Me Apaixonei sem Querer escrita por Daniele Avlis


Capítulo 19
Chamando - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Capitulo divivido em duas partes
Parte 1



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/2403/chapter/19

Capitulo treze - Chamando

         - Por que... por que ela não me vê?

         - Você morreu.

         - Por que isso aconteceu?

         - Você pediu.

         - Eu não queria que fosse assim...

         - Mas aconteceu.

         - O que posso fazer? Tem volta?

         - Infelizmente quando se está deste lado. Não tem mais volta.

         - Não posso deixá-la como está... Não posso...

         - Mas tem um jeito para você voltar.

         - Qual?! Por favor, me diga Samantha, que jeito é esse?

         - Este jeito está na última página do livro que está no criado mudo ao lado da sua cama na sala de Monitoria Chefe.

         - E como faço isso se estou morto?!

         - Dê um jeito.

         - Que jeito?! Não me deixe mais desesperado do que já estou!

         - Você conhece algum amigo que tenha alguma sensibilidade espiritual muito aguçada?

         - E eu vou lá perguntar essas coisas?!

         - Não seja grosso comigo, só estou tentando te ajudar. Se não quiser a minha ajuda eu vou embora e você que se vire!

         - NÃO! Espere! Sinto muito. Fui estúpido.

         - Foi não, você é!

         - Ta lega, ta legal! Eu admito que sou um tanto quanto grosso...

         - Grosso? Grosso é pouco.

         - Estamos aqui pra discutir como faço pra voltar ou as minhas atitudes?

         - Digamos que pode ser as duas coisas. Assim tenho companhia!

         - Não fique feliz com a minha desgraça.

         - Não posso fazer nada. Não tem muito com que se divertir aqui...

         - AAAAHH! MURTA! EU POSSO ESTAR MORTO, MAS DÁ UM TEMPO!

         - AAAIIIII LINDDOOO EU SABIA QUE UM DIA VOCÊ FICARIA DO MEU LADO POR TODA A ETERNIDADE!

         - Ok. Me ignorem.

- NÃO SAMANTHA, NÃO ME DEIXE COM ESSA DESMIOLADA!

- Eita, mas que garoto mais desesperado esse... ta eu fico. Mas não fica se agarrando com essa maluca que eu vou embora!

- Está com ciúmes, Sam?

- Ciúmes? Eu? E quem disse que eu iria algum dia ter ciúmes desse pateta?

- Você não, mas a sua outra face sim!

- Engraçadinha você...

- VOCÊS DUAS QUEREM PARAR COM ISSO E ME AJUDAR?!

         - Xii... ele ficou furioso...

         - E a culpa é sua.

         - Por que minha?!

         - CALEM A BOCA!

         - Já calamos.

         - Ótimo! Acho bom!

         - Ele ta nos ameaçando?

         - Eu acho que ta!

         - E o que ele pensa que é pra fazer isso?!

         - Ai meu Deus eu mereço... o que foi que eu fiz pra ficar de papo com essas duas malucas?

         - NASCEU!!

         - Ou melhor, morreu né...

         Draco fechou a cara.

         Pansy recusou a falar com seus amigos ou conhecidos que vinham lhe dar palavras de consolo. Recusou-se a ver qualquer pessoa que fosse e passou a maior parte do tempo trancada no quarto do dormitório feminino da Sonserina. Até lançar feitiços contra a porta para quem ninguém entrasse, ela fez. Sua mente vagava em lembranças de seus anos anteriores e se perguntava o que aconteceu para mudar tanto. O que aconteceu para as pessoas a sua volta mudar tanto? Ou será que foi ela quem mudou?

