Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 20
Capítulo 19 - Maternal




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*tema: Bryan Adam’s When You Love Someone*

Estar grávida não era divertido. Eu jamais considerei que fosse, principalmente porque eu jamais considerei a possibilidade. Eu ignorava que as híbridas pudessem gerar filhos indistintamente, ainda mais considerando um vampiro como pai. Todas as décadas de ignorância caíram por terra com o meu pouco tempo entre os Cullen. Eu estava com eles há quase um ano, então. Minha chegada, a escola, o inverno, as férias de primavera, e mais acontecimentos… e eu estava ali, há meses. Nada significativo se comparado à minha experiência secular. Eu tinha tantos anos de vida quanto podia recordar-me, e praticamente não tinha visto ou vivido nada. Aqueles poucos meses entre os humanos, sob a luz do sol fraco e pálido de Forks, me fizeram outro ser. Eu gostaria de dizer, e por que não, outra pessoa. Mas eu considerava estar no meu melhor momento ao lado do vampiro que eu amava quando descobri-me gerando um filho. Mais aberrações, mas eu estava decidida a não me importar com detalhes insignificantes quando tudo que eu mais queria estava exatamente ao meu lado.

Eu estava inchando, a cada dia. Carlisle estava assombrado com a rapidez com o que o meu filho se desenvolvia. Ele fez alguns cálculos e considerou que a minha gravidez era equacionada de forma simples, ou seja, cada mês de gestação para os humanos representava uma semana para mim. E em pouquíssimo tempo e já estava inchada o suficiente para não caber em roupa nenhuma, dando a Alice a sua tão esperada chance de sair comigo para comprar-me roupas. Eu não podia passar os dias vestindo as camisas de Edward, segundo ela. Não que eu me importasse, pois Edward tinha um aroma delicioso. Eu sinceramente me sentia extasiada em poder passar o dia inteiro vestindo algo dele, sentindo o cheiro dele como se ele estivesse comigo o tempo todo. Mas Alice insistia que eu precisava de roupas. Algumas poucas, só para as próximas semanas, era a sua idéia.

Eu não podia mais ir à escola, pois os humanos não concebiam a idéia de que uma gravidez pudesse durar nove semanas, e não nove meses. Não seria possível manter o disfarce dos Cullen se eu aparecesse tão grávida na escola, e menos ainda se tivesse meu bebê em pouco tempo. Carlisle achou mais prudente que Edward contasse a todos que eu adoecera nas férias, e quando o bebê nascesse outras providências poderiam ser tomadas. Ao menos, em pouco tempo eu estaria com meu corpo completamente recuperado e aquilo significava retorno às atividades normais. Edward insistiu em ficar comigo, durante aquelas semanas, mas eu recusei veementemente. Ele não podia deixar de cumprir as suas atividades porque eu estava impossibilitada de fazer as minhas. Era novo para mim, mas passávamos grande parte do dia separados. E não podíamos fazer programas em Port Angeles como sempre, pois meus amigos humanos podiam encontrar-me ocasionalmente. E eu definitivamente não estava apta a esconder minha gravidez quando ela chegou à sexta semana, ou sexto mês, para os humanos.

A minha companhia diária era Esme. A mãe da família Cullen, quem poderia me ensinar um pouco a me tornar uma. Eu idealizava ser uma mãe como Esme. Ela não teve a experiência de cuidar de um bebê, mas ela era mãe de Edward e dos demais. E esposa de Carlisle. Uma mulher ideal, eu pensava. Um exemplo que eu gostaria de seguir, então.
_Não se preocupe, Bea. – Esme disse, enquanto organizávamos algumas roupas para a lavanderia. Era outra tarde normal, sem qualquer interferente que me fizesse ansiosa demais. – Ser mãe é instintivo. Você vai se sair bem, todas nós vamos.
_Todas serão mães do meu… bebê, certo? – Não havia muito como fugir daquela realidade.
_Acredito que sim. Você está realizando um sonho particular de Rosalie, e apesar de todo o rancor que ela tem demonstrado, eu imagino que quando ela vir o bebê vai se tornar a mais zelosa tia que já se teve idéia. Alice é menos empolgada com crianças, mas ela também é mulher. E eu… eu me tornei vampira exatamente porque não suportei perder meu filho. O quanto você acha que anseio por um bebê em meus braços?

Muito, eu realizei. Quase de forma assustadora, pensei. Tantas mães para uma só criança. Talvez aquilo tornasse mais simples o meu fardo, o fardo de assumir toda a responsabilidade pelo ocorrido. Edward se culpava pela gravidez, constantemente. Se eu não estivesse reagindo tão bem, ele certamente teria um colapso nervoso. Se a vertigem não tivesse parado dias depois, e se meu organismo não estivesse respondendo satisfatoriamente a todas as mudanças da gravidez, Edward seria um problema para se considerar. Ele se culpava, acreditando que deveria ter feito algo para impedir. Aquele pensamento dele me aborrecia consideravelmente, porque eu estava feliz com a gravidez. Não era divertido, mas eu me sentia plena, sabendo que gerava em meu ventre um filho de Edward. E a responsabilidade de fazer tudo aquilo dar certo, principalmente para manter Edward calmo e satisfeito, era imensa. Saber que podia dividi-la com Esme, Rosalie e Alice era reconfortante.

