Torci seu pescoço, logo o do rapaz.

[…]

Só Deus sabe o quão difícil foi matá-la.

O que? Não posso acreditar em Deus?

… remanguei as mangas de minha blusa e comecei a cavar com as mãos. Acho que, com a fúria e adrenalina que se instalou em mim, creio que só assim, pude cavar dois buracos, tão fundos quanto o de meu peito por perder meu grande amor. Primeiro foi o rapaz, o estopim de tudo. Ainda me lembro de suas últimas palavras cuspidas à Isadora enquanto os espiava.

FLASHBACK POV

Estava andando pela ponte velha e fui para oeste, em direção à igreja de San Jacopo Soprano. Havia alguns jardins reservados ali, onde os amantes de vez em quando se encontravam. Eu, que me encontrava com o sangue fervilhando só pela ideia que estava sendo traída, ainda que precisasse de provas para a infidelidade de Isa do que apenas desconfiança da mesma, comecei a achar que estava prestes a encontra-las.

Dito e feito. Logo vi o rapaz loiro, arrumadíssimo, sentado em um banco de madeira, com o braço ao redor de Isa, minha Isa. Aproximei-me com cuidado.

— Querido, que lindo. – exclamou, Isa, estendendo a mão.

Vi o anel de brilhantes. Golpista! Querendo rouba-la de mim com joias.

— Para você só o melhor, princesa. – disse o rapaz, puxando-a para lhe dar um beijo.

Isa, porém, se afastou. – Isso mesmo, amor – pensei esperançosa.

— Não tão rápido. Você não pode simplesmente me comprar. – meu sorriso poderia ser visto de costas -… Não estamos saindo há tanto tempo assim, e ouvi dizer que você está de namoro com uma tal de Patrícia.

O rapaz desdenhou.

— Acabou. E, de todo jeito, mereço coisa melhor que aquela animadora de torcida metida a besta. – Ele agarrou as nádegas dela com uma das mãos – Você, por exemplo!

— Safado, vamos dá uma volta – pediu Isa.

— Estou pensando em algo muito mais divertido – disse, enfiando a mão entre as pernas dela.

Foi o bastante para mim.

— Porco!

Foram pegos de surpresa, o rapaz virou-se soltando Isa.

Enraivecida pela traição, dei um passo à frente e acertei um soco direto no rosto dele.

— Isa, você devia se envergonhar!

Apenas baixou a cabeça.

— Duas sapatonas! Eu não acredito. Sorte a minha não ter ido mais longe – cínico, estava praticamente estuprando ela. -, mas também deve ter o buraco mais seco do que uma freira…

Ele a insultava e minha raiva aumentava!

— Vou matar você, seu porco!

— Você? me matar? – desdenhou – Vá colar velcro longe daqui!

— Vou quebrar seu pescoço.

Isa percebeu que falava serio e gritou.

— Manda, por favor, não!

— como pode? – meus olhos marejavam.

— Manda? – os dela, também

— Não me chame de Manda, sua traidora!

— Ah! Já entendi… as duas me querem.

— seu escroto convencido.

— Hei! Vá com calma mocinha… tem de mim para todas! – idiota.

— Está vendo? Você é uma trouxa. Eu te dei todo meu amor pra você me trair com esse galinha de quinta?

— me desculpe… eu… perdão Amanda. Ele me cortejou e eu não tinha certeza de que o que fazemos era correto. Sou moça de família e um escândalo desses… eu estaria morta.

— Estaria não, Isadora – assustou-se, nunca havia chamado pelo nome inteiro-, você está.

Torci seu pescoço, Logo o do rapaz.

FLASHBACK OFF

Demorei a enterrar Isa. Recusava-me a enterra-la, pois, na realidade, eu me arrependera do que fiz. Ajoelhei-me lentamente no chão raso do fundo do pátio da igreja.

Fiz o que há muito tempo não fazia… rezei.

Deus, sei que está indiferente comigo, mas é claro não poderia ser diferente. Acabei de tirar duas vidas e, uma delas, minha amiga, meu grande amor. O vazio presente em mim é tão grande quanto o seu, nesse momento, desprezo por mim. Estou aqui implorando para que me cure disso. Tenho medo de me apaixonar novamente e por ciúmes e essa sede de sangue, acabe como agora. Peço, também, o seu perdão.

Amém.