         Pansy estava sentada em sua cama enquanto a tarde passava pela janela opaca e o som de alunos ao longe entrava pelas fretas das portas, abraçada aos joelhos enquanto fitava, durante horas adentro uma página de um diário aberto. Seus olhos pregados na mesma, não se moviam um único milímetro, uma única expressão se quer passava por seu rosto sombrio e pálido. De repente. Como um estalo. Ela pegou o diário em mãos e o jogou com violência contra a porta do quarto, fazendo o mesmo cair pesadamente no chão. Ela começou a respirar ofegante. Como se tivesse corrido léguas de distâncias por algum tempo. Ela começou a correr os olhos pelo local. Levou as mãos aos cabelos bagunçando-os agitadamente e gritou. Gritou alto. Ela limpou ferozmente uma lágrima teimosa que correu por sua face. Levantou-se de um salto e caminhou pesadamente até o diário. O tomou em mãos de uma forma delicada como se o mesmo fosse algo muito precioso. O olhou por algum tempo. O fitando. Seu maxilar estalou de raiva e engoliu em seco.

         - Tudo o que você tem... era tudo o que eu queria ter... – ela derrubou displicentemente o diário no chão num baque surdo. Sacou levemente a varinha. Abaixou fitando o diário. – Incendio... – disse. Um raio alaranjado e avermelhado saiu de sua varinha sendo lançado contra o diário que queimava se distorcendo. Ela ficou ali, vendo o diário se transformando em pó. Pouco a pouco. Tomando cuidado para não provocar um incêndio no quarto. Logo uma fumaça fúnebre envolveu o lugar. Pansy correu para a janela e a abriu com a varinha. Fazendo com que a fumaça se dissipasse com o vento juntamente com as cinzas do que era um diário.

         Roland Welling estava deitado em sua cama, num quarto improvisado para os alunos de Beauxbatons. Ele apoiava a cabeça sobre o braço esquerdo enquanto o direito segurava um livro que estava apoiado em suas pernas dobradas. Ele lia atentamente o que estava escrito ali. Era um livro sobre Transfiguração. O ambiente do quarto estava entregue a um silêncio calmo. As janelas abertas por onde entrava uma brisa fresca balançava levemente seus cabelos vermelhos escuros, o que faziam com que algumas mechas teimassem em ficar sobre seus olhos cinzentos. Ele suspirou cansado. Depositou o livro no chão ao lado da cama e passou a mão sobre o rosto como quem espantava o sono; ao fazer tal gesto, ele fitou a faixa vermelha que continha em sua mão direita. Mexendo os dedos simplesmente, como se não tivesse usado os mesmos há anos, retirou a mão esquerda debaixo da cabeça e começou a desamarrar a faixa que estava amarrada na palma da mão direita. Sentou-se na cama enquanto fazia isso. E ao retirar a última parte a olhou bem. Na palma da mão direita de Welling havia uma horrenda queimadura. Uma cicatriz que ficaria por toda a vida. A pele da palma da mão estava fúnebre, tinha uma coloração amarronzada e branca e parecia se descascar. Durante algum tempo, quando recebeu esta cicatriz de um acidente que aconteceu há dois anos, Welling pensava que poderia melhorar, mas não. Nunca, jamais melhorou – já fora a vários curandeiros, mas nenhum o ajudou –. Ele usava a faixa para cobrir a cicatriz. A pele da palma de sua mão estava morta, poderia até tirá-la, como havia feito um ano antes, achando que era apenas casca, mas viu a carne viva da mesma e o sangue escorria da mão que lhe causava dor como se tivessem sentido tudo novamente. Ele recolocou a faixa com cuidado, esta o ajudava, servia como uma segunda pele. Levou a mão até a altura dos olhos, como se admirasse o trabalho feito. Bufou. Pegou o livro que estava no chão o fechou bruscamente e o colocou em cima de uma mesinha ao lado. Levantou-se e caminhou até a porta e saiu.

