Blood Rose escrita por sakaki


Capítulo 4
Capítulo 3 - Desconhecidos


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo.
Acabei de escrever este capítulo, então não deu tempo de revisar.
Por favor, me desculpem a demora e qualquer erro de português.



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Aquilo tudo era tão estranho, primeiro o sonho que se repetia várias vezes, depois aquele cara misterioso segurando o meu braço, e o tempo que se passou, realmente passou tanto tempo assim? Se eu tivesse ao menos coragem para olhar para trás, para ver o rosto dele...mas até isso eu não consegui.

Caminhei até o ponto de ônibus perto da escola o mais rápido que pude, eu não podia perder aquele ônibus, senão eu teria que esperar mais meia hora até que tudo aquilo terminasse. Apenas acelerei os passos enquanto olhava para as árvores ao meu lado que pareciam se encontrar umas com as outras, com seus galhos meios entrelaçados e troncos danificados com o tempo, com suas raízes lutando com o cinza da calçada.

 

Finalmente eu havia chegado, lar doce lar. Eu ainda podia sentir o cheiro da comida sendo preparada invadindo a sala , enquanto abria a porta e jogava minha mochila ao chão e corria para deitar no sofá para relaxar.

- Rose, saia já daí! O almoço já está quase pronto! – ela berrava enquanto mexia com  uma mão um pouco de feijão em uma panela e pegava um prato com a outra mão – Como foi seu dia?

- Bom. – respondi enquanto pegava dois talheres na gaveta e me sentava em frente a um prato cheio, com uma mistura de arroz, feijão e carne frita posto na mesa – Foi normal.

Ela abaixou um pouco a cabeça em sinal de preocupação, e voltou a olhar para mim, só que dessa vez, com um olhar de pena estampado em seu rosto, ela poderia não saber tudo sobre mim, ou quase nada para poder dizer o que certamente aconteceu, mas de alguma coisa tinha certeza, aquele “foi normal” não significava  algo promissor.

- Tudo bem. Fique tranqüila, com o tempo você vai conseguir se enturmar. Eu quando tinha a sua idade, por exemplo, eu morria de medo das pessoas, nem conseguia conversar direito com elas, tanto que elas me chamavam de arisca, mas com o tempo isso muda, é só uma fase.

- Obrigada, mãe.

Foi a única coisa que respondi, era incrível como ela sempre conseguia me animar, mesmo aquelas palavras não sendo muito, elas realmente significavam alguma coisa para mim, não que eu tivesse muitas esperanças quanto a mim, mas ás vezes é bom saber que se tem alguém que te apóia.

Naquela tarde eu nem consegui fazer muitas coisas, na verdade, a única coisa de que fui capaz foi deitar no sofá e assistir um pouco de televisão, e logo após ir para o  quarto e dormir como se fosse a única coisa que quisesse desde o princípio.

E assim se acabou aquele dia.

Naquela noite eu não me lembro de ter sonhado, raras eram as vezes em  que eu sonhava, porém quando acontecia,  era sempre o mesmo  sonho que se repetia, como um ciclo sem fim até se conseguir desvendar o verdadeiro mistério por detrás daquelas pétalas e voz aveludada, o único problema é que eu não fazia a mínima idéia de como começar as investigações.

A porta se abriu.

- Estou vendo que você não vai querer ir para a escola hoje! – disse em um tom irônico enquanto acendia as luzes e puxava uma pequena manta que me cobria até então – Rápido!

- Por favor, diga que eu não estou atrasada, diga que eu não estou atrasada, diga que...

- Rose, você está atrasada. – afirmou jogando uma calça e uma camiseta do uniforme sobre meu colo, enquanto eu tentava levantar e me vestir o mais rápido que conseguia, e pegando um envelope de seu bolso, hesitando ao continuar – Rose, vai dar tudo certo filha. E  filha, por favor, quando voltar eu vou precisar conversar com você, então volte direto da escola, está bem?