_Edward, você não vai monopolizar a Bea hoje! – Alice protestou com o irmão, em uma outra tarde chuvosa. O tempo mais quente trazia chuva, e a chuva era sempre gloriosa. Água do céu para amainar o calor intenso do sol. Água para alimentar a sede da terra, para nutrir as plantas e os animais. Água da qual eu não precisava, mas que mantinha toda aquela beleza ainda mais linda.
_Alice, eu passo metade do dia sem ela. Agora você pretende roubar-me Beatrice nos fins de tarde?
_Só hoje, Edward. – Alice sorriu, já se sentindo vitoriosa. – Vamos comprar roupas para ela.
_Alice… – Eu cogitei protestar. Alice fez um gesto com as mãos significando que aquele argumento já estava antigo. Definitivamente, argumentar com a pequena Cullen era quase inútil.
_Pode deixar, Edward… vamos a Seattle, já que Port Angeles é complicado.

Alice me segurou pela mão e me puxou pela porta. Olhei para Edward enquanto era levada pela varanda, em direção ao carro de Alice – que não era mais discreto do que o carro de Edward. Senti algum pavor, então… uma sensação de pânico que pensei não pertencer a mim. Eu não queria sair de casa, eu não queria deixar aquele lugar confortável. Talvez aquela fosse outra característica da gravidez, o apego exagerado a detalhes que antes não me prendiam.
_Alice. – Edward falou, vindo atrás de nós. – Deixe-me ao menos ir com vocês… – Meus braços procuraram a cintura de Edward no mesmo instante em que ele se aproximou, e eu afundei minha face em seu peito, como fazia quando tinha medo, ansiedade, agonia. Ele me afagou os cabelos e beijou a testa, encarando a irmã. – Ela quer.

Alice deu de ombros, e jogou as chaves para Edward. Ele as devolveu para a irmã, sorrindo. Ela entendeu que ele iria comigo daquela vez. Ele iria ao meu lado, me amparando durante a viagem. Aquela talvez fosse a reação mais irritante da gravidez, a total ausência de racionalidade em tudo que eu fazia. Era como se meu cérebro estivesse nublado, e eu não conseguisse ver nada com objetividade. Edward inclusive chegou a implicar, afirmando que eu estava mais confusa do que de costume. Era deveras irritante, eu precisava admitir. Eu sentia a falta de Edward como se ele fosse o responsável por saciar a minha sede. Minha dependência estava tão absurda que eu sofria todos os instantes em que ele estava na escola, e quando ele retornava eu só desejava manter-me presa a ele.

Talvez por isso ele tenha estado comigo durante todos os instantes em que eu ansiava por ele. Talvez por isso seu simples olhar fizesse com que Alice compreendesse que não era ele quem precisava de mim desesperadamente, mas o inverso.

Seattle ficava bem mais longe do que Port Angeles, mas com Alice ao volante chegamos em muito pouco tempo. Ela dirigia ainda mais enlouquecidamente do que Edward… era quase como se ela voasse. E a estrada estava vazia, o que a permitiu explorar todas as suas habilidades. Como a cidade era grande o suficiente para que eu não fosse notada, seria seguro transitar pelas ruas ao lado de dois vampiros. Mãos segurando as de Edward, Alice falando como se estivesse ligada em uma bateria, a tarde seria muito prazerosa.
_Você quer comer alguma coisa? – Edward sussurrou em meus ouvidos, enquanto carregava diversas sacolas. As pequenas compras de Alice renderam uma visita a cinco lojas diferentes, e despenderam o absurdo de mais de mil dólares americanos. Somente com algumas roupas para eu usar por menos de três semanas! Se eu tivesse sucesso em completar a gravidez, porque Carlisle não conseguiu esconder a possibilidade de que o parto pudesse se antecipar.
_Comida humana? – Fiz uma careta. – Não… faz algum tempo que não tenho a menor vontade de comer alimentos humanos.
_Deve ser o bebê. – Alice intrometeu-se. – Mulheres grávidas sempre têm desejos esquisitos.
_Ah, beber sangue é esquisito para mim… – O sarcasmo nunca tinha me abandonado.
_Preferia que você não precisasse sair para caçar nessas condições. – Edward mostrou-se aborrecido com o fato de eu preferir sangue durante a gravidez. Na verdade, eu tinha verdadeira aversão à comida humana desde os momentos de vertigem. Eu sequer arriscava comer algo, pois meu organismo rejeitava a simples idéia de alimentar-me com todos aqueles aromas e cores. Eu queria sangue, e mataria um humano se fosse preciso.
_Sinto muito, Edward, mas eu não consigo. Eu deixo você pegar as presas para mim, se acha mais conveniente.

Ele me beijou a testa, mas nada aliviado. Sua preocupação era sustentável, mas eu não podia impedir meu corpo de querer o sangue, apenas. Voltamos para casa depois que a luz do dia já se havia findado, e eu estava definitivamente cansada. O bebê me esgotava, mesmo quando eu não fazia nada espetacular. Ele era grande, pesado, desenvolvia-se rapidamente e sugava toda energia que eu podia ter. Ainda, ele era muito forte. Mais forte do que eu, e aquela era a preocupação de Carlisle. Eu não me preocupava muito a esse respeito, porque ele não me machucaria. Ele era meu filho! Quando ele exagerava e me causava alguma dor, mesmo que houvesse uma ruptura de membrana ou algum edema, a lesão superficial imediatamente se curava. Mas a regeneração cobrava o alto preço da sede eterna. Eu tinha duas vezes mais sede do que antes, e parecia insaciável. Além do cansaço inevitável.