        

         Ann observava o rosto inerte de Draco. Observava cada traço do rosto, cada curva do mesmo e de como os cabelos lisos e loiros cariam levemente sobre as pálpebras fechadas que guardava olhos azuis acinzentados. Ela estava sentada numa cadeira ao lado de um dos leitos mais baixos da segunda Ala. Ann estava debruçada sobre a cama com a cabeça apoiada nos braços dobrados enquanto observava a respiração lenta e fraca do garoto. Apenas assistindo ele dormir como se esperasse que a qualquer momento ele pudesse acordar, enquanto ela acariciava, de leve, com as pontas dos dedos, os cabelos dele brincando com algumas mechas de cabelo que teimavam em ficar nos olhos dele.

         - Acorde pra mim... – murmurou ela. – Abra seus olhos pra mim... – suspirou e ficou mais uma vez em silêncio, somente escutando ao longe o farfalhar das árvores que eram balançadas pelo vento e o som das mesmas entravam na Ala juntamente com as vozes das pessoas lá fora, longe, tornando tudo um silêncio modorrento e tranqüilo. Ela brincava com as mechas do cabelo, docemente, como uma criança que esperava pacientemente a pessoa ao seu lado acordar. Como se aquele gesto, tão simples, pudesse ter o poder de fazê-lo acordar. De quando em quando fechava os olhos sendo vencida pelo cansaço, mas logo que acordava, assustada, rapidamente o olhava, verificava se o mesmo já havia acordado.

         Desde que soube que Draco caiu em coma, Ann não saiu uma única vez da enfermaria. Nem sob protestos dos alunos da Sonserina; que advertiam a torturar e a perseguir em qualquer momento; nem sob as ameaças de Pansy Parkinson e nem sob as ordens dos professores. Ela ficou ali, ignorando o mundo. Não falou mais com Hermione e nem com Gina, que desistiram de tentar tirá-la de lá, a visitavam de vez em quando naquele dia, Ann simplesmente as ignorava ou dava respostas curtas encerrando o assunto. Hermione e Gina tentaram entender, não fizeram objeções. Ann pedia desculpas mentalmente a elas, não tinha nem coragem para falar com elas nem com ninguém. Só queria que a deixassem ali. Quieta. Já era o bastante.

         - Quem era eu para te fazer esperar... – murmurou mais uma vez enquanto o observava. Parecia tão calmo, tão tranqüilo. – Eu não me importo com mais nada nesse mundo... Eu sinto sua falta... Ainda continuo sonhando que você estará comigo, Draco... Acorde pra mim... – falou numa voz pastosa. – Eu juro por Deus que resistira a todo o inferno pra segurar sua mão... Vamos, acorde pra mim... Abra seus olhos... Eu daria tudo, daria tudo por nós. Eu daria qualquer coisa, mas não desistiria então não desista e acorde... acorde pra mim... – ela fungou limpando uma lágrima solitária que escorria pelo seu rosto. Draco, mesmo que Ann não o visse, estava ali, bem ao lado dela, o tempo todo, sentado no leito ao lado, observando-a e escutando-a. E notou a presença de alguém. – Welling?! – exclamou ela ao levantar a cabeça. O rapaz estava encostado à porta da Ala de braços cruzados a observando. Ele se aproximou do leito de Draco. Ann o acompanhou com os olhos. E Draco fez o mesmo, tão surpreso quando Ann.

         - Ele deu algum manifesto?

         - Não... – respondeu tentando disfarçar a voz que saiu embargada desviando o olhar de Welling para as próprias mãos que agora, estavam sobre seu colo. Draco ficou a observar os dois. Welling se aproximou mais do corpo de Draco. Ann não viu, continuou a olhar para as mãos. Welling pegou o braço esquerdo de Draco e levantou a manga. Draco levantou-se de um salto observando o garoto enquanto o mesmo mexia em seu corpo. – O que está fazendo? – Ann se levantou.

         - Agora que você se manifesta! – bufou Draco, espírito, ao lado de Ann, com raiva. Welling a ignorou. – Não! – gritou Draco ao levar as mãos aos cabelos. Welling levantou mais a manga das vestes da Sonserina e lá estava ela. A marca Negra. Ann arregalou os olhos prendendo a respiração. Draco ao seu lado ainda continuava com as mãos nos cabelos, desesperado. – Ele sabia.

