Sem Você. escrita por Letícia Martins


Capítulo 3
Mudando algumas coisinhas


Notas iniciais do capítulo

A música para este capítulo é essa: http://www.youtube.com/watch?v=E879PGlGwPg...
Recebi nos reviews a ideia de deixar em negrito toda vez que a fala for do narrador e os diálogos normais. Achei boa pois ajuda na hora de entender o que está acontecendo.
É isso ai, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/240445/chapter/3

Estou na aula de Química, na mesma turma que Amélia. Ela se mostrou ser uma garota bem divertida, me mandando bilhetinhos com ofensas às roupas dos professores e principalmente sobre Britanny.
Se fosse seguir o exemplo de alguém para ter uma vida tranquila, esse alguém seria Amélia. Ela é sempre organizada e está em dia com os estudos mas nem por isso perde a diversão.
Um bilhete pousa sobre a minha mesa e enquanto abro imagino o que ela está zombando dessa vez.
“Collin olhando muito e contando desesperadamente os minutos para uma conversa. Uau!”.
Demorei algum tempo para perceber que o garoto estava olhando para mim e Amélia provavelmente se referiu a mim também quanto a conversa. Mas eu não queria conversar com ele, não agora. Ontem, depois de Jess ter saído do meu quarto e antes de dormir, fiquei pensando e decidi que, por enquanto, nada de garotos. Muito menos Collin Fiérce.
O sinal toca e todos os alunos saem da sala. Rapidamente pego a mão de Amélia e sigo para a porta antes que Collin pudesse dizer algo.
Acho que, por sorte, não terei aulas com ele hoje.
Depois do recreio vou para a aula de Matemática, tenho aulas quatro vezes por semana. O livro é bem espesso, por sinal. Mas não são os cálculos que me assustam, ou Jorge Hanson, o professor.
Tenho mais receio do meu colega de balcão, Lou.
Entro na sala e vejo que ele não está lá, o que inesperadamente me deixa chateada. Talvez ele chegue mais tarde.
Abro o livro e espero pelo Sr. Hanson.
Ele entra na sala e dirige-se para a minha mesa.
–Olha, Hayden, será que poderia me fazer um favor? Lou precisou faltar a aula hoje e preciso de alguém para arrumar a pasta de trabalhos dele. –ele está me pedindo para fazer isso.
–Claro. Quer dizer, tudo bem, posso arrumar a pasta de Lou.
–Isso é ótimo, obrigada. Depois das aulas você pode entregá-la a ele no seu quarto, número 398. –ele volta para a sua mesa no centro da sala. Terei de fazer o que mas estou evitando: falar com Lou.
Mas somente entregarei a pasta, certo? Ele não pode ser grosso comigo por isso, foi o professor quem me pediu.

