A Culpa escrita por Mara S


Capítulo 7
Capítulo VI




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            - Bem-vinda.

            - Até que é organizado. – coloquei minha única mala em cima de uma pequena mesa de canto.

- Nem todos acham isso.

            - Melhor que o apartamento do... – suspirei lembrando-me da cena que tinha acabado de presenciar.

            - Nós vamos descobrir quem está por trás disso. Eu te dou minha palavra. Além de aprender a usar seu poder para proteger quem você gosta, ser meio-demônio não é tão ruim assim. Eu consigo conviver bem com isso, espero que você consiga também.

            - Eu entendo que você queria descobrir a verdade por trás da morte de meu pai, você foi chamado para isso, mas não consigo entender o motivo de você me ajudar. Você não ganha nada com isso.

            - Eu só não quero ver mais um sucumbindo no final e espero também que você não seja seduzida por esse poder que descobriu, isso pode te levar para caminhos difíceis.

            - Entendo. Acho meio difícil isso acontecer. Meu pai dizia, em suas inúmeras tentativas de convencimento, que as pessoas que nasciam desse modo nunca poderia agir como normais, estavam fadadas a serem as vilãs ou as justiceiras. Eu queria ser a primeira a me rebelar contra isso. Parece que está no sangue mesmo, eu falhei.

 - Veremos como se sai.

 

            Dante logo percebeu que era forte o bastante para aprender qualquer tipo de coisa, com grande agilidade. Com o tempo descobri que havia algo muito intenso em mim e que como Dante disse, se soubesse controlá-lo poderia ser extremamente poderosa. Confesso que a chance de ganhar poder me encantou e percebi que não lutava mais contra minha origem, só odiava pensar em não ter escutado meu pai.

            - Com o tempo você vai aprender a controlar seu lado demônio, o truque é só invocá-lo quando realmente precisa. Ele pode ser extremamente sedutor.

            - Dante, até parece que você tem medo do que pode fazer – ri do comentário. – Qual é a graça se não posso usar? Se já é fácil conseguir o que quero imagina com o poder demoníaco...

            - O problema é que as coisas podem sair do controle. Cuidado com esse ego, só aceito uma pessoa assim nessa casa desse jeito: eu.

            - Pode deixar, não vou usar o meu poder em você. – gargalhei enquanto pegava as minhas duas armas, adagas confeccionadas por um conhecido de Dante.

            O telefone tocou, depois de alguns minutos Dante desligou com um olhar triunfante.

- Depois de três meses de notícias falsas, algo que aparenta ser verdadeiro.

- Já estava estranho o silêncio dos demônios. Você acha que dessa vez é verdade?

- Sim. Eles queimaram a casa de seu pai e segundo me informaram deixaram uma caixa que ninguém conseguiu abrir.

- O quê? Será que eles não sabem onde estou?

Agora a coisa estava ficando interessante. Isso sim que era tentar me aterrorizar.

- Duvido. Eles saberiam me ligar a você. O problema é que quem está por trás disso gosta de agir pelas sombras, talvez estejam tentando nos testar ou eles querem atacar você quando estiver com bastante ódio, por isso todo esses atos. O que não vai acontecer, porque eu não vou deixar.

- Algo me diz que algo será revelado hoje.

- Posso te perguntar algo?

-Acenei que sim enquanto saíamos para a rua.

- Seu pai nunca te disse o nome de sua mãe? Você nunca me disse.

- Um nome falso, ele dizia que nem ele mesmo sabia o seu nome. O que você está pensando? – disse ao olhar atentamente para ele.

- Nada...

- Eu conheço esse olhar. Mas se você não quer me dizer, tudo bem.

- Não se preocupe comigo. – disse desarrumando meu cabelo.

- E isso se chama tentar fingir que está tudo bem.  Por que você fez isso com meu cabelo?

- É pra te deixar com um ar de seriedade.

- Cale a boca.

 

De longe pude avistar a casa de meu pai queimada, havia sido isolada.

- Não tem ninguém aqui?

- Não. Meu informante disse que deixaria a caixa misteriosa escondida perto de um vaso na varanda. Ele sabia que o crime era relacionado à demônios, tirou todo tipo de pessoa de perto, para termos privacidade.

- Queimaram tudo dentro. Tinha coisas bonitas aí.

- Por que você não levou consigo?

Não respondi Dante e caminhei até a varanda. Não queria nada daquela casa para não lembrar o meu passado, já que estava tentando esquecer de tudo que tinha feito e negado.

- Humanos... Nem sabem o que fazem. – disse ao pegar uma caixa cheia de marcas fundas.

Dante riu do comentário e sentou-se perto de mim.

- O que podemos fazer com isso? – sacudi.

- Quebrar, óbvio. – Dante tirou de minha mão a caixa e com um golpe com sua espada destruiu a caixa.

- Quanta delicadeza. E se tivesse algo que pudesse se quebrar junto com a caixa? – levantei-me irritada e fui ver o que a caixa guardava.

- Não vai ter.

- Como poderia imaginar que se quebraria apenas com esse tipo de arma. – sussurrei enquanto tirava uma carta.