         - É claro que sabia. – disse uma voz sarcástica às costas de Draco. Este se virou. Samantha estava de braços cruzados observando Welling atentamente. – Se você o tivesse como inimigo, Malfoy, de certa forma você já estaria morto.

         - Obrigado pela parte que me toca. – disse ele dando um sorriso irônico. – E ele é meu inimigo. Ele deve ter alguma coisa com o governo ou sei lá...

         - Ah! Draco, como você viaja! – bufou Samantha. – Welling nada mais é do que um Autor.

         - Aí é que ta! – retrucou. – Sendo eu um Comensal e ele um Auror... o que me diz disso? – ele ria irônico enquanto observava Welling verificar atentamente a tatuagem no braço do garoto.

         - Ele não é seu inimigo.

         - Ah, não? – ele virou-se para Samantha, irônico. Ela o encarou com um olhar de desdém. – Engraçado, porque amigo é que ele não é.

         - Ele não vai fazer nada contra você enquanto tiver a Ann. – rebateu ela com raiva agora observando Welling.

         Ann suspirou. Welling abaixou a manga como se não tivesse a levantando.

         - Não deixe que ninguém veja isso. – falou ele sem olhá-la. Ann franziu o cenho.

         - Welling...

         - Você não me deve explicações, Ann. – ele sorriu gentilmente para ela. Ann olhou para o corpo de Draco. – Você sabia, não sabia? – ela não respondeu. Welling apenas aceitou aquilo como uma resposta. Ele virou-se para sair da sala.

         - Welling. – chamou Ann. Ele parou e virou-se para ela. – O que... o que vai fazer? – perguntou temendo a resposta. Welling abaixou a cabeça coçando o queixo. Em seguida a levantou novamente e encarou Ann.

         - Não vou fazer nada contra ele. – Samantha olhou para Draco, espírito ao seu lado, com um olhar de quem diz: “Ta vendo?” Draco apenas soltou um resmungo não acreditando naquilo. Ali tinha coisa. Welling se virou mais uma vez para partir a deixando sozinha na Ala. Ann sentou-se na cadeira e se manteve em sua posição de antes.

         - Venha comigo. – disse Samantha a Draco, este já estava indo se sentar no leito onde estava sentando minutos antes.

         - Pra onde? – perguntou tedioso.

         - Você quer voltar não quer?

         - Quero, claro que quero!

         - Pois então aproveite que você ainda não morreu. Então venha comigo. – disse ela decidida. Draco olhou para Ann uma última vez. Aproximou-se desta enquanto Samantha se afastava sem perceber que o garoto ainda continuava no mesmo lugar. – Eu vou voltar. – sussurrou no ouvido dela como se ela pudesse escutar e mais uma vez levou a mão aos cabelos da garota para acariciá-las mas desistiu, não queria, realmente não queria ver sua mão atravessá-la. Seguiu para onde Samantha o esperava impaciente.

        

         Roland Welling caminhava apressado pelos corredores de Hogwarts. Os alunos foram obrigados a seguirem seus currículos escolares. Zabini se encontrava ainda enfermo, mas não havia nada de grave, apenas alguns ossos quebrados e entre outros incidentes. Roland seguiu pelos corredores quase silenciosos e chegou ao corredor onde ficava a Sala de Monitoria Chefe de Hogwarts. Parou a porta e espiou os dois lados do corredor. Sacou a varinha e abriu a porta murmurando “Alorromora”. Adentrou rapidamente na sala fechando a porta atrás de si. Silencioso como um gato, ele vasculhou o local atrás de algo importante. Seus olhos furtivos e astutos vasculharam gavetas da mesa principal e armários. Abriu a porta do quarto do Monitor Chefe, vasculhou todos os móveis. Parou diante de um criado mudo e o abriu num único gesto. E sem hesitou, tomou em mãos um livro surrado. Folheou rapidamente como quem já o tinha visto antes, parou numa página e correu os olhos por ela e uma leve ruga apareceu em sua testa. Ele suspirou, fechou o livro bruscamente e o levou consigo. Deixando o quarto como se nunca estivesse ali.

