente ridículo. – Ele soltou uma sonora gargalhada. – Beatrice vai casar-se! Felicia estragou a garota, está vendo, Ferdinand? Felicia e suas lendas e filmes humanos… veja bem! Beatrice vai casar-se!! E… ela é amiga de humanos?


_Sim. Ela freqüenta a escola… ela é muito popular entre eles.


_Aquela híbrida sempre conseguiu tudo que queria. – Rudolph parecia definitivamente mais calmo e menos agressivo. Na verdade, ele parecia estar… feliz com a notícia. – Porém é muito complicado isso que me pede, Edward Cullen. Não somos como vocês, acostumados aos humanos.


_Eu sei. Por isso vim aqui para uma conversa, não enviei um convite. – Tentei ser divertido, se fosse possível. – Gostaria de convidá-los, mas avisando que haverá humanos na festa. Muitos deles. Vocês seriam capazes de estar no meio deles sem atacá-los?


_Convivo com os humanos há séculos. – Rudolph surpreendeu-me, severamente. – Tenho diversos pactos com eles. Alimento-me deles, mas resisto a eles. Obviamente se houver derramamento de sangue…


_Sim, não pretendemos que isso ocorra. Na verdade, se houver sangue derramado até mesmo minha família está em risco.


_Ferdinand e Felicia nunca foram testados. – Rudolph considerou. – Mas… foi Beatrice quem te mandou aqui? Por que não veio ela mesma?


_Pretendia fazer-lhe uma surpresa. Ela sequer sabe que estou aqui…


Rudolph encarou Ferdinand, que tinha o semblante curioso e confuso. Depois deixou-nos no salão e desapareceu por outras portas, sem falar nada. Porém eu sabia o que ele pretendia. Aquilo era uma idéia completamente ridícula, porém vinda de um vampiro controlador como ele não seria surpresa. O que ele pretendia iria colocar-me em apuros, obviamente. Beatrice saberia que eu havia ido até o covil, e ela me repreenderia. Ah, mulheres. Para fazer o que ela queria, para surpreendê-la, eu precisaria enfrentar a provação de desagradá-la.


O vampiro retornou alguns instantes depois com Felicia, que definitivamente não havia entendido nada devido à ausência de explicações. Ela assombrou-se ao me ver, e previu que o pior fosse acontecer, se já não tivesse acontecido. Eu sorri, para tentar fazer desaparecer o pavor em seus olhos.


_Quando será o evento? – Rudolph perguntou-me, ainda com a mesma rispidez de sempre.


_Em quatro dias. – Respondi, sem saber se eles tinham inteira noção de tempo, como os humanos. – Será em um sábado, em nossa casa.


_Pois bem. Tem até lá para garantir que esses dois não ataquem nenhum humano. – Rudolph empurrou Felicia para o lado de Ferdinand, ainda sem lhes dar qualquer explicação. – Eu não quero que isso aconteça tanto quanto você… então, se quiser que eles compareçam ao casamento, terá que levá-los agora. E testá-los.


_Isso não me parece tão razoável… – Tentei argumentar.


_Não há argumentos. – E ele me repeliu. – Felicia, vá arrumar uma mala para você e Ferdinand. Vocês vão com Edward para o casamento de Beatrice.


A híbrida não fez qualquer pergunta, correu para fora do salão a fim de cumprir a ordem que lhe fora dada. Eu ainda resistia àquela situação. Não que eu não gostasse de visitas… os Cullen adoravam visitas, porque não recebíamos nenhuma. Mas aquelas visitas não estavam em meus planos naquele momento.


_E você, Rudolph? Você comparecerá ao nosso casamento? – Eu tive que perguntar porque a resposta não estava nada clara. Naquele mesmo instante, meu celular tocou e eu já sabia que era Alice. Ou a me repreender ou a me dizer que Beatrice já sabia de tudo. Seja o que fosse, eu não a atenderia naquele momento.


_Dependerá de alguns fatores, vampiro. Bem, agora vá. Ferdinand, vá buscar Felicia e vá com Edward. Vocês devem voltar no domingo, independentemente do que aconteça. Isso não é uma viagem de férias, é apenas uma liberação para agradar a Beatrice. Está entendido?


_Sim, Rudolph.


O vampiro deixou o salão, e daquela vez definitivamente. Tinha sido muito mais fácil do que eu imaginava, então. Parecia até fácil demais, e aquilo me deixou apreensivo. Eu tinha aquela sensação de que as coisas no covil eram ruins, e seriam ainda piores. Eu tinha aquela sensação de que eu era odiado, de que Beatrice estava renegada, e que nunca mais ela seria bem vinda naquele lugar. Eu tinha certeza que eu nunca fora bem vindo. Eu imaginava um ódio terrível em Rudolph, que fosse capaz de fazê-lo perder o controle e pular sobre mim a fim de eliminar-me. Eu tinha aquela sensação… e ela parecia tão errada depois que Rudolph me deixou sozinho com Ferdinand. Era como se tudo estivesse normal, e eu fosse o único que estivesse me preocupando com aquilo. O celular tocou novamente, e decidi atender enquanto seguia Ferdinand pelos corredores a fim de encontrar-nos com Felicia.


_Diga, Alice.


_Edward, onde você está?


_Não faça perguntas tolas, você sabe onde estou.


_Por que foi que eu vi os híbridos vindo para cá novamente?


_Porque eles estão mesmo indo. Alice, como está Bea? E Charles?


_Seja bem vindo ao meu inferno particular. Sua irmã Rosalie abriu a boca e contou a Bea que você havia escapado para o covil. Ela está rodando de um lado para o outro feito uma maluca desde que ficou sabendo, e não para de falar. Charles está nervoso porque ela está nervosa, e eu não sei lidar com isso, Edward!! Esme teve que sair com o bebê de casa… por favor, fale com sua noiva e diga a ela que está tudo bem!


E Alice entregou o telefone a Beatrice, enquanto eu pensava em mil maneiras de matar Rosalie sem deixar rastro. Aquela loira ainda iria me pagar.


_Bea, meu amor, como você está?


_Edward Anthony Masen Cullen, você está ficando completamente louco! Aliás, você quer me deixar louca? O que afinal você está fazendo nesse covil? Céus, venha para casa Edward… saia daí, por favor saia antes que Rudolph veja você e…


_Bea. – Eu a interrompi. Felicia já havia nos encontrado na saída, carregando duas malas, e Ferdinand pegou a bagagem e caminhamos para onde estava estacionado meu carro. – Bea, eu já estou indo para casa sim? Já saí do covil, estou na floresta. Está ouvindo os pássaros cantando? Está ouvindo? Acalme-se meu amor.


_O que foi fazer aí? Você está louco, quer morrer antes de casar-se? Se não queria casar-se era só dizer e…


_Bea, preciso desligar agora. Tenho que dirigir e quero chegar aí bem rapidamente, sim? Por favor, acalme-se e vá buscar Charles. Ele precisa de você.


Desliguei o aparelho rapidamente, e abri o carro. Colocamos as malas no bagageiro e liguei o rádio em uma música relaxante. O telefone começou a tocar e precisei desligá-lo, definitivamente.


_Ela é difícil, sempre foi. – Felicia determinou. – Mas… vamos entender o que está acontecendo?


_Sim, logicamente. Eu vim convidá-los para o casamento. E Rudolph achou prudente que vocês fossem antes para podermos conferir se vocês… conseguem conviver com a presença dos humanos.


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