 

***** Enquanto isso, no covil dos Caldwell *****

_Jasmine! – Felicia chamou a híbrida jovem, aos gritos. – Jasmine!!
_Sim, senhora. – A moça, vestindo longas saias brancas, se apresentou. Seus cabelos eram infinitamente loiros, e seus olhos ainda brilhavam como a noite.
_Jasmine, eu vou me ausentar por alguns dias. Se Rudolph perguntar, você terá que mentir.
_Mentir, senhora?
_Sim. A quem deve mais lealdade, Jasmine?
_À senhora. – A híbrida baixou o olhar, resignada.
_Então, minta. Você dirá a Rudolph que eu estou doente, e fui levada à quarentena. Diga que o sangue me fez mal… que fui contaminada.
_Aonde a senhora vai? – Jasmine perguntou, curiosa.
_Vou avisar minha filha sobre o destino que a aguarda.

Felicia Caldwell deixou o covil às pressas, durante o dia, ciente de que Rudolph não estaria caçando. Era providencial que os machos não se misturassem com as fêmeas, assim ela teria tempo. Tempo era o seu maior inimigo naquele instante, e Felícia precisava ser veloz. Segurando entre as mãos o tecido florido de seu vestido do século retrasado, a híbrida embrenhou-se na floresta em busca de seu aliado. Ela poucas vezes havia deixado o covil, mas ela tinha um aliado que lhe devia favores. Estava na hora de cobrá-los.

A híbrida não se demorou em encontrar a cabana aparentemente abandonada, que se escondia por entre samambaias e cipós, já aos pés da grande colina. Respirou fundo, adquiriu coragem, e bateu à porta. Uma vez, duas vezes, três vezes. A figura sombria e morena, duas vezes maior do que ela, abriu a porta empenada de madeira. O cheiro de mofo era angustiante.
_O que você quer, híbrida? – O homem alto perguntou, voz rouca como trovão.
_Preciso de um favor. – Felicia entregou um pedaço de tecido ao homem. – Preciso que encontre essa pessoa.
_Não faço mais alianças com os híbridos, Felicia.
_Você me deve, lobo. – A híbrida cerrou os dentes, adquirindo coragem. – Você me deve e sabe disso. Não quero aliança, quero que encontre essa pessoa. Depois não precisaremos nunca mais nos falar.

O homem franziu o cenho e saiu da frente da porta, para que Felicia entrasse. A híbrida não se sentou, ficou apenas observando o homem que cheirava o pedaço de tecido, comprimido entre seus dedos. Seus olhos já estavam fechados, e ele parecia concentrado.
_O rastro dela já se foi. – O homem constatou. – Faz muito tempo, certo?
_Sim… quase ano. – Felicia desanimou-se.
_Como você é tola, híbrida! Acha que posso rastrear alguém depois que as chuvas lavaram toda a floresta? O que pensa que somos?
_Cães farejadores! Animais, estou errada?
_E a aberração da natureza considera que tem moral para me adjetivar-me com palavras cruéis? – O homem riu, a voz novamente grave e poderosa. – Você é uma morta viva, híbrida. Vamos, não tenho mais tempo a perder. Volte para seu covil. Não posso encontrar a pessoa.
_Mas eu preciso. – Felicia insistiu, um tanto insatisfeita em ter que implorar a ajuda do lobo. – William, eu preciso encontrar Beatrice. Ajude-me.
_Ela é assim tão importante? – O homem franziu-se novamente. – Importante a ponto de você precisar… se sujeitar a me pedir?
_Sim, ela é. – Felicia respirou fundo. – Preciso encontrá-la, diga-me o que fazer.
_Bem, podemos ser lógicos. – Ele ponderou. – Se ela deixou o covil e você não sabe para onde foi, é provável que não esteja na região. Ou seus caçadores já a teriam encontrado. Podemos visitar os Cullen, a dois dias de viagem.
_Quem são os Cullen?
_São vampiros. – O homem fez uma careta, enojado pela lembrança que lhe veio à mente. – Eles dominam uma região próxima, e são muito sociáveis. Talvez tenham ao menos ouvido falar de Beatrice.

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Depois de um cochilo, condição outra que a gravidez passara a me proporcionar, decidi que precisava de um banho. Eu era aquela que costumava me banhar, e por isso o banheiro do andar de cima era praticamente exclusividade minha. Era interessante como os vampiros acumulavam poucas impurezas em seus corpos. Aquela minha faceta humana poderia ser irritante, mas eu costumava gostar do banho. Ele era relaxante, e naquelas condições eu precisava mesmo relaxar, manter o organismo trabalhando em velocidade normal. Regulei o chuveiro para uma temperatura morna – como se aquilo fizesse diferença em minha pele gélida – e entrei sob a água, deixando-a lavar meus cabelos e remover as marcas do dia. Concentrei-me a observar meu corpo, naquele instante. Eu sempre tive o mesmo corpo, desde sempre. Desde que me recordava. Como eu poderia estar tão inchada, tão crescida. Como meu ventre podia ser tão elástico a ponto de expandir daquela forma tão irreal?