        

         Thomas Rivert estava pagando uma detenção na biblioteca, àquela tarde, por ficar até tarde da noite zanzando fora da cama à noite passada, mesmo protestando que ele estava preocupado com o amigo, mas os monitores da Corvinal não quiseram nem saber – Tom até ameaçou os monitores de que quando Draco acordasse daria os nomes deles ao amigo, já que Draco era Monitor chefe, mas com essa ameaça ele fez a Sonserina perder quinze pontos – desacato a uma autoridade –. A biblioteca estava quase vazia apenas continha alguns alunos a um canto, mas logo eles saíram do ambiente. Madame Pince estava à porta da biblioteca ralhando com dois alunos que estava lanchando dentro do ambiente e Tom estava lá no fundo da biblioteca. Com cuidado ele recolocava a pilha de livros no lugar que os alunos tinham mania de tirar e não pôr de volta. Por duas vezes, teve problemas com cinco livros de feitiços que teimaram em não ficar no lugar ou derrubava outros que ele carregava de uma estante para outra; Tom tinha sérias duvidas se iria acabar isso sozinho e cedo, pois parecia que alguns livros estavam dispostos a fazer uma pequena rebelião. Ele viu até um mesmo tentar rasgar as próprias páginas com as pequenas fitas de cetim vermelho que saia de sua capa grossa, impedido que Tom o colocasse no lugar, ao lado de um outro livro, com o mesmo tema só que mais atual.

         - Entra aí! – bufava Tom empurrando o livro com toda a força que tinha. Estava proibido de usar magia e tinha que fazer as coisas na mão. Assim que encaixou o livro no lugar, Tom ameaçou o mesmo a jogá-lo pela janela se não cooperasse. – Que decadência! Estou brigando com um livro... – suspirou ele irônico ao pegar mais uma pilha de livros e arrasar uma longa escada, com rodinhas, para o outro lado. Colocou os livros numa mesa próxima.

         Ajustou a escada olhando para a estante, pegou dois deles e começou a subir, calmamente; até que era fácil, se não fosse ele ter subido cinco degraus da escada e uma fileira inteira de livros vier ao chão; uns cinqüenta livros pesados e grossos. O barulho foi alto. E Tom olhou rapidamente para a porta, mas Madame Pince não estava lá. Correu os olhos desesperados pelo local a procura da mulher. Temia que encontrasse o olhar de fúria dela ao ver a bagunça que estava, mas ela não estava lá. Ele estava sozinho. Tom fechou a cara olhando para estante. Desceu decidido a passos pesados. Se afastou da estante sacando a varinha ferozmente e ao levantá-la para lançar um feitiço todos os livros que cariam voltaram rapidamente para o lugar, arrumadinhos como se nada tivesse acontecido. Tom bufou cansado derrubando os ombros.

         Ele levou a mão à testa.

         - Eu mereço. – suspirou ao voltar para a escada. Ele parou. Olhou para a estante com um olhar intimidador. – Eu não vou esperar para lançar um feitiço. Eu to avisando! Nem que Madame Pince esteja presente eu vou usar a varinha! – ele brigou. – Cara, que decadência! Estou discutindo com uma estante e um bando de livros encrenqueiros... Isso é só pra quem não tem o que fazer...

         - Chamar a atenção de Tom, desse jeito, só vai fazer com que ele ataque os livros sem piedade, estou dizendo! – disse Draco suspirando cansado, ele estava sentado na mesa de madeira onde Tom acabara de colocar os livros. Ele olhava para o amigo que colocava os livros cuidadosamente no lugar. Samantha estava em pé, de braços cruzados e lançava olhares assassinos para Murta Que Geme, que estava flutuando próximo a Tom de uma maneira que ele não a visse.

