- Eu não deveria ter aceitado – era o que Rachel pensava que era o certo á se fazer quando se viu jogada no cocho

Ela guiava uma pequena tropa da Rainha, que contava com cinco soldados e Jessie. Agora estavam na entrada na Floresta Negra, Rachel rezando aos céus para que saísse viva dali para encher a cara novamente.

- Sigam-me e não me percam de vista. Com certeza morreram se o fizeram.

E munida de seu machado inseparável, sua capa de couro que ia até o meio de suas coxas, e sua adaga muito bem colocada em sua cintura, deu seus primeiros passos para a caça da garota.

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Quinn acordou de seu desmaio e olhou ao redor. Ainda estava na floresta, ainda estava viva, ainda estava livre. Suspirou pondo-se de pé e começando a caminhar novamente. Mas não muito depois, novos passos foram ouvidos por perto, e ela colocou-se a correr desesperada por abrigo.

Uma grande árvore, que tinha suas raízes acima da terra, apareceu em sua visão, parecendo ser o lugar perfeito para um esconderijo. Enfiou-se embaixo das raízes e apurou os ouvidos, esperando assim saber onde estariam seus perseguidores.

Longos segundos do mais pesado silêncio se passaram, e Quinn tremia dos pés á cabeça, pensando que esse seria seu fim. Quando sua quinta respiração foi exalada, sentiu uma mão decidida agarrar-lhe o braço direito, e puxar-lhe para fora do seu refúgio. Uma garota bonita, não muito mais baixa que ela, carregava-a até Jessie.

- Muito bem caçadora, seu trabalho foi executado com maestria. Agora me passe à garota – Jessie estendeu a mão

- Espere. Como saberei se a Rainha cumprirá sua parte no acordo? – Jessie riu diabolicamente

- Sua estúpida, ela nunca traria seu pai de volta. Nem se pudesse.

- Mentirosos! – Rachel gritou soltando o braço de Quinn para poder dar atenção total ao machado em suas mãos

Como se a arma pesasse menos que a metade que realmente pesava, Rachel atacou Jessie, que teve tempo apenas de se esquivar para não perder a cabeça. Todos os soldados se posicionaram para atacar à caçadora, mas um aceno de mão de Jessie os fizeram parar.

- Eu cuido dela, peguem a garota.

Quando Quinn deu conta de que todos os soldados tinham agora ela como alvo, começou a correr por entre as árvores o mais rápido possível. Rachel lutava bravamente com Jessie, com quem se igualava. Em um movimento de sorte, Rachel acertou o cabo do machado no rosto de Jessie, que caiu desacordado no chão, dando assim tempo para que ela fugisse para onde desejasse.

Quinn olhava para traz desesperada, a fim de saber se ainda estava sendo perseguida. Alguns metros mais á frente, percebeu que os passos cessaram, e que era possível se recostar á uma árvore e respirar. Assim que o fez, sentiu uma mão em seu braço, que a fez sobressaltar de susto, dando um passo para longe do agressor, arrancando-lhe a adaga no processo.

- Quem é você? – Rachel olhava abismada para a garota que empunhava a lâmina

- Você deveria saber, afinal está me caçando – sua mão ainda permanecia alta

- Quer saber, eu deveria ficar muito longe de você. Por um motivo que eu desconheço, a Rainha não quer poupar sua vida – Rachel se pôs a andar

- Espere! – Quinn disse desesperada, abaixando a mão – Eu preciso de sua ajuda para sair daqui.

- Obrigada, mas eu prefiro preservar minha vida – continuou com seus passos

- Eu lhe pagarei por isso – Rachel se virou

- Só para saber, de quanto está falando?

- Quanto gostaria? – Rachel se aproximou

- No mínimo umas trinta moedas de prata... – olhou para seu machado, esperando a contra proposta

- Eu te pago cem – seus olhos se abriram levemente – Preciso que me leve até o castelo do Duque Hammond, ele tem um exército de resistência.

- Duque Hammond? Seus soldados são aldeões que mal se aguentam nas pernas.

- Preciso que me leve até lá.

Olharam-se por alguns segundos, Rachel fitando profundamente aqueles lindos olhos verdes que contrastavam com a pele muito clara. Respirou fundo pesando os prós e contras de andar por aí com uma inimiga da Rainha, e acabou por aceitar a negociação. Nunca fora uma apreciadora de Shelby.

- Feito – cuspiu na mão e estendeu-a para a loira, que a apertou selando o acordo- Agora me dê isso aqui antes que se machuque – arrancou a lâmina da mão da loira

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Fazia algumas horas que estavam andando pela floresta. Quinn se sentia exausta, seu corpo pesava pedindo algum tempo para descansar. Não mais prestava atenção por onde andava, e quando percebeu, tinha entrado num quadrado de galhos secos. Quando estendeu a mão para tirá-los de em torno seu corpo, percebeu que não se tratavam se galhos, e sim cobras. Seus olhos se arregalaram, sua respiração se acelerou, e ela se preparou para gritar á mulher que andava á sua frente. Mas esta foi mais rápida, e ao perceber que a loira não mais se movia á suas costas, virou-se para ver o que havia acontecido. Empunhou seu machado, e bateu nos galhos que a cercavam, quebrando-os com facilidade.