Eu estava imersa na água e nos pensamentos quando ouvi um ruído por trás de mim, e virei-me instintivamente, ansiosa. O acontecido remeteu-me há tempos atrás, quando eu tentava sorver o sol no jardim dos Cullen. Meu nariz imediatamente se chocou com algo que estava logo atrás de mim, e mãos muito firmes me ampararam pelos braços, para que eu não caísse. Elevei o olhar e me deparei com o sorriso suave de Edward, e seus olhos amarelados como se estivessem mais uma vez diluídos só para mim.
_Calma, meu amor. – Ele disse, me abraçando. – Eu não queria te assustar, mas você estava tão concentrada…
_Edward o que você…
_Eu queria ficar com você. – Ele disse, acariciando meus cabelos molhados. – Achei que fosse uma boa idéia te ajudar a lavar os cabelos… você não precisa de ajuda? Eles são tão longos… – Respirei fundo, enquanto ele passava os dedos cheios de shampoo por meus cabelos e deixava a água enxaguá-los. Senti eletricidade percorrendo meu corpo, e uma vontade insuportável de sucumbir nos braços de Edward. – Faz algum tempo…

Ele não precisaria completar a frase, e eu não precisaria ler mentes para saber o que ele pensava. Fazia mesmo algum tempo que não nos tocávamos de nenhuma forma íntima. Eu estava frágil, e extremamente mal humorada. Meu organismo estava em pane e eu mal podia suportar a mim mesma. Minha carência era difícil de lidar, até mesmo para mim. E meu corpo parecia detestavelmente inadequado. Tudo parecia inadequado, era verdade. Eu era a própria inadequação.
_Eu pensei que você não tomasse banho todo dia. – Sarcasmo, como de costume. Não podia perder meu eloquente charme.
_E eu não tomo. – Ele terminou de lavar-me os cabelos, e seus dedos tatearam pelo box em busca de algo. O sabonete líquido tocou minha pele causando ansiedade, e minha respiração se acelerou. Em contrapartida, meu coração praticamente parou de bater. Edward interrompeu seu ato e se afastou alguns centímetros, mordendo o lábio inferior. – Talvez isso não tenha sido uma boa idéia.
_Não. – Eu meneei a cabeça para os lados, ainda tentando recuperar os batimentos cardíacos. – Não… foi uma boa idéia.
_Você me parece muito contraditória. – Ele sorriu, e eu não me importei com mais nada. Aproximei-me o máximo permitido de Edward e o beijei, sob a água delicada que caía do chuveiro. Ele me abraçou pela cintura, com todo cuidado possível, acariciando suavemente minhas costas. Era uma sensação boa demais para que eu ficasse tanto tempo sem. Mas eu não estava sendo lógica, e por isso afastei-me repentinamente de Edward, colocando-me de costas para ele. Respirei algumas vezes, esperando que ele fizesse algo ou me deixasse falar.
_Edward, você não deveria estar me vendo assim. – Levei as duas mãos à face, como que escondendo-me do óbvio, embaraçada.
_Eu acho que já te vi assim o suficiente para você se importar, agora. – Ele parecia genuinamente confuso.
_Mas eu estou… eu estou anormal. – Eu não pretendia encará-lo novamente. – Eu sei que nunca fui afeita às vaidades mundanas; e que isso é coisa da Alice, mas… eu me sinto horrível. Não sou a Beatrice que você teve em seus braços pela primeira vez.

Edward se aproximou, e me envolveu com seu corpo, sem forçar-me para si. Ele embalou meu ventre por entre seus braços longos, posicionando suas mãos exatamente onde eu sentia o desconforto do peso do bebê. Era como se ele soubesse que ele estava ali… seus lábios tocaram meus cabelos, e eu senti o ventre mexer, rapidamente.
_Bea, você está diferente. Era de se esperar que estivesse; você está se transformando para poder abrigar nosso filho até o seu nascimento. Mas isso não te faz horrível. Eu te amo como sempre te amei, eu quero você como sempre quis, e eu só não perco o controle mais facilmente porque eu sei que ele não gosta muito dessa intimidade.
Ou Edward era inacreditavelmente bom com as palavras ou eu era inacreditavelmente fácil de convencer. Ou ambos. Ele nunca precisava de muito esforço para me fazer mudar de idéia, para me dominar totalmente. Eu sentia, uma impressão muito firme, que ele exercia uma atração insuportável sobre mim. Como um tipo de magia, de intervenção. Como se ele me dopasse, sempre. Quando me dei conta de mim, eu já estava plenamente rendida em seus beijos. Felicia poderia considerar aquilo como um feitiço, porque nem nas fábulas eu me lembrava de existir mocinha indefesa tão… verdadeiramente indefesa. Sem muito esforço, e sem deixar meus lábios, Edward desligou a água e nos envolveu nas toalhas brancas, macias, que Esme havia deixado ali mais cedo. Ele pareceu muito maior, naquele instante.

_Onde estão os Cullen? – Perguntei, percebendo o que ele pretendia.
_Eles não vão aparecer aqui agora. – Edward me segurou nos braços, enrolada na toalha, e me conduziu porta afora, carregando-me para o quarto. Por mais pesada que eu pudesse me sentir, eu ainda devia ser leve como pluma para os braços fortes de Edward. Ele era um vampiro, sua força não podia ser medida facilmente. Os Cullen não iriam aparecer, e eu imaginei o que aquele vampiro teria dito a eles. Edward definitivamente me deixava desarmada, pois caso contrário eu já o teria eliminado da face da Terra, tamanha era a sua petulância. Com todo cuidado que lhe era peculiar, Edward me deitou na cama, as luzes totalmente apagadas, jogando as toalhas no chão. As duas, minha e dele. Eu já não tinha muita consciência de mim mesma nem noção do espaço que ocupava quando ele me beijou, e me tocou da mesma forma de sempre, independentemente de eu me sentir diferente, horrível, fora de proporções.