         - Por que você não aparece para ele?! – perguntou Samantha irritada.

         - Eu não sei o que aconteceu? – explicou com raiva.

         - Ah, não sabe? Ah, não sabe não? – rosnou Samantha calmamente fitando Murta num olhar assassino. Draco levou a mão à testa no exato momento que Tom descia as escadas para pegar os outros livros.

         - Samantha, estou tentando ajudar!

         - Mas desse jeito?! Jogando os livros no chão?! – disse ela exasperada. – Fazendo com que os livros briguem entre si?!

         - Eu não fiz isso! – defendeu-se Murta. – Sabe muito bem que tem alguns livros aqui que tem vida própria. Eu só fiz os livros caírem da estante não fiz eles tentarem rasgar suas páginas ou fazerem uma rebelião. Se é tão inteligente assim porque você não faz algo para ajudar? – Samantha bufou. Caminhou apressadamente até Tom que estava pegando dois livros e estava ajustando a escada novamente para subir. Samantha assoprou em seu ouvido fazendo o garoto se arrepiar e rapidamente ele deu um pulo para o lado. Eles ficaram em silêncio para observar.

         Tom levou a mão ao ouvido em que Samantha assoprará. Os olhos de Samantha encontraram os de Draco que a olhava atônito e abismado.

         - Como? Como você fez isso? – ofegou ele.

         - Anos de prática. – disse ela orgulhosa. Murta fez uma careta como quem diz: “Grande coisa”.

         - Um assopro desse não é tão interessante do que derrubar uma pilha de livros.

         - Ah, é sim! – disseram Samantha e Draco em uníssono. Murta olhou de esgoelar para os dois.

         - Se não querem a minha ajuda eu me retiro! – guinchou ela.

         - Isso não tem nada a ver! – disse Samantha. Murta lhe lançou um olhar mortal.

         - Samantha, desse jeito você não ajuda! – disse Draco virando-se para ela. – E Murta, tem tudo a ver sim. Eu e Samantha somos diferentes de você. Você é um fantasma e...

         - Vocês também são!

         - Somos espíritos, sua ignorante, espíritos! – berrou Samantha. – Fantasmas têm pendências. Espíritos não. – Samantha parou ao ver o olhar arregalado de Murta quando uma sombra hostil passou pelo rosto desta. Ela suspirou. – Desculpe. – disse. – Mas há uma grande diferença entre nós. Draco, que morreu e não morreu, está lutando para voltar a seu corpo. Eu estou aqui, como parte de Ann. Portanto, Murta, nos ajude a fazer com que Tom procure pelo livro que está no quarto dele. Só você pode nos ajudar. Se não, pode ser tarde demais e realmente Draco pode morrer.

         - Mas aquele livro é suicídio! – ela berrou com uma voz embargada. Samantha olhou para Draco, este desviou o olhar para a janela aberta.

         - Mesmo assim eu vou fazer. – ele disse pondo um fim naquela discussão.

         - Murta, por favor. Você está salvando vidas aqui. – Murta estremeceu os lábios. E com um estalo “apareceu”. Tom berrou.

         - MURTA! – gritou ele descendo as escadas aos tropeços. – Eu estou pagando uma detenção! Não fique assoprando no ouvido dos outros! – berrou. Eles notaram que o rapaz continuava com a mão no ouvido. Murta olhou para o lado onde Draco e Samantha estavam, esperançosos. - O que foi? – disse Tom acompanhando olhar de Murta, mas não via nada. - Madame Pince chegou? – perguntou inocentemente.

         - Draco quer que você vá ao quarto dele e pegue um livro. – ela disse num murmúrio.

         - O quê?! – fez Tom franzindo o cenho sem entender. – O que disse? Eu não escutei Murta! – Murta se empertigou.

