Ponto de vista: Kelsey. Durante o livro: A Maldição do Tigre.

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Eu me encontrava sentada na bela varanda em frente ao meu quarto, na casa de Ren. Havia poucos dias que tínhamos ido a caverna para a profecia de Durga, e o Sr. Kadam nos dera um tempo de descanço até a viagem para Kishkindha, e eu tinha de aproveitá-lo ao máximo.

Era noite e as estrelas brilhavam com uma intensidade impressionante, tal como as constelações eram completamente visíveis. Estava cansada e pensativa. O que era a minha relação com Ren? O que eu sentia por ele? E o que ele sentia por mim?

Eu tinha toda a certeza que o máximo que ele iria me aturar seria até a maldição ser quebrada. E depois iria me dispensar para encontrar alguém melhor. Óbvio.

Então por que eu estava nutrindo sentimentos por aquele príncipe indiano? Ele era muito lindo, gentil, educado... Não consigo mais controlar o que sinto por ele, muito menos agora. Eu sei que preciso dele. Agora.

As vezes sinto falta de não saber nada sobre a maldição, quando era apenas uma trabalhadora temporária no circo e era amiga do tigre. Somente do tigre. Não possuia esse peso em minhas costas.

– Kelsey? - sobressaltei-me ao ouvir aquela voz masculina e baixa as minhas costas. Me levantei da cadeira e observei Ren. Ele usava roupas diferentes da camisa branca de sempre: desta vez exibia uma camisa verde-água, calças jeans escuras e um par de tênis pretos. Seus cabelos negros estavam molhados e ele estava mais maravilhoso do que nunca.

– Ren - respondi, sem conseguir formar mais nenhuma palavra.

– O que faz aqui a essa hora? - indagou. Sim, era realmente tarde, e mesmo sem relógio sabia que deveria ser pelo menos três horas da manhã.

Suspirei.

– Não consegui dormir - eu disse e ele ergueu as sobrancelhas. Seus olhos azuis estavam com um brilho diferente, era quase como se não fosse... real. Recuperei a postura e continuei: - E o que você faz aqui?

– O mesmo motivo - ele se sentou numa cadeira e eu voltei a sentar na minha. Um silêncio curto se seguiu até que eu o quebrasse:

– Ren. Estou preocupada. E se não conseguirmos realizar a missão? Esta é apenas uma das tarefas e haverá diversas ao longo do tempo. Muitas que talvez não iremos conseguir...

– Shh - interrompeu-me. - Não seja insegura, Kells. Quanto mais você pensar que algo não dará certo, as chances disso acontecer são maiores.

Assenti e senti meus olhos arderem.

– Mas é que tudo aconteceu muito rápido... é pressão de mais e...

Ren pegou minhas mãos e me fez virar para ele. Ele me olhava fixamente nos olhos.

– Kelsey. Vai dar tudo certo. Confie em mim. Eu prometo, rajkumari.

– O que quer dizer rajkumari? - perguntei.

Ele sorriu e olhou para o céu.

– Conhece constelações? - Ren perguntou e eu assenti. - Está vendo aquela estrela brilhante, a mais próxima da Lua? Se você olhar as outras mais próximas, mais brilhantes do que o normal, verá uma constelação grega.

E ele tinha razão. Logo pude ver a imagem de uma arqueira.

– É linda - concordei. - Qual sua história?

Ren suspirou e começou a contar a história:

– Uma história escrita diz que ela foi uma caçadora da deusa Ártemis, mas acabou por falecer. Seu nome era Zoë. Ela permaneceu centenas de anos com a deusa.

– Espere - interrompi. - Como assim centenas de anos?

– As caçadoras eram imortais, porém poderiam cair em batalha. Assim que Zoë morreu, Ártemis a transformou nessa constelação, A Caçadora.

Sorri.

– É uma história muito triste e bela. Lembra alguns livros e peças que eu já vi.

Foi a vez de um sorriso surgir nos lábios de Ren.

– Certo. Kelsey, meu tempo está acabando. Mas ainda quero fazer uma coisa.

Dei de ombros.

– Claro.

Ele se levantou e estendeu a mão para mim. Hesitando, a segurei e assim que toquei-a, fui puxada com força da cadeira ao encontro de Ren. Ele grudou o corpo ao meu e sussurrou:

– Mujhe Tumse Pyarhai.

Não soube de imediato o que significava aquilo, mas logo que Ren grudou os lábios aos meus foi fácil de descobrir. Seu corpo começou a tremer e ele se afastou, olhou bem nos meus olhos e sorriu. Então se transformou em tigre novamente.

Ren entrou em meu quarto e deitou no chão. Subi na cama e o chamei. Fiz um carinho atrás de suas orelhas e sorri para ele, desejando-lhe boa noite. Só então tive certeza de meus sentimentos.

Eu amava Ren mais do que podia aguentar.