A Culpa escrita por Mara S


Capítulo 5
Capítulo IV




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De fato, a boate estava funcionando. O assunto entre os funcionários foi o dia anterior.

- Você não estava aqui quando tudo isso aconteceu, não é? – uma das garotas que dançavam me perguntou curiosa.

- Não... Já tinha saído. – me afastei para evitar outro tipo de pergunta.

Naquele momento, minha mente estava ocupada com duas coisas: o que estava acontecendo comigo e quem era o homem que havia estado aqui ontem e que o gerente conhecia. Pensei em perguntar para Marco, assim que tivesse chance.

Enquanto arrumava uma prateleira de garrafas escutei uma voz atrás de mim.

- Um sundae de morango.

- Isso aqui é um bar meu querido. Se não tiver idade... – quando me virei vi que era o estranho da noite anterior.

- O que você está fazendo aqui?

- Queria saber como você estava depois da batida.

- Vai por inferno.

- Que delicadeza, Julia. Seu chefe me falou tão bem de você. Mas será que devo chamá-la de Julia mesmo?

- Como sabe meu nome? – curvei-me para o estranho.

- Esse não é seu nome.

- O que você quer comigo? Eu estou trabalhando – decidi ignorar o abuso do homem.

- Um momento em particular. Você não sabe como despertou minha curiosidade.

Respirei profundamente, ainda tentando acreditar naquilo tudo.

- Eu não posso sair daqui.

- Fale pro seu amigo do lado cobrir sua falta. Vamos, vai ser rápido.

- Ótimo – falei nervosa.

O segui até os fundos da boate, o mesmo lugar que havia encontrado os demônios.

- Me chame de Dante. – se apresentou.

- Vá direto ao assunto.

- Você não é exatamente o que você finge ser, não é mesmo?

- Eu acredito que você já tenha descoberto isso sozinho.

- Assim que você se levantou do acidente. Se fosse humana estaria morta

- Certo, tirando o fato da descoberta “do ano”. O que você quer comigo?

- Primeiramente queria saber porque você esconde de todos isso.

- Mais essa agora! – reclamei. – Você quer saber da minha vida? O que te faz pensar que vou contar tudo para você, que acabei de encontrar há um dia, o que não conto nem para meus amigos mais íntimos?

- Talvez porque você não é a única nessa situação.

- Você é um meio-demônio? – fingi espanto. Como aquela conversa poderia levar a algum lugar? O que aquele homem queria comigo?

- Mas você é impossível! Se você quiser que mude meu jeito de perguntar é só me falar. Eu posso ser mais agressivo.

- Quem disse que quero continuar com esse papo? – perguntei já caminhando para a porta.

- Escuta aqui moçinha! – fui puxada com força de volta. – Eu não estou de brincadeira. Você é essa da foto não é?

Ele havia me mostrado uma foto minha aos quinze anos ao lado de meu pai. Peguei a foto de sua mão, já assustada, pensando coisas horríveis.

- Sim. Por que você tem essa foto?

- Encontrei na casa do seu pai.

Sentei em um banco sentindo algo errado naquilo tudo. Não conseguia chorar, mas fui tomada por um misto de ódio e tristeza.

- O que isso significa?

- Significa que seu pai morreu há três dias e que estou atrás de pistas sobre o assassinato dele e sobre você.

- Não! Eu não senti nada! Ele ainda está vivo!

- Infelizmente ele morreu. Ele era um humano e foi morto por demônios. Quando esse tipo de coisas geralmente ocorre me chamam.

- Que tipo de pessoa é você?

- Eu sou um caçador de demônios. Os dois demônios mortos ontem estavam relacionados ao caso.

- Por que ninguém me disse nada antes?

- Era isso que estava tentando dizer. Quando encontrei você ontem eu só percebi depois que você era a moça da foto. Não encontraram nenhuma pista de onde você estava. Seu pai já foi enterrado.

- Eu preciso vê-lo – levantei-me.

- Agora não. Amanhã assim que clarear, se você quiser, eu te levo.

            - Não obrigado.