         - Draco Malfoy quer que você vá ao quarto dele e pegue um livro. – ela disse em alto e bom som. Tom arregalou os olhos e teve que se escorar na mesa para não cair. Draco e Samantha acompanhavam a reação do garoto.

         - Draco... o Draco... – ele ofegou. – Ele morreu... mas ele... ele não estava em coma...? Ele morreu... meu amigo morreu! Meu amigo morreu! – gritou ele voltando para Murta e saiu correndo da biblioteca.

         - Ah, meu Deus! Ele acha que você morreu! – disse Samantha displicente.

         As portas da Ala-hospitalar foram abertas num estrondo que fez Ann pular da cadeira e quase cair no chão. Rapidamente ela olhou e pensou que vinha um exército de Sonserinos para tirá-la de lá. Era da Sonserina, mas não era um exército, era apenas um. Ann sentou-se na cadeira novamente, não iria sair dali nem que Tom a obrigasse. O rapaz se aproximava possesso. E Ann arregalou os olhos sacando rapidamente a varinha e em seu pensamento ela achou que ele a obrigaria a força sair dali. Ela se levantou da cadeira enquanto ele se aproximava a passos largos e rápidos.

         - DRACO! – ele berrou assim que chegou ao leito do rapaz. Ann pulou de susto.

         - O que está fazendo?! – perguntou. Mas o garoto parecia não escutar.

         - NINGUÉM MANDOU VOCÊ MORRER! SEU MISERÁVEL! ACORDE! LEVANTE!

         - Ele não morreu! – berrou Ann. – Pare com isso, você sabe!

         - ANN, CALE A BOCA! ISSO É TUDO CULPA SUA! DESDE O COMEÇO! DESDE QUANDO VOCÊ PISOU AQUI! DESDE QUANDO VOCÊ CONHECEU DRACO! – gritou ele cuspindo as palavras estava furioso e parecia prestes a matar um. – A MURTA DISSE! ELA DISSEQUEELEMEPEDIUPARAPEGARUMLIVROENÃOSEIMAISOQUÊ! – ele berrava atropelando e juntando as palavras que Ann não entendeu. – O QUE SIGNIFICA QUE ELE MORREU!

         - O QUÊ?! – ela disse exasperada. Tom avançou pra cima dela a derrubando no chão. – Me solte! – urrou ela se debatendo. – Estupefaça! – berrou ao apontar a varinha para ele. Tom foi jogado com violência numa parede. Ele se levantou rápido como se não tivesse sigo jogado. Ann franziu o cenho apertando a varinha na mão assombrada com a recuperação rápida do rapaz, de um feitiço. – TOM, ME ESCUTA, DRACO NÃO MORREU!

         - MEU AMIGO MORREU E É TUDO CULPA SUA!

         - ELE NÃO MORREU, ELE CONTINUA RESPIRANDO!

         Tom sacou a varinha, mas Ann foi mais rápida.

         - Expelliarmus! – berrou com fúria. A varinha de Tom girou no ar caindo longe dele. - Petrificus Totalus! – Tom sentiu o corpo enrijecer e bater como uma tábua no chão. Ann respirava ofegante e passava a mão ao rosto assustada, hesitou por alguns instantes a fazer algo encarando o rapaz estático e estatalado no chão, como se esperasse que de repente ele se levantasse como se não tivesse levado um feitiço. Ela engoliu em seco. – Você é bem forte... – disse ela ofegante. Passados alguns segundos provando que Tom não iria sair dali nem que quisesse. Ela caminhou a passos rápidos e pegou a varinha do rapaz e caminhou até ele sendo seguida pelos olhos do garoto que a fitava. Ela se abaixou ao seu lado. – Eu vou de libertar, mas me prometa que não vai me atacar, certo? – disse. – Pisque para mim que vai obedecer. – ele piscou. – Eu vou te soltar agora, mas preste atenção: Draco não morreu. Ele está em coma. A gente vai conversar, está bem? – ele piscou. Ann se levantou. – Rennervate. – disse. Tom sentou-se de um salto e correu os olhos pelo lugar passando as mãos no rosto, suando e ofegante. Ann estava em pé, ao seu lado e lhe estendia a varinha.

