POV Beck.

Depois de sermos mandados pra fora da sala, as coisas pareceram ir de mal a pior, sentia a Jade desmoronar nos meus braços, parecia lutar contra a vontade de ir junto. Talvez ela apenas estivesse procurando algum jeito de escapar da triste realidade que estava sujeita, talvez estivesse tentando evitar o fato que estava se consumando a cada segundo que se passava.

Como se já não bastasse a perda que ambos fomos sujeitos, ela está sofrendo pela Anne, uma menina de pouca idade e de verdade e experiencia nos olhos pequenos.

Enfermeiras passaram por nós sem nos dirigir uma palavra si quer, os rostos indiferentes mostravam-se não tão indiferentes assim, agora exibiam traços quase imperceptíveis de solidariedade, mesmo que nem si quer fitasse a nenhum de nós.

Os joelhos da Jade fraquejaram, mas não sei se ela percebeu, apenas deixei que ela se apoiasse em mim de forma  protetora, estava envolvida em meus braços, e eu temia não ter forças para vê-la tão mal.

Um hora, ou mais, se passou até que finalmente a enfermeira que relatara a nós o sumiço da Jade apareceu, ela trouxe o remédio do tratamento, e disse que aquele também a ajudaria a dormir, o que Jade parecia não fazer a dias, pela feição cansada e ainda sim linda.

Ela parecia lutar contra o cansaço, como se esperasse algum milagre o que chega a ser irônico pois, apesar de ter fé, milagres nunca se mostraram presentes na sua vida.

Sento-me em um dos bancos nada diferentes dos outros que estão ali, ela me observa, ambos estamos cansados tanto quanto relutantes a deixar o lugar.

Ela estava sonolenta, agradeci em silencio o remédio finalmente está fazendo efeito.

Sem dizer muitas palavras apenas permanecemos sentados, até que ela encostou a cabeça em meu ombro, fechando os olhos cautelosa.

Deixei que meu olhos se fechassem juntamente com os delas, aquela não era a forma mais bacana de passar a noite, mas Jade está comigo, por tanto, isso basta.

xx-xx

A noite pareceu voar, o corredor de bancos onde estávamos permanecia idêntico. Queria não abrir meus olhos, sentia dores na coluna nada agradáveis. No entanto meu ombro não estava ocupado pelos cabelos negros e enrolados da Jade, o que me fez abri-los preguiçosamente.

Vaguei meus olhos pelo corredor, e inevitavelmente pela sala da Anne. Nenhuma das duas estavam lá.

Suspirei pesadamente esfregando os olhos ainda sonolento, e pronto para beber um copo de água quando sou surpreendida por um soluço fraco no fim do corredor.

Beck: Jade? - Pergunto indo em direção ao bebedor a minha frente. Engoli apressadamente alguns goles de água, logo depois espirrei um pouco da mesma no meu rosto e cabelo com esperança de acordar. O soluço ainda não sessou.

Cat: Eu preciso de ursinhos com pirulitos de morango e uva. - Sorri ao perceber os cabelos da ruivinha apoiado no ombro da Jade que resmungava.

Jade: Bom, dia. - Tentou sorrir pra mim, ela nunca foi boa com falsos sorrisos. Ainda não é.

Beck: Está tudo bem com a Cat? - Evitei falar da Anne, mas esse foi o primeiro nome que me veio a cabeça ao invés da Cat, vi Jade se sobressaltar com minha pergunta, certamente pensou o mesmo, logo depois fitou o vazio, respondendo silenciosamente a pergunta que ficará subtendida em minhas palavras.  Não, a Anne não sobreviveu.

Jade: Sim, a Cat está bem, ela soube que eu tinha "sumido" do meu quarto e resolveu fazer o mesmo em sua casa.

Cat: Melhores amigas somem juntas.

Beck: Vocês não estavam juntas.

Cat: Não ainda, mas eu vim procurar a Jade pra que pudéssemos fugir juntas. - Cat fungou.

Jade: Só não entendi porque você queria fugir. - Revirou os olhos afastando a ruivinha dos seus braços de forma carinhosa.

Cat: Porque a médica dos repolhos do meu irmão disse coisas más e eu tive que fugir e também não podia deixar você sozinha. - Ela choramingou.

Jade reprimiu um sorriso, não queria demostrar fraqueza, ela está tentando agir naturalmente, talvez por ser uma ótima atriz está conseguindo enganar a Cat, mesmo que em cada palavra, exprima sua dor.

Jade: Seu irmão precisa de remédios. - Ironizou, mesmo que só eu entendesse o quanto aquilo a afetava, já que Cat nem mesmo imaginava os surtos.

Beck: Jade não fale assim. - Entrei em seu jogo, vou assim como ela, fingir que nada disso é real, talvez seja a forma mais fácil de suportarmos  tamanhos problemas.

Os nossos passos rasgavam o silêncio, em um ritmo inconstante deixando o corredor que por mais que tentássemos omitir, nos causaria arrepios por um bom tempo.

Jade poe-se a meu lado, e deixou que eu entrelaçasse minha mão à dela, pude perceber que estava fria e tremula. Andamos calmamente pelo silencioso e apertado labirinto psicológico que armamos em nossa mente, ao menos sabíamos que nem mesmo isso seria capaz de nos separar outra vez. Cat saltitava em nossa frente, de forma alegre esbarrando-se nas paredes frias e brancas, e em meio a sorrisos nos encarava de forma sonhadora.

Cat: Quando você vai ficar boa? - Ela olhou pra Jade, que abaixou os olhos, senti que ela queria gritar, queria chorar ou quebrar coisas, mas apenas serrou os punhos lutando contra as palavras.

Beck: Logo, acho que se falarmos com o médico ela pode ir embora agora mesmo.

Cat: Vai ser melhor pra você ficar com seus amigos, estamos com você e temos pirulitos de morango com uva no carro do Robbie.

Beck: Todos estão aqui? - Cat fez que sim com a cabeça, e Jade respirou fundo se recompondo o suficiente pra falar e soar falsamente fria e indiferente.

Jade: Pensei que fosse fugir pra um lugar onde ficaria sozinha. - Tentou um sarcasmo mas Cat ignorou.

Cat: Eu ia fugir com você, e os nossos amigos disseram que não íamos sem eles pra onde quer que fossemos. - Eu sorri, doce e inocente Cat.

Beck: Então, você ia fugir, e disse a todos onde iam? - Indaguei fazendo Jade revirar os olhos tentando se concentrar.

Cat: YAY! Ou poderíamos nos perder, e não saber o caminho de volta.

Jade: E se eu não quisesse voltar? - Ela sorriu tristemente pra mim, logo depois os fechou os olhos que ameaçavam derramar lagrimas.