Ela está linda.

Esse foi meu primeiro pensamento quando vi Loren. Era sempre assim. Minha família vinha a sua casa e eu não podia falar uma única palavra com ela, tudo por causa do meu pai e sua ideia de que abortos não são gente e que não merecem conversar com um Malfoy. Mas a culpa é minha também, se aquele dia, aquele horrível dia, eu tivesse ficado contra meu pai e ao lado dela nós poderíamos ser amigos. Ou algo a mais.

Aquele foi o pior dia da minha vida.

Nós estávamos brincando no jardim da sua casa. Eu adorava vir aqui porque aqui eu era feliz, tinha uma pessoa que gostava de mim e que eu confiava. Nossos pais estavam tomando um chá junto com a irmã dela, que se fazia de adulta – mesmo sendo só um ano mais velha. Então eu vi uma flor azul, muito bonita, mas ela não estava desabrochada.

Eu a peguei e quando fui dar a ela, pedi que a flor estivesse desabrochada e, na minha mão, ela o fez. Minha mãe, que estava nos olhando, deu um grito e após a explicação fomos embora, sem eu poder dar a flor para ela.

Voltamos no outro dia, eu ainda estava com a flor. Estávamos todos na sala, então eu dei a flor para ela.

— Draco, faça a flor fechar. — ela me pediu, entregando-me a flor, que eu fechei. — Como você faz isso? — perguntou.

— É fácil. Olha, me de sua mão. — pedi.

Ela me deu a mão, coloquei a flor em sua palma aberta.

— Agora você pensa que quer a flor aberta ou fechada. — expliquei. — Ai fecha os olhos e pronto.

Nós dois fechamos os olhos, mas quando abrimos a flor, continuava do mesmo jeito. Tentamos de novo, até que ela começou a chorar. Sua mãe veio ver o que aconteceu.

— O que houve, querida? — Carmen perguntou.

— A flor não fez o que eu pedi! — Loren respondeu.

Meus pais pareciam ter entendido algo, pois no mesmo segundo meu pai disse que teríamos de ir embora.

No outro dia eu fui a sala.

— Podemos ir à casa da Loren? — perguntei assim que cheguei perto deles.

— Não. — Foi a resposta curta e seca do meu pai.

— Por que? — retruquei.

— Porque você não pode ser amigo dela. Ela é um aborto e nós, Malfoy, não somos amigos de abortos, eles são a escória.

Desse dia em diante meu pai não me deixou mais falar com Loren.

Fomos à casa dela mais uma vez para eu acabar com a amizade. Chegando lá, meus pais foram até a cozinha e nos deixaram sozinhos.

— Oi, Draco! — Loren disse, feliz.

— Oi. — respondi curto e seco; como meu pai disse que tínhamos que falar com gente como ela.

Arrependi-me profundamente quando vi em seus olhos que a tinha magoado, mas não podia fraquejar. Ela era escória eu era sangue-puro, ela não merecia minha amizade, era o que eu repetia em minha cabeça.

— O que aconteceu? — ela me perguntou.

— Nada. —voltei a responder, novamente seco.

— Draco, você está bem? Você não veio mais aqui e agora está assim. O que aconteceu? — perguntou, tentando chegar mais perto e tocar meu rosto, mas eu desviei.

— Não toque em mim! Você é um aborto e escória e eu sou um Malfoy sangue-puro! Você não merece minha amizade! — disse cada palavra friamente, só que mesmo assim eu sentia como facadas.

Então, para meu total desespero, ela começou a chorar. Não um choro alto, mas sim aquele choro de quem não quer ser visto – algumas lágrimas sem barulho.

— Draco, por que você está dizendo isso? — perguntou angustiadamente.

— Porque é a verdade e eu não quero ser seu amigo. — disse, novamente frio.

— Então, Malfoy, se você não quer ser meu amigo, vai embora da minha casa e nunca mais fale comigo. —Loren disse com a voz cheia de dor após um minuto de silencio.

Foi nesse momento que eu fraquejei, olhei para ela e a vi chorando. Tentei por puro instinto tocar seu rosto, mas foi a sua vez desviar.

— Não quero ser tocada por alguém como você! Você me dá nojo, Malfoy! Vai embora! —gritou e foi correndo para seu quarto.

Nossos pais ouvindo a gritaria vieram até a sala. Meus pais percebendo que eu já tinha feito o que eles tanto queriam, disseram que teríamos que ir embora.

E foi assim que eu perdi minha única verdadeira amiga, minha única e verdadeira paixão.