A gravidez causou outro efeito complexo em mim; ela maximizou meus sentidos. Carlisle sempre disse que os vampiros tinham sentidos muito, mas muito mais aguçados que os humanos. Que nosso olfato era privilegiado, que nosso tato era muito mais preciso; que o paladar era elaborado, apesar de somente desejarmos nos alimentar de sangue; que nossa visão era infinitamente superior. Eu não tinha memórias dos sentidos humanos e eu não era uma pesquisadora, como Carlisle. Mas a gravidez me deu uma pequena perspectiva do que ele considerava. Tudo em mim parecia maximizado, aumentado. Literalmente. Foi quase impossível perceber a mim mesma naquela noite, enquanto Edward estava ali comigo. Com as sensações muito mais perceptíveis, estar com ele foi fantástico. E me controlar para parar era impossível.

_Tudo bem. – Edward disse, rosnando, jogando-se de costas sobre os cobertores. Voltei-me para ele, tentando entender o que eu havia pensado que causara aquela reação. Meus olhos se fixaram no seu perfil por alguns instantes; seus punhos cerrados cravados no colchão.
_O que houve, Edward? – Não, eu não consegui encontrar um pensamento que o tivesse aborrecido. Eu estava tão bem que era difícil pensar em coisas desagradáveis.
_Receio que teremos que manter nossos… limites… até o final da gravidez. – Ele disse, escolhendo palavras. Eu sabia que Edward conversava comigo com o mesmo cuidado com o que ele me tratava. As palavras eram escolhidas sempre com sabedoria, delicadeza. Ele nunca me dirigira uma palavra que não fosse polida, gentil, elegante. Seu tom era quase reverencial.
_Não entendi.
_Ele… o bebê… não gosta muito do que acabamos de fazer. – Edward disse, entre os dentes. Eu podia acreditar que ele estava irritado, mas ao mesmo tempo parecia que ele segurava um sorriso, tentando parecer sério.
_Como você pode saber? Ele ficou quieto o tempo todo…
Interrompi-me, olhando incrédula para Edward. Ele então deixou o sorriso lhe iluminar os lábios, virando-se para mim com os olhos amarelados que eu tanto apreciava. Suas mãos procuraram meu ventre e acariciaram minha pele, bem devagar.
_Nem sempre é fácil lê-lo. – Edward disse, confirmando minhas suspeitas. – Só há poucos dias consegui visualizar com alguma clareza o que ele pensa. Na maioria das vezes, não faz sentido nenhum.
_Mas ele deixou claro que… – Eu não sabia se minha maior surpresa era por Edward ler o bebê ou pelo fato do bebê ter convicções tão específicas quanto à nossa atividade recente. Eu não poderia me chocar, Edward sempre lia tudo ao seu redor. Por que não nosso filho? Afinal, era um ser vivo que estava dentro de mim. Um ser vivo… morto vivo… eu nem sabia o que viria, era uma verdade. – Ele não quer que façamos isso de novo?
_Ele não tem vontade muito bem definida, eu acho. – Edward continuava acariciando meu ventre, e eu pude sentir que o bebê parecia se acalmar. Mesmo ele estando quieto, eu podia senti-lo agitado, calmo, nervoso, tranquilo. Naquele momento, ele parecia somente apreciar o carinho que lhe era destinado. – Ele me deixa perceber o que gosta… e o que não gosta. Por exemplo, ele gosta disso. – Edward considerou as carícias suaves que a palma de sua mão desenvolvia em meu ventre. – Ele também gosta de ouvir… ele gosta de nos ouvir conversar.
_Ele pode nos ouvir? – Então eu estava surpresa verdadeiramente. Minha experiência com bebês era inexistente, e eu sequer tinha ouvido falar de algo parecido. Edward insistiu para que eu lesse livros de bebês, mas eles todos se referiam a bebês humanos. Como eu poderia considerar que o meu bebê fosse como um bebê humano?
_Sim, mas ele não entende tudo que falamos. Quase nada, para ser exato. Ou sou eu que o entendo menos do que imagino. – Edward riu daquela vez. Seus lábios capturaram os meus, porque meus olhos estavam cheios de questionamentos, dúvidas e êxtase. – Ele gosta do que você sente quando eu te beijo. Mas o resto… acho que o deixa desconfortável.

Enrubesci, imediatamente. Por mais satisfeita que eu estivesse me sentindo, era sem dúvida que Edward tinha razão. Obviamente o bebê se sentiria desconfortável, porque tudo parecia apelar para o desconforto, dentro de um ventre e imerso em líquidos desconhecidos. Respirei fundo, e puxei os cobertores para cima de mim e de Edward, ajeitando-me entre seus braços, recostada em seu peito. Sua pele estava na temperatura da brisa morna, deliciosa.
_Então, teremos que fazer a vontade dele por mais um pouco. – Disse, pretendendo adormecer.
_Boa noite, meu amor. – Ele beijou minha testa, e acariciou meus cabelos até que meus olhos cerrassem por completo, iniciando o sono que tanto me incomodava.