Depois da aula, Carla me convida para ir tomar um chocolate quente em seu quarto e eu aceito. Adoro chocolate quente e preciso me distrair um pouco.
Subo as escadas e vou até o segundo andar, número 470. Bato na porta e Carla abre com um grande sorriso no rosto.
–Chegou bem na hora! –ela me entrega o chocolate quente e a caneca está fervendo, quase a deixo cair no chão –E então, Hay, já se resolveu com “dablonde”? –não sei de quem ela está falando, mas então percebo que é de Britanny. Rubens comentou que todos a chamam assim.
–Nem a vi hoje, não tive aula de Biologia.
–Mas amanhã terá, e sabe como lidar com ela? –ela questiona. Balanço a cabeça negativamente –Tem que jogar seu jogo. Se ela te insultar, pense em uma resposta que a deixará sem fala, mostre a ela com quem está lidando. Assuste-a.
–Bom, é uma ótima ideia... mas não sei se consigo fazer isso.
–Claro que consegue. Amanhã, antes da aula, passe aqui novamente. Arrumei umas roupas novas e tenho muita maquiagem, podemos dar um novo visual a você, só por um dia. –fico agradecida pela ajuda que Carla está tentando me dar, mas gosto das minhas roupas e maquiagem me incomoda. De qualquer maneira, prometo pensar no assunto e saio de seu dormitório para que ela possa fazer as tarefas.
Estou indo em direção ao quarto de Lou. Organizei sua pasta durante a aula e creio que está tudo em ordem. Antes que possa bater na porta, ele a abre e não parece surpreso comigo ali, mas está visivelmente nervoso. Como soube que eu estaria em seu quarto?
–É fácil distinguir seus passos com essas botas. –ele diz, quase como se pudesse ler meus pensamentos.
–Ah. Bom, aqui está sua pasta. –entrego-a em suas mãos. Ele da uma folheada e assente com a cabeça, parece que está tudo certo. Então, ele olha para mim e coça a cabeça.
–Quer entrar? Eu fiz chocolate quente. –eu mal acabei a minha xícara no quarto de Carla, mas posso fazer um esforço só para entrar no quarto dele.
O ambiente é estranhamente organizado. Na verdade, é uma bagunça organizada. Existem pilhas de sujeira como roupas sujas e pacotes de salgadinho mas estão juntas em um montinho no canto do quarto. O resto parece arrumado como sua cama e sua escrivaninha.
Lou faz um gesto para que eu me sente em sua cama e vai até a escrivaninha, onde posso ver um pequeno microondas embutido. Olho em volta e vejo que sua parede está cheia de pôsteres. A maioria de cavalos e carros e, acima do computador, um grande mapa múndi.
Ele vem até mim e me entrega a caneca, um pouco menos quente que a de Carla, e se senta ao meu lado. Seu braço toca o meu e um calor percorre o meu corpo. Contra a minha vontade, me afasto e ponho as mãos no colo.
–Gosta de cavalos? –pergunto. Ótimo assunto para começar. Como sou idiota. Pelo menos falei alguma coisa e não deixei aquele silêncio perturbador estragar tudo. Fique calma, Hayden, minha nossa!
–Bem, sim. Fazia aulas de hipismo quando pequeno.
–Sempre quis fazer.
–Não queira. É muito complicado e, uma vez que entra, é como se não pudesse sair. As pessoas sempre se lembram de você pelo nome de seu cavalo e os apostadores querem que continue correndo. Algumas pessoas chegam a mudar de cidade para fugir de tudo isso. –ele me olha. Uma parte da sua camisa está levantada e posso ver suas costas. Sua pele é morena, como a de um surfista. Sabe aquele calor que estava em meu corpo antes? Está de volta.
–É por isso que está aqui? –questiono. Ele faz que sim com a cabeça. Seu rosto está tão perto do meu. Por um momento desejo que esteja mais perto.
Se concentre, Hayden. O que há comigo?
-Por que faltou a aula hoje? –tento mudar de assunto.
–Estou com gripe e sem vontade de sair do quarto.
–Vai ficar trancado aqui por quanto tempo?
–Tempo suficiente.
–Tempo suficiente para o quê? Para que moscas comecem a voar em torno de você? –pela primeira vez ele abre um sorriso e seus dentes são perfeitos, como todo o resto. Fico orgulhosa de mim mesma por conseguir fazê-lo sorrir.
–Desculpe por ontem, quero dizer, fui grosso e mal educado. Não devia ter te tratado daquela forma. –fico nervosa e tento não me lembrar.
–Tudo bem. Eu não devia segui-lo pelos corredores. –ele me olha, surpreso, então da uma risada. Sua risada é tão boa de ser ouvida que poderia tocar no rádio.
–Então, estava me seguindo? –sinto meu rosto começar a corar. Levanto-me e tomo o último gole de chocolate quente. Coloco a caneca sobre a escrivaninha e abro a porta.
–Até amanhã, Lou. –saio sem responder a sua pergunta.