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. – respondeu rapidamente e em uma tentativa frustrada de sorrir, levantou o olhar que antes estava fixado naquela estranha carta que apertava com força entre seus dedos e continuou - Apenas volte cedo, e não dê bola para estranhos, está bem?

Eu apenas afirmei com a cabeça e sai correndo para não perder o ônibus, mas aquilo tudo não saia da minha cabeça, aquela carta, ela olhou tão preocupada para aquela carta, como se ela carrega-se algo de ruim, como  quando as pessoas morrem e chegam uma dessas cartas ou quando estão muito endividadas, mas o que aquela carta poderia ter de tão mau? Quer dizer, nós quase não tínhamos muitos parentes na família, e os poucos que se tinha notícia estavam ou muito bem de saúde, ou já haviam morrido á um tempo. Dívida?

Não, não poderia ser. Ela sempre fez de tudo para manter as contas em dia, ela preza demais ter um nome limpo, acho até que passaria fome para pagar uma conta , mas não suportaria ver um daqueles bilhetinhos de cobrança  de algum banco ou da receita federal.  O que poderia ser?

“ Esqueça! Não é nada demais!”

Consegui chegar a escola  uns cinco minutos antes da hora,mas ao entrar na sala até então bem movimentada observei um conglomerado de pessoas reunidas no meio da sala e logo á alguns centímetros dali , um garoto de cabelos negros e um pouco  picotados sentado em uma carteira a minha frente, ele me parecia um tanto  sério e olhava para a janela, talvez ele também visse alguma mágica em olhar para o sol tentando escapar por algumas brechas daquela sala fria, ou talvez fosse apenas uma maneira fácil de conseguir sair da realidade e não escutar o que vinha como sussurros á algumas carteiras dali.

- Aquele garoto está na nossa sala? Ué, eu jurava que ele era mais novo.

Uma garota falou enquanto sentava em cima de sua carteira e puxava uma outra menina de estatura mediana para perto de si, a qual virou-se olhando para o garoto e logo voltou o olhar para a amiga e com um tom um pouco envergonhado, continuou a conversa.

- Pois é, mas até que ele é bonitinho, não acha?

- Bom,  isso é... – concordou com a amiga enquanto analisava minuciosamente o garoto - O que será que deu nele para vir assim tão de repente? Ele nunca vem na escola, e quando vem chega atrasado...

Comecei então a andar novamente e olhar para o lugar em que sentaria, aquele lugar me trás lembranças, tanto boas como ruins, mas eu sabia que ele carregava consigo toda uma história. Apesar de ser nova naquela escola, e ter sentado naquela carteira apenas uma vez, eu já podia sentir que tudo começava a girar como antes. Ao sentar, tentei não olhar muito para os lados.

“Tudo bem se você não olhar, mas vai continuar uma covarde, como sempre foi.”

Elas pareciam bem animadas, ás vezes eu penso o como seria se tudo fosse diferente, se eu, se  eu...bem,  deixa para lá. Eu já estava quase sentando, quando  uma garota de  cabelos castanhos claro cortados ao ombro que estava junto delas levantou uma de suas mãos e gritou:

- Oi, aluna nova!

- Ah, oi.

Apenas respondi e sentei. A garota logo abaixou a mão e voltou a conversar com as outras como se nada houvesse acontecido.

“Isso, continue assim, é assim que quer continuar?  Fracassada!”

Tudo bem, todos devem estar se perguntando, qual o problema daquela garota? Eu sei que não dei uma boa resposta, e ainda chegar e já ir sentado assim logo não era uma das melhores escolhas para se fazer amizades, mas eu nunca fui muito boa em falar com as pessoas. Digamos que eu  nunca consegui falar o “Tudo bem?”  com tanta facilidade como uma outra pessoa conseguiria.

As outras horas passaram como em um daqueles filmes em que a pessoa pisca os olhos, e o tempo para, só que no meu caso, o tempo não parou, mas passou como todos os outros dias. Até quando eu iria continuar assim?