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_O que você quer, lobo? – A voz ecoava do andar de baixo, mas eu supus que fosse um sonho. Meu sono estava muito inconsistente depois da gravidez.
_Saudações, Emmett. Preciso falar com seu pai, ele está?
_Estou aqui, William. – Era a voz de Carlisle. Sonho estranho, considerei. Senti a temperatura do meu lado direito do corpo se alterar, mas tudo devia fazer parte do sonho. – Seja bem vindo, o que deseja?
_Saudações, Carlisle. Eu gostaria de lhe falar rapidamente. É uma informação importante…
_Então é por isso que não consegui visualizar nada. – A voz de Alice interrompeu o diálogo masculino. – Mas consigo farejar esse lobo de longe.
_Alice… – Jasper, então. O que os Cullen todos faziam em meu sonho? E por que havia um lobo falante no meu sonho? Eu não me recordava de conhecer nenhum lobo, menos ainda aqueles que falavam.
_Deseja entrar, William?
_Só gostaria de saber se vocês não tiveram notícias de uma híbrida vagante.
Eu! Eu era uma híbrida vagante, e os Cullen certamente tiveram notícias de mim. Eu ainda não entendia os motivos pelos quais um lobo – e falante! – queria notícias minhas. Aos poucos, meu estado de inconsciência começou a perder-se, e eu lentamente comecei a acordar. Eu ainda não havia percebido que estava acordando, porque as vozes não paravam, e eu não tinha certeza de estar sonhando ou não.
_Por que quer saber isso, William? – Carlisle interrogou. – O que os lobos querem com os híbridos?
_Nada, por certo. Na verdade, é uma… eu tenho uma dívida com uma… híbrida. Ela me pediu para rastrear alguém, mas o rastro se perdeu… e eu decidi perguntar a vocês, já que são os únicos vampiros da região.
Meus olhos repentinamente se abriram. Apoiei-me nos cotovelos, e ergui a cabeça. Edward não estava ao meu lado, e por isso a temperatura havia mudado. O seu corpo se distanciara do meu, fazendo-me sentir as alterações. Meu ventre deu um salto, causando-me enorme desconforto. Senti uma fisgada nas costas, e sentei-me lentamente. Respirando com dificuldades, pisquei várias vezes. Sonho estranho, pensei. Mas as vozes continuaram, no andar de baixo. Coloquei-me de pé, e me arrastei até o armário. Aquela era a penúltima semana de gravidez, pensei. A penúltima… logo, tudo voltaria ao normal comigo. Vesti uma das roupas para dormir escolhidas por Alice, tentando não parecer muito ridícula, e enrolei-me em um roupão flanelado. Eu precisava saber o que acontecia no andar de baixo, e para isso teria que descer. Não que fosse fácil subir ou descer escadas na minha condição, mas eu estava curiosa demais.

Surgi à porta e atravessei o corredor, escorando-me no corrimão. A figura séria de Edward estava me observando na parte mais baixa. Ele estava com as calças de pijama que eu adorava, e o seu roupão. Alice nos comprara os roupões flanelados porque ela dizia que não aguentava mais Edward perambulando sem camisas pela casa. E que ele usasse, foi a ameaça da irmã menor. O semblante de Edward era tenso.
_Bea… o que faz de pé? – Ele caminhou em minha direção.
_Tem alguém aqui, não tem?
_Sim, mas você já sabe… ou não teria levantado. Vamos, volte para a cama…
_Quem é? – Perguntei, desejando descer. Edward me segurou, impedindo minha progressão. – Vamos, Edward…
_Um lobo. William. Antigo conhecido da família.
_Um lobo? – Repeti Edward. – Mas lobos não falam.
_Falam quando estão na forma humana.
_Ahm? – Parei de tentar descer e olhei incrédula para Edward. Lobos na forma humana? O que eu tinha perdido, então? Novas fábulas se tornando reais? Eu já começava a acreditar que o mundo real era a fábula, de tão fantástico que era o meu universo de aberrações reunidas.
_William é um lobisomem. Bem, quase isso. Ele pode se transformar em lobo. Mas ele veio… ele está procurando por você.
_Eu não conheço nenhum lobo.
_Eu sei, ele… bem, eu não posso esconder-te muito. Alice garantiu que ela não é perigosa, pois não faz parte da visão que teve. E ela veio sozinha…
_Ela? – Eu ainda tentava imaginar que outra híbrida seria louca o suficiente para deixar o covil. Desafiar Rudolph não era para qualquer um. Edward saiu da minha frente, ajudando-me a descer as escadas. Minha curiosidade estava em grau máximo. Minha aparição no hall de entrada dos Cullen causou algum choque em todos, pois eles não esperavam que Edward me permitisse descer. Meus olhos atentos buscaram os desconhecidos entre minha família, e o choque da descoberta foi mortificante. Os desconhecidos não eram, então, desconhecidos.

Eu conhecia outras híbridas, mas nenhuma delas ousaria sair do covil. Aquilo era como assinar a própria sentença. A condenação absoluta. Se não já estivéssemos condenados… se já não fôssemos mortos vivos que não tinham nenhuma perspectiva. Éramos a real concepção da danação eterna. Os perigos que o mundo sob o sol representava eram inaceitáveis, para as híbridas. Os caçadores, aqueles considerados os bravos, eram os únicos que se aventuravam a sair. Que híbrido do sexo feminino teria a audácia de encarar o mesmo que eu tive? Eu já sabia que o destino sob o sol era muito melhor do que enterrada no covil, mas elas, minhas irmãs de covil, não. Só algo muito importante faria qualquer uma delas deixar o covil, e eu poderia ser considerada algo significante demais para ser deixada para trás. Eu só não sabia disso, ainda.