- Você tem idéia quem faria isso com ele?

            - Não, mas irei descobrir.

            - É para isso que estou aqui. Você não precisa fazer isso, aliás, você nunca quis fazer isso.

            - Eu acho que meu pai sempre quis que eu me revelasse, que forma mais irônica para isso acontecer.

            - A vida é irônica. Eu encontrei isso nas coisas de seu pai – ele me entregou um diário sujo. – Ele escreveu muito sobre você.

            - Obrigada – abri a porta da boate.

            - Ele conhecia muito você – Dante se aproximou de mim. – Pode contar comigo.

 

            Passei discretamente dentro da boate, peguei minhas coisas e corri para o apartamento. Não ficaria ali um segundo se quer. Meu pai estava morto. Apesar de nunca termos sido unidos, aquele homem não merecia morrer. A única bobeira que tinha feito no mundo fora ter se apaixonado por um demônio.

            Escrevi um bilhete sem muitos detalhes para Jeff e chamei um táxi para me levar até a rodoviária. Voltaria até minha cidade ainda essa madrugada.

 

            Lá estava a casa de meu pai, do jeito de sempre. Depois de andar por todos os cômodos, sentei-me na escada da varanda e comecei a ler seu diário. Ele havia escrito muitas coisas sobre mim, como Dante falara. Sobre minha mãe, meu nascimento, o ódio que lamentava e que segundo ele me destruiria, falava até mesmo que um dia eu aceitaria ser quem eu era. Usaria meu nome verdadeiro, o nome que ele tanto amava. Taria. Pela primeira vez me arrependi por não saber nada, não sabia usar armas, não sabia lutar, toda aquela força demoníaca sem utilidade alguma. Ainda não conseguia entender o que poderiam querer com meu pai.

            - Quem iria querer ver você morto, pai?

            Seria castigo por ter se relacionado com um demônio?

            Em seu diário não havia nenhuma pista sobre o passado de minha mãe ou qualquer coisa que pudesse me ajudar.

            Fui vencida pelo sono. Dormi apoiada em meus joelhos.

            - Você não vai conseguir andar. – uma voz me acordou. Dante estava sentado ao meu lado.

            - Que susto! O que você está fazendo aqui? – disse tentando me recompor.

            - Supostamente eu a traria até aqui. Mas você chegou antes.

           - Eu não poderia ficar em casa, não depois de tudo o que aconteceu. Estou me sentindo completamente inútil. Eu sempre tentei ser o que não era e agora que preciso ser forte e mostrar o meu lado, o lado que tanto escondi, não sei bem o que fazer.

            - Comece deixando seu cabelo da cor natural.

Não pude deixar de rir do comentário.

- Ele já está querendo isso. Nenhuma tinta fica por muito tempo no meu cabelo. – peguei uma adaga que estava no chão e falei a encarando.

- É uma das adagas que meu pai possuía, são quatro. Segundo ele, foi a única coisa que minha mãe deixou para trás. Bonita, mas sem utilidade. – a enfiei no chão de madeira.

- Se não tem utilidade por que você a pegou?

- Fiquei pensando como minha mãe era... Imaginando como ela as usava. Um momento nostálgico.

- Você não é uma humana. Pode aprender a usar uma rapidamente, se quiser, claro.

- Quando fico perto de demônios sinto dor de cabeça e enjôos. Queria saber controlar isso. Tirar isso da minha cabeça. – disse distraidamente, mais para mim do que para ele.

- Se você liberasse um pouco seu lado demoníaco isso não aconteceria com freqüência. É falta de costume.

- Parece tão fácil com você falando.

Levantei-me decidida em mudar.

- Você tem algum papel para anotar qualquer coisa que possa te localizar. Eu vou precisar saber informações sobre a morte do meu pai.

Dante tirou do bolso da calça um papelzinho com um número de telefone. - Até qualquer dia... – saí caminhando pela estrada de areia.

- Você vai morar aonde? – o escutei gritando.

- Vou achar algum lugar.  – disse sem olhar para trás e sussurrei - Preciso me encontrar.

 

 


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