Cheguei no Brasil em algumas horas. Peguei um táxi e fui até minha antiga casa, só tinha a luz da cozinha acesa. Lembrei que deixei a chave na minha mala, que agora estava do outro lado do mundo. Então eu lembrei do antigo esconderijo de chaves, que ficava embaixo de uma tábua solta da varanda. Puxei a tábua e a encontrei lá. Abri a porta e entrei.

- Mãe? - chamei ela, bem baixinho - Paola?

- Alex? - ouvi a voz vinda da cozinha, uma voz que parecia horrivel - Alex?

- Oi mãe - falei quando entrei na cozinha - E pai?

- Oi - ele me comprimentou. Senti tanta raiva, mas eu não queria falar com ele naquele momento.

- Mãe, o que aconteceu? - eu percebi que ela estava tomando um gole de café - Cadê a Paola?

- Ela tá na casa dela, ela foi um anjo todos esses meses - percebi que ela estava cheia de olheiras - Sua avó ficou muito doente - ela soltou um gemido de dor - E morreu.

Corri até ela e dei um abraço bem apertado. Ela desabou, chorou muito e eu estava me mantendo firme. Por ela. Olhei pro homem que eu chamava de pai, tipo "Oi, não vai fazer nada? Vai ficar assistindo como se fosse novela mexicana?". Acho que ele entendeu o recado.

Porque foi até a gaveta que tinha remédios e pegou um calmante e colocou na minha mão. Larguei minha mãe e a coloquei sentada em uma cadeira.

- Mãe - falei tirando seu cabelo do rosto, estava muito molhado - Mãe, olha pra mim - ela desviou os olhos pra mim com dificuldade - Você precisa ser forte - ela chorou mais um pouco - Por favor, seja forte.

- É dificil - ela chorou. Quando minha mãe chora, é como se eu levasse eu soco muito forte no estômago.

- Eu sei - falei passando a mão na sua cabeça - Eu sei que é dificil mãe, mas você precisa. Toma isso aqui - botei o calmante na boca dela, ela engoliu.

- Eu não acredito que você largou as gravações pra vir pra cá - disse ela.

- Ei mãe, eu largaria tudo. Não posso te deixar sozinha. Oliver disse que tenho um mês - ela sorriu ao saber que eu iria ficar por um mês - Não vou te deixar sozinha.

- Obrigada filha, eu preciso deitar. Amanhã será o enterro - ajudei ela a ir pro quarto. Coloquei ela deitada na cama, e a cobri com um edredon. Voltei até a cozinha.

- O que veio fazer aqui? - perguntei a ele, sem o encarar.

- Eu vim ajudar sua mãe com as papeladas da sua pensão, quando aquela sua amiguinha...

- Ela tem nome - falei grossamente - Paola.

- Quando a Paola, me pediu ajuda pra contar pra sua mãe. Ela ligou pra você, pediu pra você vir. E sabe, eu achei que você não viria.

- É - falei olhando pra ele, eu sei de onde herdei meus olhos verdes, eram dele, os da minha mãe eram de um tom mais escuro, os dele eram como os meus - Ao contrário de muita gente, eu não abandono quem eu amo. Nunca vou abandonar, não importa o que aconteça. Nem o que me digam, eu nunca vou abandonar a minha mãe. Ela é a única familia que eu tenho.

Ele me olhou sabendo exatamente sobre o que eu estava falando. Ele sabia que eu tinha raiva dele, por ele ter feito a minha mãe sofrer, por ter abandonado ela num momento tão delicado, por ter me abandonado, por ter me rejeitado.

- Minha filha, atriz da Warner.

- Você nunca se importou, nunca acreditou que eu conseguiria. Você se enganou.

- É, eu me enganei de muita coisa.

- Olha só, tivemos um dia dificil - eu estava me referindo a mim e minha mãe - Vai embora.

- Mas...

- Só vá embora, por favor.

Ele me olhou com cara de tédio, passou por mim e então eu ouvi a porta bater. Lavei a louça, tomei um banho e coloquei uma das roupas que eu havia deixado, deitei na cama.

Harry. O que será que ele está fazendo agora? Será que está se apresentando? Será que ele pensa em mim? Sinto falta dele. Do seu abraço. Do seu beijo apaixonante.

Senti uma dor no peito. Eu quebrei uma promessa. Prometi a ele que nunca o deixaria, e eu acabei o deixando. Ouvi meu telefone tocar. Gelei ao pensar que poderia ser Harry, o que eu ia dizer pra ele? Mas era Paola. 

- Oi - falei assim que atendi.

- Como você tá?

- Eu to bem, minha mãe dormiu.

- Ah então você veio mesmo.

- Claro, não vou deixar ela. Posso ficar aqui por um mês.

- Certo, amanhã é o enterro né?

- Aham.

- Ela chorou muito quando viu você chorar?

- Não deixei ela me ver chorar.

- Ah... certo. Então eu te vejo amanhã de manhã.

- Tudo bem - desliguei o telefone.

Liguei o computador rápidamente só pra dar apenas um tweet.

Me sinto arrependida do que fiz, mas não vou voltar atrás. Vovó, sentirei sua falta :(

Desliguei o computador e tentei dormir, pra afastar os pensamentos que me levavam até Harry. Ah Harry...