_Felicia? – Eu balbuciei, depois de encará-la por algum tempo. Edward me mantinha amparada pelos braços, mas aquilo não me segurou. Ao mesmo tempo em que eu lhe chamei o nome, atirei-me em sua direção, abraçando-a. Não tive tempo de notar a sua reação a mim, mas a minha reação foi exagerada, como tudo vinha sendo.
_Bea, minha filha… – Ela acariciou meus cabelos, abraçando-me com força. Imediatamente recordei-me da minha condição e me afastei, olhando para Felicia mais uma vez. Ela parecia genuinamente satisfeita em ver-me, como eu o estava em vê-la. Todos nos observavam, como que desejando intervir e sem saber como. – Eu precisava tanto achar-te!
_Creio ter cumprido minha missão, aqui. – O lobo disse, pretendendo ir embora. – Obrigado por receber-me, Carlisle… espero não precisar retornar aqui tão cedo.
_Igualmente, William. Vá em paz.
_William! – Felicia o chamou, antes que ele saísse completamente. – Agora estamos quites.
O lobo deixou a casa dos Cullen, mas eu só me interessava na figura de Felicia. Ela se voltou para mim novamente, e me encarou. Finalmente, ela percebeu que alguma coisa estava mudada em mim. Felicia afastou-se, sob os olhares atentos dos Cullen, e me olhou por longos instantes. Eu respirei fundo, e nem precisava ler as mentes para compreender o que a estava causando admiração.
_Beatrice, o que houve com você?
_Pensei que fosse óbvio o suficiente. – Foi a minha resposta.
_Felicia, agora que Beatrice desceu e que todos nós precisamos conversar, que tal entrarmos e nos sentarmos? – Edward se aproximou, me sustentando pelos cotovelos. – Ela não deve ficar muito tempo de pé.

Os Cullen se transferiram para a sala enorme de Esme. Eu e Felicia os acompanhamos, Edward vindo logo atrás. Ele não me deixava sozinha durante aqueles períodos, porque Carlisle havia deixado bem claro que o final da gravidez poderia ser muito perturbado. Eu sentia mesmo muitas dores, e dificuldade para respirar e dormir. Ele pretendia interromper a gravidez e retirar o bebê, mas a minha regeneração não permitia. A regeneração estava ainda mais precisa porque, segundo os estudos de Carlisle, o bebê também se regenerava. Edward me fez sentar, e todos acabaram se sentando. Era mais cômodo para conversarmos.

_Bem, agora podemos conversar mais calmamente. – Esme sorriu, tentando iniciar o diálogo.
_Eu estou confusa, Beatrice. – Felicia insistia em me olhar, um tanto incrédula. – O que aconteceu??
_Eu estou grávida. – Falei, diretamente. Esconder o óbvio? Qualquer tolo podia ver-me grávida. Eu estava definitivamente enorme. Mas a expressão de Felícia foi de choque imediato. Ela deixou o queixo cair superficialmente, enquanto me olhava mais apavorada ainda. Exatamente uma aberração. Edward me puxou para perto de si, abraçando-me e acariciando meu ventre. Eu percebi que o bebê estava agitado, e provavelmente insatisfeito com o ambiente externo. – Como você pode ver… e bem, este é Edward Cullen. – Eu recostei minha cabeça no ombro de Edward. – Ele é meu… meu namorado. E o pai do bebê.
_Como você pode estar grávida, Bea? – A pergunta de Felícia causou risos instantâneos entre os presentes. Eu mesma ri, o suficiente para parecer uma gargalhada. Todos ríamos, porque a pergunta era simplesmente tola demais. Poderia ter sido minha pergunta, meses atrás. Eu era assim tola. Mas eu pensava que Felicia fosse mais esperta do que eu. Ela era minha tutora. Ela deveria ser mais esperta do que eu.
_Eu amo Edward. – Eu disse, bastante imersa em seus braços.
_Você deve contar a ela. – Edward disse, encarando Felicia com seriedade.
_Contar o que? Como você…
_Edward tem um talento especial. – Esme sorriu, apesar de saber que o momento era tenso. Esme sempre interferia quando pressentia tensão, principalmente se um de seus filhos estivesse envolvido. – Ele consegue saber o que todos pensam e sentem. Ele… lê.
_O que eu preciso saber? – Perguntei a Felicia, pois Edward foi claro. Ela precisava contar-me.
_Beatrice, você não podia… isso não podia ter acontecido!!
_Você está me deixando agoniada. – Protestei, e meu ventre se mexeu. Levei a mão ao mesmo lugar que as de Edward estavam. Ele continuava tenso, sério. – Conte-me logo, não acha que é meio tarde demais para mentir-me?
_Bea, Rudolph está vindo te buscar. Ele está usando o rastreador… ele pretende buscar você, e não virá sozinho. Você… isso não está certo. Ele quer você de volta ao covil, porque você deve estar lá e unir-se a Ferdinand.
_Ferdinand?? – Falei, assustada. – Ferdinand, o garotinho que eu cuidava?
Felicia não disse nenhuma palavra. Seus olhos baixaram, e Edward cerrou os punhos, com ira. Aquilo tudo me deixava extremamente agoniada, e aquele sentimento era péssimo. Tanto para mim quanto para o bebê.
_Bea, Ferdinand não é mais um garotinho. – Foi Edward quem respondeu a meus questionamentos. – Ele… cresceu. Ferdinand é filho de híbridos com… vampiros. Assim como… você.

