Você percebe que uma pessoa está realmente louca quando mesmo não estando bêbada nada que ela diz faz sentido. E todos ao meu redor são assim. Bem vindos ao meu mundo.

POV Mariana.

Eu esgotei meu estoque de lágrimas naquela noite. E o Steven não me deixava beber de jeito nenhum. Porra mano, eu precisava realmente de beber pra esquecer tudo mas aquele cara não entendia. Merda.

- TÚ NÃO VAI BEBER NADA MARI, PARA COM ISSO. – Ele gritava.

- FALOU O CARA MAIS SÓBRIO QUE EU CONHEÇO. – Uma dica, não me irrite se não quiser conhecer meu sarcasmo de perto.

Nós começamos a discutir, e a discussão foi ficando pior a cada segundo. Eu estava farta da vida, me sentia uma irresponsável e egoísta – por fazer mal a um cara que eu sei que só quer me ajudar – mas eu não iria admitir aquilo de forma alguma.

- VAZA DAQUI CARALHO, ME DEIXA EM PAZ.

Acho que se fosse o Axl naquele quarto, ele teria no mínimo me batido naquele momento. Mas Steven era mais calmo – mas nem tão calmo quanto o Izzy – então ele só deu de ombros e saiu. Eu estava acabada, totalmente fodida, e minha vontade de pegar uma faca e seguir o exemplo de Lari era imensa. Mas eu jurei que nunca mais faria aquilo, e uma promessa para mim é algo realmente muito sério. Resolvi não beber, pois teria que acordar no outro dia, juntar minhas coisas e voltar imediatamente para Los Angeles. Eu avisaria Steven depois. Aquilo era o de menos, e acho que ele não estaria com muita vontade de falar comigo, então foda-se. Deitei e adormeci quase imediatamente.

No outro dia Lari entrou no meu quarto sem se preocupar em bater. Eu estava acabando de fazer as malas, e agradecendo a mim mesma por não ter bebido, senão a tarefa de acordar cedo seria quase impossível.

- Mari, precisamos conversar. – ela estava muito séria e seu tom dizia: “Fodeu a porra toda”

- Fala logo Lari. – Eu tentei parecer calma, mas meus nervos estavam prestes a explodir.

- Eu vou voltar pro Brasil.

- Ótimo, eu vou com você. –respondi.

- Não. – esse “não” me pegou de surpresa, foi seco e claro, e deu pra perceber que ela não estava brincando.

- Como assim não Larissa? Agora você vai nos separar, é isso? – a raiva que eu sentia estava quase explodindo no meu peito. Eu estava indignada, não acreditava que ela iria me abandonar naquela altura do campeonato.

- Você vai seguir sua vida aqui, como se nada tivesse acontecido. Eu preciso por minha cabeça, e minha vida em ordem. A melhor coisa a se fazer agora é voltar para o Brasil.

- Você não pode voltar para casa Larissa, NÃO PODE! – caralho, aquele sentimentalismo todo estava acabando comigo. As lágrimas rolavam sem que eu pudesse segurá-las – Sua mãe não vai deixar nem você pisar em casa depois de você ter fugido.

- Mari eu já me decidi, e nada do que você disser vai mudar minha forma de pensar. Eu vou aproveitar amanhã, que é segunda e vou para o aeroporto.

Eu nunca tinha a visto tão fria como ela estava.  Acho que tudo que aconteceu nas últimas semanas – e o que estava guardado lá dentro – realmente foderam com o emocional dela e no final das contas eu fui obrigada a aceitar. Larissa era inquestionável. Fomos de taxi até o aeroporto e voltamos para LA, sem avisar os 5. “que eles se fodam. É por causa deles que estamos nesse estado agora”, pensei.

A viagem foi curta e tranquila – confesso que o dinheiro que trouxemos do Brasil estava nos sustentando bem até agora – e não conversamos muito até o avião pousar. Fomos direto para nosso apartamento, que estava cheirando a bebida e a cigarro, o que já era de se esperar. Larissa foi imediatamente para seu quarto para juntar suas coisas, mas eu a impedi de continuar.

- deixa essa merda pra amanhã, vamos curtir o resto do tempo que temos juntas, sem homens, sem bebidas e sem drogas ok? – eu disse.

Ela fez uma cara de indignação, como se não fosse possível se divertir sem essas coisas, mas no final acabou cedendo. Fizemos brigadeiro, e sentamos no sofá ouvindo nossos discos de vinil. Foi a tarde mais calma que eu tive desde que sai da minha casa.

POV Izzy

Eu senti que tinha que ver Lari, hoje de manhã. Alguma coisa estava errada, ela não voltou para seu quarto depois que falou com a Mari. No inicio eu achei que as duas estavam apenas conversando, mas o dia amanheceu e nada dela aparecer. “Porra Lari, chega de sumiço né?”, pensei. Voltei até o hotel e fui direto para o quarto da Mari, mas a camareira que estava passando no corredor disse que as hóspedes daquele quarto tinham saído hoje bem cedo. “merda”, pensei. Voltei para casa e encontrei Steven largado no sofá, olhando para o nada.

- o que foi agora? – perguntei.

- não é nada. – ele respondeu surpreso com a minha pergunta – você não ia visitar a Lari?

- Achei que gostaria de saber que ela e a Mari não estão mais no hotel. – eu disse.

Ele levantou num pulo.

- O QUE?

- Acho que elas voltaram para L.A – eu disse, tentando parecer calmo.

Ele ficou resmungando coisas que eu não me dei o trabalho de decifrar. Eu não sabia o que fazer. Sabia que uma hora ou outra teria que ir atrás de Lari, mas ao mesmo tempo eu não teria como abandonar a turnê.

- Eu vou atrás delas. – Steven disse.

- E abandonar a turnê? – respondi.

- Foda-se a turnê.

- Cara, faltam poucos shows, você não vai estragar tudo por causa de uma garota. Depois vocês resolvem essa merda toda.

Mais cedo quando eu entrei no quarto em que Lari estava, achei minha jaqueta no chão. Xinguei alguns palavrões e peguei a blusa. Agora, depois da minha emocionante conversa com Steven, foi que percebi que dentro do bolso de fora havia um papel ligeiramente dobrado, com algumas palavras escritas. Gelei quando acabei de ler aquilo. Eu ia perdê-la. Lari voltaria para o Brasil.