- A floresta se alimenta dos seus medos. Não a deixe te intimidar – puxou a mão da loira

- Como conhece essas terras? – Quinn seguia Rachel de perto

- Meu pai sempre me trazia aqui quando caçava.

- Esse é um lugar meio perigoso para se fazer isso.

- Diga isso á meu pai – abaixou-se para passar por galhos baixos

- Assim que o vir pessoalmente.

- Desculpe-me, mas não será possível.

- E por que não? – Rachel parou de andar

- Ele está morto – suspirou audivelmente e se movimentou novamente

- Meus pêsames – Quinn encarava as costas pequenas á sua frente – Como se chama?

- Berry, Rachel Berry.

- É um prazer conhecê-la, Rachel – e antes que uma das duas pudesse falar mais uma letra, um barulho alto pode ser ouvido á esquerda delas.

Rachel se prostrou em posição de ataque, caminhando calmamente para a origem do som. Suas pernas estavam levemente flexionadas, sua musculatura tensa, e seus punhos cerrados em torno do grosso cabo de madeira de seu machado.

Devagar, Rachel abriu caminho por entre um mato muito alto, ainda sim respirando pesadamente devido á tensão do momento. Com a mão livre, fez um gesto para que Quinn não a seguisse, o que foi ignorado pela loira, que já estava em seu encalço.

E apesar de conhecer muito bem aquelas bandas, Rachel se surpreendeu quando se viu ás margens de um rio, que era coberto por uma leve névoa. Ali, poderia ser visto três barcos, ambos com mulheres em seu interior. Poderiam ser vistas, mesmo assim de longe, suas cicatrizes marcadas nos rostos. Vendo que as tripulantes não contavam com a presença das duas, Rachel levantou a mão em sinal de paz, e se aproximou da beira com passos calmos e ritmados.

- Não queremos machucá-las. Preciso levar a jovem para o castelo do Duque Hammond. Poderiam nos fornecer um lugar para passar a noite?

A mulher mais velha dentre elas, que era a única de pé na proa de um dos pequenos barcos, olhou interessada na direção de Quinn, a qual estava estrategicamente atrás de Rachel, numa tentativa de se proteger de qualquer coisa que acontecesse.

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O pequeno barco se aproximava de uma aldeia ás margens do rio, onde já se podia ver mais e mais mulheres esperando os novos hóspedes chegarem. Também possuíam as mesmas cicatrizes que as que a trouxeram ali. Não se avistava um homem para onde quer seus olhos percorriam.

Com a ajuda das mulheres, desembarcaram em terra firme. Assim que plantou os dois pés no solo da aldeia, Rachel fraquejou e foi amparada por Quinn e mais algumas mulheres que as cercavam.

- O quê aconteceu? – Quinn perguntou preocupada

- Eu acho que... – colocou a mão por dentro da gola da camisa, alcançando seu lado esquerdo – Oh merda – puxou uma mão ensanguentada para fora do tecido

- Não se preocupe, somos curandeiras e cuidaremos disso para você – a mais velha puxava Rachel em direção á uma cabana de palha

Rachel se via sentada em um banquinho na porta da cabana. Tinha vista de quase todo o vilarejo, e ela diria que essa era a residência da matriarca que se encontrava concentrada em sua perfuração profunda.

- Ouch, isso dói – Rachel olhou séria para a mulher

- Irá melhor mais rápido do que qualquer coisa que já viu.

- Onde estão os homens daqui?

- Todos se juntaram ao Duque para fazer resistência á Rainha.

Seu olhar pousou sobre Quinn e uma pequena garota loira no deck onde desceram. As duas brincavam com as bonecas fabricadas por elas mesmas. A criança parecia extremamente feliz, o que era facilmente refletido na maior.

- Você não percebeu ainda, não é? – a mulher havia terminado de costurar o machucado de Rachel

- Não percebi o quê? – olhou interessada para a mulher

- Quem ela é.

- Por acaso alguém em especial?

- Olhe para ela e diga você mesma.

Rachel rapidamente virou sua cabeça para que pudesse observar novamente a mulher loira e a criança. A mais velha tocava-lhe delicadamente os cabelos encaracolados, sorrindo com uma doçura que Rachel jamais imaginaria ser possível. E ali tudo fez sentido.

Caminhou devagar, porém decidida na direção de Quinn. Sua sutura já havia sido terminada, e agora ela estava vestida com sua camiseta novamente. Chegou ás duas loiras no deck, e se dirigiu primeiramente á menor delas.

- Sua mãe está lhe chamando – a menina rapidamente juntou sua boneca e suas roupas, saindo apressada dali

- Está melhor? – seu olhar levantou-se, encontrando-se com o da morena

- Por que não me disse? – o olhar alegre no rosto de Quinn se transformou em culpa