Choque. Olhei assombrada para Edward, olhos arregalados, boca entreaberta, queixo caído.
_Ele cresceu?
_Sim, ele nasceu no covil, e hoje ele é um híbrido adulto. – Edward continuou a contar-me. – Ele foi tirado de você para que você não percebesse que ele crescia. Não era para você saber.
_Felicia. – Eu me virei a ela. – Você sempre soube isso? Então Ferdinand era meu prometido?
_Você era a prometida dele. – Felicia não tinha como esconder-me mais nada, afinal. Edward se contraía plenamente ao meu lado; eu podia sentir toda a angústia de seu corpo. – Na verdade, Ferdinand foi um milagre. As híbridas não conseguiam gerar um macho… todas as gestações resultavam em fêmeas. Mesmo você estando por anos madura e preparada para a concepção, não conseguíamos gerar um macho.
_Por quê? – Eu não lia mentes, e precisava saber. Aquela conversa parecia desagradável, mas eu precisava saber!
_Porque Rudolph pretende que vocês dêem continuidade à sua hegemonia.

Outro choque. Aquele ainda mais apavorante. Respirei fundo, fechei os olhos. Edward me abraçou, acariciando minha face com a ponta dos dedos.
_Calma, Bea… você não deve se irritar. Respire bem devagar, meu amor…
_Edward, diga-me. – Perguntei, olhos ainda fechados, os punhos cerrados, a irritação me subindo pelas entranhas como um veneno. Eu já sabia a resposta, mas eu precisava da confirmação. Eu precisava confirmar que tudo aquilo era ainda mais repugnante do que eu imaginava.
_Sim, Bea. – Edward assentiu em meus ouvidos. Então, era aquilo. Eu poderia me recusar a crer na verdade, mas ela estava insistentemente batendo à porta da minha consciência. Negá-la podia ser possível, não enxergá-la, não.
_Eu…
_Você não vai sair agora, Beatrice. – Edward travou seus braços ao meu redor, não intencionando soltar-me enquanto meus pensamentos não se acalmassem. – Você não deve nem ficar andando pela casa, quanto mais passeando pela floresta.
_Vocês poderiam nos deixar a par do que está havendo? – Rosalie encerrou o silêncio dos Cullen. Mãos nos quadris, ela parecia bastante irritada com as conversas mentais.
_Eu sou filha de Rudolph e Felicia. – Falei, assumindo a realidade que me foi colocada naquele momento. – Filha biologicamente concebida, como o meu filho com Edward.
_Não exatamente. – Felicia esfregava as mãos. – Você era filha de um híbrido com um vampiro. Sua genética é bastante depurada, se comparada com a genética de um híbrido, Bea. Se você analisar, que híbrido têm a regeneração como a sua?
_Todos! – Disse, querendo levantar-me. Edward manteve-me firme.
_Bea, se eu for golpeada no coração, posso morrer. – Felicia disse, tom baixo de voz, olhando diretamente em meus olhos. – Eu levo horas me regenerando, e essas horas, dependendo da lesão, podem me matar. Você… a sua regeneração é impressionante. Você é um ser muito mais aperfeiçoado do que todos os outros híbridos. Rudolph chama você de geração dois.
_Isso é ridículo! – Reclamei, voltando-me para o peito de Edward. O cheiro suave de sua pele me acalmava, invariavelmente. Afundei-me em seu roupão, desejando permanecer ali durante aquele momento de instabilidade.

_Então eu devo considerar que… o bebê de Beatrice e Edward é ainda mais depurado do que ela. – Carlisle, o pesquisador. Aquela conclusão não me havia recorrido ainda. Mas ele, cientista, visualizou tudo imediatamente. O meu bebê era de um padrão genético muito superior a qualquer outro híbrido.
_Sim, Sr. Cullen. – Felicia baixou o olhar. – Diga-me, Bea… ele machuca você? Porque ele deve ser muito forte, muito mais do que você foi. E você machucava o suficiente.
_Sim. – Edward foi quem respondeu. – Ela tenta me esconder, como se conseguisse. Mas ela se regenera muito rapidamente, então nunca é nada com o que se preocupar.
_Não seja intrometido, Edward Cullen. – Eu ainda estava afundada em seu peito. – Meu filho não me machuca.
_Nosso filho.
_Que seja.
_Ai, que fofo, vocês dois discutindo! – Alice bateu palminhas. Ela era sempre empolgada demais. Mesmo em um momento daqueles, ela conseguia encontrar motivos para… celebrar.
_Ew, Alice. Menos… – Emmett reclamou. E os Cullen voltavam ao normal, depois do choque de receber minha mãe – e eu então sabia que Felicia era minha mãe e não minha tutora – na casa. E depois do choque de tantas novidades, não tão novas assim, a meu respeito. Se eles me expulsassem de suas vidas naquele instante, eu não ficaria surpresa. Eu carregava comigo muita esquisitice.
_Bem, Felicia… você ficará conosco? – Esme levantou-se, e Carlisle a seguiu.
_Preciso retornar ao covil antes que dêem pela minha falta.
_Não seja tola. – Reclamei. – Se já não deram por sua falta, seu retorno vai fazer com que saibam que saiu. E Rudolph vem me buscar de qualquer jeito, eu já havia sido alertada por Alice. Estaremos preparados. Você pode passar a noite.
_Bea, ele não pretende mudar de idéia. – Felicia parecia apreensiva. – Eu vim te avisar porque ele não quis ser razoável comigo… e você é minha filha, eu precisava.
_Estaremos preparados. – Edward confirmou minha frase.
_Eu queria saber… por que você o desafiou para vir atrás de mim. – Eu perguntei, no pé da escada, antes de ser abduzida por meu namorado vampiro que não descuidava de mim um instante sequer.
_Porque você é minha filha, Bea. – Felicia me olhou com suavidade. – Eu faria qualquer coisa para ver-te a salvo.
_Eu entendo. Não precisa se preocupar. Eu também farei qualquer coisa para colocar aqueles que amo a salvo.


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