- Uma carta? Não era bem isso que esperava.

- Ainda bem que é uma carta. Se fosse outra coisa estaria quebrada com seu toque delicado. – sai de perto de Dante e sentei-me na escada da varanda para ler.

Todo esse tempo tentei esconder de todos minha verdadeira história, até mesmo do pai de minha filha. Espero que ambos não precisem descobrir a verdade. Hoje decidi escrever isso como forma de tentar passar para o papel meus problemas com os humanos e demônios.

Minha origem é remota e presenciei o dia em que os demônios decidiram que os humanos não eram nada, além de escravos. Poucos eram os demônios que decidiram se rebelar contra o nosso grande senhor. Quando Sparda decidiu que os humanos mereciam uma chance eu fui uma das primeiras que decidiu ajudá-lo. Éramos poucos, mas nosso poder era grande e ajudamos Sparda a fechar a legião de demônios no inferno. Eu nunca me importei com a construção do mito Sparda, pois foi ele o responsável pelo grande ato, eu e tantos outros fomos apenas ajudantes, conselheiros. Sozinhos, nunca conseguiríamos o que Sparda fez. Apenas seu nome ficou imortalizado, entretanto, eu agradeço por isso. Sparda pagou um preço mais alto por sua traição e eu consegui viver mais tempo perto de minha filha, meu castigo? Não será cruel como o de Sparda, mas não espero perdão do Senhor do Submundo. Enganei-o, fugi para longe e amei um mortal, não me arrependendo de meus atos, mas pagarei caro.

Meu medo aumentou quando soube que o poderoso Sparda havia sido aprisionado eternamente, naquele dia compreendi que Ele caçaria todos. Desapareci quando senti a presença de demônios, sem nem ao menos avisar para o mortal, talvez sejamos fadados a não amar, não termos sentimentos.

Ninguém sabe quem eu sou e espero que não seja necessário descobrirem. Espero também que minha filha saiba usar seu poder, pois caso seja necessário, ela precisará de toda força que tem. Não duvido que persigam minha antiga família e tentem exterminá-los, mas isso não vai ser fácil.

 

De mim, vocês não vão tirar nenhuma informação.

Selene.

 

Reli a carta, tentando digerir tudo aquilo, para mim foi difícil descobrir a verdade sobre minha mãe, um demônio milenar que lutou ao lado de Sparda? O mesmo Sparda que considerava um mito. Nem mesmo meu pai sabia deste detalhe. Agora entendi o motivo por me perseguirem. Não havia reparado um segundo papel que Dante pegou do chão e me entregou.

            Encontramos isso com sua mãe quando a matamos, caso queira saber. Deve ter sido doloroso descobrir toda a verdade carregar todo esse fardo. Sabemos como deve estar por ter negado por tanto tempo sua origem, talvez se a mamãe estivesse viva até hoje você se interessaria pelo poder demoníaco. Pode ter ficado no anonimato por todos esses anos, mas agora sabemos onde a encontrar. Mataremos todos aqueles que se aproximarem de você até o momento que a culpa a consumir.

            Toda a família da traidora será expurgada e sua amizade com Dante não a protegerá.

 

Eles já sabiam de tudo, só estavam a preparando para o momento em que a atacariam.

- Estou pagando pelo o que minha mãe fez. – disse entregando ambas as cartas para Dante.

Enquanto esperava sua reação pensei que precisava estar mais que preparada para qualquer ataque surpresa, porque seria assim que eles a atacariam: quando eu menos esperasse.

Preciso vencê-los. Um a um. Um sentimento de ódio me tomava.

- Muito além do que eu imaginava. – Dante suspirou.

- Gostaria de ter descoberto isso antes. Tudo o que pensei sobre... era errado. Eles estão certos, eu me sinto culpada e com ódio.

- Eles agiram muito bem, confesso. Mas estão errados sobre minha amizade, precisam de todas as armas possíveis para te distanciar do mundo. Você não pode se tomar pelo ódio, porque é isso que eles querem.

- Eu preciso ser forte, romper com as barreiras de minha condição. Alcançar o poder para não perder mais ninguém.

- Você não está sozinha nessa. Podemos lutar contra todos os serviçais do Senhor do Submundo.

- E contra ele também.

- Isso não. – Dante me encarou e repetiu – Ele não.

- Por que não?

- Nem você nem ninguém que habita este mundo podem matá-lo.

- É por isso que ele permanece onde está. Ninguém nunca tentou.

- Eu já te expliquei sobre ele. Seu poder é grande demais para qualquer meio-demônio e até mesmo para muitos demônios. Ele nunca foi vencido nem mesmo por aqueles que o aprisionaram. Pensei bem: sua mãe era poderosa e ela foi vencida por ele juntamente com Sparda.

            - Eu achava que ele era um mito. Era bom demais para ter existido.

            Dante apenas suspirou.

            - Eu preciso de um tempo sozinha.

            - Não vai adiantar eu discutir com você que é arriscado você fazer isso, não é mesmo?

            - Exatamente. Eu vou de qualquer jeito.


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