Mau abri os olhos e já estava pisando na saída. O dia havia passado tão rápido que eu nem ao menos havia parado para pensar em tudo que estava acontecendo, aquele cara estranho que havia segurado o meu braço, ele havia aparecido ontem e de algum jeito o tempo pareceu que tinha congelado...não, não pode ser. Pode ter sido uma brincadeira, isso, uma brincadeira de alguém que já estava na escola a mais tempo que eu, só para ver como eu reagiria. Mas o seu jeito de falar...

“ Na hora certa você saberá, na hora certa. Até mais, Rose”

Aquele jeito de falar, mesmo não vendo seu rosto, a sua voz era tão calma e tinha algo nela, alguma espécie de tranqüilidade,uma certeza. Foi só então  que percebi tudo aquilo, ele estava confiante demais, e ele havia falado "até mais", não se fala isso para qualquer pessoa, a não ser que...

- Ele vai voltar.

Falei para comigo mesma enquanto percebia alguns passos se aproximando em minha direção, e sem nem ao menos olhar, me apoiei na parede do corredor e fechei meus olhos, desejando por alguns minutos que tudo aquilo não estivesse acontecendo e que fosse apenas um sonho, um entre vários dos milhares de pesadelos que tinha durante a noite.

“Ele está vindo.”

Apertei meus olhos me preparando para o pior, não sei do que exatamente eu tinha medo, e se me perguntassem naquela hora, eu também falharia em responder algo com nexo. Um sentimento de desespero começou a tomar conta de meu corpo e a cada passo que se aproximava, me encolhia cada vez mais, não sei direito o porque, mas  algo dentro de mim gritava e dizia para que eu corresse.

 - Alb! Alb! Encontramos a garota, você não disse que queria conhecê-la? – falou uma voz desconhecida que cortava em minha direção - Vamos!!! Mais rápido seu lerdo!

- Eu não sou lerdo!!! -Outra voz meio irritada respondeu.- Isso foi depois de ALGUÉM sair correndo á quilômetros de distância me deixando sozinho com  aquela pirralha  encapetada!

- Mas o plano deu certo, é isso o que importa. Você nos seguiu, agora vai conhecer a rosa e depois vai fazer sei lá o que, e todos saímos ganhando. Simples, não?

A primeira voz respondia tentando disfarçar o tom de desconforto em sua voz, como se estivesse se sentido incomodado com toda aquela situação. Ficaram um pouco em silêncio e eu podia perceber alguns passos se aproximando a medida que os segundos passavam.

- Tudo bem. – Falou meio receoso cortando o silêncio em que estavam a pouco e se aproximando cada vez mais de onde eu estava - Dessa vez eu perdôo, mas da próxima vez quem vai ficar de babá daquela garota é você, ouviu bem?

- Você sempre foi tão bom com crianças...

Respondeu ironicamente.

- Criança!? Passe uma tarde brincando com ela que você vai entender...a se vai entender!

-Calma aí! Rapazes, vocês a estão deixando com medo.

Intercedeu uma terceira voz tranqüila, que parecia estar ainda mais perto de mim.

- Aquela pirralha?

- Não, a Rosa. Olhe só, esta toda encolhida, a essa altura deve estar pensando que somos um bando de arruaceiros ou algo pior...Você está bem?

Um grande silêncio imperou sobre todos, eu não sabia quem eram aquelas pessoas, talvez fossem amigos daquele cara estranho de ontem, ou estivessem conversando com alguém do meu lado, mas nada daquilo importava, apenas continuei com os olhos fechados e emersa em todo aquele silêncio que se seguiu.

- Você está bem?

Repetiu preocupado, mas ninguém respondeu.

- Ohh, garota do cabelo armado, você está bem?

Cortou uma das vozes colocando uma de suas mão sobre meus braços, até então fortemente agarrados um ao outro, e puxando um deles para si, na mesma hora em que o profundo transe em que eu estava  se rompia e meus olhos abriam-se rapidamente para olhar para a misteriosa figura a minha frente.