         - Não é somente porque eu seja forte. – Ann rolou os olhos. – Você está aqui há horas e não comeu nada. Acha que um simples feitiço não exige da capacidade de um bruxo em condições físicas excelentes? – ele disse displicente. – Corpo fraco. Mente fraca. Feitiço fraco. Isso é o básico. Nunca se esqueça disso. E além do mais, estava fora de mim. Me pegou de... – ele parou. Ann franziu o cenho pensando que Tom havia pensado: “Não devo explicações a ela”. Já estava acostumada com as patadas e conselhos dos Sonserinos.

         Ele a olhou por alguns segundos. E ao tentar pegar a varinha de volta, Ann rapidamente a desviou.

         - Se me atacar de novo eu não vou medir esforços para revidar. Você me entendeu? – ele apenas bufou. Ann achou aquilo como um sim e estendeu a varinha novamente. Ele a tomou em mãos com grosseria. - E? – fez ela. – Por que entrou gritando desse jeito? – Tom não respondeu de imediato. Caminhou até o leito onde o corpo de Draco estava. Realmente ele ainda estava respirando e parecia que estava apenas dormindo. Ele olhou para o amigo atentamente. – Rivert? – chamou Ann.

         - Eu entrei... – ele pigarreou escolhendo as palavras. – Porque alguém me disse algo.

         - Murta? – quis saber Ann. Tom não respondeu. – Você disse que a Murta falou algo com você... mas você gritou tanto e estava tão desesperado que não escutei direito. O que ela disse? – Tom hesitou em responder. Preferiu não contar nada. Procuraria por Murta e exigiria uma explicação. Aquilo não era brincadeira.

         - Nada. – disse ríspido saindo da sala. Ann o acompanhou com os olhos até ele desapareceu batendo a porta da Ala num baque surdo. Ann foi até o corpo de Draco.

         - O que está acontecendo que eu não sei? – ela perguntou como se o corpo do garoto pudesse responder.

         - Senhorita Theron? – disse a voz gentil de Pomfrey num misto de preocupação. Ann virou-se para encará-la. – Por favor, a senhorita já ficou o bastante aqui. Está aqui desde ontem à noite, vá descansar. – disse enquanto levantava Ann pelos ombros.

         - Mas eu não...

         - Por favor, peço que a senhorita se retire. Será melhor para você. Olhe o seu estado! Quer que eu interne você também? – disse, mas antes que Ann respondesse qualquer coisa ela acrescentou. – Cuidarei do senhor Malfoy e qualquer coisa eu mandarei avisar a você. Não se preocupe. – concluiu. A garota se deixou levar enquanto olhava para Draco, que dormia serenamente. Ela só desviou o olhar quando chegou à porta da Ala que foi fechada por Pomfrey. Ann ficou encarando a porta por algum tempo, depois seguiu lentamente pelos corredores até chegar à torre da Grifinoria. Se alguém tivesse marcado seu tempo até chegar lá, diria que seu tempo deveria ter durado horas adentro.

         Ann disse a senha à Mulher Gorda que se surpreendeu ao ver a garota. Achava que ela já tinha ido embora de Hogwarts. Ann apenas acenou ao comentário do quadro e adentrou. Caminhou lentamente ainda sob os olhares dos curiosos alunos da Grifinoria que ficavam se perguntando aos cochichos o que uma Grifinoria teria com um Sonserino para ficar o tempo todo na enfermaria. Ignorando esses burburinhos que entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Ann subiu as escadas, seguiu pelo corredor estreito e adentrou num quarto que dividia com as garotas. O quarto entregue a um silêncio modorrento, o cansaço não deixou que Ann tivesse qualquer emoção de tristeza. Ela respirou pesadamente, retirou os sapatos e deixou na cama, logo apagou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!