São cinco e meia da manhã e eu estou a caminho do quarto de Carla. Decido aceitar sua oferta de um novo visual somente por hoje.
Bato na porta e ela abre, com cara de sono. Seu cabelo está solto e todo bagunçado, a maquiagem borrada. Tento não rir do pijama de coelhinhos que está usando mas não aguento.
–Ria mesmo, pode rir. Mas é a bonita aqui quem vai te deixar um arraso. –seguro o riso na hora. Ela está certa.
Depois de meia hora, me sinto como se saindo de um salão de beleza. Meu cabelo está liso e solto, minha franja foi cortada para o lado. Meus olhos se destacaram em meio a maquiagem preta neles aplicada e minha boca está com a aparência seca de um batom cor de pele, mas bonita. Estou usando uma calça jeans, sem rasgos dessa vez, a blusa do uniforme por baixo de um cardigã verde claro. Carla também colocou um cordão com pingente em meu pescoço e vários anéis em meus dedos, depois de pintar minhas unhas com a cor semelhante a do cardigã.
Me sinto bonita, e a sensação é ótima.
–Puxa Carla, obrigada!
–Não há de quê. –ela abre um sorriso triunfante– Você está linda. Britanny não chegará a seus pés. Acho que até mesmo aquele seu namorado, Collin, não resistirá. –olho para ela de cara feia, não namoro e nunca namorei Collin. Mas fico feliz com o pensamento de que outra pessoa me verá assim: Lou.
O quê será que ele vai pensar?

Quando chego na aula de Biologia, Britanny já está sentada e sua expressão ao me olhar é indecifrável. Sento-me ao seu lado e espero pela professora.

Um bilhete pousa sobre o meu livro, como eu esperava que acontecesse.
“Abriu a mala ontem e achou seu senso de moda?”.
Penso no que Carla me disse ontem, que preciso deixá-la sem resposta, assustá-la. Escrevo calmamente em um pequeno pedaço de papel e a entrego.
Sim, estava bem guardado na minha mala, ao contrário da sua. Devia procurar direito pois sandálias de plataforma saíram de moda a mais de cinco anos.”
Nunca fui muito ligada a moda, mas sei de algumas coisas graças à minha mãe. Ela é estilista e sempre a ajudo quando possível. O que eu disse sobre as sandálias no bilhete é verdade, não sei como ela está usando, já que diz ter muito estilo. Sem bilhetinhos durante o resto da aula.
Posso dizer o mesmo de Lou. Quando entro na sala para a aula de matemática, espero que conversemos como fizemos ontem, mas ele apenas me da uma olhada rápida, arregala os olhos e então volta para seu livro de capa preta, onde ele faz seus rascunhos sobre não-sei-o-que. E isso, sinceramente, me irrita.

Estou voltando para meu dormitório. Jess está de suspensão e as únicas pessoas conhecidas com quem falei hoje foram Amélia, Carla e Rubens, na hora do intervalo.
Os bilhetinhos de Amélia me distraíram quando meus pensamentos me levaram longe demais e sou agradecida por isso.
Entro no quarto e vejo um vulto sentado na minha cama. Solto um grito e o vulto vem até mim. Vejo que é Collin. O que diabos ele está fazendo no meu quarto? Como entrou?
–Te assustei? –ele vem até mim e segura minha mão–Não foi minha intensão, só queria te fazer uma surpresa.
–Bom, você conseguiu. –sei que não devia estar conversando com Collin mas, simplesmente não consigo mandá-lo embora. Ele abre um sorriso.
–Estava pensando que podíamos jantar juntos amanhã. Sabe... Só nós dois. –abro a boca pra falar que não mas algo me impede. Talvez seu sorriso ou seu olhar esperançoso. É só um jantar, certo? Para nos conhecermos melhor, talvez até virarmos amigos. Não sei o que dizer, mas quero ir a esse jantar.
–Entendi. Precisa de tempo para pensar. –ele me entrega um guardanapo dobrado e me beija no rosto –A gente se vê, Hay.
O observo enquanto vira o corredor. Isso pode ser estranho mas, mal posso esperar para o nosso encontro amanhã.


Lou Ninguém-sabe-o-sobrenome (sem os piercings, é claro).


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente achei a foto de um cara que é o Lou em pessoa, só que sem os piercings e alargadores. Não sei se vocês conseguem associar a foto ao personagem, mas é mais ou menos assim que Lou é, com cara de bravo. hahaha!