- Você está bem?

Repetiu preocupado  ao perceber que eu permanecia imóvel, apenas observando aqueles incríveis olhos vermelhos cor de fogo que me olhavam preocupados e suas mãos meio grandes, a qual uma delas bagunçava rapidamente seus cabelos azuis, em uma atitude de impaciência esperando uma possível reação.

- Droga! –resmungou para consigo mesmo, deixando transparecer um certo ar de decepção – Não pode ser ela. Olha só para ela!

- Conan!

- Ah...desculpa. Eu não quis dizer nada com relação a sua aparência, é só que... Você não é a pessoa que estamos procurando. É, é isso...

E um grande silêncio começou a imperar sobre aquela cena,  ao mesmo tempo em que todos me olhavam curiosos, eu não sabia porque, e eu tão confusa como eles, analisando-os rapidamente e pensando a cada olhada que dava para o chão, um jeito eficiente de escapar daquela situação um tanto quanto desconfortável.

As hipóteses que aparecerem pela minha cabeça eram várias, desde a mais corajosa, como começar a conversar com eles e sair de fininho, no maior estilo “ Oi, eu sou a Rose! Tchau!Até nunca mais!” ou meios mais sutis, como ir me esgueirando entre as paredes e rezando para que ninguém me notasse. Ou ainda, a mais ousada, e a que eu havia decidido até o momento, esperar e...sair correndo.

“Sua covarde!”

Com meu plano todo arquitetado, só restava apenas uma coisa a decidir, talvez a mais simples para outra pessoa que estivesse no meu lugar, mas a mais complicada para mim naquele momento, escolher a hora certa para dar no pé.

Fiquei observando-os atentamente, esperando que tirassem os olhos de mim, afinal, não era algo assim tão difícil de se fazer quando se tem uma garota baixinha de cabelos armados até o ombro e amarrados com força em um rabo de cavalo, vestida parecida como um menino, com calças meio desgastadas e um agasalho enorme, convenhamos que até eu sabia que eu não era lá uma miss popularidade, e estava muito longe de ser algo desse tipo. Mas a questão não é essa, mesmo eu sendo um prato cheio para distrações, e não que eu me orgulhe disso, eles não hesitaram um segundo, seus olhos estavam fixos em mim, como os olhos de um policial diante de um ladrão. Nem uma piscada ou olhada para o lado, apenas alguns cochichos aqui e ali.

“O tempo está acabando!”

Tudo bem, aquela era a hora. Já estávamos a quase dez minutos lá parados, eles me encarando e eu buscando a melhor maneira de sair correndo, e nada. Nem um movimento em falso, uma virada, uma piscada, nada. Não dava mais para esperar, quando aquilo iria ter fim?

Olhei para os dois lados, ambos estavam quase liberados.

“ Corra sua idiota!Corra!”

Sai correndo o mais rápido que pude, que nem ao menos percebi para qual dos lados tinha optado. Mas naquela hora não havia diferença, apenas saindo dali estaria bom para mim. Parecia tudo tão certo na minha cabeça, apenas sair correndo o mais rápido que pudesse e ir embora...Parecia.

- Ai! Isso doeu!

            Gritou o garoto de cabelos azuis, ao receber aquela enorme pancada de minha cabeça, mau pude ver seu rosto, mas pude jurar que estaria sentado no chão se queixando de dor como eu, a pancada tinha sido forte, forte o bastante para me fazer questionar minha própria sanidade poucos segundos após tentar me erguer e olhar para ele.

- Qual é o seu problema?

Ele gritou com uma de suas mãos na testa, onde havia recebido a pancada e seu tom demonstrava raiva e indignação. Em qualquer dia normal eu até tentaria responder a essa perguntar, certamente eu gaguejaria ao fazer isso, mas naquela hora não. Apenas via minha voz se escondendo cada vez mais dentro de mim, enquanto observava aqueles enormes caninos brilhando a luz do sol.


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